Homenagem e adeus ao Orlandinho


Homenagem e adeus ao Orlandinho - FS24 15

Durante as festividades carnavalescas da década de 2000, o carnavalesco e folião, o conhecido Orlandinho, desfila pelas avenidas centrais de Vila Abernéssia, com a maravilhosa fantasia que lhe valeu o prêmio de primeiro lugar, empunhando o troféu recebido, acompanhado de foliões e folionas, também fantasiados, pertencentes ao seu grupo.

Orlandinho, como era conhecido por todos de Campos do Jordão, era uma pessoa calma e tranquila. Nunca escondeu, de forma alguma, sua preferência homossexual. Sempre muito educado, costumava vestir-se com roupas tradicionais masculinas, somente demonstrando ser diferente através da sua voz e trejeitos femininos quando falava e, um pouco, quando caminhava. Sempre muito prestativo e conhecedor dos principais passeios turísticos de Campos do Jordão, ficava à procura de grupos de turistas, oferecendo-se como cicerone. Durante muito tempo conseguiu angariar algum dinheiro para seu sustento, sempre reservando alguma pequena parcela para possibilitar a confecção das suas fantasias, visando desfilar, durante as festividades carnavalescas, pelas ruas e avenidas centrais de Vila Abernéssia – acredito ser seu maior sonho durante toda sua vida, depois de adulto. Nessas oportunidades, aproveitava para fazer aflorar largamente seu lado feminino.

Orlandinho também era tido como competente e excelente faxineiro. Muitas pessoas que costumavam contratá-lo para fazer faxina em suas residências diziam que a limpeza que ele fazia era, muitas e muitas vezes, superiores àquelas feitas pelas faxineiras. Diziam que as casas ficavam totalmente limpas e maravilhosas. Também, parte desse dinheiro que ganhava com esses serviços era reservada para suas fantasias carnavalescas.

Morou por vários anos no conhecido loteamento popular Monte Carlo, situado no caminho de acesso aos tradicionais e antigos Sanatório Ebenezer e Hotel Umuarama, nas proximidades da antiga represa que canalizava água para geração de energia elétrica da Usina Evangelina Jordão de Vila Abernéssia, durante as décadas de 1930 até 1960.

Durante todo o tempo em que morou nesse loteamento, mantinha grande preocupação com toda comunidade carente que lá residia. Com algumas economias guardadas com muita dificuldade e ajuda de amigos a quem recorria, conseguia elaborar, nos meses de dezembro, na semana que antecedia o Natal, com ajuda de amigas e amigos, um almoço simples, porém bastante nutritivo e substancioso, normalmente uma lauta macarronada com molho de frango ensopado, que era servida à comunidade carente do bairro.

Infelizmente, Orlandinho, segundo consta, foi morto na casa em que morava, algum tempo após as festividades carnavalescas de 2010, no dia 16 de abril. Entretanto, um ano já se passou e, até agora, lamentavelmente as investigações não conseguiram chegar a uma conclusão sobre o autor ou autores do infausto crime.

Uma coisa é certa, o Carnaval de Campos do Jordão, há muito tempo, de ano para ano, vem perdendo aquele brilho especial que já chegou a projetá-lo como um dos melhores carnavais da região, sendo procurado por foliões vindos de várias cidades do Estado de São Paulo e até do Rio de Janeiro. Agora, mais ainda, a partir deste ano, não teremos mais, desfilando garbosamente pelas ruas e avenidas centrais da nossa Vila Abernéssia, com suas maravilhosas e inesquecíveis fantasias, a figura tradicional, alegre, entusiasmada e querida do Orlandinho.

Com certeza, onde estiver, nessas oportunidades deve estar se preparando para outros desfiles de fantasias, em algum lugar desse nosso imenso e desconhecido universo. Claro, aproveitando a oportunidade para, de alguma maneira, dar uma espiadinha no Carnaval de rua de Campos do Jordão.

Orlandinho, daqui para frente, somente na saudade daqueles que tiveram oportunidade de conhecê-lo e assistir aos desfiles carnavalescos em que participou com muito entusiasmo, amor e carinho. Exibia, nos desfiles carnavalescos dos quais participou, suas belas fantasias, muitas até bastante simples, porém elaboradas de acordo com sua possibilidade financeira bastante diminuta e acanhada, fazendo parecer, especialmente para ele – creio que sua maior preocupação – a mais linda e preciosa fantasia do mundo.

Campos do Jordão está triste. O Carnaval de Campos do Jordão sente a falta irreparável do saudoso Orlandinho.

 

 

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