Odete, minha mãe, em foto rara


Odete, minha mãe, em foto rara - FS149 - 12

Uma foto rara do início da década de 1930, muito importante para nossa família, gentilmente cedida pelos amigos Américo Richieri Filho e sua irmã Maria Luiza Richieri Pinheiro, a Zizi. Praticamente desconhecíamos foto de nossa mãe do tempo em que foi criança. Primeiro, pelas dificuldades financeiras da época que não permitiam gastos com fotografias. Também, pela raridade de máquinas fotográficas em poder das pessoas. Era muito diferente da atualidade, onde, grande maioria das pessoas possui câmera fotográfica ou mesmo, podem tirar fotos com os modernos aparelhos telefônicos celulares.

Mostrando essa foto para minha mãe Odete, já com 90 anos de idade, porém, bastante lúcida, nem ela lembrou-se dessa fotografia. A princípio, minha mãe queria saber quem eram as pessoas que apareciam na foto. Na seqüência travamos o seguinte diálogo: Minha mãe perguntou: E essa casa? É na Fazenda do Retiro ou na Fazenda da Guarda ? Eu respondi: Quem está perguntando sou eu. Olhe a foto e veja se reconhece alguém. Ai ela me perguntou: Será que sou eu que estou na foto. Respondi: Não sei, você é quem tem que dizer. Ela perguntou e essa casa? É no Retiro ou na Guarda? Respondi: Não sei. Vou aguardar para ver se me dá alguma informação importante.

Aí começa uma parte interessante. Para encurtar, perguntei a ela: Você lembra do Cezário e da Zizi, quando eram pequenos? Eles eram filhos do Seo Américo Richieri e da D. Ciloca, da Farmácia Santa Izabel.
Minha mãe respondeu sim, lembro deles criancinhas.
Perguntei. De onde você se lembra deles?
Ela respondeu: Da casa do Seu Américo.
Perguntei: Qual casa do Seu Américo?
Ela respondeu: Aquela casa de madeira que tinha perto de onde você mora (Rua Brigadeiro Jordão). Perguntei. Você alguma vez esteve naquela casa?
Ela respondeu: Sim. Uma vez fiquei naquela casa alguns dias.
Perguntei: Por quanto tempo? Um dia, uma semana, quinze dias, um mês?
Ela respondeu: Acho que uns quinze dias. Eu dormia num quarto pequeno nos fundos da casa, num colchão colocado no chão. Faltava cama.
Ai ela começou falar um pouco mais. O dono daquela casa, naquela época, era o dono da Farmácia Santa Izabel. Eu não me lembro do nome dele. Ajudei: Não era Castilho? Ela respondeu: Isso mesmo. Seo Castilho.


Comentário: O Sr. Lucínio Castilho, era farmacêutico e proprietário da antiga Farmácia Santa Izabel. Era irmão da D. Ciloca, portanto, cunhado do também farmacêutico Sr. Américo Richieri que, posteriormente, adquiriu a Farmácia, depois que o cunhado Lucínio mudou-se para a cidade de São Paulo.

Minha mãe continuou: A esposa do seo Castilho veio para cá muito doente, procurando a cura para a tuberculose. Ela e o seo Castilho eram muito amigos do seo Rogério Feliciano de Godoy (comentando: Rogério, mais conhecido como Rogelão da Guarda, um homem de dois metros e dez centímetros de altura, de muitas histórias sobre a Revolução de 1932 e da luta entre paulistas e mineiros). Ela continuou: O Rogelão morava na Fazenda do Retiro, localizada logo após o Horto Florestal. Muitas vezes, a esposa do seo Castilho, ia passar vários dias na Fazenda do Retiro. Quando ia, levava sabonetes, latas de talco, potes de pó de arroz e distribuía para as mães usarem nas crianças. Eu era uma delas.

Comentário: Minha avó Minervina Pavan, quando veio de Campo Grande-Mato Grosso para Campos do Jordão, era viúva de Mário Pavan, assassinado nessa cidade, por motivos políticos. Minha avó tinha duas filhas, Alice, a mais velha e minha mãe Odete a mais nova. Aqui em Campos do Jordão conheceu Celso Feliciano de Godoy mais conhecido com Pérsio, homem de mais de um metro e noventa de altura. Acabou casando com ele e tiveram mais cinco filhos.

Continuando a conversa, minha mãe Odete disse: Como a esposa do seo Castilho ia muito para a Fazenda do Retiro eu me lembro que, certa vez o Pérsio (padrasto de minha mãe) me trouxe a cavalo até a Vila Abernéssia. Fiquei uns quinze dias na casa que pertencia ao Seo Castilho, onde o Seo Américo morava na época com a família, ajudando a tomar conta de seus filhos Cezário e Zizi. Do local dessa casa a gente avistava o terreno onde depois foi construído o cinema (Cine Glória, atual Espaço Cultural Dr. Além). Nesse terreno tinha um barracão grande. Ali ficavam muitas pessoas pobres que vinham para Campos do Jordão para tentar se curar da tuberculose. Muitos, sem qualquer recurso, morriam ali mesmo. Da casa, algumas vezes, podíamos ver, aglomerados de pessoas, sempre que morria algum deles. Quando o Pérsio me deixou na casa do Seo Américo, não falou depois de quanto tempo estaria voltando para me buscar. Às vezes eu ficava na frente da casa olhando para ver se o Pérsio estava vindo para me buscar. Quase em frente da casa onde o Seo Américo morava na Rua Brigadeiro Jordão, existia outra casa onde morava a Izabel, casada com o Floriano Pinheiro. Essa casa hoje tem o número 1.003. Eu me lembro que a Izabel tinha no terreno da casa um galinheiro, mas ela não tinha coragem de matar galinhas. Algumas vezes eu fui até lá destroncar (matar) algumas galinhas para ela.

Comentário: Minha mãe nessa época não conhecia a Izabel e o Floriano Pinheiro. Jamais poderia imaginar que, um dia, iria casar-se com meu pai Waldemar, irmão de Izabel e cunhado do Floriano.

Minha mãe continuou: A esposa do seo Castilho depois de algum tempo morreu. Puxa... depois que me casei com seu pai, tendo a Izabel como cunhada, nunca me lembrei de comentar com ela que, quando criança, havia matado galinhas para ela.

Na foto, do final da década de 1920 ou começo de 1930, em local situado nas proximidades da atual Rua Brigadeiro Jordão, 1.003, em Vila Abernéssia, ao centro: moça não identificada e, da esquerda para a direita, o garotinho Luiz Cezário Richieri, a irmã Maria Luiza Richieri, a Zizi e minha mãe Odete Pavan.

A casa que aparece ao fundo da foto, na época, de propriedade do Sr. Lucínio Castilho, era a casa onde morava o casal Sr. Américo Richieri e D. Celina Castilho Richieri, a D. Ciloca..

O pinheiro que também aparece na foto, existe até hoje e está localizado na frente da casa de nº 1.003 da Rua Brigadeiro Jordão, que pertenceu ao meu tio Floriano Rodrigues Pinheiro, onde, muito tempo após, esteve sediada, por vários anos, a antiga e famosa Boate 1.003 de propriedade do casal Werner e Eufrieda Ruhig.

Edmundo Ferreira da Rocha - 23/07/2013.

 

 

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