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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

Dr. João Toniolo, um Médico inesquecível 


Dr. João Toniolo, um Médico inesquecível

 

 

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Quase no final da década de 1950, possivelmente no ano de 1957, se a memória não estiver me traindo, meu pai havia montado, juntamente com o saudoso professor Harry Mauritz Lewin, a Imobiliária Rocha, situada no mesmo local onde a COPEL - Construtora esteve estabelecida, na Av. Macedo Soares, 306, em frente ao Hotel Bologna.

Nessa época, a Imobiliária Rocha foi procurada pelo Dr. João Toniolo e seu genro, Dr. Élbio Camilo, casado com uma de suas filhas, a D. Alice, mais conhecida por D. Nice, visando alugar uma casa aqui em Campos do Jordão para passarem as férias de julho, com as famílias.

Meu pai acabou alugando para eles uma casa que estava disponível para essa finalidade, na própria Av. Macedo Soares, a segunda depois da Imobiliária e de nossa casa, pois morávamos no mesmo local. Com isso, meu pai, eu e minha mãe acabamos ficando amigos das famílias do Dr. João Toniolo e do Dr. Élbio Camilo, que já tinha seus três filhos, todos pequenos: o Élbinho, a Nielce e o Célbio, que era de colo.

Com esse relacionamento próximo e a admiração por Campos do Jordão, o Dr. João Toniolo e o Dr. Élbio Camilo, engenheiro civil, proprietário da Construtora São Paulo e Imobiliária Pérola, situadas na capital do Estado, acabaram comprando uma casa existente na Rua Djalma Forjaz, para que pudessem vir para cá nos finais de semana e nas épocas de férias escolares. Essa casa, nas décadas de 1930 e 1940, foi a sede do primeiro estabelecimento do ramo de fotografias da cidade, de propriedade do Sr. Josias, um dos primeiros fotógrafos que tivemos por aqui, que registrou um pouco das imagens históricas daquela época. Ficava situada exatamente no local onde hoje está edificado o Boulevard Genéve, de propriedade do Lélio Gomes, no centro turístico de Vila Capivari. Depois que compraram a casa, fizeram uma boa e grande reforma nela, comandada por meu pai, que tinha muita experiência no ramo da construção civil. Depois de concluída a reforma, foi colocada uma placa de identificação da propriedade: “VILA AMÁBILE” – nome da esposa do Dr. João Toniolo, sogra do Dr. Élbio.

O relacionamento entre minha família e as famílias do Dr. João Toniolo e do Dr. Élbio Camilo passou a ser mais próximo e constante. Eu era um pouco mais velho que os filhos do Dr. Élbio e D. Nice, e mais velho que os filhos de sua irmã, a D. Diva, casada com o Sr. Boanerges, que também passavam as férias aqui na cidade – o Dinerges e a Amarylis. Porém acabamos ficando amigos e nos encontrávamos sempre que estavam aqui em Campos do Jordão.

Bem, depois dessas preliminares, necessárias para situar nossa história, vamos ao Dr. João Toniolo, o médico inesquecível.

O Dr. João Toniolo era uma pessoa maravilhosa, um médico inesquecível. Era um homem pequeno, talvez não tivesse um metro e sessenta de altura. Sempre muito bem vestido. Não me lembro de vê-lo, em alguma oportunidade, sem seu tradicional terno escuro, com seu colete da mesma cor, trazendo no seu bolsinho o tradicional relógio de bolso que, com certeza, era um Roskopf Patente, Patek Philipe ou Omega, preso a uma correntinha fixada em um dos botões do mesmo colete. Nunca estava sem chapéu, também escuro, acredito, de uma das marcas tradicionais: Prada ou Ramezzoni. Nessa época, deveria ter setenta anos ou pouco mais.

Nos bolsos do paletó de seu terno, aquele tipo jaquetão, nunca faltavam amostras grátis de medicamentos diversos, para os mais variados problemas de saúde. Comumente pessoas que passaram a ser amigas ou conhecidas do Dr. João o procuravam para dizer-lhe dos seus problemas de saúde. Para todos os casos, ele sempre tirava de um dos bolsos do seu paletó o remédio necessário para combater cada um dos males e fazia todas as observações necessárias sobre o uso dos medicamentos. Os remédios que ministrava eram certeiros e resolviam os problemas mais corriqueiros, rapidamente.

Muitas vezes o Dr. João foi almoçar em minha casa. Era uma pessoa muito interessante. Contava muitas histórias maravilhosas, sempre relacionadas à sua grande experiência profissional e às dificuldades que enfrentou na vida até conseguir se formar em medicina. Muitas vezes aproveitava essas histórias com a finalidade de, ao final, dizer para mim: “Filho, não deixe de estudar. Um homem sem estudo não é nada na vida. Uma pessoa sem estudo terá muita dificuldade para progredir na vida, especialmente daqui para o futuro”.

