Adeus ao amigo Dynéas


Adeus ao amigo Dynéas - FS144 - 01

Adeus ao grande amigo Dynéas Fernandes de Aguiar

Lamentavelmente, no dia 13 de junho de 2013, dia de Santo Antonio, perdemos nosso querido amigo Dynéas Fernandes de Aguiar (30.01.1932 / 13/06/2013), com 81 anos de idade. Dynéas nasceu em São Paulo e, há alguns anos, residia na cidade de Valinhos-SP. Enfrentou, com resignação, por algum tempo, uma verdadeira batalha pela vida, contra uma doença chamada “miastenia gravis” (doença do tipo congênita crônica ou autoimune - desordem neuromuscular, caracterizada pela dificuldade da passagem do impulso nervoso que promove a contração dos músculos, manifestada principalmente por fraqueza e fadiga musculo-esqueletal). Em seus últimos dias esteve internado em Unidade de Terapia Intensiva - UTI, sem sucesso, vindo a falecer no final da tarde do dia 13 de junho, na cidade de Valinhos-SP.. Seu corpo foi velado no edifício da Câmara Municipal de São Paulo, localizado no Viaduto Jacareí, no Bairro da Bela Vista, sendo sepultado no Cemitério da Lapa, na cidade de São Paulo, no final da tarde do dia 14 de junho de 2013.

Seo Dynéas como era conhecido aqui em Campos do Jordão, foi, durante vários anos, Presidente do Conselho Municipal da Cultura da Prefeitura Municipal de Campos do Jordão, desempenhando suas funções com muita dignidade, sabedoria, entusiasmo e dedicação. Durante o tempo em que esteve à frente do Conselho, a cultura de Campos do Jordão, em todas suas diversas ramificações, experimentou grande e importante avanço e progresso, jamais visto anteriormente. Nessa época, sempre, praticamente a cada quinze dias, pudemos presenciar exposições diversas, sempre, procurando divulgar e difundir a cultura em Campos do Jordão. Eram realizadas exposições de pinturas, desenhos, fotografias, artesanatos diversos, literatura em geral, inclusive, com declamações de poesias pelos poetas de Campos do Jordão, música e canto, palestras, lançamento de livros diversos e outras atividades relacionadas e afetas à área da cultura. É importante esclarecer que tudo o que era feito pela cultura de Campos do Jordão, como sempre, enfrentava o sério e velho problema de falta de verba municipal. Nas atividades desenvolvidas e comandadas pelo Conselho Municipal de Cultura, tendo à frente o dinâmico e humilde presidente Dynéas, sempre, contou com o valioso apoio dos demais membros que compartilhavam com ele nessa missão e, também, das pessoas colaboradoras, funcionários integrantes do Conselho. Até as próprias pessoas que expunham seus trabalhos, colaboravam sem restrições. A falta de recursos nunca foi motivo que impediu o sucesso, das realizações e eventos programados.

Seo Dynéas foi um homem digno, correto, dinâmico e preocupado com a cultura, com a história e formas de expressão que valorizassem a vida e as pessoas. Deixou saudade em Campos do Jordão, especialmente na área da cultura em geral. Com seu jeitinho calmo, tranqüilo e fala mansa, conseguia resolver a contento as dificuldades e impedimentos, sempre, obtendo um sucesso extraordinário.

Seo Dynéas era um comunista convicto, fiel defensor do seu puro idealismo. Seria maravilhoso, se todos os comunistas, pudessem ser, um pouquinho, igual a esse grande homem.

Tive o prazer e a felicidade de, durante algum tempo, ser o seu Secretário no Conselho Municipal da Cultura e, também, na Associação Cultura de Campos do Jordão que foi fundada graças ao seu grande empenho pessoal, visando difundir as diversas especialidades da cultura, deixando de estar atrelada e dependente do poder público municipal que, sempre, e lamentavelmente, deixava a desejar.

