Donato


Donato - FS226 - 01

Orestes Mário Donato ou, como ficou mais conhecido Donato, foi um homem de múltiplas atividades. Era um excelente desenhista e projetista. Durante muitos anos foi o hábil projetista que idealizou e elaborou as plantas das casas e prédios construídos pela COPEL - Construções Projetos e Engenharia Limitada, importante construtora que se destacou no ramo da construção civil de Campos do Jordão, nas décadas de 1950 a 1970.

Na área do desenho e projetos idealizou e criou importantes logotipos para diversas áreas comerciais da cidade. Dentre os logotipos mais importantes que criou e que, alguns, ainda permanecem identificando alguns ramos comerciais, estão: Cadij Imobiliária, Restaurante Nevada, Imobiliária Cimape, Hotel Bologna, Malharia Italiana, Malú Decorações, Imobiliária Rocha, Confeitaria Willys, Confit - Confeitaria Italiana, La Cremerie - Hot Dogs, Livraria e Papelaria “Paula & Brito”, Mercearia Caruso. Era também um excelente datilógrafo. Na época em que tudo era escrito à mão ou em máquinas de escrever, ele dava um show de habilidade e velocidade para escrever textos.

Foi hábil jornalista, escrevia muito bem e com um português irretocável. Escreveu inúmeros artigos importantes para diversos jornais que circularam em Campos do Jordão desde as décadas de 1950 até 1980, dentre eles, o saudoso Jornal “A Cidade”, do saudoso Joaquim Corrêa Cintra, o Jornal “Impacto Vale News”, Jornal “Campos do Jordão & Cia. do Antonio Luiz Schiavo Junior, do saudoso Jayr D´Ávila e da Neuza Soares e muitos outros.

Donato também, idealizou e criou um dos primeiros mapas turísticos de Campos do Jordão. Era um mapa/guia prático de Campos do Jordão que muito auxiliou os turistas que visitavam a Cidade. Esse seu mapa turístico editado com o patrocínio da Cadij Imóveis, na época de propriedade do saudoso Antonio Leite Marques, o Toninho da Cadij, foi muito utilizado na década de 1950, para divulgar o filme “Floradas na Serra”, baseado no romance de mesmo nome, da escritora Raquel de Queirós, que foi filmado aqui em Campos do Jordão. Tinha muita habilidade manual para confeccionar diversos pequenos objetos, especialmente com madeira e papel. Com certeza, isto não é tudo para descrever suas inúmeras e grandes habilidades e atividades no mundo das artes. Uma delas que o tornou famoso, respeitado e reconhecido em Campos do Jordão foi a arte fotográfica. Com certeza, a que mais apreciava e amava. A seguir tentarei falar um pouco sobre suas habilidades na arte da fotografia.

Na foto mostrada, acredito, da década de 1980, o saudoso amigo Orestes Mário Donato, com sua máquina fotográfica Pentax 35mm., montada no tripé, com cabo remoto de obturação da câmera, pronto para tirar lindas fotos em atelier fotográfico. As fotografias que tirava em seu atelier fotográfico eram espetaculares, maravilhosas, dignas de apreciação por todos que apreciavam a arte fotográfica, até por seus concorrentes da época. Donato foi um dos maiores e competentes fotógrafos que passaram por Campos do Jordão. Ele sabia tudo sobre fotografia, desde as mais diversas e complicadas teorias que muitos fotógrafos profissionais desconheciam e, também, as inúmeras práticas utilizadas nesse trabalho maravilhoso. Numa época em que as máquinas fotográficas eram todas manuais ele sabia regular suas objetivas com as aberturas e distâncias necessárias para o sucesso das fotografias. Lembro-me da sua grande felicidade quando conseguiu comprar um fotômetro para auxiliar em seu trabalho fotográfico. O fotômetro é um aparelho que mede a intensidade da luz, para adequá-la às necessidades específicas do fotógrafo, através de parâmetros especiais. Ele converte a luz ambiente em corrente elétrica podendo ser medida em valores referentes à velocidade de obturação ou abertura do diafragma (“f”) da máquina fotográfica, possibilitando ótimas imagens.