Lembro-me de que o Dr. João dizia que, antes de sua formatura em medicina, havia cursado a famosa Escola de Farmácia da cidade de Pindamonhangaba – SP. Aliás, esta escola existe até hoje, embora tenha ficado desativada por algum tempo, em passado recente. Sempre que se referia a Pindamonhangaba, nunca deixava de pronunciar palavras famosas sobre a Princesa do Norte: “Pindamonhangaba! Terra dos Barões! Barões na fidalguia! Barões no trato!”

Uma das grandes paixões na vida do Dr. João eram os pássaros. Em sua casa em São Paulo tinha até criação de pássaros como: canarinhos em geral, (canários-da-terra, belgas e rolers), pintassilgos, coleiras e outros. Sempre que vinha para Campos do Jordão, especialmente na época do inverno, trazia algumas gaiolas com alguns de seus pássaros preferidos. Nessa estação do ano é a época da criação de alguns pássaros, especialmente dos pintassilgos, que proliferavam aqui, e que agora, infelizmente, raramente alguns poucos exemplares solitários são vistos voando e cantando em cima de alguns pinheiros.

Dr. João gostava de sair bem cedo na época do inverno, com alçapões e duas gaiolas, uma protegida por uma capa de tecido, levando um de seus pintassilgos preferidos, aquele que mais cantava, denominado “chama”, e a outra vazia, para colocar os pássaros que caçava. Ia para alguns locais onde sabia que havia muitos desses pássaros, devido à grande quantidade de vegetação denominada assa-peixe, outrora abundante nestas paragens da Mantiqueira. Na época do inverno, essa vegetação ostentava grande quantidade de cachos que, depois da florada ocorrida meses antes, exibiam grande quantidade de sementinhas que alimentavam enorme quantidade de pintassilgos, especialmente filhotes, os preferidos pela facilidade de se acostumarem ao cativeiro.

Eu, em muitas oportunidades, fui com o Dr. João nessas caçadas, como eram chamadas. Quase sempre, ele ia ali nas proximidades do atual teleférico da Estrada de Ferro Campos do Jordão, onde atualmente existe uma galeria comercial, Hotel Barcelos e outros comércios. Na época, essa área era só mata nativa e vegetação de pequeno porte, como o assa-peixe. Ele trazia sempre uma espécie de massa aderente feita em sua propriedade situada em Analândia – SP, com o leite, acredito que cozido ou defumado, colhido após ranhuras feitas nos troncos e galhos das figueiras, denominado “visgo”. Além de levar seus alçapões, levava esse visgo e algumas varetas finas, algumas feitas de bambu, e pegando uma certa quantidade desse visgo, ajeitava-o nas varetas e as prendia na gaiola. Os coitados dos pintassilgos, curiosos e iludidos com o canto das “chamas”, vinham e pousavam nessas varetas e não conseguiam mais sair, ficando com as patinhas presas nessa massa colante. Em seguida, ele tirava os pássaros presos ao visgo, com muito cuidado, e os colocava em uma outra gaiola.

Sempre levava para São Paulo, onde morava, alguns exemplares de pintassilgos, canários-da-terra e coleiras.

Certa vez, ele me deu uma gaiola com um filhote de pintassilgo. Esses pássaros, quando ainda filhotes, têm as peninhas da cabeça de cor cinza-esverdeada. Quando adultos, essa coloração das penas da cabeça dos machos é substituída pela cor preta. O que ele me deu tornou-se adulto somente após alguns meses, ficando com a cabecinha preta. Era um exemplar maravilhoso e lindo. Tinha o peito e as asas mescladas de cores de tons amarelos, cinza-esverdeado e preto. Era um exímio cantor. Ficou comigo, recebendo todos os cuidados necessários, por vários anos. Foi o único pássaro que mantive em cativeiro durante toda minha vida. Prefiro que fiquem livres adornando nossas matas.

Algum tempo depois, o Dr. João nos deixou. Seguiu viagem para outras paragens distantes, em algum lugar desse nosso imenso Universo. Com certeza, onde quer que esteja, estará medicando os necessitados dos remédios para a cura de seus males, acompanhando os pássaros em suas grandes revoadas no imenso azul de nosso céu. Ao Dr. João Toniolo, a nossa eterna saudade.

Edmundo Ferreira da Rocha

12/05/1990

 

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www.camposdojordaocultura.com.br/ver-cronicas.asp?Id_cronicas=16

 

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