Mesmo depois de vários anos afastado do Conselho Municipal da Cultura, tendo sido eleito nosso vice-prefeito Municipal, no período de 01/01/2005 a 31/12/2008, durante a administração do prefeito João Paulo Ismael e, posteriormente, transferindo seu domicílio para a cidade de Valinhos-SP., é muito comum, em inúmeras oportunidades ligadas à cultura, alguém mencionar com saudades a época em que o Seo Dynéas esteve à frente da cultura em Campos do Jordão.

Com certeza, o Seo Dynéas, o nosso querido amigo e grande batalhador em prol da cultura em geral, jamais será esquecido, por todos aqueles que, juntamente com ele, compartilharam momentos maravilhosos, inesquecíveis e de muito sucesso.

Descanse em paz querido amigo. Tenha certeza que, sempre, estará em nossos pensamentos e em nossos corações. O universo celestial recebe, com certeza, grande, incansável e importante reforço para trabalhar, com afinco, nas áreas que visem o engrandecimento das pessoas e das artes em geral. Que ele continue, lá de cima, olhando por nós e zelando pela divulgação da nossa história e cultura.

A foto que ilustra esta homenagem é do dia 01 de janeiro de 2005, quando tomou posse como vice-prefeito de Campos do Jordão.

Edmundo Ferreira da Rocha - 14 de junho de 2013.

A prefeitura Municipal de Campos do Jordão e o Prefeito Municipal de Campos do Jordão, Frederico Guidoni Scaranelo (01.01.2013 a 31.12.2016), se manifestaram assim que tomaram conhecimento da infausta notícia do falecimento do Sr. Dynéas Fernandes de Aguiar:



“FRED DECRETA LUTO OFICIAL DE TRÊS DIAS, PELA MORTE DO SENHOR DYNÉAS FERNANDES AGUIAR.

O prefeito Fred Guidoni decretou luto oficial por três dias, pela morte... do ex-vice prefeito e ex assessor de cultura Dynéas Fernandes de Aguiar, que faleceu ontem, dia 13 de junho, em Valinhos, aos 81 anos, de complicações advindas de miastenia, uma doença grave que enfraquece os músculos.

O velório está sendo realizado na Câmara Municipal de São Paulo, desde a manhã de hoje. O enterro será às 16 horas, no Cemitério da Lapa.

Fred enviou representantes ao enterro e um telegrama à família onde lamenta a morte e estende as condolências ao povo jordanense que perde, nesta data, um dos seus “baluartes da cultura e um ilustre personagem da história recente”.

O senhor Dynéas era um dos últimos remanescentes daqueles que se prontificaram em reorganizar o Partido Comunista no Brasil, a partir de 1962. Militante desde a década de 50, começou a sua atuação política no movimento estudantil tendo sido presidente da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES) e depois da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES).

Na volta do exílio foi um dos líderes da implantação do PCdoB no Brasil. No início dos anos 1990, Dynéas pediu afastamento do Comitê Central e passou a construir o partido em Campos do Jordão.

Aqui foi o presidente do Conselho Municipal e do Departamento de Cultura do Município. Depois foi vice-prefeito em 2005-2008. Suas gestões foram marcadas pela realização de inúmeros eventos que revelaram e valorizaram os artistas locais, sendo conhecido por sua luta e abnegação em prol da Cultura, da História e da Educação.

Atualmente, ele fazia parte da direção do comitê municipal de Valinhos (SP) e integrava a equipe do Centro de Documentação e Memória (CDM) da Fundação Maurício Grabois. No último período, mesmo enfrentando graves problemas de saúde. Conheça a íntegra do telegrama:

“Ao ser informado da triste notícia da morte do senhor Dynéas Fernandes de Aguiar, desejo expressar sentimentos de vivas condolências à família e também à comunidade jordanense que perde, nesta data, um dos seus baluartes da cultura e também um grande personagem da sua história recente. O senhor Dynéas nos deixa um legado precioso, de firme convicção em ideais e de luta pela dignidade humana, mas também de valorização da cultura local. Envio, de coração, a toda a família, aos amigos e a todos que partilham a dor pela sua partida, meus votos de profundo pesar”. Fred Guidoni, prefeito de Campos do Jordão.”