Tinha seu próprio laboratório fotográfico montado em um dos cantos do seu quarto. Nesse laboratório ele revelava filmes e, com seu especial ampliador fotográfico, fazia cópia de qualquer tipo de negativo, em diversos tipos de papéis especiais para fotografia. Fazia somente cópias fotográficas, preto e branco e algumas especiais em cor sépia. Simplificando era mais ou menos assim: Em ambiente escuro com somente uma pequena lâmpada vermelha acesa, colocava o filme no ampliador e projetava sobre um papel branco comum. Feitos os ajustes necessários e possíveis, na seqüência, pegava o papel fotográfico do tamanho necessário e da preferência e colocava embaixo da lente do ampliador. Marcando o tempo necessário para projetar a imagem do negativo sobre o papel fotográfico ligava o ampliador e fazia a projeção. Do tempo necessário marcado em segundos dependia a qualidade da foto, mais clara ou mais escura. O Donato sempre gostava de fazer várias provas com tempos diferentes de exposição sobre o papel fotográfico. Na seqüência ia colocando as provas fotográficas em pequenas banheiras especiais, revestidas de ágata branca com as bordas azuis, numa solução de água com revelador especial. Reveladas as provas via qual delas havia ficado com a melhor definição de imagem. Na seqüência tirava as provas desse banho especial e colocava em outra pequena banheira com outro líquido especial com água e fixador, para fixar as imagens nos papéis fotográficos. Após decidir qual o melhor tempo de exposição, marcado e medido em segundos, havia gerado a melhor cópia, no papel fotográfico definitivo fazia as cópias das fotos contidas em cada negativo. Depois dos dois primeiros banhos as fotos iam para outra banheira e ficavam, por algum tempo, às vezes várias horas, sendo lavadas em água normal. Depois eram tiradas e penduradas em varais especiais, presas com grampos próprios até que toda água escorresse. Na seqüência, cada foto era colocada em um secador especial, sobre uma chapa metálica brilhante e lisa. Por cima recebia uma lona especial, mantendo-as firmes por algum tempo sobre a chapa metálica aquecida com temperatura controlada, até que as fotos estivessem totalmente secas, prontas para uso e distribuição. Era um trabalho totalmente artesanal, demorado e muito bem controlado.

O Donato também fazia copias fotográficas em tonalidade sépia (aquelas meio amarronzadas que dão impressão de fotos bem mais antigas). Para esse tipo de fotos o banho revelador que os papéis fotográficos recebiam logo após serem impulsionados com a projeção da imagem dos negativos, continha líquidos próprios e especiais para a tonalidade sépia.

A fotografia naqueles tempos passados, muito anteriores às décadas de 1940 até 1980 em que o Donato fazia todas as fases especiais e próprias, acima resumidas, era uma arte difícil, trabalhosa, porém apaixonante.

Tive a oportunidade de acompanhar, muitas vezes, esse trabalho que o Donato fazia no seu laboratório, especialmente à noite. Muitas vezes, em finais de semana, ele chegava, a passar noites inteiras executando esse trabalho de revelação de filmes, extração de cópias, ampliações diversas, para poder, nos dias seguintes, atender aos pedidos de seus clientes.

Nesse trabalho com as fotografias sempre foi muito organizado, até exageradamente. Em todas provas de cada fotografia que fazia, no verso, colocava um carimbo especial de “Prova sem retoque” que continha as anotações: Número da Categoria, Número do Negativo, Tipo de papel utilizado, Abertura “f” e Segundos (tempo utilizado para a sensibilização do papel fotográfico). Também utilizava esse verso para outras anotações necessárias e de seu interesse. Os negativos eram todos guardados em pequenos envelopes especiais contendo anotações para facilitar a localização das fotos guardadas.

OBS: Esta foto da autoria do Donato foi gentilmente disponibilizada pelas queridas amigas Malú Donato e Luciana Donato, respectivamente, sua esposa e filha.

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