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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

Monteiro Lobato em Campos do Jordão 


Monteiro Lobato em Campos do Jordão

Fotos de Monteiro Lobato e de sua antiga casa em Campos do Jordão

 

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José Bento Renato Monteiro Lobato (18/04/1882-Taubaté/SP. – 04/07/1948-São Paulo-SP) freqüentou periodicamente Campos do Jordão, no período que mediou entre o final dos anos 30 e o início dos anos 40; chegou a adquirir casa residencial, situada à av. Macedo Soares, 400 (em agosto de 1937, era o chalé n.33), infelizmente já demolida.

Lobato passou ali maus momentos, quando perdeu seu filho Guilherme, acometido de tuberculose e arrancado da vida na flor da idade; no entanto, ali escreveu "Geografia de Dona Benta", que constituiu leitura inesquecível para as crianças de todas as gerações.

Homem calmo e pacato, tinha o costume de, a pé, transpor o percurso Capivari-Abernéssia, onde vinha buscar pão na Padaria Pinheiro.

Tenho para mim que Monteiro Lobato freqüentava Campos do Jordão desde a virada do século.

Explico:Em “Cartas Escolhidas”, encontra-se uma missiva, datada de 1895, endereçada a sua mãe, que se encontrava em Santo Antônio do Pinhal, em tratamento de saúde, onde Lobato escrevia: "Engambelei o velho (o avô de Lobato, José Francisco Monteiro, barão e depois visconde de Tremembé), contei-lhe muitas petas e ele vai logo lhe visitar, chegando até Jaguaribe. A casa aluga-se por 35$ e ele vai aí para tratar de sua mudança. Creio que o velho anda com intenções de comprar casa ou fazenda em Jaguaribe; ficou encantado com o que contei dos Campos".

Vê-se, assim, que com 13 anos J. B. Monteiro Lobato já conhecia Vila Jaguaribe.

Desgostoso com a morte do filho Guilherme, Lobato alugou sua casa para dona Adelaide e Paulo Gracie, que lá montaram uma pensão. (As pensões de doentes de Capivari não tinham denominação, para não parecerem pensões ...).

Nessa casa, no final da década de 40, quando chegou um sujeito engraçado e barulhento, chamado Plínio Freire de Sá Campelo, dona Adelaide disse:

- "Chegou aí um novo tratamento da tuberculose - a alegroterapia".

Através da pena de Paulo Dantas, em "Presença de Lobato", o controvertido escritor dizia:

- "O Guilherme sarou, teve alta, voltou para São Paulo e de lá foi veranear em Taubaté, onde tinha muitos amigos, parentes e namoradas.

E como Purezinha lhe havia dado um Ford, ele abrisou e três meses depois, reapareceu em S. Paulo, magro e recaído.

Voltamos para Campos do Jordão e não houve cura possível. A causa da morte do Gui foi aquele Ford" ...

Foi graças a Monteiro Lobato que a literatura brasileira ganhou o escritor Paulo Dantas.

Doente e sem recursos, bateu à porta do grande escritor que o acolheu, apoiou e ajudou a sarar, revelando-o depois para as letras pátrias.

Toda a correspondência havida entre Lobato e Dantas, quando este se achava internado na L. B. A. (antigo Pensionato Maria Auxiliadora) de 1946 a 1947, foi publicada pela editora Brasiliense.

Em uma das cartas, Lobato escreveu: "Não tenho dúvidas sobre a tua cura e sobre a vitória nas letras. Purezinha e Maria sabem o que é o frio de Campos do Jordão - e mandam a malha que a segunda teceu e alguns agasalhos que a primeira agregou. Isso vai levado pela família Souza Lima - Dr. Pedro de Souza Lima - que vai ficar em Jaguaribe, na casa dum coronel Faria”.

Monteiro Lobato escreveu para muitos amigos, fazendo referências a Campos do Jordão, e algumas missivas foram publicadas: a Lino Moreira, em 12.9.36; a Artur Coelho em 21.6.36; a Candinho Filho em 11.9.36 e a Nelson de Resende em 11.9.36. De Campos do Jordão mesmo escreveu a Davi Pimentel em 13.01.35 e a Lino Moreira em 26.6.35.

José Benedito Bicudo Jr. lembra, em obra inédita, que na famosa Pensão Azul (ficava à esquerda da atual igreja Matriz), Monteiro Lobato era assíduo freqüentador dos saraus lítero-musicais, onde pontificavam os dedos mágicos de Guiomar Novais ao piano.

A esposa de Lobato, dona Purezinha Natividade, era prima da proprietária da Pensão Azul, Purezinha Marcondes, neta de Manoel de Godói Moreira, oficial da Guarda de D. Pedro I, no "Grito do Ipiranga".

Na Pensão Azul, que marcou época no ciclo da moléstia em Campos do Jordão, Monteiro Lobato dizia:

"É preciso acabar com a burrice nacional, e aí seremos a grande nação".

