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Oscar Ribeiro de Godoy

 

A QUEDA NO RIO SAPUCAÍ

A queda no Rio Sapucaí.

A estrada do Horto Florestal, lá por 1918, já com o novo traçado, foi aberta sem maiores preocupações, para dar passagem mais cômoda e rápida aos moradores da região e para acabar com o sobe e desce de morros da trilha do Corta Rabicho.

 

O novo caminho, demarcado pelo Eng. Alexandre Marcondes Machado, fora aberto cavando nos morros o espaço suficiente para a passagem de cavaleiros. Nos lugares sem declividade era somente feita uma picada para limpar o terreno e fazer uma abertura para orientar os passantes.

 

Nas proximidades da Fazenda Embaré, na curva da estrada logo depois da Casa da Portaria, hoje condomínio Iporanga, havia uma grande pedra, mais tarde dinamitada para dar passagem aos carros, e por baixo desta havia uma pequena nascente de água. Na impossibilidade de fazer a cava e aterro para ultrapassar a grande pedra, foi feita uma “estiva” no sopé da mesma como se fosse uma pequena ponte com paus roliços colocados sobre a lama da nascente pois os cavalos que por ali passavam tinham grande dificuldade pelo pegajoso atoleiro que se formava. Os animais pisoteavam sobre os paus e não atolavam, mas com o correr do uso estes suportes iam se desgastando e saiam do lugar, formando verdadeiras arapucas. Se o animal pisava num vão entre dois paus, a pata afundava no barro que estava por baixo e era quase certo um tremendo tombo do cavalo e cavaleiro.

 

Certa ocasião, minha mãe, meu irmão e o amigo Xará, vinham da Vila para a Guarda. Minha mãe montava seu cavalo, chamado Castanho, que era só de seu uso. Com o correr dos tempos, estabeleceu-se entre ela e o animal um relacionamento afetivo digno de ser lembrado. O Castanho a reconhecia entre outras pessoas e só deixava de segui-la quando ia para o pasto. Ele era muito bem tratado e montado. Naquele tempo, as mulheres não montavam como hoje por causa das saias rodadas e compridas. Havia um tipo de sela especial chamada silhão, que possuía dois ganchos no lugar da cabeça do arreio. A amazona, punha o pé esquerdo no estribo e a perna direita sobre o gancho, ficando como se estivesse sentada na sela com as duas pernas para o mesmo lado, esquerdo. Havia moças que saltavam obstáculos nestas selas, cuja segurança era dada simplesmente pelo arreamento.

Quando o Castanho, cavalo fogoso e forte, chegou no local da grande pedra, enfiou a pata num dos buracos formados na “estiva” e, ao safar-se, perdeu o equilíbrio e despencou no rio com a amazona que o montava. Ao ver minha mãe cair na água com o cavalo, meu irmão e o Xará, que não sabiam nadar, ficaram nas margens do rio, assustados e sem saber o que fazer, até que apareceu na superfície o cavalo e em seguida mamãe. O que valeu foi o franco entendimento entre minha mãe e seu fiel animal. O Castanho, ao vê-la no rio, nadou ao seu encontro permitindo que ela se agarrasse no gancho do silhão. Meu irmão, das margens do rio, chamava o cavalo e este procurou acercar-se o máximo possível dele de forma que, dadas as mãos, a cavaleira conseguiu sair de cima da montaria e escapar do afogamento.

 

O animal, naquele instante, não pôde ser retirado, pois os barrancos da margem do rio eram muito altos e não permitiam a sua saída. Meu irmão procurou um banco de areia mais abaixo e ali deixou o Castanho, pois entardecia e a escuridão da noite dificultava os trabalhos para a retirada do animal, o que foi feito na manhã seguinte.

 

Tenho a impressão de que o cavalo, reconhecendo os cuidados que D. Sinhazinha lhe dispensava, teve o bravo desempenho na terrível situação em que ela se encontrava, salvando-lhe a vida.

 

Após longos anos de serviço, até mesmo mais tarde no Rancho Santo Antônio, o Castanho teve uma “aposentadoria” muito digna, vivendo sem trabalhar ate o fim de seus dias.

 

 

 

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