Foto aérea do trágico dia 18 de agosto de 1972, mostrando a área da Vila Albertina, em Campos do Jordão, afetada pelo trágico e monstruoso deslizamento de terra negra e turfosa que esmagou grande parte do Vale, soterrando dezenas de casas, especialmente, de madeira e vários de seus moradores, impossibilitando-os de fugir pelo imprevisto e rapidez do desastre.
À esquerda da foto é possível ver a área de onde o material lamacento e turfoso explodiu praticamente e, em rápidos instantes, deslizou e soterrou grande parte do vale, destruindo casas e vários de seus moradores.
À frente da foto, o prédio do saudoso “Recanto Infantil Santa Marta”, obra assistencial que abrigava crianças carentes e órfãs.
OBS: Foto da autoria do famoso e importante Jornal “O Estado de São Paulo”.
Abaixo artigo escrito pelo jornalista, historiador e advogado Pedro Paulo Filho, algum tempo após o trágico deslizamento.
A TRAGÉDIA DA VILA ALBERTINA, NUNCA MAIS!
Era 18 de agosto de 1972 e o relógio marcava 8 horas 15 minutos.
De repente, uma terra negra e turfosa começou a se movimentar a partir do prédio do antigo Recanto Infantil Santa Marta, em direção ao casario de operários, a maioria de madeira, situados em Vila Albertina.
Parecia um tsunami de lama negra que revirava e soterrava as moradias, sem possibilidade de fuga pelo imprevisto do desastre.
Campos do Jordão, parou, mobilizando o salvamento de vítimas.
A terra parecia ter estourado de dentro para fora, cobrindo barracos e fazendo desaparecer casas.
Partiram de Taubaté 60 bombeiros em três caminhões acompanhados de soldados do Batalhão da Polícia Militar em direção à nossa cidade; de São Paulo chegaram homens do pelotão de salvamento do Corpo de Bombeiros, quarenta soldados e dois helicópteros do Palácio dos Bandeirantes. O 2º Batalhão de Engenharia de Pindamonhangaba subiu a serra imediatamente e helicópteros traziam médicos e enfermeiros, em verdadeira ponte aérea Campos do Jordão – São Paulo. Desembarcaram em Campos do Jordão o Secretário de Saúde Getúlio Lima Jr., Mario Romeu de Lucca, Secretário da Promoção Social e Sérvulo Mota Lima, Secretário de Segurança Pública.
O Presidente Emílio Médici solicitava informações por telex ao Governador Laudo Natel e o prefeito de São Paulo José Carlos de Figueiredo Ferraz disponibilizava dois helicópteros, ambulâncias e pessoal médico.
Foram retirados 10 cadáveres da lama negra que soterrou 24 casas. O DER começou a deslocar equipamento pesado do Vale do Paraíba para a remoção da turfa preta. O prefeito José Padovan decretou estado de calamidade pública. O engenheiro Nelson Acar, da empreiteira ENPAVI, mobilizou todo o seu equipamento para a remoção da terra e a localização de vítimas.
Houvera o deslocamento de 100 mil metros cúbicos de terra, que alcançou a área de 10 mil metros, sendo necessárias 25 mil viagens de caminhões ao longo de 100 dias.
Inúmeros geólogos começaram a estudar a causa do fenômeno da natureza, concluindo, que pela primeira vez no Brasil constatou-se a existência de mais de 80% de água, incluindo a existente na matéria orgânica, em um terreno e, provavelmente, a vibração de um trator que fazia aterro nas proximidades, tenha contribuído para facilitar mais ainda a liquefação da lama, com o rompimento da fina crosta de solo firme e seco, e com isso, a lama e o restante da areia, silte e argila, deslizaram repentinamente, provocando o acidente.
Algumas casas flutuaram como se fossem jangadas percorrendo a distancia de mais de 200 metros. A coloração preta e o aspecto amontoado de materiais fazia lembrar um derrame de lava aglomérica. Na véspera, o peso do aterro que vinha sendo feito, somado à vibração ocasionada pelo trator que trabalhou na terraplenagem, além do alto teor de água na lama foram as causas do desastre. O professor André Gavino, mestre de Geofísica da USP declarou: “A natureza sempre reage contra investidas dos homens. Nela, nada podemos tirar sem conhecer a fundo as conseqüências da cada ação. Em Campos do Jordão, a Natureza cobrou o preço da devastação da cobertura vegetal das obras, cortes de terreno, etc.” Os geólogos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, Guido Guidicini e Carlos Nieble informaram que há no Brasil o registro de um único caso de corrida de terra, foi o que ocorreu em Vila Albertina, em Campos do Jordão. A terra escorreu sobre as casas ao longo 700 metros em cerca de 30 minutos.
Houve registro das chuvas intensas e continuas nos dias anteriores ao desastre. À construção de um aterro sobre argilas orgânicas saturadas, pode-se atribuir o desencadeamento do desastre. Temos fotografias horripilantes do desastre. À época, éramos Presidente da Câmara Municipal e nos sentimos inúteis, pequenos e impotentes diante do quadro dantesco! Deus nos livre e guarde! A tragédia de Vila Albertina nunca mais!
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