O
TRENZINHO DA GUARDA
O
Trenzinho da Guarda.
Na
minha mocidade, juntamente com meus tios Baltazar,
Amador e Pedro, além de meu irmão Eulálio,
construímos na Guarda um trenzinho de brinquedo
que merece ser descrito para auxiliar no
conhecimento de épocas bem diferentes.
Éramos
todos nós crianças e, para passar o tempo nas férias,
precisávamos inventar coisas como jogos e
brinquedos. Resolvemos construir um trenzinho,
sendo cada um de nós responsável por uma estação.
A estradinha partia das margens do rio Sapucaí e
subia pelo lado esquerdo do rio Galharada até o
fim do pastinho, bem acima da atual serraria.
Trabalhávamos
com colher de pedreiro para fazer os cortes e com
enxadinhas para preparar o leito da ferrovia.
Os
carros do trenzinho eram feitos com latas de
marmelada, que tinham o formato de uma miniatura
de gôndola, e os vagões de passageiros eram
feitos com latas de biscoito “Duchen”, que
tinham uma tampa e davam a impressão de um vagão
de passageiros depois de convenientemente
preparadas, segundo os nossos pensamentos e
desejos. Nelas, pregávamos eixos e rodas de
madeira com engates de arame.
A
estrada imitava bem uma ferrovia, pois havia
cortes e aterros, tudo feito com capricho e em
miniatura. O leito tinha mais ou menos de 15 a 20
cm de largura, e os cortes chegavam até 50 cm de
altura.
Cada
um de nós tinha a sua estação e disputávamos a
prioridade nas construções de anexos e na
organização da cidade correspondente.
Para
a construção das casas, lascávamos tábuas de
pinho, aproveitando sobras da carpintaria, como se
fossem pequenas tabuinhas. Depois, com macete, as
enterrávamos no chão para formar as paredes e
cercados.
As
coberturas eram feitas com latas de biscoito
abertas e alisadas para, em seguida, dar a forma
de telhado. É de assinalar que, nessa época, não
havia plástico, daí a profusão de latas, que
eram as únicas formas de embalagem.
Das
estações, a mais perfeita era a do tio Baltazar,
que no seu livro sobre Campos do Jordão, faz
referências a essas brincadeiras. Nela, ele
construiu uma verdadeira cidade. Havia lojas com
peças de fazendas nas prateleiras e balcão para
atender os fregueses. Tudo não tinha mais de 30
cm de altura em perfeitas miniaturas.
As
outras estações eram umas e outras mais ou menos
caprichadas e tudo funcionava com regularidade.
O
trem partia de uma estação carregando areia,
pedra ou paus de lenha, tudo em tamanho que
coubesse nas latas de marmelada. Na próxima estação
descarregava tudo e recebia novo carregamento
destinado às estações vizinhas.
Havia
desvios para o cruzamento dos trens. Cada “chefe
de estação” conduzia o trem até e estação
seguinte, aí o outro pegava o barbante e puxava o
trem por mais um pouco, e assim por diante.
Assim
passávamos grande parte do dia nessa brincadeira,
conduzindo gravetos, terra e outras bugigangas.
Era
divertido, e essas brincadeiras tiveram o condão
de estabelecer uma amizade perene entre nós
todos, somente interrompida pelos inevitáveis
destinos da vida.
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