Rogério Feliciano de Godoy, o sertanista e político mais procurado pelas tropas mineiras durante a Revolução de 1932, filho de Feliciano de Godoy, nascido no ano de 1885, na Fazenda da Guarda, em Campos do Jordão, foi homem bom, prestativo, trabalhador e de inúmeros amigos.
Lembro-me bem do seu Rogério ou Rogelão da Guarda, como era conhecido. Na década de 1950, ele e meu pai eram bons a assíduos amigos que gostavam de bater longos papos no Cartório do Registro Civil, na época, sob a responsabilidade do Tabelião Sebastião Pinto. Esse Cartório estava sediado na atual esquina da Av. Dr. Januário Miráglia com a Rua Noêmia Damas Cintra, no mesmo local onde foi construído o prédio da agência do Banco Mercantil de São Paulo, do Dr. Gastão Vidigal, atualmente, sede das Casas Bahia. Tenho até uma fotografia que dentro em breve estarei colocando no site, onde apareceu o Seu Rogério e meu pai Waldemar Ferreira da Rocha. A foto, além de histórica é engraçada. Seu Rogério, um homem de estatura bem avantajada, tinha 2,10 (dois metros e dez centímetros de altura), a pessoa de maior estatura que já conheci. Meu pai, um homem de pouco mais de 1,60 (um metro e sessenta de altura). Para tirar a foto meu pai subiu em uma pedra que havia na frente do Cartório e, mesmo assim, ficou bem mais baixo que o Seu Rogério.
Contam os mais antigos que, na época da “Revolução Constitucionalista de 1932, Revolução de 1932 ou Guerra Paulista, movimento armado ocorrido no Brasil entre os meses de julho e outubro de 1932, onde o Estado de São Paulo visava a derrubada do Governo Provisório de Getúlio Vargas e a promulgação de uma nova constituição para o Brasil, houve tentativa de acerto de contas entre paulistas e mineiros, frente a descontentamentos ocorridos na época da política do “café com leite”. Com essa política ocorreu o revezamento do poder nacional executada na República Velha entre 1898 e 1930, por presidentes civis fortemente influenciados pelo setor agrário dos estados de São Paulo - mais poderoso economicamente, principalmente devido à produção de café - e Minas Gerais - maior pólo eleitoral do país da época e produtor de leite.
Durante a Revolução de 1932, guerrilheiros do sul de Minas Gerais, tentaram liquidar com alguns líderes políticos paulistas, de grande influência e poder junto às tropas paulistas.
Nessa época, na região das Fazendas da Guarda e Fazenda do Retiro, hoje Região do Horto Florestal, aconteceram ataques inesperados de mineiros vindos da região de Itajubá.
Minha mãe Odete Pavan que, nessa época, morava na Fazenda do Retiro, proximidades da Fazenda da Guarda, contava também que, em determinada noite, os mineiros vieram dispostos a liquidar com os líderes dos paulistas na região, especialmente Rogério Feliciano de Godoy. Foi iniciado tiroteio que criou grande alvoroço entre os moradores da região. As mães pegaram seus filhos e filhas e se abrigaram em quarto da Fazenda do Retiro, onde morava Rogério. Chegaram, inclusive, a esconder as crianças embaixo de camas e armários, na tentativa de escaparem das balas do forte tiroteio. Minha mãe, com apenas nove anos de idade, era uma dessas crianças.
Minha mãe contou também que, o tiroteio durou a noite toda. Contou ainda, que houve várias conversas e tentativas de entendimentos entre mineiros e paulistas. Num desses contatos, Rogério Feliciano de Godoy, vestindo enorme capa preta e chapéu na cabeça, estava entre os paulistas, porém, como os mineiros não o conheciam e nunca o tinham visto, felizmente, nada de pior aconteceu. No dia seguinte os mineiros foram embora e os moradores puderam ver que as paredes externas do casarão da Fazenda Retiro, estava crivado pelas balas do tiroteio. Até poucos anos, ainda era possível ver essas marcas.
Edmundo Ferreira da Rocha
Maio 2012
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