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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

Quadra de cimento - nossos treinos pela manhã. Água na bica da lavadeira. 


Quadra de cimento - nossos treinos pela manhã. Água na bica da lavadeira.

D. Benvinda Rosa de Jesus, a saudosa lavadeira que matava a nossa sede na bica que lavava roupas.

 

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Durante as décadas de 1950 e 1960, no mesmo local onde hoje está sediado o Ginásio ou Centro Esportivo “Armando Ladeira”, em Vila Abernéssia, existia uma simples, até muito mal construída, quadra esportiva de cimento. Essa quadra estava localizada ao lado do Estádio Municipal “Benedito Vaz Dias”, onde a Seleção Brasileira de Futebol de 1962 treinou para ir participar da Copa do Mundo na cidade de Viña Del Mar, no Chile, vindo sagrar-se bicampeã mundial de futebol.

Digo que essa quadra era mal construída pelo seguinte aspecto: a sua parte de cima, como costumávamos dizer, ficava mais próxima ao morro onde estava instalada a torre da antena da Radioemissora de Campos do Jordão, a mais alta do Brasil, com seus 1.560 quilociclos. A parte debaixo estava mais próxima do rio Capivari e Rua Felício Raimundo, a que liga a Vila Jaguaribe à Vila Abernéssia, também conhecida como a volta fria, porque, durante boa parte do inverno, as fortes geadas permaneciam, praticamente não derretiam.

Entre a parte de cima da quadra e a parte debaixo, havia um desnível significativo. Os jogadores de basquetebol ou futebol de salão, o atual futsal, preferiam e apresentavam melhor desempenho quando estavam atacando de cima para baixo (diz o ditado que para baixo todo santo ajuda). Detestavam quando estavam atacando de baixo para cima. O mencionado desnível significativo, realmente, exigia maior esforço físico dos jogadores. Esse desnível pouco interferia para a modalidade voleibol.

Essa quadra tinha ao seu redor uma cerca com moirões de madeira comum, muitas vezes de eucalipto, e, em cima desses, varas da mesma espécie, evitando que os espectadores ficassem adentrando na quadra durante as partidas. Também era um grande apoio para os braços deles, enquanto assistiam aos jogos.

Essa quadra, durante muitos anos, foi utilizada pelo Colégio e Escola Normal Estadual de Campos do Jordão – CEENE, para que os professores, tanto da área masculina como da feminina, pudessem ministrar as aulas de educação física.

Também, durante anos incontáveis, foi utilizada pelo nosso querido companheiro contemporâneo do curso ginasial, o grande esportista Hermes de Figueiredo, em minha opinião, o maior jogador de voleibol e basquetebol que já pisou em Campos do Jordão, em todos os tempos. Hermes, durante muitos anos, foi o grande responsável pela difusão dessas modalidades esportivas em nossa cidade. Ele reunia diversos times, como costumávamos dizer, de interessados pelas duas modalidades esportivas e, nessa quadra, a partir do horário das sete horas da manhã, às vezes até antes, evitando atrapalhar a sua utilização pelos professores de educação física do mencionado colégio.

Lembro-me, com muita saudade, desses treinamentos dos quais participei, juntamente com muitos queridos companheiros, hoje, alguns já saudosos, pois, infelizmente, já nos deixaram. Hermes, nunca se esquecendo da parte didática e técnica das modalidades, fazia questão de demonstrar, com toda sua habilidade e excelente performance, como os jogadores deveriam se comportar em quadra, conseguindo o máximo desempenho e se inteirando de todos os recursos que cada modalidade exige.

Inúmeras vezes, especialmente durante o inverno, quando chegávamos cedinho para começar a treinar, a mata próxima, o gramado que circundava a quadra, o seu piso de cimento e as varas de eucalipto colocadas sobre a cerca ao seu redor, estavam branquinhos de geada. Tenham certeza que isso jamais nos intimidava. Chegávamos, tirávamos as calças, as blusas de lã ou casacos, e ficávamos somente de short, camiseta de alça sem braços e com os devidos tênis ou keds. As atividades físicas começavam a todo vapor que nem sentíamos frio. Muitos companheiros, com esses treinamentos especiais ministrados pelo Hermes, tornaram-se excelentes jogadores dessas modalidades esportivas, dando muitas glórias para o esporte jordanense. Também deram muito trabalho para excelentes equipes pertencentes a diversas cidades do Vale do Paraíba, por exemplo, que sempre se destacaram e continuam se destacando no basquetebol e no voleibol. Dentre muitos companheiros que se destacaram não podemos deixar de nos lembrar do Efraim Diniz, do Nelson Ladeira, do Eduardo Neme Nejar, o Dudu, do Homero Godliauskas Zen, o Homerão, do Lincoln Parra Vasquez, do Arthur Claro Bastos, o homem borracha, e muitos outros.

