Foto da Vila Abernéssia da década do final da década de 1930, mostrando no primeiro plano, a Rua Brigadeiro Jordão e à esquerda o prédio onde até pouco tempo estava estabelecido o Cartório de Ofícios e de Notas, ao lado da tradicional “Casa Tietê”. Um pouco mais à direita o prédio onde está sediado o “Bar e Restaurante Paratodos”. Bem ao centro da foto o prédio da tradicional e famosa “Pensão Azul” e à sua esquerda a Igreja de Santa Teresinha do Menino Jesus, a nossa Matriz, em fase de construção. Bem na frente da Igreja, do lado esquerdo, a casa que desde a década de 1960 pertence à família do saudoso Sr. Luiz Carlos Ribeiro, antigo funcionário da Prefeitura Municipal e onde reside até hoje, sua esposa Dona Odila Alonso Ribeiro; à direita a casa que pertenceu, durante muitos anos, ao saudoso Sr. Romeu Rodrigues Pinheiro, o conhecido Zito Pinheiro, proprietário da Livraria e Papelaria Pinheiro, a livraria dos estudantes - já reformada totalmente e que hoje abriga um escritório de advocacia e contabilidade.
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Ao lado direito da Igreja, o prédio que abrigou por muitos anos, famosa e tradicional “Pensão Azul”, destruída totalmente, no dia 06 de agosto de 1945, por um pavoroso incêndio. Essa pensão recebia pessoas que haviam contraído o mal da época, a tuberculose e que vinham para Campos do Jordão em busca da cura que, na época contava somente com o nosso clima privilegiado e com a regularidade do repouso necessário e com alimentação adequada e regular.
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Um pouco atrás na área bem arborizada o local onde, atualmente, está sediada a SEA - Sociedade de Educação e Assistência “Frei Orestes Girardi”. Atrás da Pensão Azul duas casas antigas. Em uma delas, durante muitos anos, residiu o saudoso Sr. José Corrêa Cintra, o conhecido seu Zezinho Cintra, com a família. Ao lado esquerdo o terreno onde posteriormente foi construído o Salão de Festas da SEA - Sociedade de Educação e Assistência “Frei Orestes Girardi”, atualmente ocupado com a sede da Câmara Municipal de Campos do Jordão. Na outra casa à direita, foi a sede do tradicional “Deus Negro” do conhecido e tradicional Neimar de Barros.
A PENSÃO AZUL
A mais famosa pensão de tuberculosos de Vila Abernéssia, durante os anos 20, século XX, foi a Pensão Azul, um casarão pintado de azul, situado no flanco direito da Igreja Matriz. A partir de 1939 passou a chamar-se Pensionato Santa Terezinha. O proprietário do imóvel foi Ignácio Siqueira Bicudo de Pindamonhangaba, até que em 6 de agosto de 1945 um pavoroso incêndio a destruiu totalmente, obrigando a remoção rápida de 58 doentes da Legião Brasileira de Assistência – LBA. Filho de abastado importador de mármore, ali se hospedou Arthur Ramozzi, tuberculoso. Contador formado no Mackenzie, passava os dias lendo ou participando de saraus lítero-musicais, com os médicos Miguel Covello Jr., Rafael de Paula Souza e Januário Pardomeo. Em 1922, Ramozzi, foi tentar a cura em Davos-Platz, na Suíça, ouvindo do médico o seguinte conselho: “No Brasil há uma cidade de excepcional qualidade curativa para o tratamento da tuberculose. Aconselho o senhor ir tratar-se lá!” Ramozzi perguntou: “Que cidade é essa doutor? O médico respondeu: “Chama-se Campos do Jordão!”. Estupefato com o que acabara de ouvir, Ramozzi retornou à Estância de onde viajara, em 1923, encontrando a Pensão Azul meio falida, sem os encantos que possuía. Passou a rememorar os bons tempos de antigamente, das tertúlias lítero-musicais, freqüentadas pelos poetas Ribeiro Couto, Mário de Andrade, pelo escritor Monteiro Lobato, que ouviam os sons maravilhosos da pianista Guiomar Novaes. O grande poeta modernista Mário de Andrade chegou a escrever o poema “Acalanto da Pensão Azul”, onde se refere às héticas (sinônimo de tuberculosas).
“Oh! Héticas maravilhosas / Fazei depressa o pneumotorax / E então seremos mais felizes / Eu sem receio do vosso brilho / Vós sem bacilos, nem hemoptises / Oh! Héticas maravilhosas!”
Contou Zélia, filha de Arthur Ramozzi, que Campos do Jordão naquele tempo era uma cidade diferente. Ninguém ou quase ninguém vinha com a família. E também pouquíssimos visitavam a própria família que, na maioria das vezes rejeitava os parentes enfermos. Afinal, a tuberculose naquele tempo era incurável e terminal. Quando uma moça bonita e doente chegava, os jovens se reuniam para fazer-lhe serenatas. As pessoas que vinham a Campos do Jordão, enfermas, não subiam a serra para vencer na vida, mas para preservar a vida. Seu pai, Arthur, era um dos mais entusiasmados. Sempre conseguia alguém para levar o piano da Pensão Azul em cima do caminhão até o Morro do Elefante. As serestas, acompanhadas ao piano, tinham sons que invadiam o profundo silencio da noite, irradiando-se para toda Vila Capivari. Puxa! Não se faz mais tuberculosos como antigamente...
Texto da autoria do Historiador, Escritor, Advogado e Jornalista Pedro Paulo Filho.
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