CONDELAC CHAVES DE ANDRADE, HISTORIADOR DOS ANOS 40


CONDELAC CHAVES DE ANDRADE, HISTORIADOR DOS ANOS 40

“... Este altar de solidariedade humana que é a nossa terra.”

1. Conhecemos Condelac Chaves de Andrade desde jovem, quando ainda exercia as funções de provedor do Hospital-Maternidade “Dr. Adhemar de Barros”, onde prestou relevantes serviços à comunidade jordanense.

Era um homem sério, meditativo e de pouco sorriso, mas dotado de grande cultura e sensível aos problemas sociais, tendo aportado à “Montanha Magnífica” por motivos de saúde, na década dos anos 30.

Jornalista, poeta e escritor, o autor de “O Inferno de São Sebastião” era um socialista teórico que, por muitos anos, colaborou na imprensa jordanense, atuando, intensamente, nos bastidores da provinciana política de Campos do Jordão.

Fora um dos homens que lutou pela construção do Hospital-Maternidade “Dr. Adhemar Barros”, cuja inauguração assistiu em 25 de janeiro de 1944, e que, na madrugada de 29 de julho de 1945, testemunhou o pavoroso incêndio que destruiu aquele nosocômio, depondo: “Descrever o que foi o dantesco espetáculo é difícil, mas esquecer as cenas lancinantes que ele ofereceu é impossível.”

Nos serviços de salvamento do hospital, honra seja feita ao heróico povo de Campos de Jordão, que deu sobejas provas de solidariedade humana, destacando-se os srs. Pedro Rabelo de Araújo, dr. Emile Zola Mendes Pereira, cabo Henrique Ferreira do Amaral e dona Dulce Chaves de Andrade (sua esposa), esta última no salvamento de crianças, que se achavam no berçário com a Irmã Maria Silvieta.”1

Semelhantemente, incorporou-se também na luta pela sua reconstrução.

Transferiu residência, posteriormente, para São José dos Campos, onde radicou-se com a família, explorando atividade livresca e onde tornou-se poeta profundamente místico, escrevendo o livro “De Belém ao Calvário pelo Caminho da Poesia”, interessante biografia de Jesus Cristo versificada, onde anotou:

“Atrás dos filhos iam as mães
Levando a penúria do lar.
Lhes dava Jesus peixes e pães
Tirados da fé, não do trigo e do mar”.

O seu nome constou do livro “Poesia em São José dos Campos-85” com o poema.

Lamento Piraguara

“Nasci à beira rio como árvores na floresta.
Herdeiro fui de uma rede e uma canoa,
De herança deixo meu viver assim à toa,
Com a viola faço de tristeza festa.

Palhoça cheia de santos, vazia de pão,
Com esteiras e caixotes mobiliada.
Molambos no varal, pardais e cães de guarda,
Filhos barrigudinhos com amarelão.

Rio passando a caminho do mar...
Velho amigo!... manso como a preguiça,
Se bebe chuva brabo fica e se eriça,

Peixe ele tinha pra nunca mais acabar.
Morreu o peixe, morre ele de poluição...
Adeus, rio amigo... Leve a minha gratidão.”2

Em 25 de janeiro de 1983, quando o prefeito Fausi Paulo erigiu em Vila Jaguaribe um monumento ao fundador de Campos do Jordão, Matheus da Costa Pinto, com recursos fornecidos por seus herdeiros, em solenidade pública, Condelac Chaves de Andrade, com barba nazarena, ali compareceu, declamando impressionante poema religioso de sua autoria, ocasião em que evocou os pioneiros e desbravadores da terra jordanense.

Membro da Academia de Letras de Campos do Jordão, cuja indicação o autor deste livro teve a honra de formalizar, ao ensejo de seu falecimento ocorrido no início de 1987, o Sodalício prestou-lhe comovente homenagem, evocando a importância do “Álbum Almanaque Histórico de Campos do Jordão”, editado em 1948 e que constituiu texto fundamental para a pesquisa de todos os historiadores que o sucederam.3

2. Temos em nosso poder um exemplar dessa importante obra histórica sobre a “Montanha Magnífica”, que pertencera a João de Sá, datado de 11 de abril de 1956, conforme anotação manuscrita.

Na apresentação, Condelac Chaves de Andrade, escreveu em dezembro de 1947: “O Álbum Histórico de Campos do Jordão” terá atingido sua principal finalidade se conseguir tornar ainda mais conhecido este “Altar de Solidariedade Humana”, que é a nossa terra.

Não me deixando levar pela imaginação nem pelo sentimentalismo, tudo fiz para não produzir uma obra de fancaria, valendo-me tão somente de documentos e de fatos plenamente comprovados.

Assim é que, quem realmente está integrado na vida da nossa terra ou por ela fez algo de bom e de útil, figura neste Álbum com o realce proporcional ao mérito.

Entretanto, é bem possível que haja alguma omissão de somenos importância, que em nada afeta o maior ou menor valor desta despretensiosa obra.