É importante registrar que, durante esse tempo em que treinávamos na tradicional quadra de cimento, sob o comando e orientação do querido amigo e grande companheiro Hermes, durante os intervalos ou mesmo após os treinos, estávamos mortos de sede. A única água potável que existia nas proximidades era a da maravilhosa nascente que existe na mata virgem e intacta, felizmente, que ornamenta boa parte dos morros existentes nas proximidades da quadra – atualmente, situada atrás do Ginásio Esportivo. Na mata ao lado da quadra, existia uma casa simples de madeira onde morava uma tradicional família, simples e trabalhadora, que participou da história de Campos do Jordão. A matriarca dessa família, D. Benvinda Rosa de Jesus, morava nessa casa com o marido, o Sr. João, que trabalhava na construção civil, e sua grande prole de filhos. D. Benvinda era uma excelente e disputada lavadeira de roupas que atendia diversas famílias de Campos do Jordão e vários estabelecimentos comerciais, dentre eles, o tradicional e famoso “Restaurante Elite”, da família Cintra, que utilizava seus serviços para a lavagem de toalhas de mesa e guardanapos de tecido. As roupas, muito bem lavadas pela D. Benvinda, eram lavadas com pura água da mina mencionada, coletada com muito capricho e cuidado, por uma simples bica de madeira, sendo armazenada numa meia tina de barril de madeira cortado ao meio, onde ela aproveitava para lavar toda roupa.

Dona Benvinda lavava as roupas na bica, esfregava numa tábua comprida, cheia de pequenas réguas de madeiras, e passava com aquele tradicional, enorme e pesado ferro da passar – feito de ferro fundido –, aquecido com brasas de lenha ou carvão.

Muitas vezes, me lembro, víamos D. Benvinda saindo da sua casa, de dentro da mata, carregando na cabeça enorme trouxa de roupas, prontinha para entregar aos seus clientes. Ela usava sobre a cabeça uma espécie de turbante que facilitava o equilíbrio necessário para a trouxa de roupas. Sempre usava um enorme vestido ou saia que cobria até os pés.

Era nessa bica de madeira, sempre pedindo prévia autorização para a saudosa D. Benvinda, que íamos saciar nossa sede, aproveitando para jogar um pouco de água na cabeça, lavar o rosto e, até jogar um pouco no corpo para refrescar, mesmo em pleno inverno, com geada por todo lado.

Na época da chuva, D. Benvinda também era nossa tábua de salvação. Muitas vezes, quando chegávamos pela manhã, a parte baixa da quadra, por causa do desnível acentuado e uma grande concavidade no piso de cimento, retinha a água da chuva e atrapalhava nossos treinamentos. Não tinha outra opção: corríamos até a casa da D. Benvinda e pedíamos o rodo emprestado para podermos escoar a água empossada e iniciar os treinamentos.

Saudades... muita saudade, de tempos memoráveis que, infelizmente, não voltarão jamais, porém, nunca serão apagados de nossa memória.

Com a construção do Ginásio Esportivo, essa casa desapareceu e a família mudou-se para outro local da cidade. A água pura e cristalina, sempre gelada, dessa fonte maravilhosa, felizmente é utilizada para abastecimento de todo Ginásio Esportivo. Mas se desperdiça muita água limpa e pura, que poderia estar sendo utilizada pela população em geral, bastando ser construída ao lado do Ginásio Esportivo mais uma fonte com os necessários cuidados.

Um dos filhos da D. Benvinda é um grande trabalhador que anda por todos os bairros da cidade, vendendo sorvetes fabricados por uma sorveteria localizada em Vila Jaguaribe, sempre empurrando aquele carrinho especial, com a temperatura ideal, proporcionada por recipientes de gelo seco.

Edmundo Ferreira da Rocha

05/07/2013

 

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