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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

Os amigos da Pensão Primavera 


Os amigos da Pensão Primavera

Ao lado esquerdo, uma parte do prédio da saudosa "Pensão Primavera" na década de 1950.

 

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Em qualquer das estações do ano, ela estava sempre na primavera. A Pensão Primavera era uma das tradicionais, talvez a mais disputada pelos egressos dos sanatórios existentes em Campos do Jordão, especializados no tratamento em busca da cura da tuberculose. Sediada na Rua Altino Arantes, em Vila Abernéssia, nas proximidades do antigo e saudoso CEENE – Colégio Estadual e Escola Normal de Campos do Jordão, no sobrado pertencente ao construtor Floriano Rodrigues Pinheiro, estabelecida nesse local entre as décadas de quarenta e setenta, onde, posteriormente, há até pouco tempo, esteve sediada a 3ª Companhia da Polícia Militar do Estado de São Paulo - 5º BPMI.

Todos aqueles que moraram na Pensão Primavera, como seus hóspedes, durante todo o tempo em que esteve em plena atividade, eram pessoas de diversas cidades brasileiras, já totalmente curadas da doença que os trouxe para a cidade.

Sua proprietária e comandante responsável pelo seu sucesso, durante essas décadas, foi a saudosa D. Irene de Orellana Cervos, que sempre primou em servir uma ótima comidinha caseira, especialmente preparada para ajudar na convalescença de seus hóspedes e freqüentadores. Essa comida era tão famosa que muitas outras pessoas, além das que lá moravam, acabavam indo fazer suas refeições na referida pensão.

Muitas pessoas e famílias da cidade, devido ao sucesso da comida da Pensão Primavera, preparada com muito esmero e dedicação, sob o comando da D. Irene, faziam questão de contratar e buscar, diariamente, suas marmitas com suas refeições. Para outras, que não tinham a oportunidade de buscar suas marmitas, a Pensão mantinha um serviço de entrega de marmitas.

Como sobrinho dos saudosos Floriano Rodrigues Pinheiro e minha tia Isabel, que recebiam diariamente a famosa marmita da Pensão Primavera, sou uma testemunha da qualidade dessas refeições, pois em muitas oportunidades pude almoçar na casa deles e saborear essa tão prestigiada comida.

Bem, vamos ao tema da nossa história.

Durante as décadas de cinqüenta e sessenta, especialmente quando estudávamos no colégio estadual acima referido, embora tivéssemos outras opções, nosso trajeto diário, tanto na ida para as aulas quanto no retorno delas, quase sempre era o mesmo, passando bem em frente à Pensão Primavera. Essa rotina diária acabou nos aproximando muito daquelas pessoas maravilhosas que eram os hóspedes oficiais da Pensão.

Exatamente no horário em que estávamos indo para as aulas, no horário entre meio-dia e uma hora da tarde, esses hóspedes já haviam almoçado e ficavam em frente à Pensão aproveitando para se aquecerem ao Sol, especialmente durante as épocas do inverno, quando as baixas temperaturas impunham esse hábito, acabávamos parando uns poucos minutos para conversar de futebol, de estudos, etc. A grande maioria era torcedora do Corinthians ou do Flamengo, como nós.

Por intermédio desses contatos habituais, acabamos estreitando nossos laços de amizade com aqueles hóspedes da Pensão Primavera, especialmente com aqueles que permaneceram morando em Campos do Jordão, integrando-se em nossa sociedade, participando e contribuindo ativamente na formação dos alicerces firmes e sólidos de nossa comunidade. Junto com esses maravilhosos amigos, acabamos formando parcerias importantes em muitas atividades ligadas a diversas áreas de nossa cidade.

Naquela época moravam na Pensão, entre outros, Alexandre Aboud, José Carlos, Mozart, José Orlando e Pacheco.

Armênio Soares Pereira, português de nascimento, agora de nacionalidade brasileira, meu grande amigo de longa data, meu padrinho de casamento, meu compadre pela crisma de seu primeiro filho, o Armênio Filho, o Menito, não morava nessa Pensão. Era tido como um de seus hóspedes pela assiduidade de sua freqüência diária, não só para saborear a boa comida feita pela D. Irene, como também, para estreitar seu relacionamento com os vários amigos que lá moravam. Casou-se com a Ceris Ignez, uma das maravilhosas filhas do casal Alvina e o saudoso e querido Julio Domingues Pereira, próspero e influente cidadão que fez parte de nossa história, por meio da política e de seu estabelecimento comercial denominado “A Bandeirante”, situado nas proximidades de nossa Praça das Bandeiras, ou seja, nosso jardim público.

Desse casamento surgiram três filhos maravilhosos: o Armênio Filho, o Menito, meu afilhado, o Tito e a Céris, a Cerinha. Armênio é uma das pessoas mais sensatas e capazes com quem me relacionei, e me relaciono até hoje, posteriormente àquela época da Pensão Primavera; a ele devo grande parte do que aprendi durante toda minha vida. Com ele trabalhei por quase quatorze anos no Posto Fiscal do Estado, responsável pela fiscalização do atual ICMS – Imposto de Circulação e Serviços.

Os ensinamentos recebidos por intermédio do Armênio foram de fundamental importância para toda minha formação moral e profissional. Aprendi muito com ele. Claro, como costumo dizer, em toda oportunidade em que relembramos fatos de nossas vidas, brigamos e discutimos muito, porém com a única preocupação de defender pontos de vista e fazer valer nossas convicções. Em todas essas nossas divergências, nunca guardamos ressentimento negativo que pudesse vir a interferir em nossa antiga e sadia amizade, daí o sucesso de sua longevidade.

