Essa é uma foto bastante histórica. Embora tirada na década de 1960, mostra um prédio bastante antigo da década de 1920. Abaixo um pouquinho da história desse prédio que já não existe mais, com algumas explicações e comentários. No lugar desse prédio e de uma outra casa que existia à sua esquerda, hoje existem belas casas de pessoas que freqüentam Campos do Jordão em finais de semana e períodos de férias escolares.
De acordo com parte do depoimento do saudoso Sr. Bráulio de Almeida Ramos Filho, constante do Livro “História de Campos do Jordão”, da autoria do saudoso amigo, grande historiador, advogado, escritor e jornalista Pedro Paulo Filho, Editora Santuário, 1986, Páginas 716 a 722:
“Cheguei a Campos em fins de 1928, em busca da saúde perdida de uma irmã. Instalei-me em Vila Capivari, pois meu pai, Bráulio, adquiriu o armazém de Simão Cirineu Saraiva.Ficava na esquina da rua Victor Godinho com a rua Roberto Jeffery, nos fundos do atual posto de gasolina (Esse posto de gasolina, com a bandeira da Shell, era de propriedade do saudoso Sr. Horácio Padovan e ficava bem em frente à Parada Damas, da Estrada de Ferro Campos do Jordão). A casa de comércio servia Macedo Soares, Monteiro Lobato, Roberto Simonsen e outras pessoas ilustres.”
“O armazém era o ponto de convergência da Vila, e o pessoal sentava-se em um banquinho, onde se discutia de tudo até o meio-dia.
Campos do Jordão era pacata e solidária; havia mais tempo de pensar nos outros. De repente, via-se o prof. Alexandre Corrêa (que tinha uma casa nas proximidades), sentado debaixo de um pinheirinho, discutindo horas a fio; a passagem do Dr. J. C. de Macedo Soares, o cumprimento do Paulo Ayres. Onde há (existiu) o posto de gasolina Shell (acima mencionado e pertencente ao Sr. Horácio Padovan), o Dr. Macedo Soares construiu uma igrejinha de madeira, a primeira de Vila Capivari. Acabou perdendo a finalidade e transformou-se no primeiro serviço de assistência social de Campos do Jordão, e talvez de S. Paulo.
Os doentes pobres iam chegando e eram acomodados nesse barracão; havia uma corrente de solidariedade; um dava o almoço, outro o jantar, aquele outro o lanche e assim por diante.”
Acrescentando: Nas décadas de 1910 até década de 1940, diversas famílias benevolentes de turistas e de jordanenses, prestavam um belo trabalho de assistência social. Algumas famílias traziam o almoço e outras o jantar, para alimentar muitos doentes sem recursos que vinham para Campos do Jordão em busca do clima privilegiado, esperando a cura para a terrível tuberculose. Nesse prédio, pouco mais que um simples barracão, também se prestou, durante algum tempo, para que fosse criada a primeira Igreja Católica da Vila Capivari.
“A assistência médica ficava a cargo dos médicos Marco Antonio Nogueira Cardoso, Décio Queiroz Telles e Raphael de Paula Souza, que sempre arrumavam um tempinho de passar lá!
Era o famoso “Vaticano”, barracão onde se criou a primeira igreja (Católica) de Capivari.
Romeu Godoy, que foi operador do Cine Glória (de Campos do Jordão), foi um dos remanescentes do “Vaticano”.
O centro de Vila Capivari localizava-se naquela região. Em todas as tardes, o Eng° Willie Davids aparecia para tomar aperitivo no armazém do Simão.”
Um pouco mais de detalhes sobre esse prédio famoso: Ficava localizado na atual Av. Victor Godinho, quase esquina da Rua Dr. Roberto Jeffery, em Vila Capivari, proximidades da Parada Damas, Pensionato São José e Escritório e Subestação de Capivari, da Companhia Sul Mineira de Eletricidade C.S.M.E..
