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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

No tempo da Faculdade - Registros importantes 


No tempo da Faculdade - Registros importantes

No tempo da Faculdade: Estudantes empurrando a kombi na subida da Serra, na chuva e no meio do lamaçal. Quadro da autoria de Luiz Pereira Moysés.

 

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Os estudantes de Campos do Jordão, ao completarem o ensino de segundo grau, pretendendo continuar os estudos em algum curso superior, tinham duas opções: ir morar em alguma outra cidade do interior, ou até mesmo na capital do Estado, que contasse com o curso pretendido, prestando vestibular para a faculdade desejada, ou prestar vestibular para algum dos cursos superiores existentes nas cidades do Vale do Paraíba, especialmente Taubaté. Na cidade de Taubaté, mais próxima de Campos do Jordão, os estudantes dispunham de duas opções: cursos diurnos e noturnos. Normalmente, para todos que precisavam trabalhar durante o dia para custearem seus próprios estudos, a melhor opção eram os cursos noturnos. Assim sendo, grande quantidade de estudantes de Campos do Jordão cursou diversas faculdades na cidade de Taubaté, optando pelos cursos noturnos. Essas diversas faculdades passaram a integrar a Universidade de Taubaté, criada em 06 de dezembro de 1974 e reconhecida em 09 de dezembro de 1976.

Mesmo que alguns estudantes de outras épocas tenham estudado em alguma faculdade de Taubaté, foi a partir da década de 1960 que essa procura aumentou sensivelmente. Muitos que cursaram essas faculdades trabalhavam durante o período diurno, para pagar seus próprios cursos e, logo após o expediente de trabalho, seguiam para Taubaté para assistir às aulas dos cursos noturnos da preferência de cada um.

Normalmente a viagem entre Campos do Jordão e Taubaté era feita pela antiga e precária estrada de terra construída na década de 1920, que dava acesso, principalmente, à cidade de Pindamonhangaba. No trajeto dessa estrada, passava-se pelo temido trecho denominado caracol, assim batizado devido à grande quantidade de curvas muito próximas, localizadas em terreno bastante acidentado, de difícil transposição, nas descidas e, especialmente, nas subidas. Na época das chuvas era muito pior. Esse caracol estava localizado logo abaixo da Estação Ferroviária de Eugênio Lefèvre, da Estrada de Ferro Campos do Jordão, situada no município de Santo Antonio do Pinhal.

Praticamente esse trajeto de aproximadamente 50 quilômetros, pela estrada velha, era o acesso mais rápido para Taubaté. A partir do Hotel Toriba, já começávamos enfrentando a estreita e sinuosa estrada de terra. Era uma estrada com leito de terra bem batida e com grandes trechos apedregulhados até além do bairro Piracuama. Alguns trechos, durante as épocas de chuvas prolongadas, ficavam bastante complicados.

Uma viagem até Taubaté, com tempo bom, sem neblina, chuva em excesso ou qualquer outro contratempo, demorava em torno de uma hora e trinta minutos, tanto para ir como para voltar.

A maioria dos estudantes partia, normalmente, de Campos do Jordão, com destino a Taubaté, por volta das 18 horas, logo após o término do horário de seus respectivos trabalhos.

No começo, até por volta do início de 1977, foram organizadas várias kombis, veículo fabricado pela Volkswagen, que transportava de dez a doze estudantes, incluindo o motorista que, muitas vezes, era um dos estudantes que frequentava algum curso superior. Posteriormente, embora algumas kombis para transporte coletivo ainda continuassem transportando estudantes, começaram a ser organizados grupos de quatro estudantes, cada um com seu veículo particular e, em regime de revezamento, cada um transportava em seu veículo, durante uma semana, os demais colegas. Muitas vezes, esses grupos eram de estudantes que frequentavam os mesmos cursos o que muito facilitava, porém, havia grupos de estudantes de cursos diferentes, inclusive, localizados em prédios diversos e distantes. Isso dificultava e onerava o tempo das viagens, tanto na chegada a Taubaté quanto no horário do retorno a Campos do Jordão.

