Vila Jaguaribe - década 1920


Vila Jaguaribe - década 1920 - FS131 - 03

Foto da Vila Jaguaribe, da década de 1920. No primeiro plano, as seis lindas e tradicionais casinhas da Rua Bazin, construídas pelo engenheiro José de Magalhães, pertencentes à Madame Bertha Bazin, situadas atrás do Grupo Escolar Dr. Domingos Jaguaribe. Essas casinhas, na quase totalidade, ainda existem até hoje, embora com pequenas modificações que não descaracterizaram as suas formas originais.

Bem à direita, dentre outros prédios, podemos ver a tradicional e importante Pensão Báltica e a casa onde esteve sediada a antiga e famosa Pensão Pinheiro de propriedade do Sr. Alfredo Pinheiro, falecido na década de 1920, daí a denominação da Pensão que, depois do seu falecimento, passou a ser administrada por sua esposa Sra.Angelina de Lima Pinheiro e também por sua irmã que a administrou por vários anos a Sra.Esméria Maria da Cruz Mello,mais conhecida como Dona Amélia, casada com o Tabelião Joaquim da Silveira Mello, mais conhecido por Mellinho.

Ao fundo e ao centro, o morro onde esteve sediado o primeiro Cemitério de Campos do Jordão, local onde foram sepultados vários pioneiros de Campos do Jordão, dentre eles, o engenheiro agrimensor José de Magalhães, acima mencionado, o primeiro a ser ali enterrado.

O Engenheiro agrimensor José de Magalhães, nomeado para efetuar demarcação de terras em ação divisória promovida pelo Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe, foi morto no ano de 1899, por desavenças e desentendimentos com o Sr. João Rodrigues da Silva, o conhecido João Maquinista, por motivos ligados a questões de divisas de suas terras. João Maquinista chegou em Campos do Jordão por volta do ano de 1885 e foi grande proprietário de casas e terrenos, homem muito caridoso, deixando transparecer essa virtude, nos repetidos gestos, que tomava, doando terrenos para a construção de sanatórios e hospitais.

Em outubro de 1896 foi criada a sub-delegacia de Polícia, sediada em Vila Velha (Vila Jaguaribe), sendo nomeado para ocupar o cargo o engenheiro Dr. José de Magalhães.

O titular viera de São Paulo pelas mãos do Dr. Domingos Jaguaribe para fazer os serviços de agrimensura em suas vastas glebas, de cerca de 500 alqueires, em virtude da ocorrência de vários “grilos” que envolviam o Capitão Joaquim Pereira da Rosa, sogro de João Rodrigues da Silva, o João Maquinista.

Daí surgiu uma rixa que se tornou velha entre o Dr. José de Magalhães e João Maquinista, um dos condôminos da Fazenda, por questões de terras.

Dr. José Magalhães era um gaúcho forte, alto e valente. Sua mulher se chamava Clotilde. Na ação de divisão da Fazenda Natal, intentada na Comarca de São Bento do Sapucaí, fora nomeado agrimensor, chegando a iniciar os trabalhos de demarcação.

Certa feita, quando o Dr. Magalhães comandava a abertura de valetas (à época não havia arame farpado para dividir propriedades), ocorreu grave discussão entre Maquinista e Magalhães, tendo o primeiro levado uns safanões do segundo, e prometeu vingança.

Em outro entrevero, ocorrido em 28 de dezembro de 1899, na confluência da atual Rua Brigadeiro Jordão, com a Rua João Rodrigues Pinheiro, o resultado foi trágico, pois João Maquinista não permitiu que a abertura de valos prosseguisse em terrenos que dizia de sua propriedade.

Chamado o Dr. Magalhães ao local do embargo, travou-se ferrenha discussão entre ambos. No auge da grave discussão, que guardava certa distância, Magalhães gritou ao ver Maquinista de posse de uma espingarda:

- Atira, Maquinista! Se você for homem, atira aqui no peito!

João Maquinista que sabia do hábito do Dr. Magalhães de usar colete de aço, respondeu:

- No peito, não, Magalhães, vou atirar na cara mesmo! Assim o tombo é mais bonito.

João Maquinista desfechou um tiro certeiro e mortal, que atingiu o rosto do Dr. Magalhães, no queixo e outro no bigode, arrancando-lhe pedaços.

Entregando-se às autoridades de São Bento do Sapucaí que era a sede da Comarca, João Maquinista foi julgado em 09/02/1900 pelo Juiz Júlio Amaro da Rosa Furtado, quando foi absolvido. Reformada a sentença do Júri de São Bento do Sapucaí, e levado a novo julgamento em 20/05/1901, foi absolvido pelo mesmo Magistrado. Julgado pela terceira vez em 11/11/1901 pelo Juiz Afonso José de Carvalho, foi novamente absolvido e aí a sentença transitou em julgado.

O primeiro cemitério existente no povoado de Campos do Jordão, fora construído em 1898, por Matheus da Costa Pinto, em decorrência das repetidas aflições dos moradores, que se viam obrigados a transladar os seus mortos a Santo Antonio do Pinhal e Pindamonhangaba para sepultamento, sempre transportados em redes, em forma de banguês “debaixo de grossa carraspana e de rezas misturadas a blasfêmias”.

Esse cemitério foi inaugurado em 1899 quando do sepultamento do engenheiro Dr.José de Magalhães, assassinado por João Rodrigues da Silva, o João Maquinista.

No cemitério onde o engenheiro Dr. José de Magalhães foi enterrado, situado no alto do local hoje denominado “Recanto Dubieux”, existia uma inscrição em um dos túmulos: “aqui jaz o Dr. José de Magalhães, barbaramente assassinado”. O pessoal chamava o campo santo de “cemitério da Basin”.

No ano de 1953, eu e meus pais, visitamos esse Cemitério e pude ver a lápide de mármore branco, com a inscrição acima.

O outro morro que aparece à direita da foto é o local onde está sediado o atual Cemitério de Campos do Jordão. Na confluência desses dois morros, atualmente, está sediada a Vila Nossa Senhora de Fátima, anteriormente conhecida como Vila Sodipe.

 

 

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