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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

O italianão Nin e o boxe em Campos do Jordão 


O italianão Nin e o boxe em Campos do Jordão

Festividades do 92º aniversário de Campos do Jordão - ano de 1966 - Em evento organizado pela Polícia Militar do Estado da Guanabara, o pugilista NIN, o italianão, à esquerda, Major João Ferreira Neves, organizador das competições e pugilista não identificado.

 

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Durante a década de 1960 até início da década de 1970, o tradicional Hotel Bologna, localizado na Avenida Macedo Soares, em Vila Capivari, de propriedade do saudoso Sr. Augusto Pagliacci, de nacionalidade italiana, esteve arrendado para a família Chiarini, também dignos representantes da tradicional família italiana. Essa família veio para Campos do Jordão para continuar o prestígio do hotel, adquirido através de longos anos de trabalho dedicado e bom atendimento e, também, com a grande preocupação de dar continuidade à tradicional cozinha italiana do hotel que fez história na hotelaria da cidade.

A família Chiarini fez história em Campos do Jordão. Todos da família trabalhavam no hotel. O filho mais velho do saudoso e querido casal Elizeu e Leontina, o Agostino, juntamente com o cunhado Delvino, casado com sua irmã Mirella, dava conta da administração do hotel. Mirella e a mãe, Dona Leontina, comandavam a área da camararia e lavanderia do Bologna. O seu Elizeu, trazendo grande experiência, adquirida na famosa “Casa Italiana”, de propriedade da Família Birolini, na época, situada na Rua Antonio de Godoy, em São Paulo, onde havia trabalhado por vários anos, com rara habilidade e a competência de um grande “chef”, comandava a maravilhosa cozinha especializada na culinária italiana do Hotel Bologna. Os outros dois filhos do casal, o Rotoviano, mais conhecido como NIN, um italianão louro, alto e forte, com nariz amassado, lutador de boxe, parecido com o ator de cinema Kirk Douglas, e o irmão mais novo, o Otoliano, mais conhecido como NINE, auxiliavam no restaurante do hotel como hábeis e simpáticos garçons.

Depois da saída do Delvino e da Mirella, que voltaram para a Itália, os serviços desempenhados por ambos foram repassados e comandados pela Maria Helena Zolini Chiarini, esposa do Agostino.

O Nin, o boxeador, além de trabalhar no hotel, como garçom, servindo o café da manhã, o almoço e o jantar, como grande apaixonado pelo boxe, sempre arranjava um bom tempo para se dedicar aos treinos necessários para a manutenção da sua excelente forma física. Morou em Campos do Jordão durante vários anos entre as décadas de 1960 e 1970. Fez inúmeras amizades e muito divulgou essa modalidade esportiva. Era muito forte e bastante compenetrado nos treinamentos diários. Por volta das seis horas da manhã, quem levantava cedo podia ver o Nin, sozinho, dando diversas voltas ao redor do centro da Vila Capivari, pulando corda e depois fazendo sombra. A sombra do boxe é um exercício muito válido e importante. O boxeador vai saltitando e dando socos em sua própria sombra ou no ar, mantendo o posicionamento de defesa, afiando sua habilidade sem o uso do saco de areia, luvas ou escudo. Além desses treinamentos, Nin também se exercitava de diversas outras maneiras, fazendo exercícios abdominais, flexões variadas, alongamentos, exercícios com luvas de boxe e saco de areia.

Nin era filiado à Federação Paulista de Pugilismo e, periodicamente, era convocado para ir até a cidade de São Paulo para participar de treinamentos práticos, como “sparring” do grande boxeador brasileiro Luiz Inácio, mais conhecido como Luizão, considerado o maior peso pesado do boxe brasileiro, que chegou a conquistar a medalha de ouro nos Jogos Pan-americanos de 1955. Como profissional, Luizão foi famoso pugilista da década de 1960, chegando a campeão sul-americano na categoria dos meios-pesados. Infelizmente, abandonou o boxe e encerrou sua vida na sarjeta, como indigente.

O “sparring” é o pugilista que ajuda no treinamento de outro pugilista. Nessas oportunidades, quando o Nin retornava de São Paulo para Campos do Jordão, depois de participar de treinamentos como “sparring” do Luizão, sempre usava enorme óculo “ray-ban”, para esconder as fortes olheiras roxas, herança dos fortes socos recebidos durante o treinamento com o meio-pesado Luizão.

O Nin falava o português, porém, com um forte, característico e simpático sotaque italiano. Não tinha nenhum problema de relacionamento por causa desse seu sotaque, se comunicava bem e era entendido por todos, das várias classes sociais. Como dizia nosso saudoso e querido amigo Plínio Freire de Sá Campello, o italianão falava um delicioso português macarrônico.