No meio da década de 30, o centro social de Vila Capivari resumia-se ao Armazém do Simão, que já pertencia a Bráulio de Almeida Ramos, pai. Ficava na confluência das ruas Vitor Godinho com a Roberto Jeffery (onde havia um depósito de lenha há poucos anos).

Dos muitos moradores que freqüentavam o Armazém do Simão (Willie Davids, Robert Jeffery, André Kotchekof, Gastão Mesquita), Monteiro Lobato era um deles.

Gostava de conversar com o pessoal, e o mocinho Hanaud de Almeida Ramos não se cansava de mostrar os seus escritos a Lobato, que lia e aprovava, balançando a cabeça e estimulando o rapaz, como, aliás, era do seu feitio.

O delegado de polícia Armando Caiuby contou de seu relacionamento com Lobato, freqüentador de sua delegacia, desde 1919, na Capital de São Paulo, e que publicou alguns dos livros do policial-escritor.

"Nessa comunhão espiritual, tivemos vida mais íntima por ocasião da moléstia e morte de seus filhos queridos.

Tínhamos casa em Campos do Jordão e eu o levava toda semana para lá.

Recalcando angústias e remoendo na alma as apreensões, muitas vezes viajamos sozinhos, eu guiando o automóvel, ele ao lado a satirizar a vida.

- Olha, estamos no rebenque da ditadura. Poucos, pouquíssimos, não dobrarão a cerviz à cornucópia do Catete. Posições e propinas em substituição da própria liberdade..." O escritor Paulo Dantas narrou a seu dramático encontro com Monteiro Lobato em São Paulo.

Batendo à porta da residência à rua Alabastro, na Consolação, houve entre eles o seguinte diálogo:

-Quem é você, que deseja?

-Quero falar com o senhor.

-É da Bahia?

-Sou, sim, senhor.

-Que deseja?

-Dr. Lobato, o senhor tem que me ajudar. Necessito muito da sua ajuda. Só o senhor pode me ajudar. Queria uma carta de apresentação para visitar o senhor, mas ninguém me deu, receoso de incomodá-lo nesta hora difícil.

Paulo, magro e pálido, enfermo do pulmão, tirou do bolso um livro meio preto, meio cinzento, e ofereceu a Lobato.

- Sou escritor. Autor desse trabalho, um troço que escrevi em Minas e que, por sorte, ganhou um prêmio na Academia Brasileira.

Mas isso não tem a menor importância. Meu assunto com o senhor é outro. Estou doente. Tuberculoso. Viajo cuspindo sangue nos trens. Fugi do Mandaqui e agora estou num hotel no Brás.

Sem dinheiro, venho de Minas, de Belo Horizonte, passando pelo Rio. Fiz a viagem toda com direito a hemoptises e num noturno sem leito.

Monteiro Lobato achou Paulo parecido com seu filho morto, Guilherme.

- Quero subir para Campos do Jordão. Não agüento mais este clima úmido de S. Paulo. Só Campos do Jordão e o senhor podem ser a minha salvação. O instinto me diz isso.

- Ouantos anos tem?

- Vinte e quatro.

É a mesma idade de seu filho Guilherme, pensou Lobato. Depois de uma conversa sobre literatura, Lobato voltou à carga:

- Não atinei bem com o que você quer de mim. Tenho uma casa em Campos do Jordão, mas já está alugada. Virou pensão.

- Quero uma vaga para morrer. Um hospital qualquer. Não tenho dinheiro para pagar pensão. Estou cuspindo fogo. - Mas estás vivo e bem falante. E o meu filho, que teve todo o conforto, morreu ...

- São coisas da vida, do destino, Dr. Lobato.

- Acho que já nos entendemos. Seria bom o moço se retirar. Não quero que Purezinha o veja, senão vai lembrar-se de coisas e cair na choradeira. Deixe seu endereço aí ...

Apesar da aspereza, proveniente da lembrança do filho morto pela tuberculose, em Campos do Jordão, Lobato tomou naquele mesmo dia providências para internar Paulo Dantas no Hospital Jaçanã, entregando-o aos cuidados do dr.Otávio Nébias. Tudo fora arranjado com o dr. Sinésio Rangel Pestana, diretor da Santa Casa.

Posteriormente, transferido para o alto da Mantiqueira, veio Paulo Dantas a curar-se em Campos do Jordão, em 'Sanatorinhos' e na Legião Brasileira de Assistência, ocasião em que manteve intensa correspondência com Monteiro Lobato, entre 1946-1947.

Nota: Estória extraída dos livros "Cartas Escolhidas", Brasiliense, S. Paulo, 1969, "História de Campos do Jordão", de Pedro Paulo Filho, 1986, "Presença de Lobato", de Paulo Dantas e "O Estado de S. Paulo", de 26 de fevereiro de 1956.

Crônica do Livro "Estórias e Lendas do Povo de Campos do Jordão", de Pedro Paulo Filho, Edição 1988,Páginas 101 a 105.

Veja Monteiro Lobato fotografa Campos do Jordão

26/01/1988

 

Acesse esta crônica diretamente pelo endereço:

www.camposdojordaocultura.com.br/ver-cronicas.asp?Id_cronicas=38

 

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