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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

A inesquecível bicicleta motorizada do Célio Motta 


A inesquecível  bicicleta motorizada do Célio Motta

Bem semelhante à original, a inesquercível bicicleta motorizada e o saudoso Célio Duval Motta.

 

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Em meados da década de 1950, morava em Vila Capivari, ali na Avenida Emílio Ribas, 908, na casa alugada que pertencia ao gentil, educado e saudoso amigo Adauto Camargo Neves, um dos primeiros corretores de imóveis de Campos do Jordão. Essa casa ficava exatamente ao lado do atual Hotel JB, nas proximidades do tradicional Posto Esso de Capivari. Nessa época não existiam ainda o Hotel JB, Hotel Sagres e aqueles edifícios ao lado e atrás do Posto Esso, que pertencia ao saudoso Sr. Wilson Brügger,

Como era uma casa até relativamente grande, meu pai alugou para o saudoso amigo Orestes Mário Donato um de seus quartos para ele morar, fornecendo as refeições diárias e o café da manhã, claro que mediante pagamento do correspondente valor, de comum acordo entre ambos.

Nessa época, a Empresa CADIJ, constituída com os ramos de Imobiliária e Construtora, de propriedade do saudoso Antonio Leite Marques, o Toninho, que resolveu separar as duas atividades, ficando ele somente com a parte da Imobiliária. O Dr. Marcos Wulf Siegel, que havia chegado a Campos do Jordão no ano de 1953, já como associado da CADIJ, resolveu assumir a parte da Construtora, e assim, em 1954, fundou uma construtora. Para sua instalação necessitava de um local. Essa construtora passou a ser denominada COPEL (abreviatura de Construções, Projetos e Engenharia Limitada), nome dado por Donato – como passou a ser chamado o seu Orestes. O engenheiro responsável pela COPEL era o Dr. José Ariosto Barbosa de Souza. Também fazia parte da administração o professor Harly Trench. Assim, por intervenção do Donato que, além das suas muitas outras habilidades, era especialista em projetos e desenhos e já havia sido contratado para ser o projetista da COPEL, meu pai, considerando que a casa onde já estávamos morando era muito grande, acabou por alugar duas salas existentes na frente dela e mais outros dois cômodos para o Dr. Marcos Siegel instalar a COPEL.

Também trabalhava na COPEL, como contador, o saudoso amigo Célio Duval Motta, que também veio para Campos do Jordão, por volta de 1948, em busca da cura para a tuberculose, e foi contemporâneo de Orestes Mário Donato, na antiga Pensão do Lauro Candeira, montada na casa principal da Chácara pertencente ao meu avô Joaquim Ferreira da Rocha, situada na atual Vila Fracalanza, depois que se mudou para a cidade de Pindamonhangaba, no final da década de 1940. Essa propriedade, atualmente, pertence à Irmandade do Sagrado Coração de Jesus, de São Paulo, onde foi instalada a sede da ASSISO, Entidade Assistencial, até hoje instalada no local.

Nessa época eu tinha 11 anos. Era um apaixonado por bicicletas. Ficava maravilhado quando, nas temporadas de férias – janeiro, fevereiro e julho ¬¬– passavam ali pela Av. Emílio Ribas onde, normalmente, o trânsito era privilegiado com pouquíssimos veículos, porém, carros maravilhosos e importados das famosas marcas Chevrolet, Ford, Cadilac, Citroën, Plymouth, Studebaker, Oldsmobile, Chrysley, Buick, Peugeot e outras. Muito mais maravilhado eu ficava quando via passar o Victor Simonsen, o Victinho Simonsen, como era mais conhecido, e seus primos, pilotando as modernas bicicletas motorizadas. Isso mesmo. Não eram motocicletas com baixas cilindradas, como dizíamos, e sim bicicletas especiais, providas de pequeno motor de baixa potência, o suficiente para transportar o piloto com bastante segurança, sem excessos de velocidade.

Nessa época em que o saudoso amigo Célio Duval Motta trabalhava na COPEL, ele adquiriu uma dessas maravilhosas bicicletas motorizadas. Somente assim pude realizar um grande sonho: chegar perto dessa “máquina” maravilhosa. Ficava encantado com a danada da bicicleta motorizada. Tinha grande vontade de pegá-la e sair pilotando pelas avenidas de Vila Capivari e adjacências.

