VISITA
DE WASHINGTON LUIZ
Visita
de Washington Luiz
Veículos
mencionados na história
A
Estrada de Ferro Campos do Jordão continuava a
sua luta para sobreviver. Abandonado o transporte
a vapor por ser inexeqüível na região, começaram
a circular os caminhões de linha, com motores a
diesel ou gasolina, que rodavam sobre trilhos,
tendo um deles ficado durante muitos anos no alto
do Morro do Elefante, para entretenimento da criançada,
ao lado da estação do mini-férrico.
Posteriormente
foi totalmente reformado, sendo o seu motor
mandado para a Alemanha na Mercedes Benz, para ser
retificado; hoje podemos vê-lo em circulação
para diversão dos turistas. Tinha quatro bancos
transversais: o primeiro era do motorista e
auxiliar e os demais dos passageiros e malas. Eles
deram algum fôlego à estrada, pois passaram a
ter horário regular de Pinda a Campos, mas a
chegada era sempre atrasada pelas paradas para
limpeza de velas, magneto etc. No percurso de
Pinda até aqui, levava-se de
3 a
4 horas e, quando a máquina falhava, em geral os
passageiros eram convidados a descer para passear
ou beber água cristalina nas fontes próximas.
Merece
destaque nesta recordação de nossa terra uma
figura que desempenhou especial papel na vida de
Campos do Jordão pelas atividades que empreendeu
e pelo acentuado amor a esta grei. Foi Dr. João
Martins de Mello Júnior, antigo proprietário da
Fazenda Correntinos, hoje Descansópolis.
Para
resolver o problema da Estrada de Ferro Campos do
Jordão, e melhorar as condições dos transportes
e da eficiência da Estrada, ele convidou o
Presidente Washington Luiz, que governava São
Paulo, para um churrasco na sua fazenda, certo de
que, sofrendo o desconforto da viagem e vendo com
os próprios olhos o que acontecia por aqui, a
coisa se resolveria facilmente. E conseguiu o
desejado.
Pelo
prestígio que detinha como senador,
em São Paulo
– antigamente havia Senado no legislativo
paulista e dos mais ativos –, meteu-se em campo
para os preparativos da recepção.
Aqui
não havia automóvel para conduzir o conviva até
a sua propriedade. Dr. João Martins resolveu o
problema trazendo de Pinda o único carro que ali
existia um “Fordeco de Bigode”, do Sr.
Constantino, um cidadão baixo, atarracado, pançudo,
nas suas roupas tinha um risco horizontal preto
pelo contínuo esfregar da direção do Fordeco.
Do Capivari a caravana seguiu pela estrada da
Abissínia (hoje Jardim do Embaixador) atravessou,
no final da baixada da Lagoinha, a ponte de
cimento a esquerda (mandada fazer pelo Dr. João
Martins e ainda hoje sendo usada), depois alcançou
a propriedade da família Rodrigues Alves, onde
atualmente existem várias chácaras e sítios
(Cid Guardia, Vanise de Carvalho, Cristina Rocha,
etc.) e começou o sobe e desce para chegar à
sede da fazenda, onde, por muitos anos, foi o
escritório da Agricobrás, podendo ainda ser
vista no local e bem conservada. Segundo ouvi
falar, pertence ao Senador Franco Montoro. O
Fordinho resfolegava mas dava conta do recado,
indo e voltando com o Presidente, com galhardia e
segurança.
Vários
troles e cavaleiros acompanhavam o Presidente,
formando uma multidão de umas trinta ou quarenta
pessoas, jamais visto antes em Campos do Jordão.
O churrasco foi um sucesso, porque o objetivo de
tanto rebuliço foi alcançado plenamente.
Washington Luiz conheceu, mais ou menos a força,
os problemas da estrada de ferro, sentiu as delícias
deste clima e, de volta a São Paulo, não demorou
determinar que a estrada fosse eletrificada.
O
Dr. João Martins de Mello Júnior foi casado em
segundas núpcias com a Sra. Inah e teve duas
filhas, Marta e Lígia. No primeiro casamento,
teve um rapaz, Lair, que morou muitos anos nos
Estados Unidos. Era um cidadão de uma bondade e
gentileza especiais, mas uma coisa o tirava do sério
e o perturbava: “um pedaço de terra”, por
pequeno que fosse, desembainhava suas armas.
Éramos
muito amigos e vizinhos, separava-nos uma cerca de
arame farpado que se estendia das margens do rio
Sapucaí-Guaçu até as proximidades da Tabatinga,
limitava a Fazenda Correntinos e o Rancho Santo
Antônio.
Certa
feita, de comum acordo, trocamos os mourões da
cerca e, ao repô-los, todos eram pendentes para o
nosso lado e nunca para a sua posse. Contou-nos,
um de seus empregados, que na ocasião trabalhava
conosco, que ele mandava colocar os mourões
novos, sempre alguns centímetros do nosso lado.
Uma ninharia, mais em quilômetros pode resultar
alguns alqueires de terras.
Mas
as suas qualidades de bondade, cavalheirismo e
amigo certo, superavam tudo.
Aqui
presto a minha mais afetiva homenagem de
reconhecimento pelo muito que fez por Campos do
Jordão
|