Frei Orestes e artesanatos da SEA


Frei Orestes e artesanatos da SEA - FS293 - 07

Uma foto da década de 1960, e nela, o saudoso Frei Orestes Girardi e os meninos da guarda mirim, amparados por ele e pela SEA - Sociedade de Educação e Assistência por ele criada. Na oportunidade Frei Orestes apreciava os trabalhos manuais e artesanais fabricados pelos meninos nas oficinas especializada da SEA. Em todos esses trabalhos eram utilizadas madeiras de pinho e cedrinho, pinhas de pinheiros chilenos, transformados em lembranças típicas de Campos do Jordão, muitos ornamentados com trabalhos em pirogravuras. Esses trabalhos eram vendidos em local na própria instituição e o valor arrecadado era revertido em seu benefício.

OBS: Esta foto, da autoria do saudoso e grande fotógrafo Donato, foi gentilmente disponibilizada pelas queridas amigas Malú Donato e Luciana Donato, respectivamente, a esposa e a filha do saudoso amigo Donato.

Um pouco sobre Frei Orestes Girardi

FREI ORESTES GIRARDI, Irmão Franciscano, da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, nasceu em Nova Prata RS., aos 06.09.1921, batizado por Antônio Fernandes, entrou na Ordem Franciscana aos 06.09.1936. Passou em várias fraternidades no sul, servindo como alfaiate, hortelão, porteiro, sacristão, enfermeiro, auxiliar de dentista...

Sua chegada a Campos do Jordão deu-se no ano de 1955, designado a auxiliar como porteiro e sacristão. Aqui é que “Frei Orestes haveria de descobrir, aos poucos, a sua verdadeira vocação”.

Frei Orestes trabalhou muito na Igreja Matriz de Santa Teresinha, nos serviços gerais de reboco de paredes, ornamentação dos altares,na aquisição e instalação dos sinos, e também fazia os serviços de secretaria e de portaria. Impressionou-se com a extrema pobreza encontrada nos bairros e comunidades e nos sucessivos e diários pedidos de socorro, o que pôde constatar nos locais por ele visitados.

Compadecido pelas pessoas, sobretudo as crianças desvalidas, conseguiu 300 cobertores da melhor qualidade com a senhora Helena Matarazzo, os quais foram distribuídos rapidamente.

Aceitou o conselho do jornalista jordanense Romeu Negreiros Mezzacapa, que lhe disse: “Frei é melhor cuidar das crianças que são indefesas do que dos adultos!”

A partir deste momento, como quem tivesse aceitado um grande desafio, vislumbrou o sonho de iniciar uma obra social para cuidar de crianças.

Então, aproveitando a vinda do Frei Adriano Hypólito, visitador dos Franciscanos, obteve a doação do terreno da Província Franciscana da Imaculada Conceição e de amigos e benfeitores juntou dinheiro para adquirir uma casa velha e abandonada para poder reunir a criançada. Conseguiu a doação do projeto da Empresa Severo e Villares o qual foi aprovado pelo Prefeito da época, depois de muita cobrança por telefonemas das próprias crianças.

Contudo, foi preciso organizar juridicamente uma sociedade (hoje associação) com estatutos próprios, surgindo daí a Sociedade de Educação e Assistência em 14 de abril de 1959.

Assim no inicio dos anos de 1960 a SEA começou a funcionar num barracão de madeira, muito simples e com 02 salas de aula, buscando ajuda junto ao SESI, Serviço Social da Indústria. Parceria essa que muito auxiliou a SEA até o ano de 1992.

A partir de então, a SEA adquiriu personalidade jurídica com seu estatuto.

