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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

A Côlonia Japonesa e a agricultura em Campos do Jordão - Pedro Paulo Filho 


A Côlonia Japonesa e a agricultura em Campos do Jordão - Pedro Paulo Filho

 

 

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Segundo o saudoso Arakaki Masakazu, data de 1924 a vinda do primeiro japonês a Campos do Jordão. Tsutae Odaguiri subiu a serra no “bondinho” em junho desse ano, trabalhou inicialmente no comercio, aqui casou-se e constitui família, prestou serviços por muitos anos no Hotel Toriba como chefe dos garçons, hoje mora em Taubaté com os netos (1983).

Mas a fixação do primeiro grupo de japoneses se daria efetivamente em 1929 quando o dr. Drumont Murgel, então Diretor da Estrada de Ferro Campos do Jordão, loteou uma área na subida da serra, fundou o Bairro Renópolis, onde se instalaram os primeiros colonos no mês de agosto: Massato Yamada, Nizo Katayama, Kakiti Yao, Shoji Kimura, Sussumu Nagaoka, constituindo uma das primeiras regiões frutícolas de clima temperado do Estado.

Na década de 30, mais japoneses para cá vieram, instalando-se na zona rural do município: Hayshida, Sanefuji, Yoshikai, que adquiriram terras dos Costa Manso, no Lageado, iniciando a cultura da cenoura. A excelência do clima e a fertilidade do solo nas encostas da Mantiqueira, transformaram a região em grande celeiro e a fama fez com que mais patrícios para cá viessem: Nakamura, Nodomi, Abe, Awata, Yamaguchi, Tamura, Kaida, Mera, Oikawa, Hatsuda, Fukumitsu. Durante toda década de 40, Campos do Jordão ostentou o titulo de maior centro produtor de cenouras do Estado, enviando seus produtos para os mercados do Rio e de São Paulo.

Em 1936, a Colônia construiu o Sanatório São Francisco Xavier. O terreno foi doado pelo Embaixador José Carlos de Macedo Soares, era Prefeito Sanitário de Campos do Jordão o dr. Antonio Gavião Gonzaga. Tiveram participação relevante na implantação do Sanatório dr. Sizuo Hosoe, Kiyuhiti Hayashyda, o então Cônsul Geral Itigue Kozo, o Vice Cônsul Hishikawa, o engenheiro Takeshi Suzuki e Gengo Sakane.

Em fins dessa década vieram os primeiros japoneses para cidade, a “Vila” como era chamada: Minamisako, Cabata, Kaneko, Igaki e outros que se estabeleceram com o comércio de gêneros alimentícios, legumes, tecidos e pensões. Neste último ramo, é digno de nota a “Pensão Báltica” instalada em 1938 numa enorme casa térrea, uma das construções do inicio do século, cercada de enormes pinheiros, na antiga estrada do Imbiri, que recebeu convalescentes vindos de sanatórios; seus proprietários, o casal Minamisako cuidava com tanto carinho de seus hóspedes que estes os chamavam de “Papai” e “Mamãe”. Os nomes pegaram: hoje se alguém na cidade, procura pelo sr. Minamisako, por certo terá dificuldade de encontrá-lo, mas, se chamar de “Papai Japonês” ou “Papai da Malharia”(agora tem uma malharia) o achará na hora.

Na década de 40, vieram os Akamine, os Onishi, os Arakaki, os Yonemoto, os Murayama. É grande a participação dos nipo-brasileiros em todos os setores da vida jordanense. A agricultura foi a principal atividade até os fins de 1950. Os produtos horti-fruti-granjeiros de Renópolis, as cenouras do Lageado, as batata do Baú, os ovos e as hortaliças dos Melos e Paiol Velho abasteciam a cidade e as sobras seguiam para São Paulo. A zona rural de Campos do Jordão chegou a ter cerca de 200 famílias de japoneses. Aos poucos foi, se acentuando a presença de nipo-brasileiros na zona urbana. Na década de 40, muitos japoneses se dedicavam ao comércio. Uma clínica médica tinha como responsável dois competentes médicos nisseis: dr. Carlos Inoue e dr. Luiz Hirata. No setor de obras da Prefeitura atuava o engenheiro Kira Isao, responsável pela construção das primeiras pontes de concreto em Capivari. Hoje, os japoneses e os nisseis, filhos dos primeiros colonos participam de todos os setores da vida jordanense: são comerciantes, industriários, bancários, funcionários públicos, políticos, médicos, advogados, engenheiros e professores nisseis.

