O
BARBEIRO CAUBI MONTEIRO
Foto
simplesmente ilustrativa mostrando apenas um
barbeiro em atividade.
Caubi
Monteiro era um excelente profissional e
trabalhava nos melhores salões de São Paulo.
Tinha por Campos do Jordão uma notável preferência.
Quando desejava vir para cá, nada o segurava na
Capital; largava emprego, deixava tudo e viajava
rumo à sua cidade querida. Aqui ficava na Pensão
Inglesa, servindo os hóspedes dos quais recebia
estima e carinho.
Nós,
que o conhecíamos de longa data, muitas vezes o
hospedamos na Guarda e dele nos servimos como
profissional, o que fazia com perfeição e
maestria inigualáveis.
Não
tinha ambição maior, nem pensava
em progredir. O
que ganhava com suas hábeis mãos dava para viver
folgadamente. Conhecido pelas suas habilidades
profissionais, nunca ficava em emprego; aonde
chegava fazia a demonstração de sua habilidade e
logo era contratado com os melhores salários.
Uma
vez, na Guarda, ele chegou ao anoitecer para nos
visitar e, pelo adiantado da hora, não havia mais
comida, mas somente uma grande terrina de
coalhada. Oferecemos-lhe a coalhada de leite muito
gordo e ele – pela delícia do prato, além da
fome que tinha – comeu todo o conteúdo da
terrina e, logo após, foi dormir, pois estava um
tanto cansado da viagem a cavalo. Durante a noite,
foi um “Deus nos acuda” para socorrer o homem
que se esvaziou por todas as saídas possíveis e
quase teve uma desidratação.
Ele
não tinha muito preparo e somente lia jornais.
Mesmo assim, não recusava discussão, qualquer
que fosse o assunto. Várias vezes assistimos à
sua participação nas discussões entre meus
tios, quase todos diplomados em curso superior,
alguns diplomatas e juízes togados. Dizia os
maiores impropérios, criando cenas de grande
comicidade por não perceber o ridículo da situação.
Ríamos das bobagens que falava, mas dava a sua
opinião sem se alterar com os risos e chacotas
que lhe dirigíamos.
O
barbeiro tinha grande admiração pelo ator Procópio
Ferreira e, quando este estava trabalhando
em São Paulo
, não perdia os espetáculos do teatro Boa Vista,
na rua do mesmo nome, ou do Teatro Apolo, na Rua
D. José de Barros. Contava-nos que algumas vezes
havia até trabalhado nos teatros como claque, um
grupo de pessoas contratadas para bater palmas em
determinados momentos, incentivando a platéia a
fazer o mesmo.
Após
vários anos de vida ambulante, trocando de
empregos periodicamente, foi morar em
Pindamonhangaba, sua terra natal. Um amigo seu
montou um salão nas proximidades do Quartel do Exército
e deu-lhe para explorar. Ele fez do local a sua
moradia e, ao terminar o horário comercial,
estendia um colchão no chão do salão e ali
mesmo dormia. Assim Caubi terminou seus dias.
Foi
um grande companheiro, serviu turistas com grande
capacidade profissional e dedicou a essa terra
grande simpatia.
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