Abaixo transcrevo alguns comentários e demonstrações que mostram a grandiosidade do amigo Dynéas Fernandes de Aguiar.

BENILSON TONIOLO, nosso atual Secretário Municipal da Cultura, assim se manifestou na rede social do Facebook:

“Jamais troquei com Sr. Dynéias mais do que meia dúzia de palavras. Nos encontramos, no máximo, duas vezes, muito rapidamente. Mas o que sempre me chamou a atenção foi o respeito e a admiração com que se referem a ele pessoas que respeito e admiro como Tania Cunha, Flavia Centofante, Edmundo Ferreira da Rocha- Campos do Jordão Cultura, Manoel Carlos Conti, entre outros. De forma que, no momento desta sua despedida terrena, dedico-lhe meu profundo respeito e reconhecimento pelo legado de alguém que soube deixar de si aquilo que todos procuramos: a de uma vida dedicada à luta pela dignidade humana.”



SUZI PESSANHA, também ligada à área da cultura e, atualmente, ligada à Secretaria Municipal da Cultura, assim se manifestou na rede social do Facebook:

“Estamos de luto pelo nosso amigo! Com ele aprendemos muito. Trabalhar ao seu lado me foi de grande proveito, lições que ele nos passou com seu exemplo de vida e passado de militância política.

O amor pela arte, pela cultura pelo povo e suas manifestações e o grande amor a Campos do Jordão, fez brotar entre nossa equipe em relação a este senhor uma grande admiração, respeito e empatia. O que gerou uma amizade verdadeira e da nossa parte um carinho muito especial.

Costumávamos rir e ironizar dizendo que Seu Dynéias era o ateu mais crente que nós já vimos!

Generoso, imparcial, defensor dos fracos, oprimidos e minorias! Era portanto, um cristão, budista, harekrisna sem saber!!!

Convivemos pouco tempo ao lado de um baluarte da história do nosso país! Poucos sabem da sua importância, pois esta sua importância era camuflada em um senhor pacato, simpático, que caminhava a pé pela avenida, andava de ônibus circular, cumprimentava a todos pelo caminho. Enfim, quase um monge trapista! hahahah deixa ele saber que escrevi isto!!! ele ficaria furioso!!!!

São poucos os brasileiros que podem mostrar uma trajetória de mais de 60 anos de luta em defesa do Brasil e pelo socialismo. Dynéas teve um currículo revolucionário que conta com a luta armada e governo, a experiência de direção da base à cúpula, a luta teórico-ideológica interna, a reestruturação partidária.Tudo isso realizado com disciplina e dedicação sem perder o mesmo brilho nos olhos quando militava na UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas).”



Em homenagem a Dynéas Fernandes de Aguiar, transcrevo abaixo um pouco da sua história e pronunciamento escrito por alguns companheiros de partido.

WALTER SORRENTINO escreveu artigo abaixo, publicado em 02/02/2012 onde fala do valor e das atividades de Dynéas Fernandes de Aguiar:

“Dynéas Aguiar: Uma vida dedicada ao socialismo e à construção do PCdoB

Devemos homenagear as pessoas com as quais aprendemos tanto, porque serve não só nem talvez principalmente ao homenageado, mas a todos nós, na forma de lições que nos são legadas.

No caso de Dynéas Aguiar, que completa 80 anos nesse 30 de janeiro, isso é muito concreto, o que pede registros singulares de cada um de nós. Sessenta deles foram dedicados ao trabalho do Partido Comunista do Brasil.

Há dez dias, recuperado de sua afecção crônica, ele ligou imperativo e animado: “precisamos marcar reunião para retomar o trabalho interrompido”. Mas o principal da ligação era outra coisa: “Vocês me deram uma ajuda de custo para os medicamentos. É hora de cessá-la, porque já os consigo no sistema público. Esse recurso serve melhor ao partido”.

É uma lição da abnegação de Dynéas: o partido em primeiro lugar.

Há um outro registro, que me é muito caro e pessoal. Dynéas morou comigo em tempo de mais uma reorganização do partido, após a Chacina da Lapa e um pouco antes da legalização do partido. Convivi com um homem simples, culto, disciplinado ao extremo, solidário, humano – quando da morte súbita da pequena netinha, a sua dor sincera nos contagiou.

