A
QUEDA NO RIO SAPUCAÍ
A
queda no Rio Sapucaí.
A
estrada do Horto Florestal, lá por 1918, já com
o novo traçado, foi aberta sem maiores preocupações,
para dar passagem mais cômoda e rápida aos
moradores da região e para acabar com o sobe e
desce de morros da trilha do Corta Rabicho.
O
novo caminho, demarcado pelo Eng. Alexandre
Marcondes Machado, fora aberto cavando nos morros
o espaço suficiente para a passagem de
cavaleiros. Nos lugares sem declividade era
somente feita uma picada para limpar o terreno e
fazer uma abertura para orientar os passantes.
Nas
proximidades da Fazenda Embaré, na curva da
estrada logo depois da Casa da Portaria, hoje
condomínio Iporanga, havia uma grande pedra, mais
tarde dinamitada para dar passagem aos carros, e
por baixo desta havia uma pequena nascente de água.
Na impossibilidade de fazer a cava e aterro para
ultrapassar a grande pedra, foi feita uma
“estiva” no sopé da mesma como se fosse uma
pequena ponte com paus roliços colocados sobre a
lama da nascente pois os cavalos que por ali
passavam tinham grande dificuldade pelo pegajoso
atoleiro que se formava. Os animais pisoteavam
sobre os paus e não atolavam, mas com o correr do
uso estes suportes iam se desgastando e saiam do
lugar, formando verdadeiras arapucas. Se o animal
pisava num vão entre dois paus, a pata afundava
no barro que estava por baixo e era quase certo um
tremendo tombo do cavalo e cavaleiro.
Certa
ocasião, minha mãe, meu irmão e o amigo Xará,
vinham da Vila para a Guarda. Minha mãe montava
seu cavalo, chamado Castanho, que era só de seu
uso. Com o correr dos tempos, estabeleceu-se entre
ela e o animal um relacionamento afetivo digno de
ser lembrado. O Castanho a reconhecia entre outras
pessoas e só deixava de segui-la quando ia para o
pasto. Ele era muito bem tratado e montado.
Naquele tempo, as mulheres não montavam como hoje
por causa das saias rodadas e compridas. Havia um
tipo de sela especial chamada silhão, que possuía
dois ganchos no lugar da cabeça do arreio. A
amazona, punha o pé esquerdo no estribo e a perna
direita sobre o gancho, ficando como se estivesse
sentada na sela com as duas pernas para o mesmo
lado, esquerdo. Havia moças que saltavam obstáculos
nestas selas, cuja segurança era dada
simplesmente pelo arreamento.
Quando
o Castanho, cavalo fogoso e forte, chegou no local
da grande pedra, enfiou a pata num dos buracos
formados na “estiva” e, ao safar-se, perdeu o
equilíbrio e despencou no rio com a amazona que o
montava. Ao ver minha mãe cair na água com o
cavalo, meu irmão e o Xará, que não sabiam
nadar, ficaram nas margens do rio, assustados e
sem saber o que fazer, até que apareceu na superfície
o cavalo e em seguida mamãe. O que valeu foi o
franco entendimento entre minha mãe e seu fiel
animal. O Castanho, ao vê-la no rio, nadou ao seu
encontro permitindo que ela se agarrasse no gancho
do silhão. Meu irmão, das margens do rio,
chamava o cavalo e este procurou acercar-se o máximo
possível dele de forma que, dadas as mãos, a
cavaleira conseguiu sair de cima da montaria e
escapar do afogamento.
O
animal, naquele instante, não pôde ser retirado,
pois os barrancos da margem do rio eram muito
altos e não permitiam a sua saída. Meu irmão
procurou um banco de areia mais abaixo e ali
deixou o Castanho, pois entardecia e a escuridão
da noite dificultava os trabalhos para a retirada
do animal, o que foi feito na manhã seguinte.
Tenho
a impressão de que o cavalo, reconhecendo os
cuidados que D. Sinhazinha lhe dispensava, teve o
bravo desempenho na terrível situação em que
ela se encontrava, salvando-lhe a vida.
Após
longos anos de serviço, até mesmo mais tarde no
Rancho Santo Antônio, o Castanho teve uma
“aposentadoria” muito digna, vivendo sem
trabalhar ate o fim de seus dias.
|