Devido ao seu incessante incentivo e constante insistência, tive a felicidade de voltar a estudar, formando-me em nível superior. Essa graduação foi muito importante e eficaz no sucesso de minha vida profissional. Sou e serei eternamente grato ao grande amigo por tudo isto e muito mais.

Para mim o Armênio foi e continua sendo meu segundo pai, já que o primeiro, infelizmente, daqui partiu rumo a paragens celestiais atendendo ao chamamento do Criador.

O Aboud, acreano de nascimento, viveu muito tempo em Manaus, no Amazonas; devido ao nosso relacionamento já comentado, fortaleceu sua amizade com muitos dos jovens estudantes daquela e outras épocas posteriores. Acabou se incentivando com esses relacionamentos e voltou a estudar. Formou-se professor no curso Normal do Colégio Estadual. Posteriormente, passou a trabalhar no mesmo colégio, por diversos anos, como professor de Educação Moral e Cívica.

Sempre foi um amante dos esportes em geral, especialmente do tênis de mesa e do futebol de salão. Chegou a fundar e a manter um time de futebol de salão batizado por ele com o nome de “Dínamo”, a exemplo da famosa equipe de futebol russa, o “Dínamo de Moscou” que fez muito sucesso durante as décadas de cinqüenta a setenta.

O Dínamo do Aboud também fez muito sucesso aqui em Campos do Jordão, sagrando-se por diversas vezes campeão da modalidade, em muitos campeonatos da cidade. Também fez muito sucesso em diversas disputas com times famosos do Vale do Paraíba.

Para nossa felicidade, o Aboud continua morando em Campos do Jordão, por quase meio século e somente por esse fato já pode ser chamado de jordanense de coração. Continua jovial, alegre, simpático e gentil. Relaciona-se muito bem com todos, indistintamente. Com sua experiência de vida e profissional, vive constantemente orientando e encaminhando jovens estudantes que, com ele, aprendem o rumo do caminho certo para seus sucessos profissionais futuros.

O Zé Carlos, carioca do Rio de Janeiro, foi uma pessoa que participou muito da vida jordanense. Gostava de festinhas, de bailes, de bate-papos descontraídos. Era um grande e divertido amigo. Mudou-se de Campos do Jordão há muito tempo e, infelizmente, perdemos o contato com ele, não tendo notícia alguma sobre o seu paradeiro.

O Mozart, só de olhar e conversar com ele, mesmo que não diga de onde é, facilmente já se percebe pelo seu jeitinho de falar e agir, tranqüilo e cuidadoso, que é proveniente de alguma cidade das Minas Gerais. De vez em quando, ele some daqui por alguns tempos. Depois retorna e continua participando da vida da cidade. Atualmente, está prestando serviços junto à administração da Prefeitura Municipal.

O Zé Orlando, com todo o envolvimento diário, mantido com os alunos do Colégio Estadual, como dito no início, acabou envolvido amorosamente com a nossa colega, contemporânea do curso Normal, com quem acabou se casando, a Idila Medeiros, filha do saudoso Lázaro de Oliveira Medeiros que, durante muitas décadas, foi o gerente da empresa de ônibus circular Hotel dos Lagos, mais tarde Empresa de Ônibus Vila Natal. Mudou-se para a cidade de São Paulo e, também, há muito tempo não temos notícias. Sabemos que o casal teve apenas uma filha.

O Pacheco ou Pachequinho veio de longe. Veio do Pará para estas alturas de Campos do Jordão, com o mesmo objetivo de todos os outros já mencionados. Acredito que ele, entre os que moraram na Pensão Primavera, era um dos mais idosos. Naquela época referida já deveria ter em torno dos cinqüenta anos de idade. Era muito espirituoso, exímio contador de piadas, amante e habilidoso jogador de “snooker”, um verdadeiro campeão. Outra particularidade marcante e muito admirada pelos jovens daquela época. Acredito que o Pacheco deve ter morado muito tempo na cidade de São Paulo ou Rio de Janeiro. Deve ter andado muito nos bondes urbanos de alguma dessas cidades. Em Campos do Jordão, ele fazia verdadeiros shows quando andava nos bondinhos, especialmente quando resolvia descer antes das estações de destino. Gostava de saltar dos bondinhos, sempre em pleno movimento, quando imprimiam velocidades normais e muito antes das plataformas das estações. Um detalhe importante: nunca saltava de frente para os locais de seus destinos, sempre saltava de costas para eles. Gostava de saltar nos cruzamentos da estrada de ferro com as vias públicas. Quando saltava, atingia o chão absoluta e firmemente em pé, totalmente estático. Era inacreditável a sua habilidade para essa verdadeira façanha que mais parecia um número especial de atividade circense.

Eu também costumava saltar dos bondinhos em movimento, porém de frente para os destinos e quando sua velocidade já estava bastante reduzida, sempre que já havia atingido as plataformas das estações.

Foi embora de Campos do Jordão, nunca soubemos para onde. A única notícia que recebemos, por meio de um amigo comum, é que ele já havia feito um último salto do bonde da vida e caído na plataforma celestial.

Enfim, isso é um pouco daquilo que achamos importante deixar registrado, talvez para a posteridade, sobre esses maravilhosos e queridos amigos da Pensão Primavera, que fizeram parte de nossas vidas, da história, da cultura e do progresso de nossa cidade.

Edmundo Ferreira da Rocha

18/04/2007

 

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