O muro da Chácara


O muro da Chácara - FS63 - 08

A foto do ano de 1925 mostra a fase conclusiva da construção do muro de arrimo da Chácara de propriedade de Joaquim Ferreira da Rocha, onde foi construída a primeira casa de alvenaria de Vila Abernéssia, no ano de 1914.

Essa propriedade pertenceu a meu avô Joaquim Ferreira da Rocha até o ano de 1951 quando foi vendida para a Irmandade do Sagrado Coração de Jesus de São Paulo. No local está instalada a sede da ASSISO, Entidade Assistencial, situada nas proximidades do atual Supermercado Maktube, antigo Paratodos.

Um pouco da história:

Meu avô Joaquim Ferreira da Rocha foi companheiro e era conterrâneo de Sebastião de Oliveira Damas. Nasceram na mesma freguesia de São Martinho da Sardoura, concelho de Castelo de Paiva, Portugal. Chegou a Campos do Jordão junto com a Estrada de Ferro Campos do Jordão, no ano de 1914. Foi subempreiteiro de serviços durante a construção da Estrada de Ferro Campos do Jordão. Anteriormente, já havia trabalhado ao lado do amigo Sebastião de Oliveira Damas, construindo muros de arrimo e vãos de pedras sobrepostas em pontilhões ao longo de ferrovias, especialmente, durante a construção de trecho da Companhia de Estrada de Ferro, de Agudos a Piratininga, e na Estrada de Ferro Sorocabana, o trecho de Faxina, hoje Itapeva, a Itararé, além de outros serviços. Adquiriu larga experiência nesse tipo de construção. Foi o responsável pela construção dos muros de arrimo, nas encostas íngremes, dos cortes efetuados na Serra da Mantiqueira e vãos de pedras sobrepostas dos pontilhões de águas pluviais ao longo da ferrovia até os Campos do Jordão.

Floriano Rodrigues Pinheiro, português, natural de Castelo de Paiva, também conterrâneo do Empreiteiro da Ferrovia, Sr. Sebastião de Oliveira Damas, veio para o Brasil bastante jovem, trazido pelo próprio Sr. Sebastião. Chegou a Campos do Jordão, no ano de 1914, juntamente com a construção da Estrada de Ferro Campos do Jordão. Na época da construção da ferrovia, de profissão "canteiro", especializado na arte da "cantaria" ou seja, especializado em trabalhos com pedras, teve papel importante na construção dos pilares da Ponte Metálica sobre o Rio Paraíba.

Floriano Rodrigues Pinheiro radicou-se definitivamente em Campos do Jordão e nunca mais saiu. Casou-se com Isabel, filha do casal Joaquim Ferreira da Rocha e Maria Gütler Rocha. Joaquim, seu sogro, também era seu conterrâneo de Castelo de Paiva, Portugal.

Floriano, na década de 1920, montou, juntamente com o sogro, Joaquim Ferreira da Rocha, uma das primeiras Construtoras de Campos do Jordão a "Rocha e Pinheiro". Mais tarde, com a aposentadoria do sogro, a Construtora passou para sua propriedade e responsabilidade, perdurando até meados da década de 1980.

Na foto, alguns operários que trabalhavam na construção do muro de arrimo, comandados pelo Sr. José Ignácio Caldeira, o terceiro da esquerda para a direita, pai do saudoso Marcos Damas Caldeira que, dedicou grande parte de sua vida e trabalho em prol da Companhia Telefônica de Campos do Jordão, na época, pertencente à Estrada de Ferro Campos do Jordão.

Esse muro é realmente histórico. Ele foi habilmente construído sob o comando do experiente Sr. José Ignácio Caldeira, amigo íntimo de meu avô Joaquim Ferreira da Rocha que o contratou para a execução desse importante muro de arrimo, serviço de grande responsabilidade para a época considerando que, naquele tempo, pouco se sabia sobre concreto armado e ferragens de amarração, sustentação e apoio. As grandes pedras eram sobrepostas uma sobre a outra sem a utilização de cimento para fixação e rejunte.

Com a grande e vasta experiência mencionada, adquirida por Joaquim Ferreira da Rocha, na construção de muitos muros de arrimo. Também, com a experiência adquirida por seu genro Floriano Pinheiro, especialmente, durante a construção da Estrada de Ferro Campos do Jordão. Todas elas, somadas à experiência e grande amizade entre estes e o Empreiteiro Sr. José Ignácio Caldeira, responsável contratado por meu avô Joaquim Ferreira da Rocha, para a construção do muro de arrimo da sua chácara acima referida, o sucesso do trabalho bem feito, pode ser admirado e comprovado na foto e até os dias atuais, depois de quase um século.

Muitos muros de arrimo construídos na atualidade, com alta tecnologia e progressos da engenharia, contando com a utilização do concreto armado, ferros de diversos calibres e implantação de vigorosas vigas atirantadas, infelizmente, já vieram ao chão em muito pouco tempo.

Também na foto, já mais ao alto, da esquerda para na direita, meu pai Waldemar Ferreira da Rocha e minhas tias Emília e Palmyra, filhos de Joaquim F. Rocha. A tia Palmyra nasceu em 22/01/1910, na Cidade de Faxina, atual Itapeva-SP., quando seu pai Joaquim, como mencionado anteriormente, trabalhava na construção da Estrada de Ferro Sorocabana, no trecho de Faxina, hoje Itapeva. Foi a última descendente da família, falecendo em 04/08/2011 com mais de 101 anos de idade. Antes dela, outra irmã Maria Ferreira da Rocha, a Cotinha de história constante em uma das crônicas disponibilizadas neste site, também já havia nascido na mesma cidade, em 02.01.1908.

 

 

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