Vila Jaguaribe - Década de 1910
Vila Jaguaribe na década de 1910. Ao centro a primeira Igrejinha da Vila Jaguaribe denominada Capela de São Matheus do Imbiri, situada exatamente no mesmo local, onde hoje está a localizada a Igreja de Nossa Senhora da Saúde.
À esquerda, as lindas e saudosas casinhas pertencentes, na época, a D. Bertha Bazin, existente na rua que, atualmente, tem o nome de Rua Bazin. À direita o Hotel Melo um dos primeiros de Campos do Jordão. Ao fundo, na direção do Hotel Melo, o centrinho da Vila Jaguaribe atual e o início da Vila Guarani.
À direita dois belos sobrados existente na época. Um deles, com algumas modificações existe até os dias atuais.
Ao fundo o morro que fazia parte das terras de D. Bertha Bazin onde foi construído no seu topo, o primeiro Cemitério de Campos do Jordão, inaugurado em 29 de dezembro de 1899 onde, além de outras pessoas, foi sepultado em 10 de dezembro de 1907 seu marido Sr. Casimir Etienne Bazile Bazin.
O histórico dessa foto vale a pena conhecer.
Ao fundo e ao centro, na direção da Igrejinha, o morro onde esteve sediado o primeiro Cemitério de Campos do Jordão, local onde foram sepultados vários pioneiros de Campos do Jordão, dentre eles, o engenheiro agrimensor José de Magalhães, o primeiro a ser ali enterrado. Na foto, no topo do morro, bem distante, só um pouquinho do branco de alguns dos túmulos que existiram nesse Cemitério. Posteriormente foi plantado ao redor do cemitério vários eucaliptos que aprecem na foto.
A história do primeiro sepultado nesse Cemitério, posteriormente conhecido como “Cemitério da Bazin”
O Engenheiro agrimensor José de Magalhães, nomeado para efetuar demarcação de terras em ação divisória promovida pelo Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe, foi morto no ano de 1899, por desavenças e desentendimentos com o Sr. João Rodrigues da Silva, o conhecido João Maquinista, por motivos ligados a questões de divisas de suas terras. João Maquinista chegou em Campos do Jordão por volta do ano de 1885 e foi grande proprietário de casas e terrenos, homem muito caridoso, deixando transparecer essa virtude, nos repetidos gestos, que tomava, doando terrenos para a construção de sanatórios e hospitais.
Em outubro de 1896 foi criada a sub-delegacia de Polícia, sediada em Vila Velha (Vila Jaguaribe), sendo nomeado para ocupar o cargo o engenheiro Dr. José de Magalhães.
O titular viera de São Paulo pelas mãos do Dr. Domingos Jaguaribe para fazer os serviços de agrimensura em suas vastas glebas, de cerca de 500 alqueires, em virtude da ocorrência de vários “grilos” que envolviam o Capitão Joaquim Pereira da Rosa, sogro de João Rodrigues da Silva, o João Maquinista.
Daí surgiu uma rixa que se tornou velha entre o Dr. José de Magalhães e João Maquinista, um dos condôminos da Fazenda, por questões de divisas de terras.
Dr. José Magalhães era um gaúcho forte, alto e valente. Sua mulher se chamava Clotilde. Na ação de divisão da Fazenda Natal, intentada na Comarca de São Bento do Sapucaí, fora nomeado agrimensor, chegando a iniciar os trabalhos de demarcação.
Certa feita, quando o Dr. Magalhães comandava a abertura de valetas (à época não havia arame farpado para dividir propriedades), ocorreu grave discussão entre Maquinista e Magalhães, tendo o primeiro levado uns safanões do segundo. O primeiro prometeu vingança.
Em outro entrevero, ocorrido em 28 de dezembro de 1899, na confluência da atual Rua Brigadeiro Jordão, com a atual Rua João Rodrigues Pinheiro, o resultado foi trágico, pois João Maquinista não permitiu que a abertura de valos prosseguisse em terrenos que dizia de sua propriedade.
Chamado o Dr. Magalhães ao local do embargo, travou-se ferrenha discussão entre ambos. No auge da grave discussão, que guardava certa distância, Magalhães gritou ao ver Maquinista de posse de uma espingarda:
- Atira, Maquinista! Se você for homem, atira aqui no peito!
João Maquinista que sabia do hábito do Dr. Magalhães de usar colete de aço, respondeu:
- No peito, não, Magalhães, vou atirar na cara mesmo! Assim o tombo é mais bonito.
João Maquinista desfechou um tiro certeiro e mortal, que atingiu o rosto do Dr. Magalhães, no queixo e outro no bigode, arrancando-lhe pedaços.
Entregando-se às autoridades de São Bento do Sapucaí que era a sede da Comarca, João Maquinista foi julgado em 09/02/1900 pelo Juiz Júlio Amaro da Rosa Furtado, quando foi absolvido. Reformada a sentença do Júri de São Bento do Sapucaí, e levado a novo julgamento em 20/05/1901, foi absolvido pelo mesmo Magistrado. Julgado pela terceira vez em 11/11/1901 pelo Juiz Afonso José de Carvalho, foi novamente absolvido e aí a sentença transitou em julgado.
O primeiro cemitério existente no povoado de Campos do Jordão, fora construído em 1898, por Matheus da Costa Pinto, em decorrência das repetidas aflições dos moradores, que se viam obrigados a transladar os seus mortos a Santo Antonio do Pinhal e Pindamonhangaba para sepultamento, sempre transportados em redes, em forma de banguês “debaixo de grossa carraspana e de rezas misturadas a blasfêmias”.
Esse cemitério foi inaugurado em 1899 quando do sepultamento do engenheiro Dr.José de Magalhães, assassinado por João Rodrigues da Silva, o João Maquinista.
No cemitério onde o engenheiro Dr. José de Magalhães foi enterrado, situado no alto do local hoje denominado “Recanto Dubieux”, existia uma inscrição em um dos túmulos: “aqui jaz o Dr. José de Magalhães, barbaramente assassinado”. O pessoal chamava o campo santo de “cemitério da Bazin”.
No ano de 1953, eu e meus pais, visitamos esse Cemitério e pude ver a lápide de mármore branco, com a inscrição acima.
OBS: Desse Cemitério não existe qualquer vestígio. O local está totalmente ocupado com inúmeras casas construídas por pessoas que residem no local, o atual “Recanto Dubieux”.
Os restos mortais encontrados nesse primeiro Cemitério foram levados para o segundo Cemitério de Campos do Jordão, localizado na Vila Nossa Senhora de Fátima que, também não mais existe. No local foi edificada e funciona, regularmente, a EMEF - Escola Municipal de Ensino Fundamental “Irene Lopes Sodré”.
Os restos mortais que foram levados do primeiro Cemitério para esse segundo Cemitério, infelizmente, ninguém sabe do paradeiro que tomaram.
Ao lado do outro morro que aparece à direita da foto é o local onde está sediado o atual Cemitério de Campos do Jordão. Na confluência desses dois morros, atualmente, está sediada a Vila Nossa Senhora de Fátima, anteriormente conhecida como Vila Sodipe.
Edmundo Ferreira da Rocha
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