No final da década de 1950 e décadas de 1960 e 1970 esse local foi utilizado para um depósito de lenha especialmente cortadas para fogão e lareira, era o conhecido Lenheiro do Seu Jorge. Ao lado existia uma casinha simples onde a inesquecível Dona Honorina, uma senhora muito simpática e atenciosa, de cor negra e gorda, uma das melhores cozinheiras que passaram por Campos do Jordão, residia com o marido e um filho adotivo (conhecido por Braga ou Simplício, já falecido, que trabalhou no Hotel Toriba. A comida que habilmente preparava era muito apreciada e disputada. Durante muitos anos ela forneceu, diariamente, marmitas para muitas famílias de turistas que tinham casa de veraneio ou inverno em Vila Capivari e, também, para muitos e jordanenses.
Identificação reduzida sobre as pessoas acima mencionadas:
Bráulio de Almeida Ramos: E o irmão Hanaud de Almeida Ramos, foram pioneiros e antigos moradores de Campos do Jordão, com suas respectivas famílias. Durante as décadas de 1940 a 1960, foram proprietários da famosa e tradicional “Casa Jarbas”, especializada em ferramentas, ferragens, materiais diversos, inclusive para construção, eletrodomésticos, discos, aparelhos de som e muito mais, localizada na Rua Brigadeiro Jordão, em Vila Abernéssia, em Campos do Jordão, bem em frente à Praça da Bandeira.
Simão Cirineu Sarayva além de ter sido proprietário do armazém acima mencionado, construiu o primeiro reservatório de água de Campos do Jordão, no Manancial, com obra executada por Floriano Rodrigues Pinheiro. Na década de 1920 chegou a trabalhar nas obras da construção do “Grande Hotel”, o primeiro hotel de turismo da Estância de Campos do Jordão que, por motivos financeiros, teve sua construção paralisada e, posteriormente em 1926, comprado pelo Senador Roberto Simonsen, teve a construção concluída. Esse grande casarão em estilo inglês passou a ser a saudosa “Vila Simonsen”. Foi administrador do primeiro Cemitério da cidade. A partir de 1937 foi designado agente dos Correios e Telégrafos, cargo que exerceu por muitos anos e no qual se aposentou. Também ficou para a nossa história por sofrer de úlcera no estômago. Descobriu que a água de uma mina localizada em Capivari, no caminho da Vila Inglesa, lhe fazia bem e aliviava as dores do estômago. Passou a beber, diariamente, a água da fonte e curou a úlcera. A mina ficou famosa e conhecida por FONTE SIMÃO.
José Carlos de Macedo Soares: Embaixador brasileiro, Jurista, historiador e político.
Alexandre Corrêa: Mestre e Professor Catedrático de Direito Econômico-Financeiro da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.
Monteiro Lobato: O grande e famoso José Bento Renato Monteiro Lobato, um dos mais influentes escritores brasileiros de todos os tempos que, no final da década de 1930 e início de 1940, residiu aqui em Campos do Jordão com a família, acompanhando seu filho Guilherme Monteiro Lobato que, também veio em busca da cura.
Roberto Cochrane Simonsen: Engenheiro, industrial, intelectual orgânico, empresário, escritor e político brasileiro, deputado estadual e senador.
Paulo Ayres: Foi presidente do Instituto Pinheiros, produtos terapêuticos S/A., formado em comércio pelo “Makenzie College”, diretor de diversas instituições filantrópicas, valendo ressaltar o grande trabalho que realizou em prol dos “Sanatorinhos” de Campos do Jordão.
Willie da Fonseca Brabazon Davids: Engenheiro e político brasileiro, tendo sido prefeito da cidade de Jacarezinho - PR e deputado estadual.
OBS: Esta foto foi gentilmente disponibilizada pelas queridas amigas Malú Donato e Luciana Donato, respectivamente, a esposa e a filha do saudoso amigo Donato.
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