Quantas lições de integridade de vida!

Mais um. Num tempo determinado, Dynéas julgou melhor afastar-se do trabalho de direção. Propôs adotar militância de base, em Campos do Jordão, São Paulo. Foi uma dura prova para ele, nas condições daquele tempo, ou da compreensão que tínhamos – era ainda tempo de alguns dogmas e restrições férreas. A vida mostrou que ele mantinha a mesma consciência e eu sustentei que ele faria novo percurso em outra situação, mantendo os mesmos compromissos com o partido. Foi uma celeuma! Não havia a compreensão na época que temos hoje sobre a política de quadros: liberdade de pensamento, não imposição de opções. Errei no episódio: apesar de defender tal opinião não logrei mantê-la integralmente no momento; faltou-me discernimento e até mesmo maturidade de enfrentar algo que nos desafiava como renovação de concepções e práticas.

Eis aí uma lição indireta propiciada para nossa política de quadros. Atuamos com homens livres, comprometidos por consciência; não adianta impor nada, em determinadas condições, nem fazer juízos sumários ou doutrinários sobre o compromisso dos quadros. Ao contrário, ter uma visão estratégica de seu papel, de seu aproveitamento na luta em diferentes circunstâncias.

Dynéas fez-se líder em Campos do Jordão, secretário municipal de cultura e vice-prefeito prestigiado e querido. Hoje, no município, queremos vencer as eleições a prefeito.

De onde provém essa força de Dynéas? Como se forjou? Como pode se manter até os 80 anos atuais? Como pode se forjar nos quadros nas condições atuais?

São as muitas perguntas que querem ser respondidas pelo partido, apreendendo lições. Consciência, em primeiro lugar. Consciência histórica, revolucionária, compromisso integral com ela. No caso de Dynéas, foi essencialmente a de um autodidata. Sempre estudou o marxismo e sempre manteve uma visão estratégica do projeto partidário, o que está na base de seus compromissos e coerência.

Mas a consciência teórica nem sempre se transforma em compromisso ideológico maduro. Dynéas o forjou em condições outras, até extremas, próprias de seu tempo de jovem: o partido em primeiro lugar, até com o preço da vida se necessário. Foram forjados sempre a partir da condição de militância. O ideal do partido como caminho. Isso significa o compromisso estratégico com a corrente comunista.

Mas atuam nesse caminho características pessoais, de integridade, de ética e valores, de disciplina e coletivismo, que cada um traz consigo e aprimora na vida partidária. Isso é notável: tenho certeza de que Dynéas responderá à indagação “de onde provém essa força” de maneira direta: “vem do Partido Comunista do Brasil!”. Isso é exato, mas não é natural; é revelador da concepção de mundo que cada um de nós tem.

Como forjar e manter características desse tipo – consciência, compromisso estratégico, integridade – num tempo em que predomina a pequena política do cotidiano, tempo em que se repõe a cada passo o espontaneísmo e corporativismo que não ascende ao nível de um projeto político nacional, ou então a pesada carga de pragmatismo que assola a política, desmoralizada por força de uma luta política e ideológica incessante?

Esse é o esforço permanente do PCdoB. Esse é o desígnio da política de quadros. O que nos leva a dizer: nunca perder de vista a perspectiva a estratégica, a vocação para a grande política transformadora, o compromisso com uma perspectiva partidista transformadora, com atitude militante.

Isso é o que faz de nossa luta pelo socialismo não apenas – embora essencialmente – um projeto político, como igualmente um ideal de vida, uma vida a serviço de ideais.

Não vai se repetir a mesma trajetória de Dynéas Aguiar, mas a substância é a mesma, é a ela que queremos promover nas condições modificadas do tempo atual. Essa a essência das lições que retiramos do seu exemplo. Cada um de nós poderia aduzir uma série de depoimentos pessoais, pois é muito longa e profícua sua participação na vida partidária. Digo simplesmente, de forma coletiva, que cada um de nós se daria muito por satisfeito se pudermos chegar aos 80 anos com a mesma coerência, dedicação e compromisso com a causa do socialismo, do povo trabalhador, da nação e da democracia.

