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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

A gente era feliz e não sabia 


A gente era feliz e não sabia

Um pouco de Campos do Jordão da nossa saudade.

 

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Acho que a palavra saudade é indefinível e bem por isso não tem tradução em outras línguas. Nem os lingüistas brasileiros conseguem defini-la. Uns a definem como lembrança triste e suave de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de as tornar a ver ou possuir; outros, a consideram o pesar pela ausência de alguém que nos é querido, mas, outros ainda a definem como nostalgia ou lembranças afetuosas de pessoas ausentes. Eu mesmo defini a saudade como a presença da ausência.

Talvez, a melhor definição encontrei-a nos versos do poeta paraibano Euríclides Formiga, que peço licença para transcrever ao leitor: “A saudade é um parafuso que, quando entra, não cai, só entra se for torcendo porque batendo não vai. Depois que enferruja dentro, nem destorcendo, não sai.” Os dourados anos 60 de Campos do Jordão são aqueles parafusos enferrujados que nem destorcendo, não saem. A cidade não era uma cidade, eram três vilas, cada uma distinta da outra, ou talvez, três vilas diferentes dentro de uma mesma cidade. Os luares pareciam mais encantadores, sobretudo, vistas do Morro do Elefante, onde havia um cruzeiro de madeira e muito se namorava. As pessoas se conheciam todas, perguntando de seus parentes, umas das outras. O frio era mais inclemente, mas não era úmido como agora. As noites, podia-se dormir de janelas abertas. A cidade era romântica, pois, tinha 12 casas noturnas, à escolha do boêmio e do turista. Os jovens namoravam no portão e nada de entrar na casa da moça e sempre com horário para encerrar os beijos e abraços.

Os jovens levavam 30 dias para se tocarem nas mãos, 60 para levá-las aos ombros e 90 para se beijarem. Encontros íntimos, nem pensar, ou só sonhar.

À beira das vias públicas, os pomares repletos de peras e maçãs, enormes, suculentas, pendendo dos galhos, e que, às vezes, não cabiam nas mãos. No trânsito, ora um Cadillac conversível ou um Impala de algum turista, além dos nossos tradicionais carros de praça. Nada mais.

Naquele tempo, houve até a semana “7 Noites e 7 Dias de Romance e Poesia”, comandada por Plínio Campelo, que fez arder no alto dos morros tochas incandescentes em homenagem aos intelectuais visitantes.

Nas calçadas perambulava a população sanatoriana, que de tão bem vestida e formosa, se duvidava se era mesmo de tuberculosos. Os jogos de futebol (Abernéssia F. C , Campos do Jordão F. C. e A. A. Jaguaribe) invariavelmente terminavam em quebra-pau.

Os bailes de Carnaval eram animadíssimos, com matinês para as crianças fantasiadas e para os adultos aqueles inesquecíveis corsos percorrendo com alegria a atual Avenida Frei Orestes Girardi em Vila Abernéssia. E a Festa da Maçã? E a Festa do Pinhão? Os homens públicos, sobretudo, os vereadores trabalhavam de graça. Sepultamentos somente quando vinham, vez por outra, dos sanatórios, cujos funcionários absorviam uma importante mão de obra jordanense. E a Violinha? E o Rosa Louca? E o João Leite? E a Maria Miné? E o Pão-de-Ló? E o Pombas de Grilo? E o Mandioca-pão? Eram tipos populares que a maioria não guarda mais.

A gente só tem saudade quando vê o nome na placa de uma via pública. Uns dizem: “Eu o conheci. Foi um homem bom”. Outros perguntam: “Quem foi esse cara?” Mas a vida continua. Como disse o poeta: “Vida, asa da ave ferida, de vale em impelida, a vida, o vento a levou”. E leva mesmo. Só fica na saudade, esse parafuso que nem destorcendo não sai.

Enfim, a gente era feliz e não sabia.

Pedro Paulo Filho

21/05/1983

 

Acesse esta crônica diretamente pelo endereço:

www.camposdojordaocultura.com.br/ver-cronicas.asp?Id_cronicas=131

 

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