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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

Na tranqüilidade dos montes e na liberdade dos Campos... 


Na tranqüilidade dos montes e na liberdade dos Campos...

Quadro "Montanhas" do Pintor Camargo Freire

 

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Essa frase ímpar e tradicional que, até hoje, identifica uma das mais belas, antigas e tradicionais propriedades de Campos do Jordão, era, realmente, um dos predicados que mais atraíram aqueles que, como os “Matarazzos”, em outras épocas não muito remotas, procuraram nossa cidade; além daqueles que para cá vieram motivados pela fama adquirida por este rincão paulista, à procura da cura para a tuberculose, desfrutando da excelência do seu clima invejado e privilegiado, considerado milagroso por alguns e que muito contribuiu para essa finalidade curativa.

Para muitos, este retrato de Campos do Jordão traz inúmeras, gratificantes e saudosas recordações, pois, além de terem tido o prazer de desfrutar da tranqüilidade de seus montes e da liberdade de seus campos, tiveram a alegria de ver todos aqueles que, recuperando a saúde ameaçada pelo mal da época, puderam participar como peças-chaves e importantes, no processo progressista – embora hoje questionável, porém inevitável – de nossa cidade.

Para outros, amargas, dolorosas e inesquecíveis recordações, pois, mesmo tendo desfrutado do seu clima privilegiado, tiveram a infelicidade de presenciar o apagar das esperanças de vida de parentes e amigos queridos. Somente a contribuição valorosa e necessária do clima auxiliar não seria suficiente para a cura daqueles que dependiam de algo mais que o clima e que, infelizmente, a medicina da época ainda não estava preparada para oferecer.

Dessa época memorável e primordial, Campos do Jordão, muito rapidamente, devido ao seu clima inquestionável e à beleza excepcional de seus atributos naturais, passou, inevitavelmente, para a era do turismo.

O crescimento da cidade foi e continua sendo muito rápido. Qualquer planejamento já efetuado não tem sido suficiente para se impor ao ritmo acelerado e às reais necessidades da cidade e de todos aqueles que aqui vivem ou que para cá vêm.

Com um crescimento carente de diretrizes e limites mais rígidos, arrojados e futuristas, a cidade, com sua estrutura atual ameaçada, já começa a atravessar momentos críticos. É evidente o afogamento de seu sistema viário. Crítico e lamentável é o desmatamento desordenado que continua ocorrendo diante dos próprios olhos das autoridades legalmente constituídas e de toda a sua população impassível. Grupos ecológicos têm procurado, insistentemente, enfrentando toda sorte de intempéries e entraves, preservar o pouco que resta de nossas paisagens de vegetação exuberante, maravilhosa e rara.

Nossos montes, campos, matas etc., vão aos poucos cedendo lugar a loteamentos desordenados, carentes de infra-estrutura ideal e necessária; a condomínios fechados, localizados em locais nobres e de interesse público e turístico, aonde, dia a dia, a população residente e visitante vai sendo impedida de ter acesso a visitas, em face de suas características realmente fechadas, limitadas e proibitivas de acesso.

Outros locais, dotados de topografia, vegetação e vistas panorâmicas nobres, vão sendo invadidos pela população menos favorecida e carente, oriunda de diversos rincões de nosso Estado e do País, diante da inércia das autoridades, em busca de melhores dias, confiando no progresso turístico da cidade, atraídos por falsas imagens, propagandas sem fundamento e promessas vãs; muitos trazidos pela própria necessidade de mão-de-obra para o ramo progressista da construção civil, dando surgimento a vilas pobres, desprovidas de qualquer infra-estrutura, porém desmerecendo o tratamento de favelas, pois, mesmo pobres, não podem ser comparadas àquelas existentes nas periferias dos grandes centros urbanos do País, devido às características melhoradas de seus barracos e edificações.

As redes de águas pluviais, água tratada e esgotos vão cada vez mais sendo insuficiente para o atendimento das necessidades das populações aqui radicadas e visitantes.

As administrações municipais, mesmo procurando aumentar ao máximo suas receitas, não conseguem arrecadar o suficiente e necessário para dar conta das carências e problemas da cidade. Dessa forma, é evidente que as necessidades e problemas vão se avolumando, atingindo índices indesejáveis e insustentáveis de difícil solução. Tudo isso sem contarmos com o fato de administrações menos comprometidas com os resultados e destinos do município e que pouco fizeram ou fazem para preservar suas condições primitivas, adaptando-as e harmonizando-as de forma estudada, planejada e controlada, diante do crescimento rápido e inevitável.

Na Campos do Jordão de hoje, pouco é o que ainda resta de seus montes tranqüilos e de seus campos livres.

A paz da cidade, a cada dia que passa, vem sendo, cada vez mais, ameaçada pela marginalidade que, infelizmente, sempre acompanha o progresso e crescimento de qualquer centro urbano de nosso País.

Nossas paisagens, recantos turísticos e recursos naturais vão perdendo seus aspectos bucólicos, românticos e de beleza inconfundível, diante do surgimento de edificações e complexos que os descaracteriza, afogando seus aspectos primitivos mais importantes, anulando-os, comprometendo-os ou relegando-os a condições insignificantes.

