Perais e pereiras


Perais e pereiras - FS152 - 12

Esta é uma foto comum dos Campos do Jordão, das décadas de 1930 até início da década de 1970, mostrando um dos inúmeros perais cultivados cuidadosamente pelos antigos moradores, com as pereiras completamente floridas na época da primavera ou da florada na serra. Campos do Jordão foi o Paraíso das Pêras.

Nesse período, a produção de pêras em Campos do Jordão era muito grande. Perdia-se grandes quantidades de pêras no chão dos perais. Alguns colhiam as pêras para comercializar, enviando para os grandes centros de São Paulo e Rio de Janeiro. Outros colhiam as pêras que caiam ao chão, para utilizar na alimentação de porcos. Nas décadas de 1940 e 1950 a Fazenda Belfruta pertencente aos Srs. Paulo Bockmann e Adhemar de Barros, além do famoso destilado feito da maçã, o requintado “calvados”, com o nome de Calvila, chegou a produzir especial destilado feito de pêras o “poire” e até um destilado misto feito de maçãs e pêras.

Atualmente, esta é uma foto altamente histórica. Os magníficos e maravilhosos perais, não existem mais. Nos locais desses perais foram construídos prédios diversos de lojas comerciais e apartamentos residenciais. Também, houve um desânimo muito grande para a continuidade e manutenção desses perais. A partir das décadas de 1960 até 1980 houve grande interesse em reflorestamentos, utilizando-se espécies de árvores de rápido crescimento e produção de madeira para diversas finalidades, na indústria da celulose para papel, na fabricação de caixaria, móveis rústicos, artesanato, etc.. Foram utilizadas espécies de pinheiros alienígenas, os chamados “pinus”, dos tipos: elliotis, pátula e outros. Esses “pinus” tomaram conta de grandes áreas de Campos do Jordão. A partir dessa época, as pereiras e outras espécies frutíferas cultivadas em Campos do Jordão, começaram a apresentar sérios problemas com os frutos. Com as pereiras o resultado foi trágico. Os frutos, desde pequeninos, eram atacados por um fungo que os deixava com enormes manchas pretas, prejudicando seu crescimento e, consequentemente, seu visual e textura e a sua comercialização. Segundo estudiosos do assunto, essas manchas pretas aconteciam em decorrência de ataques provenientes do pólen produzido por essas espécies de “pinus”, por ocasião das brotas e produção das pequenas pinhas geradoras de sementes. Com certeza, esse foi um dos principais motivos que, também, influíram e levaram os antigos produtores a desistir da plantação das pereiras.

Depois que esses grandes reflorestamentos que, na realidade, não foram vantajosos técnica e comercialmente, foram, aos poucos, sendo cortados, deixando de ter continuidade, o problema da mancha preta das pêras especialmente, foi acabando. Alguns saudosistas como eu, nos terrenos de nossas casas, ainda, cultivamos algumas poucas pereiras. No terreno da minha casa tenho duas pereiras. Felizmente, há vários anos, estou sendo premiado com lindas floradas e com uma produção de maravilhosas pêras que alimentam a saudade das pêras de antigamente, nos dão grande prazer em degustá-las uma a uma. Em alguns anos a produção é até muito generosa, chegando sobrar pêras para presentear alguns amigos que já não têm esse privilégio de produzi-las em suas propriedades.

A foto mostra parte do grande peral que existia desde proximidades do nosso saudoso Cine Glória, atual Espaço Cultural Dr. Além, até a esquina entre o final da Rua Brigadeiro Jordão e Av. Dr. Januário Miráglia, proximidades do prédio conhecido como “Dolomiti”. O morro que aparece ao fundo da foto, onde esteve instalada, por diversas décadas, entre 1940 e 1980, a antena de Rádio Emissora de Campos do Jordão - ZYL-6, a mais alta do Brasil, é o existente atrás do nosso Ginásio Esportivo “Armando Ladeira”.

Muitos pioneiros de Campos do Jordão dedicaram-se à plantação e cultivo das pêras de diversas espécies e, também, das maçãs. Dentre muitos, podemos destacar: a família dos Fracalanzas, em sua Chácara Fracalanza, situada na entrada de Vila Abernéssia, família de Joaquim Ferreira da Rocha, família de Paulo Dubieux, a família de Julio Domingues Pereira, a família de Paulo Bockmann, na Fazenda Belfruta, a família de Alexandre Sirin, a família de Álvaro Abrantes, a família Gabus Mendes e a família Reis da Cunha.

 

 

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