Numa determinada oportunidade, o Célio Motta teve de viajar a serviço numa sexta-feira e somente retornaria na segunda-feira. Assim sendo, deixou a famosa bicicleta motorizada sob a responsabilidade do amigo Orestes Mário Donato, seu colega de trabalho na COPEL. O Donato pediu autorização para meu pai e a guardou num quartinho existente nos fundos da minha casa. O Donato era um excelente funcionário e grande projetista da COPEL, porém um grande “boêmio”. Especialmente nos finais de semana, gostava de trabalhar à noite e ia até duas ou três horas da manhã trabalhando nos projetos e, também, particularmente, em seu laboratório fotográfico instalado num dos cantos do seu quarto. Dessa maneira, raramente acordava antes das 10h30 e 11 horas.

Eu, moleque esperto, até com um pouco de certa malandragem, fiquei atento. No sábado de manhã acordei até antes das sete horas, com bastante cuidado para meus pais não perceberem. Saí devagarzinho, peguei a chave do quartinho, a chave da bicicleta motorizada que, felizmente, o amigo Donato tinha deixado em cima da mesa da sala, fui até o quartinho dos fundos, peguei a bicicleta motorizada com muito cuidado e fui para a Avenida Emílio Ribas. Eu era um exímio e cuidadoso ciclista; portanto, a bicicleta estava em boas mãos e praticamente livre de riscos para a sua integridade. Empurrei-a até um pouco além do Posto Esso. Eu nunca tinha pilotado uma bicicleta motorizada; porém, de tanto ver o Célio Motta chegar e sair com ela, já sabia de cor tudo o que deveria fazer para utilizá-la. Daí para frente, liguei a chave, subi na bicicleta, apertei o comando da embreagem, pedalei um pouco, soltei a embreagem, acelerei e escutei o maravilhoso som do seu motor que havia ligado. Saí feliz pilotando a maravilhosa bicicleta motorizada pelas ruas e avenidas de Vila Capivari e cheguei até dar umas voltas pelas Vilas Jaguaribe e Abernéssia. Que delícia andar de bicicleta motorizada. Era só acelerar e, sem necessidade de pedalar, ir vislumbrando a maravilhosa paisagem de Campos do Jordão. Nas ruas e avenidas o tráfego de veículos era mínimo. De vez em quando e, dificilmente, passava algum automóvel. Como em alguns locais fui obrigado a passar por algumas poças d´água das pistas, os pára-lamas e rodas da bicicleta ficaram um pouco sujos com a poeira grudada nas partes molhadas. Antes de retornar passei no Posto Esso, do amigo Sr. Wilson Brügger e, com umas poucas economias minhas, coloquei alguns cruzeiros de gasolina. Retornei antes das dez horas da manhã, evitando que o amigo Donato viesse acordar e percebesse que eu havia “furtado” temporariamente a bicicleta motorizada. Chegando em casa dei um jeito de lavar e limpar toda a bicicleta. Depois de limpinha, coloquei-a no mesmo lugar no quartinho, fechei a porta e recoloquei as chaves sobre a mesa onde o Donato havia deixado no dia anterior.

Felizmente, nem meu pai, nem o Donato e muito menos o Célio Motta descobriram a minha peraltice em “furtar” temporariamente a bicicleta motorizada do Célio Motta e sair passeando pela cidade. Somente minha mãe acabou descobrindo a minha façanha. Levei uma boa raspança, porém ela acabou ficando bem quieta. Se me pai ficasse sabendo, a coisa teria ficado ruim para mim.

Bons tempos. Peraltices inesquecíveis, porém sadias, gratificantes e que nunca deram prejuízo a quem quer que seja. Depois de muito tempo, quando eu já era um adolescente, acabei contado essa façanha para o amigo Donato e para o próprio Célio Motta, dono da bicicleta motorizada. Ambos deram muita risada, bateram em minhas costas e disseram: “Moleque danado que você foi. Ninguém conseguiu descobrir a sua malandragem.”

Edmundo Ferreira da Rocha

13/02/2015

 

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