MEU
CAVALO BRINQUINHO
Meu
cavalo Brinquinho.
Como
todo jovem, o meu maior desejo era ter um cavalo
que fosse somente meu, que pudesse tratá-lo e
arreá-lo como bem entendesse.
Um
belo dia realizei o meu sonho: ganhei um cavalo
tordilho, bonito, atarracado e esperto, que
recebeu o nome de Brinquinho. Criamos entre nós
dois uma ligação muito forte e nos entendíamos
nas piores situações.
Pela
falta de cercas divisórias, sempre recebíamos
avisos de animais alongados até a Vila Inglesa, o
Charco ou a Água Santa (onde hoje está
localizada a Minalba). Certa vez tivemos notícia
de que na Água Santa, fazenda do Sr. Ambrósio
Bretas, havia algumas reses nossas.
Partimos,
então, eu no meu cavalo Brinquinho, meu irmão
Eulálio numa mula preta chamada Azeitona, que era
o diabo em figura de animal e o camarada Chico
Pedro em outro cavalo. Lá encontramos um boi e
uma vaca nossos que tinham de ser conduzidos no laço
e decidimos que o Brinquinho puxaria o boi e o
camarada Chico Pedro levaria a vaca. Logo na saída,
o boi começou a correr e eu, para aproveitar o
embalo, corria atrás dele. O caminho era uma
trilha e assim seguimos por algum tempo até que
chegamos em uma encruzilhada e, como não conhecia
o caminho, resolvi parar e esperar meus
companheiros. Firmei o Brinquinho nas rédeas e,
parado, ele recebeu o golpe da disparada do boi.
Imagino a força que teria feito para suportar
tamanho tranco que resultou em virar o boi de
pernas para o ar e ficar no chão por algum tempo.
Ali ficamos em uma longa espera, até que meus
companheiros chegaram. Resolvido o caminho a
seguir, continuamos a refrega. O boi, enfurecido
pela queda, deu muito trabalho ao Brinquinho e só
chegamos à Guarda ao anoitecer.
Outra
façanha do Brinquinho foi uma retirada de bois
que havíamos vendido a um comprador do Ribeirão
Grande e cuja saída resolvemos acompanhar, até o
início da Serra das Bicas. Com paus de mais ou
menos um metro e meio amarrados no chifre, o gado
ficava impedido de entrar no mato, pois, se o
fizessem, os paus batiam nas árvores não
permitindo que continuassem. Cerca de 40 peões
faziam o cerco da manada e, aos gritos, iam
levando as 70 cabeças caminho afora. No Moreira
(São José dos Alpes), já nos altiplanos do Alto
da Serra, um garrote escapou e meu irmão e eu
corremos atrás para forçá-lo a voltar para o
grupo. Na carreira, o Brinquinho deu pela frente
com um valo, não conseguiu ultrapassá-lo no
salto e caímos, ficando eu sob o cavalo e este de
pernas para o ar. Para minha sorte, ele ficou imóvel
e, com a ajuda de meu irmão, consegui arrastar-me
e sair do valo. Procuramos, então, levantar o
Brinquinho e voltar para junto dos boiadeiros.
A
rês fujona não conseguiu escapar graças aos
paus no chifre, que a impediram de entrar no mato.
Foi
grande o susto, mas valeu a experiência e a prova
da colaboração do animal, esperando até que
pudesse me safar do perigoso impasse.
Nota
- Lalinha, uma das primas de Oscar, conta
que ele, sempre que precisava de dinheiro, dizia
à sua tia Frederica que ia vender o Brinquinho.
Sensibilizada, ela lhe dava o valor equivalente à
venda do animal. Assim, Oscar conseguiu muitas
vezes os cinco mil réis daquela que também
protegia sua fuga da casa do avô (Meu irmão Eulálio)
e lhe permitia as idas ao cinema (Cinemas que
conheci em São Paulo).
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