O Nin, para a camada mais simples e, inclusive, depois de algum tempo, para as demais classes, passou a ser identificado como “talianão”, devido seu avantajado porte físico. Sempre foi um cara de muito bom coração. Com amizade, jeito e educação era possível conseguir milagres com o Nin, mas nem é bom lembrar das vezes em que o tiraram do sério. Ele ficava muito violento, não tinha medo de nada e de ninguém. Também, forte, musculoso, de boa estatura, com um condicionamento perfeito por causa do boxe, não enjeitava parada. Ai daquele que ousasse enfrentá-lo. Parecia um trator, derrubava tudo que vinha à sua frente. Muitas vezes, nas horas de bate-papo informal, costumávamos chamá-lo de trator e, aí, ele dava boas risadas.

Naquela época em que o italianão Nin esteve morando e trabalhando em Campos do Jordão, nos anos de 1960 e 1970, nas horas de recreação, costumava frequentar com assiduidade o Tênis Clube e “Bruno´s Bar”, um aconchegante bar noturno, quase uma boate, situado no prédio pertencente ao saudoso Sr. Manoel Francisco Villar, situado em Vila Capivari, próximo à ponte da Rua Djalma Forjaz. Esse bar foi idealizado e iniciado pelo bom amigo italiano Bruno Taioli, irmão da D. Alba, esposa do Sr. Augusto Pagliacci, proprietário do Hotel Bologna.

Nessa época, o “Bruno´s Bar” já estava sendo comandado pelo saudoso amigo, também italiano, Martini Pelizzola, irmão do Giuseppe Pelizolla, o conhecido Zé Italiano, famoso pela sua bem cuidada cocheira e pelos seus maravilhosos e elegantes cavalos de aluguel. Lembro que, em certa oportunidade, o italianão Nin, havia brigado com uma namorada e resolveu tomar uns bons “whiskies”. Claro, ficou bastante grogue, como costumávamos dizer. Em determinado instante, resolveu ir embora. Saiu do bar e fechou a porta de vidro. Eu e outros amigos continuamos dentro do bar. Uns dez minutos após, entrou um amigo e nos falou: “Corram lá fora que o “talianão” vai acabar se machucando muito”. Saímos depressa, eu, seu irmão Nine, o Chiquinho Miranda e alguns outros, e encontramos o Nin dando fortes socos no poste de concreto que ficava bem em frente ao bar, já com as mãos bastante ensanguentadas. Conseguimos, às duras penas, convencê-lo a ir embora para sua casa, no Hotel Bologna.

Nessa época eu morava ao lado do Hotel Bologna, no local onde hoje está sediado o Hotel Europa. Pela proximidade em que morávamos, sempre acabava encontrando com o Nin, diversas vezes ao dia. No dia seguinte, quando o encontrei, pude ver suas mãos. Fiquei penalizado. Estava com as mãos completamente inchadas, mais pareciam pão italiano. O Hotel Bologna ficou sem um de seus melhores garçons por uns três dias, pelo menos. Com as mãos inchadas não conseguiria segurar um prato sequer.

Finalizando, depois que foi encerrado o arrendamento do Hotel Bologna, a família Chiarini mudou para a cidade de Santos e lá montou uma grande casa de massas que ficou famosa, a “Casa de Massas Bologna”. Também, depois de algum tempo, mudou para a cidade de Campinas e, também lá, montou outra casa de massas com o mesmo nome Bologna.

O italianão Nin desistiu do boxe. Por força da necessidade, tanto em Santos como em Campinas, dedicou-se a trabalhar, ao lado do pai, na cozinha de seus estabelecimentos especializados em massas e na culinária italiana. Com o pai, aprendeu os segredos do seu sucesso e aperfeiçoou-se em tudo que precisava para continuar nesse trabalho. Literalmente, o pugilista de outrora continuou a se exercitar de outra maneira: passou a dar fortes e certeiros murros nas massas que, com certeza, precisam ser bem amassadas. Mesmo depois que o seu Elizeu deixou estas paragens terrenas, o Nin deu conta do recado e continuou, com sucesso, a fabricação das massas.

Algum tempo depois, os três irmãos, Agostino, Rotoviano, o Nin, e Otoliano, o Nine, desfizeram a sociedade e venderam a Casa de Massas Bologna. O primeiro veio para Campos do Jordão, onde dirigiu, por algum tempo, o Hotel Vila Regina; o último foi morar na cidade de Visconde de Mauá – RJ, onde, com a esposa, têm uma maravilhosa pousada. O Nin continuou em Campinas, com a esposa e dois filhos, mas não deixou de trabalhar com massas e com a culinária italiana. Trabalha em casa, em sua cozinha especial, aceita encomendas, continuando a atender os diversos apreciadores da culinária italiana.

Edmundo Ferreira da Rocha

26/03/2013

 

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