Foto histórica do dia 22 de julho de 1934 mostrando a casa do Sr. Antonio Gonçalves Abrantes.
Essa casa ficava na Vila Jaguaribe, na primeira travessa, sem saída, à direita da atual Rua Sebastião de Oliveira Damas.
O Sr. Antonio Gonçalves Abrantes, de nacionalidade portuguesa, veio para Campos do Jordão no início da década de 1920, juntamente com o irmão Sr. Álvaro Gonçalves Abrantes. Foram pioneiros de Campos do Jordão. Ambos, excelentes e exímios carpinteiros e marceneiros que, com certeza, aprenderam a arte nas distantes terras portuguesas. Em Campos do Jordão foram responsáveis pela construção de inúmeras casas de madeira, construídas com as tábuas que eram serradas dos pinheiros de Campos do Jordão (araucária brasilensis ou angustifolia), na época em que não havia a preocupação da sua preservação. Foram também, responsáveis por diversos serviços de carpintaria e marcenaria executados nas construções de muitas residências, hotéis e sanatórios de Campos do Jordão. Construíram também as suas próprias casas onde residiram por muitos anos. Esta, de propriedade do Sr. Antônio Gonçalves Abrantes, foi ele quem construiu, acredito, com o auxílio do irmão Sr. Álvaro. A casa do Sr. Álvaro, localizada na atual Av. Eduardo Moreira da Cruz, anteriormente Av. Imbiri, existente até os dias atuais, com certeza, foi por ele construída com o auxílio do irmão Sr. Antonio Abrantes.
É interessante notar que ao fundo dessa casa, no topo do morro, existiam algumas árvores enormes. Essas árvores, alguns tipos de eucaliptos, foram plantadas para dar um pouco de sombra aos túmulos do primeiro cemitério de Campos do Jordão lá existente. Nesse local onde foram sepultados vários pioneiros, dentre eles, o engenheiro agrimensor José de Magalhães, o primeiro a ser ali enterrado, no ano de 1899.
Esse primeiro cemitério existente no povoado de Campos do Jordão, foi construído em 1898, por Matheus da Costa Pinto, o fundador da Cidade em 29/abril/1874, em decorrência das repetidas aflições dos moradores, que se viam obrigados a transladar os seus mortos a Santo Antonio do Pinhal e Pindamonhangaba para sepultamento, sempre transportados em redes, em forma de banguês “debaixo de grossa carraspana e de rezas misturadas a blasfêmias”.
Esse cemitério foi inaugurado em 1899 quando do sepultamento do engenheiro Dr.José de Magalhães, assassinado por João Rodrigues da Silva, o João Maquinista.
No cemitério onde o engenheiro Dr. José de Magalhães foi enterrado, situado no alto do local hoje denominado “Recanto Dubieux”, existia uma inscrição em um dos túmulos: “aqui jaz o Dr. José de Magalhães, barbaramente assassinado”. O pessoal chamava o campo santo de “cemitério da Basin”.
No ano de 1953, eu e meus pais, visitamos esse Cemitério e, ainda pude ver a lápide de mármore branco, com a inscrição acima.
Um pouco da história do primeiro Cemitério de Campos do Jordão.
O Engenheiro agrimensor José de Magalhães, nomeado para efetuar demarcação de terras em ação divisória promovida pelo Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe, foi morto no ano de 1899, por desavenças e desentendimentos com o Sr. João Rodrigues da Silva, o conhecido João Maquinista, por motivos ligados a questões de divisas de suas terras. João Maquinista chegou em Campos do Jordão por volta do ano de 1885 e foi grande proprietário de casas e terrenos, homem muito caridoso, deixando transparecer essa virtude, nos repetidos gestos, que tomava, doando terrenos para a construção de sanatórios e hospitais.
Em outubro de 1896 foi criada a sub-delegacia de Polícia, sediada em Vila Velha (Vila Jaguaribe), sendo nomeado para ocupar o cargo o engenheiro Dr. José de Magalhães.
O titular viera de São Paulo pelas mãos do Dr. Domingos Jaguaribe para fazer os serviços de agrimensura em suas vastas glebas, de cerca de 500 alqueires, em virtude da ocorrência de vários “grilos” que envolviam o Capitão Joaquim Pereira da Rosa, sogro de João Rodrigues da Silva, o João Maquinista.
Daí surgiu uma rixa que se tornou velha entre o Dr. José de Magalhães e João Maquinista, um dos condôminos da Fazenda, por questões de terras.
Dr. José Magalhães era um gaúcho forte, alto e valente. Sua mulher se chamava Clotilde. Na ação de divisão da Fazenda Natal, intentada na Comarca de São Bento do Sapucaí, fora nomeado agrimensor, chegando a iniciar os trabalhos de demarcação.
Certa feita, quando o Dr. Magalhães comandava a abertura de valetas (à época não havia arame farpado para dividir propriedades), ocorreu grave discussão entre Maquinista e Magalhães, tendo o primeiro levado uns safanões do segundo, e prometeu vingança.
Em outro entrevero, ocorrido em 28 de dezembro de 1899, na confluência da atual Rua Brigadeiro Jordão, com a Rua João Rodrigues Pinheiro, o resultado foi trágico, pois João Maquinista não permitiu que a abertura de valos prosseguisse em terrenos que dizia de sua propriedade.
Chamado o Dr. Magalhães ao local do embargo, travou-se ferrenha discussão entre ambos. No auge da grave discussão, que guardava certa distância, Magalhães gritou ao ver Maquinista de posse de uma espingarda:
- Atira, Maquinista! Se você for homem, atira aqui no peito!
João Maquinista que sabia do hábito do Dr. Magalhães de usar colete de aço, respondeu:
- No peito, não, Magalhães, vou atirar na cara mesmo! Assim o tombo é mais bonito.
João Maquinista desfechou um tiro certeiro e mortal, que atingiu o rosto do Dr. Magalhães, no queixo e outro no bigode, arrancando-lhe pedaços.
Entregando-se às autoridades de São Bento do Sapucaí que era a sede da Comarca, João Maquinista foi julgado em 09/02/1900 pelo Juiz Júlio Amaro da Rosa Furtado, quando foi absolvido. Reformada a sentença do Júri de São Bento do Sapucaí, e levado a novo julgamento em 20/05/1901, foi absolvido pelo mesmo Magistrado. Julgado pela terceira vez em 11/11/1901 pelo Juiz Afonso José de Carvalho, foi novamente absolvido e aí a sentença transitou em julgado.
OBS: OBS: Foto gentilmente cedida pela amiga e colaboradora Celeste Abrantes, através do sobrinho Rodrigo Abrantes.
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