No início viajei durante algum tempo, com vários colegas que estudavam em Taubaté, utilizando os serviços das kombis. Eram viagens terríveis. A trepidação enfrentada pela Kombi nos trechos de muitas pedras espalhadas e cravadas no leito da estrada e as chamadas costelas formadas em vários trechos de terra batida, muitas vezes, chegavam a nos jogar para fora dos bancos e até bater a cabeça no teto do veículo. Lembro-me de que, muitas vezes, já em casa por volta da meia-noite, ao tomar banho para depois deitar e dormir, as nádegas estavam formigando, quase completamente adormecidas, de tanto enfrentar as inúmeras e constantes trepidações.

Alguns grupos eram compostos somente de homens. Outros eram mistos, às vezes, com dois homens e duas mulheres ou três homens e uma mulher.

Na época em que cursei a Faculdade de Direito de Taubaté, posteriormente, Centro de Ciências Humanas e de Letras, agora Ciências Jurídicas e Sociais da Universidade de Taubaté, no período de 1975 a 1978, com certeza enfrentei, com todos aqueles dessa mesma época, os piores anos desse trajeto entre Campos do Jordão e Taubaté. Nesse período enfrentamos, de 1976 a 1978, a construção da nova estrada, atualmente denominada Rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro, SP-123, desde o portal de entrada de nossa cidade até a entrada que dá acesso ao município de Tremembé, possibilitando o acesso a Taubaté.

Nesse período, na época da seca, quando não havia chuva, em decorrência da grande movimentação de terra dos cortes efetuados em diversos trechos e grandes serviços de terraplenagem, em quase todo percurso da estrada, a poeira que levantava a cada passagem de veículo era um absurdo. Praticamente ficávamos impossibilitados de visualizar os veículos que iam à nossa frente. A quantidade de poeira que inalávamos durante essas viagens era imensa. Cada cuspida que dávamos, de vez em quando, era quase um barro da cor da terra. Os lenços que usávamos para assuar o nariz ficavam com a mesma cor. Costumávamos até brincar dizendo que, quando chegávamos a Taubaté ou retornávamos a Campos do Jordão, cada cuspida era um tijolo que saia.

Em contrapartida, na época das chuvas prolongadas que, normalmente, se estendiam de setembro a março, a lama enfrentada era terrível. Muitas vezes, além do barro, enfrentávamos fortes noites de densa neblina. Em inúmeras oportunidades perdíamos o rumo e éramos obrigados a parar o veículo, descer do carro e ver onde estava a estrada para continuarmos a viagem. Também, nessa época, éramos obrigados a levar, dentro de nossos veículos, garrafões de plástico, de 10 ou 20 litros, cheios de água. Parece incrível, durante uma viagem de ida ou retorno, muitas vezes éramos obrigados a parar o carro, de quatro a seis vezes, para lavarmos os faróis. A lama que levantava com o veículo em movimento ia se acumulando nos faróis e, com o calor das lâmpadas, secava e a iluminação ficava quase totalmente comprometida. Quando nos esquecíamos de levar os garrafões com a água, muitas vezes, nós, os homens, avisando previamente as companheiras de viagem, éramos obrigados a descer do carro e urinar nos faróis para a remoção do barro acumulado.

Em determinada ocasião, montamos um grupo composto de três homens e uma mulher, uma colega que, na ocasião, trabalhava como oficial de justiça do Fórum de Campos do Jordão. A viagem daqui a Taubaté e vice-versa, tanto na época do inverno com o frio rigoroso enfrentado, especialmente na serra, como no período das chuvas, nos obrigava a viajarmos com os vidros fechados. Essa colega era uma fumante inveterada e nós três detestávamos cigarro. Na primeira viagem que fizemos juntos, quando chegamos no meio da serra, ela tirou seu cigarrinho, colocou na boca e o acendeu. Eu estava dirigindo; então parei o carro imediatamente e desci. Os demais colegas fizeram o mesmo. Ela ficou sozinha dentro do carro. “Inocentemente” ela perguntou o que tinha acontecido. E os três responderam quase ao mesmo tempo: “Depois que acabar de fumar nós continuaremos a viagem.” Ela, imediatamente, jogou o cigarro fora e daí, felizmente, durante todo o restante da parceria, nunca mais tentou fumar nas viagens.

