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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

Urbano Biagioni e sua Zingara 


Urbano Biagioni e sua Zingara

Depois de muito tempo, felizmente, recebi da Virgínia Biagioni Bissoli, esta foto maravilhosa mostrando seu avô, Sr. Urbano Biagioni, com ela ao lado, na famosa charrete com a bela Zingara.

 

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Nos velhos tempos da saudosa e querida Campos do Jordão, lá na graciosa Vila Capivari, havia um senhor chamado URBANO BIAGIONI, (02/fevereiro/1885, cidade de San Romano in Garfagnana, comuna italiana na região da Toscana, província de Lucca, Itália / Campos do Jordão 07/setembro/1964). Era filho de Gustavo Biagioni e Virgínia Vanini Biagioni, radicado em Campos do Jordão durante muitos anos, uma de nossas peças importantes, participou do crescimento de nossa cidade, prestigiando sua época e, especialmente, o desenvolvimento do nosso turismo.

Morou, durante muitos anos, nas proximidades do ponto de embarque do atual teleférico, da Estrada de Ferro Campos do Jordão, especificamente no local onde está situado, hoje, o Hotel Barcelos, onde existia, naquela sua época, uma pequena chácara, com pinheiros, pereiras, ameixeiras, pessegueiros etc.

Foi casado com a sr.a Hortência, pessoa muito simpática e querida por todos que a conheceram. Essa sua simpatia e o envolvimento que teve com a Estrada de Ferro Campos do Jordão motivaram a direção da Estradinha, depois de muito tempo, a batizar a locomotiva a vapor, Maria Fumaça, com o carinhoso nome de ‘VOVÓ HORTÊNCIA’. Tiveram seis filhos: Ondina Biagioni, Anésia Biagioni Corrêa da Silva, Áurea Biagioni Bissoli, Nelson Biagioni, Edwards Biagioni (Valdo) e Wladimir Biagioni (Miro). O Miro foi pessoa de grande destaque do esporte jordanense na modalidade futebol, à frente do glorioso Campos do Jordão Futebol Clube.

Esses descendentes e parentes também muito contribuíram para o desenvolvimento do antigo Campos do Jordão e do atual, porém em atividades diversas, diferentes da atividade a que se dedicou o velho Urbano.

Ele era um dos maravilhosos charreteiros com que Campos do Jordão contou, nas décadas de 40 até 60, para o transporte de pessoas da cidade, em suas diversas necessidades e, especialmente, os turistas que nos visitavam e iam buscá-los para levá-los a conhecer os nossos mais diversos recantos naturais, através de passeios cuidadosamente programados e inesquecíveis, sempre utilizando suas charretinhas tradicionais, com espaço para duas pessoas e algumas pequenas crianças, além do lugar necessário e reservado para os seus condutores e proprietários. Esses veículos eram puxados por apenas um representante masculino ou feminino da raça eqüina.

A charrete do sr. Urbano, durante uma grande parte dos serviços que nos prestou, nessa sua gloriosa e respeitosa atividade, foi puxada por uma égua branca que atendia pelo carinhoso nome napolitano de ZINGARA que, na realidade, se refere àquelas que pertenciam às comunidades ciganas de músicos.

Urbano e Zingara ficaram famosos aqui em Campos do Jordão, especialmente na Vila Capivari. Todos que por lá passaram habitualmente, ou a visitaram em alguma oportunidade, naquelas décadas, não puderam deixar de conhecer essas duas figuras especiais. Claro que, além do Urbano e da sua Zingara, outros charreteiros especiais e maravilhosos prestigiaram nossa cidade naquelas décadas, e muitos outros ainda continuam desempenhando a mesma atividade até nossos dias, porém de maneiras e com veículos diferentes e, talvez, pela correria de nossos dias, não cheguem a deixar uma lembrança tão marcante e duradoura como a eternizada pelos seus antecedentes nessa mesma profissão.

O velho Urbano, como bom representante da raça italiana, falava muito alto, com uma voz forte, de timbre grave, com sotaque inconfundível, além do jeito exagerado e tradicional de gesticular.

Quando saía com sua charrete, levando algum cliente, morador da cidade ou turista, ia contando seus casos. Como a cidade naquelas décadas era bem silenciosa, não tinha o barulho de hoje, oriundo de diversas procedências, especialmente dos motores de automóveis, caminhões, ônibus e, principalmente, das motos que hoje rodam com escapamentos abertos, gerando grande parte do volume desse barulho; os demais sons, cantos dos pássaros, coaxar de sapos, corredeiras, quedas d´água, cachoeiras de nossos rios, incluindo a voz marcante e volumosa do sr. Urbano, eram ouvidas a centenas de metros, até quilômetros de distância.

No decorrer dessas viagens, devido a essa propagação de sons, facilitada pelo silêncio da cidade, muitos já sabiam, a uma boa distância, que o sr. Urbano vinha transportando alguns de seus clientes. Durante esses percursos, entre um de seus casos, era comum ouvir-se uma de suas frases mais marcantes e tradicionais “EIA ZINGARA!!!”. Parecia que ele queria lembrar, com voz forte e imperativa, para aquela que tracionava sua charrete, que deixasse de prestar atenção em nossa conversa, “Vamos Zingara !!!”. Sua intenção, com certeza, porém de forma carinhosa, era no sentido de que ela entendesse que era preciso cavalgar depressa, pois o cliente tinha pressa.

Lembro claramente, com muita saudade, que inúmeras vezes, eu fui com minha querida mãe até ao ponto de charretes que ficava próximo da Estação Emílio Ribas, tomar a charrete do sr. Urbano para nos levar até casa onde minha avó morava, nas proximidades do topo do Morro do Elefante. Lá íamos nós escutando suas histórias e, de tempo em tempo, chamando a atenção da Zingara, até chegarmos ao nosso destino.

Ao chegarmos ao nosso destino, era combinado com o sr. Urbano para que retornasse àquele local para nos buscar em determinado horário, previamente estabelecido.

Parece incrível e inacreditável, porém é a mais absoluta verdade. Primeiro, ele nunca atrasou um minuto sequer. Na maioria das vezes, com um bom tempo antes da sua chegada de retorno, já estávamos a postos, esperando, pois ele não gostava de atrasos. Nessa espera, isso era incrível, hoje parece inacreditável, ouvíamos lá de cima das proximidades do topo do Morro do Elefante, quando ele saía do ponto de charretes, como dito, situado nas proximidades da Estação Emílio Ribas, e durante todo o percurso, até seu destino, cada vez mais próximos seus lembretes tradicionais “EIA ZINGARA!!!”. Ele queria dizer, Vamos Zingara!!! , temos horário marcado, os clientes estão esperando, não podemos atrasar.

Infelizmente, em 07 de julho de 1964, com 84 anos de idade, o sr. Urbano foi chamado, quem sabe, para guiar alguma charrete em paragens celestiais, com maior prioridade que a da nossa Campos do Jordão.

Bons tempos. Boas lembranças. Recompensa para quem viveu com intensidade e respeito por tudo e por todos, especialmente por toda a nossa significativa tradição, em uma época áurea, de poucos recursos, de coisas simples e até ingênuas, porém marcantes e de grandes significados para as nossas vidas, das quais jamais nos esqueceremos. Felizes aqueles que puderam conhecer e conviver com URBANO E ZINGARA.

Edmundo Ferreira da Rocha

30/10/1982

 

Acesse esta crônica diretamente pelo endereço:

www.camposdojordaocultura.com.br/ver-cronicas.asp?Id_cronicas=127

 

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