Essa homenagem é o reconhecimento do secretariado nacional, dos membros do Comitê Central e de todos os comunistas brasileiros pela dedicação de Dynéas à luta pelo socialismo e à construção do PC do Brasil.

Dynéas Aguiar nasceu em 30 de janeiro de 1932 na cidade de São Paulo e ingressou no Partido Comunista quando ainda era muito jovem. Estudava na tradicional escola Caetano de Campos quando, em 1950, conheceu membros da juventude comunista e se integrou ao movimento estudantil secundarista. No ano seguinte, elegeu-se presidente da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES) e, logo depois, seria alçado à presidência da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES).

Dyneas Aguiar, membro da juventude comunista, quando servia ao Exército em 1951. Desenvolvia-se a Guerra da Coréia (1950-1953) e o governo planejava enviar tropas para lutar ao lado do imperialismo estadunidense. Em resposta, os jovens brasileiros realizaram um grande movimento contra a participação do nosso país naquela guerra de agressão. Dynéas, como principal dirigente da entidade máxima dos estudantes secundaristas, esteve à frente daquela luta vitoriosa. Os jovens comunistas também participaram ativamente da Campanha “O petróleo é nosso”, que culminou na constituição da Petrobrás.

A partir do XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, ocorrido em 1956, idéias reformistas começaram a ganhar força no movimento comunista internacional, inclusive no Brasil. Alguns chegaram mesmo defender a dissolução do Partido Comunista. Até na direção da combativa Juventude Comunista apareceram idéias como essa. Dynéas, ao lado de outros companheiros, encabeçou o combate contra tais opiniões consideradas liquidacionistas.

Nos debates do V Congresso do PCB (1960), ele juntou sua voz às de João Amazonas, Maurício Grabois, Pedro Pomar, Ângelo Arroyo e Carlos Danielli em defesa da preservação da linha política revolucionária do Partido Comunista do Brasil. Derrotados em plenário, muitos perderam seus cargos na direção nacional, mas permaneceram nas fileiras do Partido em outras tarefas.

Enquanto os debates ainda se desenvolviam, Dynéas foi enviado a Brasília, recém-inaugurada. Sua primeira tarefa foi assessorar o Sindicato da Construção Civil, dirigido pelos comunistas. Depois tornou-se secretário-geral da Associação dos Servidores Públicos do Distrito Federal, que havia ajudado a fundar. Esteve à frente das primeiras greves dos “candangos” em defesa dos empregos, ameaçados pela conclusão das obras e pelo enxugamento de pessoal proposto pelo governo Jânio Quadros. Na época, já era um dos principais dirigentes regionais do Partido Comunista.

As divergências entre os comunistas brasileiros se agravaram a partir de agosto de 1961, quando a nova direção partidária registrou novos estatutos e programa no Tribunal Superior Eleitoral. Neles não estavam presentes conceitos essenciais, como a afirmação de que o partido se guiava pelo marxismo-leninismo e o internacionalismo proletário. O próprio nome da organização foi mudado, passando se chamar Partido Comunista Brasileiro e não mais Partido Comunista do Brasil.

Então, um grupo de 100 militantes — encabeçados por Amazonas, Grabois e Pomar — elaborou uma carta à direção protestando contra tais mudanças e exigindo a convocação de um congresso para deliberar sobre aquelas propostas. Logo em seguida, seus principais signatários começaram ser punidos e expulsos do Partido.

Dynéas, secretário de agitação e propaganda do PCB em Brasília, não assinou a “Carta dos 100”, pois o documento não havia chegado às suas mãos. Contudo, ele se recusou a distribuir o jornal Novos Rumos que trazia as expulsões dos que discordavam das mudanças em curso. Em seguida, foi repreendido por distribuir o livro Guerra de Guerrilhas, de Che Guevara, publicado pelos mesmos camaradas que estavam sendo punidos. Por isso, foi afastado de suas funções na direção regional e, posteriormente, expulso do Partido. Como os demais, disse que não poderia ser expulso de uma organização política ao qual nunca havia se filiado: o PC Brasileiro.