Nos piores momentos que enfrentamos durante a construção da nova estrada, muitas vezes, atolávamos em diversos locais onde a quantidade de barro e lama era muito grande. Normalmente, diversos veículos atolavam nos mesmos trechos. O espírito de coleguismo e de solidariedade era muito grande. Todos desciam e, juntos, iam ajudar o primeiro veículo da fila, até vencer o atoleiro. Assim era procedido até que o último veículo conseguisse vencer o lamaçal.

Muitas vezes, especialmente nas épocas de provas, quando não podíamos atrasar ou faltar, descíamos a serra, vestindo macacões (tipo de mecânico), por cima das roupas normais, evitando que ficassem sujas de barro quando éramos obrigados a descer e empurrar os veículos para vencerem os atoleiros. Quando chegávamos a Tremembé, já no asfalto, parávamos na bica da Glória, tirávamos os macacões e lavávamos os sapatos na própria bica. Os sapatos ficavam totalmente molhados, porém limpos do barro. Quando entrávamos nas salas de aula, muitas vezes, nossos sapatos soltavam bolhinhas da água acumulada.

Durante os trabalhos da construção da nova estrada, no retorno para Campos do Jordão, depois das aulas noturnas, por volta das 23 ou 24 horas, especialmente na época das chuvas prolongadas, fomos surpreendidos com grandes atoleiros nas proximidades da chamada “boca do túnel”, que estava sendo construído. Simultaneamente à construção do túnel, eram realizados grandes serviços de movimentação de terra para alargamento do leito da estrada, com diversos cortes efetuados nos morros próximos. Muitas vezes, já próximos da Estação de Eugênio Lefèvre, da Estrada de Ferro Campos do Jordão, situada no município de Santo Antonio do Pinhal, lamentavelmente fomos obrigados a retornar a Taubaté. Daí, utilizando a Rodovia Presidente Dutra, seguindo até a cidade de São José dos Campos e, pela Rodovia SP-50, enfrentando mais de seiscentas curvas num percurso de mais 90 quilômetros, chegar até Campos do Jordão.

Nessas oportunidades chegávamos a Campos do Jordão já passando das duas horas da manhã. Eram situações que nos deixavam bastantes exaustos, principalmente pelo fato de termos nossos compromissos e trabalhos diários, de segunda a sexta-feira. Alguns colegas começavam a trabalhar às oito da manhã. No meu caso, já começava antes das sete horas da manhã, pois tinha somente um veículo e tinha o compromisso de levar minha esposa para dar aulas no Colégio Estadual de Campos do Jordão, cujas aulas começavam às sete horas. Dali eu já ia direto para meu trabalho na Companhia Energética de São Paulo - CESP, cujo expediente começava às 7h30min da manhã.

É importante ressaltar que, nessas oportunidades dos atoleiros na “boca do Túnel”, por pouco menos de dois quilômetros, como mencionado acima, perdíamos a oportunidade de chegar até a cidade de Santo Antonio do Pinhal e daí seguir até Campos do Jordão, com algumas opções, utilizando: parte da Rodovia SP-50; estrada rural do bairro Renópolis até atingir a atual SP-123, Rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro, bem mais à frente da Estação Eugênio Lefèvre; ou através do bairro Zé da Rosa, até atingir a SP-50 já bem mais à frente. Com certeza, isso encurtaria muito o tempo da viagem e evitaria o retorno até Taubaté, depois a São José dos Campos, etc., como dito anteriormente.