A política jordanense contou sempre com participação ativa de nisseis. Na época do pluripartidarismo tivemos Walter Tamura militando no PTB, Sigueji Okamura, vereador do PTN, Mario Utiyama e Arakaki Masakazu no PSP, sendo que este último foi vereador por 4 legislaturas, vice-prefeito 2 vezes (8 anos), tendo assumido a Prefeitura por duas vezes na ausência do Prefeito José Antonio Padovan. Shisuto Jose Murayama, deputado estadual em 1959, foi o primeiro agrônomo da Casa da Lavoura, voltou a Campos do Jordão em 1978, depois da ausência de muitos anos. Já tivemos Hideo Yamaguchi suplente de vereador da ex-ARENA e Anjo Kakehasi do Grupo político da situação, e atualmente dois líderes políticos, Noboru Oya e Roberto Abe.

A coletividade japonesa se congrega, atualmente, numa associação que reúne 80% das 110 famílias do município: o Clube Cultural Recreativo Cereja tendo na presidência o professor Massahiro Arakaki, que colabora constantemente com os poderes públicos participando de várias promoções tais como a Festa do Pinhão, a Festa da Cerejeira em Flor, etc.

As famílias de Renópolis, algumas fundadoras do bairro há 51 anos, em face da autonomia política de Santo Antonio do Pinhal ao qual pertence o bairro, organizam a sua associação: o Clube Agrícola Mantiqueira, que apesar de pequeno número de componentes presta relevantes serviços àquela localidade.

A agricultura e a pecuária em Campos do Jordão, no período de 1940 a 1979, na região do Baú, a pecuária de leite se desenvolveu com gado mestiço, sem nenhuma roçagem, proporcionando a média baixíssima de 2 litros por cabeça. É que os pecuaristas, na sua maioria mineiros, não despendiam um centavo sequer na manutenção do gado. O sistema predomina até hoje (1979) no Município e o leite produzido é enviado para a Cooperativa de Laticínios de São Bento do Sapucaí e de São José dos Campos, sendo que a produção leiteira não pesa na balança dos tributos municipais. No que tange à agricultura, antes de 1960, o Baú era o celeiro de mudas frutíferas, especialmente de oliveiras (Paulo Bockman, o proprietário, e Miguel Ruiz Acien, o encarregado). Havia milhares de mudas de macieiras, todas importadas da Argentina. Com as divergências políticas havidas nos altos escalões do Governo de São Paulo, com o desaparecimento da Festa da Maçã e com o fechamento da Fábrica Belfruta, as mudas plantadas foram abandonadas e as que sobraram, foram queimadas. As culturas de arroz, feijão e milho continuam até hoje, com baixíssima produção por unidade de área, uma vez que os plantadores se recusam a aceitar as modernas técnicas agronômicas. Na área da silvicultura de 1960 até hoje (1979), houve acentuado fomento no plantio de eucalipto e pinus elliotis (pinheiro chileno), que agora estão sendo comercializados. Na horticultura, até meados dos anos da década de 60, o Baú foi o maior produtor de batatas inglesas e de cenouras do Brasil. Depois a erosão, o cansaço da terra, a eclosão de doenças, tornaram anti-econômica a exploração olerícola. Hoje, não se encontram cenouras e batatas, a não ser em hortas domésticas. No que concerne à fruticultura, as culturas comerciais até 1960, localizavam-se no Parque do Ferradura (dr. Paulo Prado), com mais de 1.000 pés de macieiras. Outra cultura da mesma espécie localizava-se na área da Fábrica Belfruta, no Alto da Boa Vista. A primeira ainda existe, porém, abandonada e a segunda desapareceu com o fechamento da Fábrica Belfruta. No bairro dos Melos, no trecho compreendido entre o Matadouro e a descida do bairro, até hoje (1979) se cultivam ameixas, pêssegos e nectarinas (Nishikawa, Nodomi e Fukumitsu). A produção atendia o mercado interno e o CEASA, de São Paulo. Na área da floricultura, a maior produção horti-fruti-grangeira é a de flores e folhagens. Há 15 floras, sendo a pioneira e a maior a Flora Mantiqueira, seguida da Nodomi. Falando sobre o fastígio e o declínio da fruticultura jordanense, é preciso acrescentar que o plantio de pereiras e macieiras sofreram grande desgaste, tendendo mesmo a desaparecer, por falta de assistência técnica e de mercado e ainda por desinteresse dos proprietários.

