Home · Baú do Jordão · Camargo Freire  · Campos do Jordão

Crônicas e Contos · Culinária  ·  Fotos Atuais · Fotos da Semana

  Fotografias · Hinos · Homenagens · Papéis de Parede · Poesias/Poemas 

PPS - Power Point · Quem Sou  · Símbolos Nacionais · Vídeos · Contato

Oscar Ribeiro de Godoy

 

A PRIMEIRA VIAGEM DE TREM

Primeira Viagem de Trem.

Certa ocasião, estávamos na Guarda, nos dias de trabalho rotineiro, quando apareceram, na curva da trilha, alguns cavaleiros procedentes da Vila. Vistos de longe, estavam todos bem montados, com aparência de destaque. Era Emílio Ribas que, de passagem para Itajubá, aportara na Guarda para cumprimentar e aconselhar-se com Dr. Manuel Ribeiro Marcondes Machado, meu avô, a quem ele chamava de Tio Maneco. Faziam parte da caravana o Dr. Vitor Godinho, também médico sanitarista de grande renome quem seria sócio de Dr. Ribas, na Estrada de Ferro Campos do Jordão.

Além desses dois médicos, faziam parte do grupo Dr. Vital Brasil, fundador e, por muitos anos, diretor do Instituto Butantã, e seu irmão Assis Brasil, notório e próspero estancieiro no Rio Grande do Sul. É de avaliar o impacto que causou a presença de tão ilustres personagens. Foi Grande a trabalheira, mas afetuosa e digna para compensar a parada dos passageiros na nossa fazenda. Não fosse o grau de parentesco que nos ligava ao Dr. Emílio Ribas, essa visita nunca teria acontecido.

A fartura que sempre tínhamos em nossa despensa permitiu-nos oferecer almoço e descanso por algumas horas.

Em palestra com meu avô, informaram o motivo de tão penosa viagem: iam a Itajubá onde morava o senhor Wenceslau Brás, vice-presidente da República e que, suponho estava no exercício de seu cargo. A intenção era obter a concessão da linha da estrada de ferro de nossa região.

Prosseguiram a viagem e, depois de algum tempo, obtida a licença, empreenderam aqueles dois médicos a árdua luta para a construção da estrada, encontrando tropeços, inclusive, a guerra de 1914. Por fim, iniciaram o funcionamento da Estrada de Ferro Campos do Jordão.

Na época só se conheciam os trens movidos a vapor. Assim, a ferrovia foi executada nos moldes universais. Eram locomotivas a vapor, puxando vagões de carga ou de passageiros.

Dado o parentesco entre nossas famílias, certa ocasião em que estávamos preparados para vir a Campos a cavalo, como sempre acontecia, o Dr. Emílio Ribas ofereceu a meu avô uma autorização para viajar de “lastro” ( ). Sentamo-nos sobre pilhas de dormentes e mal acomodados, mas, em nossa primeira viagem de trem para Campos do Jordão, exultávamos.

Na planície, no vale do rio Paraíba, a locomotiva fumegava e nos aturdia com a barulhada. O rio Paraíba foi transposto por uma ponte provisória armada sobre pilhas de dormentes, como se formassem uma pilha para fogueira. Os trilhos passavam sobre ela numa insegurança a toda prova. Tínhamos a impressão de que estávamos voando, tal a estreiteza e fragilidade da ponte.

Na raiz da serra, iniciamos a escalada da Mantiqueira. A máquina dava tudo de si para vencer o aclive, mas nos trechos da serra, onde há sempre ruço, os trilhos ficavam molhados e, com o peso da carga, era então só brecar e esperar. Gastavam-se caixas e caixas de areia para restabelecer o atrito dos trilhos com a roda do trem, as quais funcionavam como esmeris, tal o número de faíscas que se desprendiam do trilho.

Parados, o maquinista Alberto convidara-nos para beber água fresca numa grota ao lado, usando de boa política para que não nos exasperássemos com os transtornos. Mal sabia ele que nos deleitávamos com o inusitado do passeio, apesar da demora e dos contratempos. Para nós que, até então, somente viajávamos a cavalo, aquilo era o máximo, como se hoje fizéssemos uma viagem num Concorde.

Devagar se vai ao longe: após quatro horas de viagem de Pinda até Campos, começamos a descida do Lajeado, parando aqui e ali para carga e descarga do “lastro”.

Não havia plataforma de parada em Jaguaribe. Era um amontoado de dormentes e trilhos. A estação era um pequeno barraco, atarracado, coberto com chapas de zinco ondulado. Antigamente o zinco era muito usado para cobertura e até para paredes suportadas por armação de madeiras.

Após essa inesquecível viagem, cheia de sensações as mais diversas, e maravilhados com os panoramas divisados nos vales, atingimos a “Ponta dos Trilhos”. Ali nos esperava a tropa vinda da fazenda. Montados a cavalo, chegamos à Guarda.

 

 

 

 

Voltar

 

- Campos do Jordão Cultura -