Nunca me esqueço do grande perigo pelo qual passamos em uma determinada noite, quando diversos veículos estavam atolados na subida da proximidade do túnel. Já passava das onze e meia da noite. Muitas máquinas trabalhando para retirar um pouco do barro e facilitar a nossa passagem. Nessa oportunidade, muitos colegas, fora de seus veículos, enfrentando o barro, empurravam cada um dos veículos até vencer o atoleiro. Em cima de um morro bastante alto, uma máquina trabalhava com seus faróis acesos e jogava para baixo grandes volumes de terra, que caíam a poucos metros de onde estavam os veículos e todos nós. Em determinado momento comecei a escutar um barulho estranho, parecido com “Tchóff”. Parecia que alguma coisa estava caindo sobre volumes de lama e afundavam. Quando percebi o que estava acontecendo, gritei diversas vezes para todos os colegas: “Afastem-se daqui, urgente”. Felizmente, todos se afastaram e não aconteceram acidentes fatais. Enquanto a máquina que trabalhava sobre o morro ia jogando terra para baixo, junto com a terra vinham grandes quantidades de pedras de diversos tamanhos, acredito, com peso variando entre um e cinquenta quilos. Durante a queda, as pedras, como as mais pesadas, acabavam alterando seu trajeto e caíam próximo aos locais em que estávamos tentando vencer o atoleiro. Se uma dessas pedras atingisse a cabeça de qualquer um de nós, com certeza absoluta, teria acontecido um ou mais acidentes fatais. Graças ao Bom Deus, felizmente, isso não veio a ocorrer. Quando me lembro dessa cena, até hoje, fico amedrontado.

Numa determinada oportunidade, durante o tempo da construção da estrada nova, qualquer ideia ou sugestão para facilitar e ajudar a vencer o barro durante as viagens era bem recebida. Lembro-me de que, conversando com o amigo e grande arquiteto José Roberto Damas Cintra que, também, trafegava muito por essa estrada, ele me deu uma sugestão que me pareceu excelente. Informou que, em diversas oportunidades em que enfrentou lamaçais terríveis, teve muito sucesso utilizando o seguinte recurso: levava sempre no carro uma corda de nylon da grossura de um dedo e com uns três ou quatro metros de comprimento. Quando chegava pouco antes dos pontos mais críticos, descia do carro, amarrava uma das pontas da corda num dos buracos que, normalmente, existem nas rodas dos veículos e ia passando a corda por cima do pneu e pelos buracos da roda até ficar somente uma ponta que amarrava muito bem em um dos buracos. Depois era só entrar no carro e continuar a viagem. Essa corda passada em apenas uma roda do veículo tinha função semelhante às correntes, muito utilizadas antigamente nas rodas dos caminhões que enfrentavam situações semelhantes.

Na época, eu tinha um veículo marca Volkswagen, modelo Brasília, ano 1978. Comprei a corda de nylon azul, coloquei no carro e fomos para a Faculdade. No retorno, no local propício, parei. Auxiliado pela luz da lanterna de um dos colegas, fiz como orientado pelo amigo Zé Roberto. Entrei no carro e saí esperançoso. A princípio foi uma maravilha. Realmente comecei a enfrentar o barro sem qualquer problema. O veículo subia pelo barro tranquilamente. Não demorou muito e o veículo parou totalmente. Eu acelerava e parecia que a traseira do veículo ia afundando e o veículo não saía do lugar. Desci do carro e, com o auxílio da lanterna, fui ver o que estava acontecendo, evitando que o carro rodasse. Um grande problema. A corda de nylon é muito difícil de ser amarrada com perfeição. Por mais cuidado que tenhamos, os nós não dão o aperto desejado. Uma das pontas da corda acabou se soltando e, com a rotação da roda, a corda foi se soltando e boa parte dela acabou se enrolando no eixo do veículo, impedindo que a roda girasse. Sorte que um colega que vinha logo atrás, com outro veículo, parou e viu nosso problema. Felizmente ele tinha uma faca e me emprestou. Tive que cortar a corda em vários pedaços para liberar o eixo do veículo. Consegui tirar o carro do atoleiro com auxílio dos demais colegas e segui viagem. Uma nova e imediata surpresa. Quando precisei frear o veículo, percebi que estava completamente sem freio. Quando a corda se enrolou no eixo do veículo, acabou rompendo o caninho do óleo de freio, que vazou totalmente. Daí para frente todo cuidado e atenção. Somente a redução das marchas segurava um pouco o veículo. Sorte que a maior parte da estrada era subida não necessitando do uso do freio. O perigo maior seria a descida do trecho entre o Hotel Toriba e a avenida, nas proximidades do Sanatório Sírio e da Parada Fracalanza, da Estrada de Ferro Campos do Jordão. Desci todo esse trecho em primeira marcha e com muito cuidado. Felizmente terminamos a viagem de retorno sem novos problemas.

