Pensão Glória e a tragédia


Pensão Glória e a tragédia - FS5 10

Foto da histórica Pensão Glória, na década de 1940. Essa Pensão, durante o final da década de 1920 até meados da década de 1940, recebia hóspedes que vinham para Campos do Jordão em busca do clima privilegiado, na tentativa da cura para a tuberculose. Estava situada no final da atual Avenida Macedo Soares no encontro com as Avenidas Victor Godinho e Washington Luiz e Rua Engenheiro José Antonio Salgado, em Vila Capivari, onde atualmente existe um prédio de apartamentos “Solar dos Gerânios”, na divisa com a conhecida Casa São José.

Abaixo, depoimento de Péricles Homem de Mello, constante das páginas 751 a 753 do Livro “História de Campos do Jordão”, da autoria de Pedro Paulo Filho, Editora Santuário - 1986.

“A Pensão Glória, então situada na atual Av. Macedo Soares, era um antigo prédio – sede da Fazenda Capivari – uma casa com varanda grande na frente, dentro de um enorme cercado de arame.
Dona Mercedes, sua proprietária, era casada com Geraldo Sampaio. Um belo dia apareceram no quintal seus desafetos, Moacir Barbosa Ferraz e Roberto Jeffery.
O casal estava repousando, mas dona Mercedes foi atendê-los.
- Queremos falar com seu marido!
Identificando os presentes como seus inimigos, Geraldo pegou um revólver, marca Schmidt Wesson, chegou à janela e atirou.
Com o solavanco, caiu da cadeira, pois era um homem franzino e doente.
Dona Mercedes foi socorrê-lo.
Moacir saiu correndo para o armazém de Simão Cirineu Saraiva a fim de telefonar ao delegado pedindo garantias de vida.
Roberto Jeffery aproximou-se, abriu a camisa e gritou.
- Dona Mercedes, chame o seu marido, para me dar o tiro que ele deseja!
Dois estilos de homem...
Moacir Barbosa Ferraz era fazendeiro muito rico no Paraná e veio a Campos do Jordão, onde alugou uma casa para a esposa que estava enferma. Era o prédio, onde, mais tarde, se instalou o Hotel Helvétia (Av. Macedo Soares, n° 893). Foi em 1927.
O Dr. Paulo Bulcão Ribas, filho do Dr. Emílio Ribas, atendeu-a, acompanhando a evolução da doença. Mas, o povo começou a falar... e chegou ao ouvido de Moacir.
Sem procurar saber o que ocorria, providenciou o retorno da esposa para S. Paulo e disse:
- Vou a Campos do Jordão acertar as contas com Paulo Ribas.
A família ficou apavorada, correu ao Secretário da Segurança, que se comunicou com o delegado de polícia de Pindamonhangaba para evitar que Moacir chegasse a Campos do Jordão.
O delegado foi à estação de Pinda, identificou Moacir, impedindo-o de subir a serra.
Retirando-se a autoridade policial da estação, Moacir dirigiu-se ao agente Wantuil e pediu um carro especial.
Providenciando o bonde, telefonou ao Dr. Paulo Ribas, de Pindamonhangaba.
- Paulo, chego no especial das 14:30 horas. Espere-me aí em Campos...
Cheguei a ver o Dr. Paulo passar de automóvel em direção da estação de Emílio Ribas, pois trabalhava na farmácia de Pascoal Olivetti.
Também ouvi o bonde chegar, e logo passar um automóvel com Dr. Paulo, Moacir e mais 3 pessoas.
Decorridos uns vinte minutos, chegou Moacir gritando.
- Coronel, Coronel, matei o Paulo!
Nas imediações residia um coronel.
Moacir tinha sido baleado na barriga e na Farmácia Olivetti, em Vila Capivari, foi colocado em uma cama.
Era um homem muito gordo.
Cortei a camisa com uma tesoura e comecei a fazer um curativo no ferimento.
Chamei o Dr. Décio Queiroz Telles, que achou melhor transportar o ferido para São Bento. O tiro, porém, atingiu o tecido adiposo. Enquanto fazia o curativo, Moacir tirou uma mauser do bolso e começou a desmontá-la.
- Não tenho forças para desmontá-la.
Mais tarde, Eduardo Levy narrou-me detalhes da cena.
Viu o Dr. Paulo Ribas chegar com Moacir, e achava que o médico desconfiava de algo, pois estava armado.
Ambos entraram nos aposentos onde a esposa de Moacir se hospedava.
Em certo momento, pegou um papel e disse:
- Paulo, assine aqui.
Homem com família constituída e de respeito, logo que leu as primeiras linhas, respondeu:
- Não assino semelhante infâmia!
- Não assina, então morre!
Sacou da arma e atirou.
Paulo caiu de bruços em cima da cama, mas sacou de sua arma, atingindo a barriga de Moacir.
Moacir, ato contínuo, saiu para fora do quarto, e no corredor, recarregou a arma, para em seguida descarregar toda a carga do revólver contra o Dr. Paulo Ribas”.

 

 

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