Em fevereiro de 1962, a corrente revolucionária convocou uma Conferência Nacional Extraordinária visando a reorganização do antigo Partido Comunista do Brasil — que passaria a ser conhecido com PCdoB. Dynéas só ficou sabendo desse evento depois que já tinha ocorrido. Mesmo assim, foi eleito membro suplente da nova direção nacional. Seria o veterano dirigente comunista Lincoln Cordeiro Oest que levaria a notícia até Brasília. Coube-lhe, então, reorganizar o PC do Brasil no Distrito Federal. Começou a difícil empreitada pelos operários do serviço público, que conhecia bem. A tarefa foi realizada com sucesso. Em pouco tempo, metade dos militantes comunistas da capital já estava no PCdoB.

Dynéas Aguiar, como principal dirigente em Brasília, teve um papel importante no Levante dos Sargentos, ocorrido em setembro de 1963. Esses militares reivindicavam simplesmente o direito de serem eleitos para o parlamento. Seu nome entrou no Inquérito Policial Militar (IPM) aberto para apurar os fatos. Em seguida, ele se envolveu numa operação para resgatar um grupo que pretendia iniciar uma guerrilha no interior de Goiás. Houve conflito com a polícia, mas conseguiu escapar. Isso lhe custou um novo processo.

Participou da reunião do Comitê Central, ocorrida entre 27 e 29 de março de 1964, que alertou para as ameaças golpistas e a necessidade de se preparar a resistência. O golpe militar ocorreu, mas a reação popular não foi à altura das necessidades devido ao predomínio de concepções reformistas no seio do movimento operário e popular.

Mal se concluía o golpe de Estado, Dynéas viajou para a China, liderando o primeiro grupo de militantes que iria fazer um curso político e militar naquele país socialista. Ali ficou por cerca de seis meses. Nesta turma estavam Osvaldo Orlando da Costa (o Osvaldão), Paulo Mendes Rodrigues e Daniel Calado — futuros guerrilheiros do Araguaia. Assim, o PCdoB começava a se preparar para a resistência armada à ditadura militar que se implantava no país.

De volta ao Brasil, sob o comando de Pedro Pomar, foi para o interior de Goiás montar uma área de apoio para um eventual movimento guerrilheiro. A prisão de alguns camaradas fez com que o esquema fosse desmontado. Dynéas, então, passou a compor a Comissão Nacional de Organização, ao lado de Carlos Danielli. Nesta função, viajou para vários estados brasileiros e ajudou a organizar a 6ª Conferência Nacional, em 1966. Nela foi aprovada a necessidade de uma ampla frente política para derrotar o regime e conquistar a liberdade. Entre 1966 e início de 1967, fez parte da direção do PCdoB no Rio Grande do Sul. Depois desse período, reassumiu suas funções na Comissão Nacional de Organização.

Com a prisão de Lincoln Cordeiro Oest, ocorrida em 1968, Dynéas passou a dirigir o Partido em São Paulo. Naquele mesmo ano, manteve os primeiros contatos com os dirigentes da Ação Popular (AP), visando a constituir uma aliança entre as duas organizações no movimento estudantil. Estava neste Estado quando da decretação do AI-5, que radicalizou o terrorismo ditatorial. No ano seguinte, participou das comemorações do 25º aniversário da vitória do povo albanês contra o nazi-fascismo. Quando eclodiu a resistência armada no sul do Pará, ele e Diógenes Arruda Câmara, recém-saído da prisão, foram enviados para o exterior com o objetivo de divulgar a guerrilha. Dynéas ficou responsável pelo trabalho junto às organizações de esquerda da América Latina. Ajudou a organizar um amplo movimento de solidariedade à luta do povo brasileiro. Primeiro foi para o Chile e depois do golpe militar naquele país se transferiu para a Argentina. Esteve por trás das publicações Jornadas da Luta Popular (Chile), Noticero Brasilero (Argentina) e da revista Araguaia, escrita na Argentina e diagramada e rodada no Rio de Janeiro entre 1974 e 1975.

