JOSÉ
PAIVA E SILVA, O JUQUITA
José
Paiva e Silva, o Juquita e suas filhas.
Junta
de Bois do Juquita, semelhante a que socorreu o
carro atolado do Dr. Oscar Ribeiro de Godoy.
Defrontei-me pela primeira vez com o Juquita por ocasião de uma das viagens de São Paulo a Campos.
Vinha passar as férias, e o meu Ford 60 HP bufava pela estrada velha com as suas 600 curvas, ora para lá ora para cá num infernal serpentear pelas grotas. Na Vila não havia a atual via ligando Abernéssia a Jaguaribe: passava-se do outro lado do rio, a caminho da Volta Fria, descendo no Posto do Horácio, parada obrigatória para abastecimento.
O posto era do Horácio Padovan e ficava na Vila Jaguaribe, nas proximidades da linha de ferro e da ponte ali existente. Várias vezes usufruí os seus serviços e passei a admirá-lo pela capacidade de trabalho, pela pontualidade dos seus serviços sempre eficientes e duradouros. Tornei-me amigo e freguês por muitos anos até quando, pelo avançar da idade, tive que abandonar a direção de carros. Aí passamos a nos ver esporadicamente, em encontros casuais.
Após as indispensáveis provisões, seguíamos confiantes até a estrada da Fazenda Correntinos, na época, propriedade do Dr. João Martins de Mello Júnior. Nesse ponto, em seguida à ponte que ali já existia, haviam passado a máquina de terraplanagem e, com as fortes chuvas da época, o terreno virara tremendo lamaçal.
Chegando de São Paulo, não pude avaliar na hora a gravidade do problema e avancei. Alguns metros mais, nós estávamos atolados até os eixos. Viajávamos no auto minha mãe, minha noiva, meu irmão e eu, que era o motorista. Sem saída para a situação tão constrangedora, lembrei-me de pedir socorro na Fazenda Correntinos, onde, por certo, conseguiríamos o necessário apoio.
Apareceu-nos um moço esbelto, forte, falando muito e extremamente afável, que ali morava como administrador. Feitas as apresentações, logo se dispôs a nos ajudar, desdobrando-se em gentilezas. Era o José de Paiva e Silva, conhecido por todos como Juquita.
Entardecia e ele nos informou da impossibilidade de qualquer ajuda, no instante, pois os animais estavam soltos no pasto e os camaradas já se haviam recolhido em suas casas após o dia de trabalho. Insistiu conosco para que dormíssemos em sua casa e que, no dia seguinte, tudo se resolveria a contento.
Deu-nos o seu próprio quarto para minha mãe e minha noiva. Meu irmão e eu ficamos na sala em colchões no chão. Não sei onde ele e a esposa D. Lucila teriam dormido naquela noite, mas estou certo do grande incômodo que lhes causamos naquele dia.
O carro, que ficara atolado no meio da estrada, lá permaneceu durante a noite. Pela manhã, o nosso Juquita já estava ali com duas juntas de bois de carro que, atrelados ao automóvel, nos levaram de arrasto até a entrada do nosso Rancho que estava com a estrada em boas condições.
Instalada na nossa casa, no dia seguinte, uma das companheiras de viagem sentiu-se mal, e tive necessidade de voltar à Vila em busca de remédios. Repetiu-se tudo de novo. Vieram as juntas de bois, fui arrastado até a ponte do Rancho Alegre onde permaneceram, esperando que voltasse da cidade para de novo me puxar até a margem do Sapucaí, na minha estrada.
É de se imaginar a nossa gratidão pelo que fez por um então estranho. Como conseqüência desse fato, nos tornamos amigos e periodicamente nos visitávamos.
A sua atividade e a capacidade de trabalho inigualável deram grande impulso aos Correntinos, onde hoje se encontra o Camping Clube do Brasil. Na casa, onde hoje funciona o restaurante, montou uma serraria a vapor (o que era permitido na época) e passou a serrar pinheiros numa atividade impar que resultava em bons lucros para o dono das terras.
Quase nos associamos a ele em um negócio de vulto, mas, em boa hora, a proibição dos cortes de madeira em Campos frustrou a nossa combinação. Contratei com ele a construção da ponte sobre o rio Sapucaí na estrada para o Rancho Santo Antônio. Fez nas cabeceiras duas colunas de cimento que até hoje suportam vigas de ferro da ponte nova, que fizemos em 1996. Não sei onde, na época, teria arranjado as vigas de maçaranduba de 12m de comprimento, que sustentaram a ponte por mais de 30 anos. O contrato verbal foi cumprido com exagerada fidelidade.
O Juquita progrediu, teve fazendas na Serra de Buquira, em Camanducaia, a fazenda da Boa Vista no vizinho Estado de Minas e outra nas proximidades do Rio Preto. Lutou por Campos do Jordão como poucos; deu trabalho a muita gente e teve a recompensa econômica justa e merecida.
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