No dia seguinte, logo cedo, levei a Brasília na Oficina da Mantivel – Mantiqueira de Veículos Ltda., concessionária Volkswagen, e lá providenciaram a troca dos caninhos do óleo de freio. A ideia do amigo Zé Roberto foi boa, porém os transtornos imprevisíveis e inesperados foram muitos e deram grande trabalho e preocupação. Nunca mais utilizei esse recurso.

Uma coisa é importante deixar registrado: apesar de todos os problemas e dificuldades enfrentados durante todo decorrer do curso, dificilmente faltávamos às aulas. Nosso tempo para estudar era diminuto. Trabalhávamos durante toda semana, de cedo à tarde, e, na sequência, já íamos para a faculdade. No retorno, chegávamos às nossas casas por volta da meia-noite. Somente nos sobrava um pouco de tempo dos finais de semana para estudarmos e fazermos os trabalhos solicitados pelos professores. Assim, assistir às aulas era imprescindível e muito importante.

Todos nós, estudantes de Campos do Jordão, éramos muito respeitados pela quase totalidade dos professores, que se tornaram nossos grandes amigos. Eles sabiam e acompanhavam o nosso grande sacrifício para alcançarmos os nossos objetivos.

Vale registrar também que, nos dois últimos anos da Faculdade, além das aulas normais de segunda a sexta-feira, aos sábados tínhamos aulas do estágio profissional da advocacia, no qual íamos aprender as técnicas para enfrentarmos juízes, promotores, delegados de polícia e outras autoridades, durante audiências, tribunais do júri, investigações e tudo mais que envolve o relacionamento dos advogados com todas essas e outras autoridades. Normalmente, trabalhávamos durante toda a semana e viajávamos todas as noites. Somente essa rotina já era bastante cansativa. Para completar a semana, ainda tínhamos uma barra pesada a enfrentar. Nas sextas-feiras nosso retorno a Campos do Jordão ocorria entre 23 e 24 horas. Nos sábados já saíamos de Campos do Jordão com destino a Taubaté por volta das sete horas da manhã. Os finais de semana eram muito cansativos. As aulas do estágio começavam às 8 horas da manhã, terminavam ao meio-dia, recomeçavam às 14 horas e terminavam às 17 horas. Tínhamos, então, duas horas para o almoço. Normalmente, aos sábados, quase todos os restaurantes servem como prato do dia a tradicional e deliciosa feijoada, um prato excelente, porém muito pesado, especialmente quando se tem de enfrentar o exagerado calor da cidade de Taubaté e o compromisso de continuar assistindo às aulas do estágio da advocacia. Confesso que acontecia comigo e, tenho certeza absoluta, acontecia com todos os demais colegas. Quando chegava por volta das três horas da tarde, o calor intenso, o peso da feijoada no estômago, o professor falando, o cansaço acumulado da semana... o sono vinha e quase nos derrubava da cadeira. Alguns professores amigos até fingiam que não percebiam, evitando que ficássemos envergonhados. Somente levantavam um pouco a tonalidade da voz para facilitar o término do cochilo e a retomada da atenção.