No final de 1976, participou, ao lado de Diógenes Arruda Câmara, da Conferência dos Partidos Marxista-Leninistas da América Latina, ocorrido após o VII Congresso do Partido do Trabalho da Albânia (PTA). Concluído este evento, seguiu para China numa delegação composta por Amazonas e Renato Rabelo. Ali tomou conhecimento da Chacina da Lapa, na qual foram assassinados três dirigentes nacionais do PCdoB: Pedro Pomar, Ângelo Arroyo e João Batista Drummond.

Mesmo sabendo que corria sério risco, voltou para a América Latina — dominada por ditaduras militares — e procurou saber o que tinha acontecido com o seu Partido. Lentamente retomou contatos com militantes que não haviam sido presos e deu importante contribuição no processo de reestruturação do PCdoB, que culminaria na realização da VII Conferência Nacional, ocorrida na Albânia entre 1978 e 1979. Dynéas — ao lado de Amazonas, Arruda e Renato Rabelo — passou a formar o núcleo dirigente do Partido no exterior.

Com anistia, voltou ao Brasil, mas, por razões de segurança, ficou na clandestinidade até início da década de 1980. Na condição de secretário nacional de Organização, foi um dos principais organizadores do VI Congresso Nacional do PCdoB, realizado clandestinamente em 1983. Naquele processo viajou o Brasil inteiro acompanhando as conferências regionais.

Em 1985, quando terminou o regime militar, o PC do Brasil conseguiu a legalização e foi se consolidando como uma força política nacional, influente e respeitada. Este Partido que crescia rapidamente precisava formar os seus dirigentes e militantes. Dynéas se jogou na tarefa de montar uma Escola Nacional do PCdoB, pela qual passariam centenas de quadros comunistas. Foi este trabalho massivo de formação que, em grande parte, assegurou a integridade do Partido durante a grave crise que atingiu o socialismo a partir do final da década de 1980.

No início dos anos 1990, Dynéas se afastou do Comitê Central, mas continuou atuando em outras frentes partidárias. Inclusive, assumiu o cargo de vice-prefeito da cidade de Campos do Jordão (SP), para o qual foi eleito duas vezes. Mostrou com isso que cargos de direção não são vitalícios e nem devem ser entendido como fim de carreira. Comunista é comunista onde estiver e para onde for destacado, dizia ele.

Desde 2008 Dynéas integrava a equipe do Centro de Documentação e Memória (CDM) da Fundação Maurício Grabóis. Com sua larga experiência e seu conhecimento, vinha dando uma importante contribuição na reconstituição da história dos comunistas brasileiros. História na qual teve destacada participação.

Mesmo acometido de grave moléstia no ano passado — que o colocou a beira da morte — ele conseguiu forças para se recuperar e voltou à militância. Participou de vários eventos partidários com grande entusiasmo. Os últimos deles foram o centenário de Maurício Grabois e João Amazonas, e a inauguração da exposição fotográfica sobre a história do PC do Brasil realizada em Jundiaí em março. Nos seus últimos dias de vida estava animado com os temas propostos para o XIII Congresso do PCdoB, no qual pretendia contribuir no debate sobre a crise do capitalismo e suas conseqüências para os povos.

Neste ano ele completaria 63 anos de militância comunista ininterrupta, sendo um dos últimos remanescentes daquela plêiade de bravos camaradas que, em 1962, de maneira ousada, se colocaram na tarefa de reorganizar o Partido Comunista do Brasil.”