Na elaboração deste Álbum, recebi o auxilio da sra. Raquel Simonsen, que ofertou a capa, sra. La Salete Alpion Inoue, sra. Coleta Lebarrow, sra. Maria José Pereira da Silva, sra. Luisita G.C. de Carvalho, sra. Cilene Rangel Pestana, dr. Waldir Alves de Mello, Rogério de Godoy, Delio Rangel Pestana, Floriano Rodrigues Pinheiro, Jorge Ribeiro de Toledo e João Romeiro Filho que cederam recortes de jornais e fotografias antigas de Campos do Jordão; Júlio Oscar de Castro Neves e Ângelo Molina, datilógrafos, dr. Lelis Vieira e demais funcionários do Departamento de Arquivo do Estado, da Rádio Emissora local, do comércio e do povo em geral.”

O estudo histórico abrange o período 1720-1948, iniciando-se pelo desbravamento, as origens de Campos do Jordão, a Vila de São Matheus do Imbiri, a utilização de liteiras e banguês, a Vila Jaguaribe, a demarcação judicial da Fazenda Natal e a E.F. Campos do Jordão.

Em seguida, o autor discorre sobre as Vilas Abernéssia e Capivari, os Distritos Policial e de Paz, a primeira eleição, a Sub-Prefeitura Sanitária, os prefeitos municipais e a organização judiciária do Município.

Mais além, Condelac Chaves de Andrade cuidou dos aspectos religiosos, geográficos, educacionais, esportivos, artísticos e jornalísticos da “Montanha Magnífica”, para em seguida abordar o surgimento do Horto Florestal, as fazendas do Baú e Correntinos, a Água Santa e a Pedra do Baú, finalizando por discorrer sobre os serviços sanitários, médicos e hospitalares de Campos do Jordão.

Reproduziu os estudos do Dr. Belfort de Mattos Filho sobre as excelências do clima jordanense, culminando por abordar as suas qualidades terapêuticas no tratamento das moléstias pulmonares.

3. Por ocasião das comemorações do Iº Centenário de Campos do Jordão, Condelac Chaves de Andrade escreveu:

Acalento de Campos do Jordão

Minha Campos do Jordão está feia
Com esse manto de neblina às costas
E esse pranto de garoa à face...
Desolada, porém, não fiques, cidade-fada,
A primavera vem já te enfeitar...
Enquanto ela não vem,
Mira-te no espelho dos teus lagos
E refaz tua beleza com o esplendor das tuas matas...
Veste teu vestido de geada
E vá dançar com a Mãe d’agua na Pedra do Baú,
Sonhar ao luar do Pico do Itapeva...
E quando o sol acordar teus ninhos,
Acorda também tuas crianças
E canta-nos canções de amor, de paz e de esperança...

É assim que eu te amo.
Todos te amam assim.

Mais ou menos nessa época, o historiador e poeta deu à luz o poema:

Assim Nasceu Campos do Jordão

Ao perpassar o infinito dos anos...
A sesmaria do lendário Inácio Caetano,
Comprada foi pelo Brigadeiro Jordão.
Retalhada... passando por muitas mãos...
E no alto da Mantiqueira, bem no alto,
A partir de 29 de abril de 1874,
Num pedaço de suas “terras bravias
De qualidade, frias
E habitadas por muitas onças”,
Matheus da Costa Pinto, Ana Miquelina, Diogo Mendonça,
João Maquinista, Salvador Miranda e anônimos pioneiros,
Entre montes adornados com pinheiros,
Constituíram pensão de tísicos e uma capela.
Á sombra repousante deles,
Nasceu a Vila São Matheus do Imbiry!
Raiz das Vilas Abernéssia, Capivari...
Alicerces da cidade de Campos do Jordão.
Fonte de esperança... desde então,
À Vila, perfumada pela floração das matas,
Repercutindo a música das cascatas
E o orfeão dos passarinhos,
Foi chegando gente de todos os caminhos...
Amparada por Nossa Senhora da Saúde,
Estância tornou-se de raríssimas virtudes:
Sanatorial e turística... mística e profana...
Monte de Oliveiras à dor e à angústia humana!

Abordando a figura de Condelac Chaves de Andrade, o jornalista João de Sá acentuou a sua valiosa presença na ambientação literária da Estância, participando da montagem do jornal “O Jordanense” com Agripino Lopes de Moraes e Paulo Dantas e editando uma revista ilustrada, que, se durou pouco, ainda hoje serve de consulta aos nossos pesquisadores.

“Poucos são os jordanenses que sabem os esforços despendidos por Condelac para tornar Campos do Jordão um reduto intelectual, porque, incompreendido e sem ajuda maior, por falta de ambiente, foi desistindo, aos poucos, até se tornar apenas um observador dos fatos.”4

1 – “Almanaque Histórico de Campos do Jordão”, de Condelac Chaves de Andrade, Campos do Jordão, 1948.
2 – “Poesia em São José dos Campos – 85”, Deptº de Cultura de S.José dos Campos, S.Paulo, 1985.
3 – Boletim nº 6 da Academia de Letras de Campos do Jordão, 1987.
4 – “Folha de Campos do Jordão”, 27 de março de 1960.

Do Livro “A Montanha Magnífica” - Vol. II, páginas 45 a 49 - O Recado Editora Ltda. - Ano 1997, da autoria do Advogado, Jornalista, Escritor e Historiado Pedro Paulo Filho.

 

 

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