No setor de fruteiras nobres (pêssegos, ameixas e nectarinas) há uma relação de estabilidade, ou seja, não há pomares novos. Os antigos é que estão sendo tratados convenientemente, dando ainda boa qualidade. A febre da implantação de loteamentos está acabando com as terras que poderiam ser aproveitadas para a agro-pecuária e fruticultura.

Os principais produtos produzidos em Campos do Jordão são os seguintes: 1°) flores e folhagens; 2°) pêssegos, ameixas e nectarinas; 3°) castanhas (Giuseppe Saddum); 4°) leite bovino; 5°) produtos suínos; 6°) hortaliças; 7°) framboezas e amoras. A influência da Belfruta na fruticultura foi importante e efêmera. No período de 1953 a 1960, enquanto existiu, a fruticultura teve mercado, especialmente a maciecultura. A Belfruta desapareceu por motivos políticos e não por falta de matéria-prima, que, por sua vez, acabou desaparecendo por falta de infra-estrutura (industrialização). No setor de olivicultura, os Governos e seus tecnocratas não acreditavam que as oliveiras produzissem azeitonas comerciais, mesmo diante da evidencia dos olivais de Campos do Jordão que chegaram a carregar até 100 kg por pé (Matarazzo, Nodomi, Fukumitsu, Arakaki, Antonio de Oliveira Pires). Diante dessa descrença, a olivicultura desapareceu do Município. As castanhas estão provando que sua exploração é econômica (Sítio de Giuseppe Saddum no Baú de Baixo). Por isso, há gente plantando como os Kimura, em Renópolis. Na área de trutas, a salmonicultura no Terraço Itália (Comendador Evaristo Comolatti e Kishi Koike no bairro Gavião Gonzaga) estão provando para o Brasil que as trutas encontraram na água e no clima de Campos do Jordão condições ótimas para seu desenvolvimento.

Atualmente (1979), colhem-se 60 mil quilos anuais ou 5.000 quilos mensais, sendo 500 mil cruzeiros brutos. É a única criação comercial de trutas que existe no Brasil. O Parque Estadual de Campos do Jordão estuda cientificamente o comportamento das trutas, que é a piscicultura de Campos do Jordão. Na silvicultura, a importação de pinus elliotis (pinho chileno), a partir de 1956, foi o maior erro que o Brasil cometeu em matéria de reflorestamento, visando a industria do papel. Para a fabricação de papel, ele não serve, pelo excesso de resina. Só serve para o corte em tábuas e mesmo assim os plantadores encontram dificuldades de comercialização depois de uma época, no mínimo de 10 anos.

A floresta do pinheiro chileno, como do eucalipto, é homogênea, isto é, é só pinho, é só eucalipto, e o chão fica coberto com suas folhas e galhos secos, sem nenhuma outra planta. Nessas florestas não vive um só animal, um só pássaro por absoluta falta de alimentos, contribuindo, por isso, para modificar violentamente a ecologia primitiva. As florestas primitivas naturais estão cheias de animais, aves, répteis, abelhas, ou seja, uma imensidão de seres viventes, entre animais e vegetais. Em Campos do Jordão há duas espécies araucárias: a angustifólia (pinheiro brasileiro) e o podocarpus (pinho bravo). Ambas estão proibidas de serem cortadas por leis federais. A sua devastação implica em autuações, sansões penais, multas, apreensões e prisões efetuadas pela Polícia Florestal. Não obstante, as araucárias angustifólia estão sendo devastadas indiscriminada e clandestinamente. A Polícia Florestal só tem 3 efetivos e não possui viaturas, nada podendo fiscalizar. Mesmo autuando, elas não surtem qualquer efeito e os autuados ficam impunes. Os loteamentos, por sua vez, requerem a derrubada de dezenas de pinheiros e não há como negar o pedido. É o progresso cobrando o seu preço.

 

 

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