A Pensão Azul
Foto da Vila Abernéssia da década do final da década de 1930, mostrando no primeiro plano, da esquerda para a direita: o prédio da antiga Cooperativa de Consumo de Campos do Jordão, posteriormente Casa Ferraz, de propriedade do Sr. Carvalho, o antigo almoxarifado da Prefeitura Municipal,onde hoje está o Fórum Embaixador José Carlos de Macedo Soares, o antigo e saudoso Mercado Municipal e a Cadeia Pública, local onde hoje está a segunda Agência do Banco do Brasil, até pouco tempo, Nossa Caixa Nosso Banco.
Ao centro da foto, o prédio do Palacete Olivetti, posteriormente Pensão e Sanatório Campos do Jordão, Hotel Montanhês e, por algum tempo, sede da Prefeitura Municipal e alguns prédios ainda existentes.
Na parte mais alta da foto, a Igreja de Santa Teresinha do Menino Jesus, a nossa Matriz, em fase de construção e ao lado direito em destaque o prédio onde este estabelecida a famosa “Pensão Azul”.
A PENSÃO AZUL
A mais famosa pensão de tuberculosos de Vila Abernéssia, durante os anos 20, século XX, foi a Pensão Azul, um casarão pintado de azul, situado no flanco direito da Igreja Matriz. A partir de 1939 passou a chamar-se Pensionato Santa Terezinha. O proprietário do imóvel foi Ignácio Siqueira Bicudo de Pindamonhangaba, até que em 6 de agosto de 1945 um pavoroso incêndio a destruiu totalmente, obrigando a remoção rápida de 58 doentes da Legião Brasileira de Assistência – LBA. Filho de abastado importador de mármore, ali se hospedou Arthur Ramozzi, tuberculoso. Contador formado no Mackenzie, passava os dias lendo ou participando de saraus lítero-musicais, com os médicos Miguel Covello Jr., Rafael de Paula Souza e Januário Pardomeo. Em 1922, Ramozzi, foi tentar a cura em Davos-Platz, na Suíça, ouvindo do médico o seguinte conselho: “No Brasil há uma cidade de excepcional qualidade curativa para o tratamento da tuberculose. Aconselho o senhor ir tratar-se lá!” Ramozzi perguntou: “Que cidade é essa doutor? O médico respondeu: “Chama-se Campos do Jordão!”. Estupefato com o que acabara de ouvir, Ramozzi retornou à Estância de onde viajara, em 1923, encontrando a Pensão Azul meio falida, sem os encantos que possuía. Passou a rememorar os bons tempos de antigamente, das tertúlias lítero-musicais, freqüentadas pelos poetas Ribeiro Couto, Mário de Andrade, pelo escritor Monteiro Lobato, que ouviam os sons maravilhosos da pianista Guiomar Novaes. O grande poeta modernista Mário de Andrade chegou a escrever o poema “Acalanto da Pensão Azul”, onde se refere às héticas (sinônimo de tuberculosas).
“Oh! Héticas maravilhosas / Fazei depressa o pneumotorax / E então seremos mais felizes / Eu sem receio do vosso brilho / Vós sem bacilos, nem hemoptises / Oh! Héticas maravilhosas!”
Contou Zélia, filha de Arthur Ramozzi, que Campos do Jordão naquele tempo era uma cidade diferente. Ninguém ou quase ninguém vinha com a família. E também pouquíssimos visitavam a própria família que, na maioria das vezes rejeitava os parentes enfermos. Afinal, a tuberculose naquele tempo era incurável e terminal. Quando uma moça bonita e doente chegava, os jovens se reuniam para fazer-lhe serenatas. As pessoas que vinham a Campos do Jordão, enfermas, não subiam a serra para vencer na vida, mas para preservar a vida. Seu pai, Arthur, era um dos mais entusiasmados. Sempre conseguia alguém para levar o piano da Pensão Azul em cima do caminhão até o Morro do Elefante. As serestas, acompanhadas ao piano, tinham sons que invadiam o profundo silencio da noite, irradiando-se para toda Vila Capivari. Puxa! Não se faz mais tuberculosos como antigamente...
Texto da autoria do Historiador, Escritor, Advogado e Jornalista Pedro Paulo Filho.
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