Não podemos deixar de registrar um fato importante que nos ajudou muito durante o tempo em que cursamos a Faculdade de Direito da Universidade de Taubaté. Normalmente, quase durante os quatro anos, descíamos em quatro colegas, revezando semanalmente os veículos: eu, Edmundo Ferreira da Rocha, Marcionilo Fernandes Guimarães Alvarenga, Dulcy de Almeida Marques e João Antonio Pereira de Castro. Na semana em que descíamos no carro da Dulcy, eu dobrava meu tempo como motorista. Ainda bem que isso não acontecia logo após a minha semana. O Marcionilo e a Dulcy trabalhavam no Fórum Embaixador José Carlos de Macedo Soares, aqui em Campos do Jordão. Ele era diretor do Fórum, e ela, oficial de Justiça. Eu era gerente da Companhia Energética de São Paulo – CESP, e João Antonio Pereira de Castro, gerente do Unibancos – União de Bancos Brasileiros. Com exceção do João Antonio, que havia ingressado na faculdade em 1976, um ano após a nossa turma, os demais pertenciam à mesma turma de 1975 a 1978 e frequentavam a mesma classe. Nessa época, o Fórum era composto somente da primeira vara. Era Juiz de Direito de Campos do Jordão o nosso querido amigo Dr. José Barreto de Siqueira e Silva, que nos ajudou muito, com conselhos maravilhosos, grande ajuda para dirimirmos dúvidas, empréstimo de livros, legislações e muito mais. Emprestava e autorizava o uso da sua sala de audiências para nos reunirmos aos domingos à noite para estudarmos em conjunto e até elaborarmos trabalhos práticos solicitados pelos professores das diversas matérias. Nessas oportunidades, nos reuníamos com outros colegas de Campos do Jordão que pertenciam ao mesmo curso e à mesma classe, porém desciam em outros veículos. Também faziam parte desse nosso grupo de estudos: Aparecida Aridan Alonso, Maria Nancy Consoli, Maria Eugênia Damas Crisol. Ao todo chegávamos reunir seis estudantes de direito. Nossa eterna gratidão ao nosso grande amigo Dr. Barreto, como era costumeiramente chamado.

É imprescindível deixar registrada a saudade que temos daquele tempo memorável; dos grandes amigos, companheiros e colegas da Faculdade de Direito de Taubaté, turma formada no ano de 1978; dos encontros que programávamos em certas ocasiões, para ouvirmos uma boa música, dançarmos e para um bom e descontraído bate-papo, com alguns comes e bebes, contando com a presença de vários professores amigos e maravilhosos; dos grandes e notáveis professores, amigos e mestres de saber inigualável e inquestionável, que nos brindaram com aulas ricas e inesquecíveis; dos funcionários que prestavam serviços nos vários setores da Faculdade, verdadeiros amigos que jamais serão esquecidos.

Impossível esquecer, também, os deliciosos lanches que comíamos na Cantina do Fredoni, localizada nas proximidades da Faculdade, sempre que conseguíamos chegar um pouco mais cedo ou em algum intervalo mais prolongado entre aulas; a espetacular feijoada dos sábados que, infelizmente, nos deixava em estado de letargia pós-prandial, dificultando a assistir às aulas do período da tarde.

Finalizando, durante quase todo o tempo em que descemos e subimos a Serra da Mantiqueira com destino a Taubaté e retornamos a Campos do Jordão, para cursar a Faculdade de Direito da Universidade de Taubaté, enfrentamos as grandes dificuldades descritas, em todo o tempo da construção da nova estrada, posteriormente denominada SP-123, tendo recebido, algum tempo após a sua inauguração, o nome Rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro. No último ano do nosso curso, terminado em 1978, com exceção do João Antonio que, ainda, continuou por mais um ano, tivemos a felicidade de trafegar pela nova estrada, totalmente concluída, durante o período de julho a dezembro de 1978. Uma estrada com asfalto novinho, túnel, viaduto, marcações de pista, olhos de gato nas laterais e no centro da pista, placas de sinalização. Que maravilha! Pena que desfrutamos muito pouco dessa estrada durante o tempo do nosso curso. Ficamos, porém, felizes e contentes sabendo que, daí para frente, os estudantes que continuaram e continuam descendo para estudar em Taubaté, frequentando os diversos cursos oferecidos em diversas áreas pela Universidade de Taubaté, descem tranquilos, viajam seguros, sem as preocupações e os transtornos que enfrentamos naquela época terrível e inesquecível.

Edmundo Ferreira da Rocha

16/09/2014

 

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