O mesmo acontece com sua vegetação especial, rara e maravilhosa, liderada pela “Araucária Brasiliensis”, popularmente chamado de pinheiro do Paraná que, não contando com seu principal agente multiplicador, a “Gralha-Azul”, desaparecida destas paragens, outrora responsável pela plantação de verdadeiras florestas, vai, em doses homeopáticas, porém sensíveis, cedendo lugar a outros tipos de vegetação clandestina e importada, sem qualquer relação ou afinidade com a primitiva, alterando e comprometendo, inclusive, o próprio clima invejado da cidade.

Com todas as aberrações introduzidas durante poucas décadas de crescimento desenfreado e desordenado, evidenciam-se, lamentavelmente, alterações profundas, irreversíveis e significativas em todas suas belezas naturais e primitivas, até em seu clima de características ímpares. Características inspiradoras do poeta João de Sá para compor o nosso Hino. Para nós aqui nascidos, “A maravilha da Minha Terra, Jóia do alto da Serra, Obra Suprema do Divino Mestre que fez de ti um Paraíso Terrestre”, vai aos poucos perdendo essas características fundamentais; as matas verdejantes e os pinheirais outrora gigantes, vão sendo arrasados impiedosamente e substituídos por espécies alienígenas ou cedendo lugar a construções de residências ou de edifícios descaracterizadores de nossas paisagens; os rios murmurantes sob um céu primaveril, vão sendo estrangulados pelo progresso – se é que podemos chamar este fato lamentável de progresso –, trocando seu gracioso murmúrio por horripilantes lamentos de dor, contaminados pela poluição de toda sorte de dejetos neles canalizados e depositados. O Divino Mestre, sem dúvida, esforçou-se ao máximo para aqui concentrar tanta beleza, legando-nos este Paraíso Terrestre que, com o tempo, lamentavelmente e impiedosamente, os homens vão se encarregando de transformar, pouco se importando em manter, respeitar e preservar.

Pouco ainda resta do alvor das floradas, pois este alvor era, na época áurea do poeta, produzido pelas flores das pereiras, hoje quase inexistentes, restando pouquíssimos pomares desse fruto delicioso e característico da região, e alguns exemplares isolados nas propriedades dos mais antigos e saudosistas dessa época resplandecente. O alvor daquelas floradas, inspiradoras dos poetas daquela época, já não serve de inspiração para os poetas atuais, que tentam outros motivos, não tão nobres, românticos e singelos. A imortalidade das poesias daquela época ficará eternizada nos versos do nosso Hino.

As lindas manhãs hibernais já não acontecem com a freqüência de outrora e, embora aconteçam, estão muito longe da exuberância das geadas de então. As geadas de outrora, que cobriam com seu manto branco e imaculado todas as matas verdejantes e os pinheirais gigantes, hoje, quando acontecem, podem ser observadas sobre os tetos multicoloridos dos automóveis, telhados de vários tons e formas das casas e edifícios e, muito pouco, sobre a vegetação nativa, aparecendo, também, sobre a vegetação clandestina e importada que nada tem a ver com as características das primitivas que, porém, não têm culpa de terem sido trazidas para cá ao longo dos tempos, pois não vieram por si só, e sim trazidas pelas mãos dos homens despreocupados e descompromissados com a preservação de nossas vegetações características.

Em tudo e em todas as épocas existirá, sempre, uma herança saudosista. Para nós, uma saudade de um passado não muito distante que marcou para sempre nossas vidas e de nossos contemporâneos. Características de nossa cidade, que jamais poderão ser reconstituídas e reconstruídas e que não poderão ser observadas, admiradas e vividas pelas gerações vindouras e seus filhos mais ilustres. Somente algumas fotos e alguns filmes poderão testemunhar essa época de fantasias por nós vividas com sabor de aventura.

Para os jordanenses e turistas do futuro, também, sempre existirão heranças saudosistas, porém de uma Campos do Jordão muito diferente da que conhecemos e daquela conhecida por nossos antepassados. As motivações saudosistas, com certeza, não serão as matas, os montes, os campos, o alvor das floradas, as manhãs hibernais, os pinheirais gigantes e as matas verdejantes; poderão ser danceterias, clubes, apresentações folclóricas e culturais, peças teatrais, torneios hípicos e motociclísticos e outros que, ainda, não tivemos a oportunidade de conhecer, pois acontecerão no futuro.

Uma coisa, porém, é certa: aconteça o que acontecer, de melhor ou de pior para Campos do Jordão, por maiores e significativas que sejam as ações ou omissões que visem a alterar ou a preservar suas características primitivas, ela será sempre o encanto do turista e o orgulho do Brasil, pois sua condição de cidade mais alta do País, com 1.700 metros de altitude, acima do nível do mar, mais próxima de Deus e do Céu, ninguém poderá alterar ou modificar.

Cresça, Campos do Jordão! Esperamos, porém, que os homens e administradores do presente e do futuro saibam respeitá-la, amá-la e preservá-la, mantendo ao máximo os primordiais legados do Divino Mestre. Isto é o mínimo que você merece, para que possa dar alegrias e ser admirada pelas gerações vindouras.

Edmundo Ferreira da Rocha

12/08/1990

 

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