Foi eleita a 1ª Diretoria da Instituição que ficou assim constituída:

Presidente: Frei Anacleto Wiltuschnig, OFM
1° Vice-Presidente: Délio Jácome Rangel Pestana
2° Vice-Presidente: Arakaki Masakasu
1° Secretário: Geraldo Osório de Figueiredo
2° Secretário: Sebastião Alves Rodrigues
3° Secretário: Antonio Reis
Tesoureiro Geral: Seddy Salinas
1° Tesoureiro: Romeu Rodrigues Pinheiro
2° Tesoureiro: Mario Greco
Diretor Social: Frei Orestes Girardi
Conselho Fiscal: João de Sá, José Correa Cintra e Romeu Negreiros Mezzacapa


Em 07 de setembro de 1962, era lançada a pedra fundamental dos pavilhões da SEA. Daí, iniciou-se com diversas Campanhas que obteve as primeiras adesões com o então, Governador Abreu Sodré e dona Maria do Carmo.

Em seguida, constituiu-se dezenas de padrinhos amigos e benfeitores e em 1971, foi terminado mais um pavilhão onde funcionaria o Ginásio.

A SEA já atuava em diversas modalidades: parque infantil, creche, Jardim da infância, cursos de alfabetização, escola profissional de gráfica, marcenaria, malharia, corte e costura e a guarda mirim.

Centenas de alunos freqüentavam os cursos do primário e ginásio (hoje ensino fundamental).

Frei Orestes morava num pequeno apartamento à esquerda da entrada da SEA, tinha vida pobre e sacrificada entremeada de dores físicas, em razão das limitações que tinha, mas era uma pessoa feliz, por ser amado pelas crianças, e esse amor era a sustentação do seu dia a dia.

Percebendo que sozinho não poderia levar adiante a SEA, que estava adquirindo grandes proporções, com o apoio do Bispo Diocesano D. Francisco Borja do Amaral e com a ajuda da saudosa Irmã Maristela, fundaram a Pia União das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora de Fátima que recebeu a aprovação diocesana em 10 de fevereiro de 1969.

Apesar de tantos empreendimentos, desafios e surpresas do Espírito do Senhor, o sonho de ser sacerdote persistia. Conseguiu ordenar-se Diácono no dia 12.03.72. Após isso, recorreu ao Papa Paulo VI e ao Papa João Paulo II para obter licença de ser ordenado Sacerdote, o que não conseguiu. Porém não o foi de nome, mas de coração e por atos.

E no dia 13 de maio de 1988 foram aprovadas canonicamente como Congregação pelo Bispo Diocesano, Dom Antonio Afonso de Miranda, hoje Bispo Emérito, as Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora de Fátima, com missa festiva na capela da SEA, data essa inesquecível para nós.

Foi uma grande graça e de profundo alcance na vida do Frei Orestes este acontecimento que no fim da cerimônia, ajoelhando-se em frente ao Senhor Bispo, e elevando os braços em forma de ação de graças, disse: “Agora, Senhor, posso morrer em paz. Eu vi realizar-se o meu sonho”. Não se pode descrever a emoção causada em todos os presentes por este profundo gesto de humildade e agradecimento.

Pouco menos de três meses depois, no dia 05 de agosto de 1988, Frei Orestes encerra sua caminhada nesta terra. Na verdade sua Obra estava definitivamente encaminhada, firme nos alicerces de seu trabalho e de seus princípios.

O Instituto das Irmãs Franciscanas de N. Sra. de Fátima, fundado pela SEA – Casa Mãe, hoje já ultrapassa as fronteiras de Campos do Jordão, pois, mantém casas em Minas Gerais, no Paraná, e participa de projetos Missionários na Amazônia e em breve no Rio de Janeiro. Somos nós Irmãs Franciscanas, herdeiras legítimas de seu espírito, de seu ideal e de sua missão.

O importante é que Frei Orestes viveu uma história de amor, de fé, de sacrifício e dedicação a serviço da Igreja, do povo e principalmente das crianças que tomou como sua família.

OBS: Texto escrito pela Irmã Lucia Zanin, com pequenas adaptações.

 

 

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