RENATO RABELO - Presidente do Partido Comunista do Brasil - PCdoB escreveu:

“Dynéas Aguiar, homenagem a um dos construtores do PCdoB

Em nota, o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, comunica e presta última homenagem ao camarada ...Dynéas Aguiar que morreu nesta quinta-feira (13). O corpo será velado na Câmara Municipal de São Paulo (Viaduto Jacareí, 100 - Bela Vista), a partir das 8 horas desta sexta-feira (14). O enterro ocorrerá no mesmo dia, no Cemitério da Lapa (horário a confirmar). Segue abaixo a íntegra da Nota:

Consternada, a direção nacional do PCdoB comunica o falecimento de Dynéas Aguiar, ocorrido no final da tarde desta quinta-feira (13), em Valinhos, estado de São Paulo. Já alguns dias Dynéas estava internado numa unidade de terapia intensiva decorrente da doença que enfrentava já algum tempo, chamada de miastenia gravis, onde travou uma batalha pela vida, mas infelizmente não resistiu.

Ele morre aos 81 anos de idade, dos quais 63 dedicados ao Brasil, ao povo, à luta pelo socialismo e à construção do Partido Comunista do Brasil. Externamos nossos sentimentos aos seus filhos, à sua família.

Ano passado, no aniversário de 80 anos de Dynéas, a Comissão Política Nacional do Partido emitiu uma nota na qual homenageou sua trajetória heróica. Ele nasceu em 30 de janeiro de 1932 e ingressou no Partido Comunista muito jovem. Em 1950 começou a atuar no movimento estudantil e logo ingressou na juventude comunista. Por suas inúmeras qualidades, elegeu-se presidente da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES) e depois da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES).

Quando, na segunda metade da década de 1950, as idéias reformistas começaram a ganhar força no movimento comunista brasileiro, ele integrou a corrente revolucionária dirigida por João Amazonas, Maurício Grabois e Pedro Pomar. Não participou da Conferência de reorganização do Partido Comunista do Brasil, ocorrida em 1962. Mesmo assim, foi eleito membro suplente da nova direção nacional.

Com o golpe militar de 1964, participou da organização da resistência à ditadura e contribuiu para o êxito da 6ª Conferência do PCdoB que delineou as diretrizes dessa luta. Posteriormente, enviado ao exterior, ajudou a organização do amplo movimento de solidariedade ao povo brasileiro.

Com a anistia retornou ao Brasil, destacando-se como um dos principais organizadores do 6º Congresso do PCdoB em 1983. Nesse período, assumiu a função de secretário nacional de Organização. Quando terminou o regime militar, o PCdoB ingressou em nova fase, se transformando numa força política influente e respeitada pelas camadas mais avançadas do povo brasileiro.

Com seu rápido crescimento, o Partido precisava formar seus militantes. Ele, então, se jogou na tarefa de organizar a Escola Nacional do PCdoB, pela qual passariam centenas de camaradas. Este trabalho intensivo de formação marxista-leninista dos quadros comunistas contribuiu em muito para o Partido enfrentar vitoriosamente a grave crise que atingiu o socialismo no triênio 1989-1991.

No início dos anos 1990, Dynéas pediu afastamento do Comitê Central. Passou então a construir o Partido na cidade paulista de Campos do Jordão. Nessa cidade, pelo respeito que adquiriu, assumiu o cargo de secretário municipal de Cultura e elegeu-se vice-prefeito.

Atualmente, ele fazia parte da direção do comitê municipal de Valinhos (SP) e integrava a equipe do Centro de Documentação e Memória (CDM) da Fundação Maurício Grabois. No último período, mesmo enfrentando graves problemas de saúde, não arredava o pé do trabalho, dando uma importante contribuição na reconstrução da história dos comunistas brasileiros da qual era personagem destacado.

Dynéas era um dos últimos remanescentes daquela plêiade de bravos camaradas que, em 1962, de maneira ousada, se colocaram na tarefa de reorganizar o Partido Comunista do Brasil. Ousadia que garantiu sua continuidade na trilha da revolução. Uma geração que atravessou décadas, a maior parte do tempo na clandestinidade, enfrentou prisões, torturas e mortes, e soube fazer triunfar a liberdade e a democracia com a qual hoje a nação se fortalece e na qual os trabalhadores elevam sua capacidade de união e luta.

As bandeiras vermelhas da grande causa socialista inclinam-se em honra à memória deste digno e heróico combatente!

São Paulo, 13 de junho de 2013

Renato Rabelo
Presidente do Partido Comunista do Brasil - PCdoB”

 

 

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