Na foto o casal amigo de muitas décadas, José Correia, o conhecido Juca e a esposa professora Zilda Correia.
Juca, durante muitos anos, foi estabelecido no Mercado Municipal de Vila Abernéssia, em Campos do Jordão, com o ramo de Armazém de Secos e Molhados, com costumávamos dizer. Sempre muito atencioso, de conversa farta, bem humorada e interessante, agradava a todos que procuravam seu estabelecimento comercial. Todos seus clientes eram ou acabavam sendo seus grandes amigos.
Um de seus clientes e grande amigo foi o saudoso professor Expedito Camargo Freire, o grande pintor da paisagem de Campos do Jordão que, inclusive, em determinada época, por vários anos, foi seu visinho ali na Vila Guarani, proximidades do saudoso Círculo Operário de Campos do Jordão.
Sua amizade com Camargo Freire já vinha de longo tempo. Lembrou o Juca Corrêa que, na década de 40, quando trabalhava de ajudante de marceneiro do Sr. Manoel Corrêa, um português que comandava a Marcenaria da Incos de Vila Jaguaribe, casa especializada, voltada exclusivamente para a construção civil da cidade, com vendas de materiais diversos, atendeu várias vezes Camargo Freire que lá ia, embora muito abatido fisicamente, encomendar diversos quadrinhos de madeira, devidamente emoldurados, que seriam utilizados para receber as pinturas especiais das paisagens de Campos do Jordão.
Quando esses quadrinhos, em medidas variadas de 20 x 30 cm, 30x40 cm, ou outras medidas especiais, ficavam prontos, lá ia o Juca Corrêa, que na época era um garotão, a pé ou de bicicleta, levá-los no bairro Umuarama, no Sanatório Ebenezer, onde Camargo Freire estava internado. Sempre que fazia a entrega, Camargo Freire, que não podia recompensá-lo com algum trocado, devido à sua condição financeira nada recomendável, nunca deixou de gratificá-lo com alguma fruta que porventura tivesse guardado para o seu regime alimentar.
Contaram-nos a professora Zilda Correia e seu marido, o amigo Juca Correia, muitas e maravilhosas histórias. Sabendo que o amigo Camargo Freire adorava nhoque, toda vez que faziam esse prato típico da culinária italiana – massa feita de batata, farinha de trigo, ovos e queijo, que depois de habilmente amassada é cortada em pequenos pedaços arredondados, cozida e regada com molho especial de tomate, feito caprichosamente e com muito carinho e, por último, polvilhada com um bom queijo parmesão –, não se esquecia de deixar uma boa marmita dessa especialidade para o professor Camargo Freire.
Toda vez que isso acontecia, no final da tarde, quando o professor chegava em casa, após sua jornada de trabalho como professor de desenho no Colégio Estadual, ela ou o Juca ia entregar a marmita de nhoque para o amigo.
Contam, com muita saudade, emoção e satisfação, que, quando iam entregar a marmita de nhoque para o professor, ele, com aquele jeitão simples, com muita simpatia, alegria e ar jocoso, sempre falava a mesma coisa: “Muito obrigado, mas vocês deviam ter enchido bem a marmita, assim daria para comer agora e amanhã no almoço”, e dava uma gostosa risada.
O Juca, meu amigo de longa data, me ensinou uma coisa importante que aprendeu com seu pai, o saudoso João Correia, durante muitos anos, motorista de praça (táxi) em Vila Abernéssia. Normalmente é difícil saber o ponto exato de cozimento do frango caipira que, normalmente, é bem mais duro para cozinhar que o frango de granja. Seu João ensinou o Juca e ele me ensinou. É muito fácil. Depois de cortar o frango em pedaços normais e temperar, colocar em uma panela com um pouco de molho feito com massa de tomate, temperos como cebola, alho e cheiro verde, levar ao fogo para cozinhar. Levantada fervura, reduzir o fogo e ficar atento ao cozimento, mexendo de vez em quando. As coxas do frango parecem vestidas com uma calça. Quando perceber que a coxa do frango começar a ficar com a “calça arregaçada”, isto é, mostrando as canelas ou as pontas dos ossos, pode ter certeza que o cozimento está no ponto exato. Resumindo: Quando o frango arregaçar as calças e mostrar as canelas, parte dos ossos, está pronto o frango caipira ensopado.
Sempre que me encontro com o Juca, nunca deixo de lembrar: Arregaçou as calças, mostrou as canelas, o frango está no ponto.
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