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Oscar Ribeiro de Godoy

 

A ESTRADA LIGANDO A GUARDA À VILA

 A estrada ligando a Guarda à Vila.

Quando chegamos a Campos do Jordão em 1915, para se ir até a Vila Jaguaribe o caminho era longo e difícil de ser percorrido.

Saindo da Guarda, ao lado direito do rio Sapucaí-Guaçu, logo estávamos vadeando dois rios: o da Casa Velha e o Canhambora ou do Meio, mais ou menos sobre o antigo campo de futebol do Horto Florestal; depois se subia o morro seguindo trilhas feitas pelos pés dos animais.

Começava, então, um sobe e desce de morros, alguns tão íngremes, que um deles tinha o apelido de Corta Rabicho. A última encosta a ser vencida era onde hoje se localiza a casa dos Gabus, cujo bairro recebeu o mesmo nome e que fora colônia do russo Alberto, de quem tratarei oportunamente.

Passado o rio do Fugio a vau, prosseguia-se mais ou menos pela rota da atual estrada, não com a regularidade de hoje.

Atingindo o cume, a trilha seguia pelo lado direito de quem desce a encosta. Chegava-se no local que se chamava Homem-Morto e que, mais tarde, passou a ser chamado Abissínia – designação da atual Etiópia – não só porque ali viviam muitos cidadãos negros, mas também como uma irônica crítica ao desastre da Itália, na guerra de 1939-45, naquele país.

Alcançada a baixada, seguia-se até a Vila Jaguaribe. Abernéssia e Capivari ainda não existiam.

As viagens à Vila eram demoradas e cheias de percalços. Os empregados que diariamente faziam essas viagens tinham sempre problemas como queda de animais, perdas de mercadorias e o mais grave, lesões corporais, conseqüentes de tombos inevitáveis.

Certa ocasião viera passar férias na Guarda um irmão de minha mãe, o engenheiro Alexandre Manuel Marcondes Machado. Para chegar à Guarda, com a jovem esposa e seus familiares, eles sofreram as dificuldades das viagens a cavalo, com estrada muito escorregadia na estação das águas.

Como engenheiro, ele observou o trajeto e a existência do rio Sapucaí, saído na ponta dos trilhos e na chegada, ao lado do casarão da Guarda. Então, propôs à minha mãe que lhe desse camaradas para explorar uma nova estrada que, acompanhando o rio Sapucaí, nos livrasse da tremenda morraria de sempre.

Mãos à obra, e em poucos dias estava traçado o novo caminho.

A trilha alcançou o Ribeirão do Fugio, cruzando com a velha estrada que descia o morro do Gabus. E daí por diante seguiram juntas até a Vila. Só na Lagoinha, onde a estrada passava no local da casa, houve um novo traçado, fazendo-a passar na parte baixa do terreno, contornando o morro até a atual ponte do Véu da Noiva.

O indiscutível progresso trazido para nós, que diariamente mantínhamos fornecimento de leite e carnes para a Vila às duras penas, passou a reduzir o tempo da caminhada, antes de 12 horas, e também melhorou muito a segurança da viagem.

Dr. Alexandre Manuel Marcondes Machado privou-se de suas férias para nos legar um traçado praticamente sem morros, hoje melhorado e asfaltado. Ao passar nas minhas raras saídas do Rancho Santo Antônio, fico perplexo ao gastar 20 minutos até o centro, e presto, então, silencioso o meu preito de saudade e de agradecimento como cidadão de Campos do Jordão. 

 

 

 

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