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Oscar Ribeiro de Godoy

 

VISITA DE WASHINGTON LUIZ

Visita de Washington Luiz

Veículos mencionados na história

A Estrada de Ferro Campos do Jordão continuava a sua luta para sobreviver. Abandonado o transporte a vapor por ser inexeqüível na região, começaram a circular os caminhões de linha, com motores a diesel ou gasolina, que rodavam sobre trilhos, tendo um deles ficado durante muitos anos no alto do Morro do Elefante, para entretenimento da criançada, ao lado da estação do mini-férrico.

 

Posteriormente foi totalmente reformado, sendo o seu motor mandado para a Alemanha na Mercedes Benz, para ser retificado; hoje podemos vê-lo em circulação para diversão dos turistas. Tinha quatro bancos transversais: o primeiro era do motorista e auxiliar e os demais dos passageiros e malas. Eles deram algum fôlego à estrada, pois passaram a ter horário regular de Pinda a Campos, mas a chegada era sempre atrasada pelas paradas para limpeza de velas, magneto etc. No percurso de Pinda até aqui, levava-se de 3 a 4 horas e, quando a máquina falhava, em geral os passageiros eram convidados a descer para passear ou beber água cristalina nas fontes próximas.

 

Merece destaque nesta recordação de nossa terra uma figura que desempenhou especial papel na vida de Campos do Jordão pelas atividades que empreendeu e pelo acentuado amor a esta grei. Foi Dr. João Martins de Mello Júnior, antigo proprietário da Fazenda Correntinos, hoje Descansópolis.

 

Para resolver o problema da Estrada de Ferro Campos do Jordão, e melhorar as condições dos transportes e da eficiência da Estrada, ele convidou o Presidente Washington Luiz, que governava São Paulo, para um churrasco na sua fazenda, certo de que, sofrendo o desconforto da viagem e vendo com os próprios olhos o que acontecia por aqui, a coisa se resolveria facilmente. E conseguiu o desejado.

 

Pelo prestígio que detinha como senador, em São Paulo – antigamente havia Senado no legislativo paulista e dos mais ativos –, meteu-se em campo para os preparativos da recepção.

 

Aqui não havia automóvel para conduzir o conviva até a sua propriedade. Dr. João Martins resolveu o problema trazendo de Pinda o único carro que ali existia um “Fordeco de Bigode”, do Sr. Constantino, um cidadão baixo, atarracado, pançudo, nas suas roupas tinha um risco horizontal preto pelo contínuo esfregar da direção do Fordeco. Do Capivari a caravana seguiu pela estrada da Abissínia (hoje Jardim do Embaixador) atravessou, no final da baixada da Lagoinha, a ponte de cimento a esquerda (mandada fazer pelo Dr. João Martins e ainda hoje sendo usada), depois alcançou a propriedade da família Rodrigues Alves, onde atualmente existem várias chácaras e sítios (Cid Guardia, Vanise de Carvalho, Cristina Rocha, etc.) e começou o sobe e desce para chegar à sede da fazenda, onde, por muitos anos, foi o escritório da Agricobrás, podendo ainda ser vista no local e bem conservada. Segundo ouvi falar, pertence ao Senador Franco Montoro. O Fordinho resfolegava mas dava conta do recado, indo e voltando com o Presidente, com galhardia e segurança.

 

Vários troles e cavaleiros acompanhavam o Presidente, formando uma multidão de umas trinta ou quarenta pessoas, jamais visto antes em Campos do Jordão. O churrasco foi um sucesso, porque o objetivo de tanto rebuliço foi alcançado plenamente. Washington Luiz conheceu, mais ou menos a força, os problemas da estrada de ferro, sentiu as delícias deste clima e, de volta a São Paulo, não demorou determinar que a estrada fosse eletrificada.

 

O Dr. João Martins de Mello Júnior foi casado em segundas núpcias com a Sra. Inah e teve duas filhas, Marta e Lígia. No primeiro casamento, teve um rapaz, Lair, que morou muitos anos nos Estados Unidos. Era um cidadão de uma bondade e gentileza especiais, mas uma coisa o tirava do sério e o perturbava: “um pedaço de terra”, por pequeno que fosse, desembainhava suas armas.

 

Éramos muito amigos e vizinhos, separava-nos uma cerca de arame farpado que se estendia das margens do rio Sapucaí-Guaçu até as proximidades da Tabatinga, limitava a Fazenda Correntinos e o Rancho Santo Antônio.

 

Certa feita, de comum acordo, trocamos os mourões da cerca e, ao repô-los, todos eram pendentes para o nosso lado e nunca para a sua posse. Contou-nos, um de seus empregados, que na ocasião trabalhava conosco, que ele mandava colocar os mourões novos, sempre alguns centímetros do nosso lado. Uma ninharia, mais em quilômetros pode resultar alguns alqueires de terras.

 

Mas as suas qualidades de bondade, cavalheirismo e amigo certo, superavam tudo.

 

Aqui presto a minha mais afetiva homenagem de reconhecimento pelo muito que fez por Campos do Jordão

 

 

 

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