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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

O Mandioca Pão 


O Mandioca Pão

Sr. Yutaka Ohara, o conhecido "MandiocaPão" em foto inédita, posando sobre uma moto.

 

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Personagem extremamente popular foi o Mandioca Pão, um velho japonês, magro, encarquilhado e desdentado, de uma expressão invariável. Costumava parar nas imediações do Mercado Municipal ou em calçadas de Vila Abernéssia, carregado de sacos de estopa, velhos, rotos, que espalhava aqui e acolá, onde carregava legumes e verduras. E lógico, mandioca também. Dezenas de sacos onde transportava tomates, chuchus, pepinos e hortaliças para a venda ao público. Quando mudava de lugar, carregava às costas aquele punhado de sacos, tornando-se um tipo popular que chamava a atenção. Era uma espécie de paupérrimo Papai Noel do Extremo Oriente. Embora fosse pobre, nunca pediu esmola a ninguém, mas recebia alguma ajuda da colônia nipo-brasileira. De vez em quando a gente o via falando sozinho palavras ininteligíveis. Na verdade, aquele estado de miserabilidade escondia um homem culto e preparado.

Mandioca Pão chamava-se Yutaka Ohara, natural de Kumamoto-Kem, no Japão, onde nasceu em 1911, tendo desembarcado no Brasil em 1930. Fixou-se em Birigui, com o grupo japonês Tarama, onde permaneceu 11 anos, lecionando língua japonesa. Veio posteriormente para o Vale do Paraíba , onde trabalhou na Fazenda Kanegai, plantando arroz e batata e onde também lecionou a língua japonesa. Em 1944, devido ao calor, subiu a Mantiqueira, radicando-se em Santo Antonio do Pinhal, onde morou no bairro do Machadinho ao longo de 18 anos. Nesse tempo, desenrolava-se a Segunda Guerra Mundial, época em que os alemães e japoneses sofriam toda a sorte de perseguições e represálias, por serem naturais das nações que compunham as Forças do Eixo.

Certa vez, ao regressar ao lar, vindo da roça, deparou-se com sua velha casa destruída pelo fogo, nada restando de seus bens. Ficou com a roupa do corpo. Mandioca Pão ou Yutaka Ohara ficou gravemente perturbado com aquela violência desnecessária, adquirindo uma neurose, pois vinham à sua memória as violentas cenas de guerra que ocorriam em sua terra natal. Chegou a Campos do Jordão aos 77 anos, vivendo em propriedade de seu grande protetor, Joaquim Nicolau, de saudosa memória. Por que o chamavam de Mandioca Pão? É que vivia pelas ruas anunciando, com forte sotaque japonês, o produto que vendia: “Compra, mandioca, bom!”, que logo foi transformado em mandioca pão. Introvertido e sem falar a língua do país onde morava, assustava as crianças com seu jeito ensimesmado e arredio.

Contou-me o amigo Salim Rachid que, quando criança, relutava em comer na hora das refeições e sua mãe logo o assustava: “Salinzinho! Coma tudo se não vou lhe entregar para o Mandioca Pão, que vai levá-lo em seus sacos!” E o menino assustadíssimo comia tudo.

Certa feita, viu o japonês na porta de sua casa e saiu correndo em desabalada carreira. Pensou que o Mandioca Pão viera buscá-lo.

Entretanto, em períodos de lucidez, era possível extrair-lhe alguma coisa, como por exemplo, os sofrimentos de sua vida.

O corpo de Mandioca Pão está sepultado no cemitério de Campos do Jordão, onde não há nenhuma lápide indicativa.

Foi um tipo popular inesquecível.

Pedro Paulo Filho

04/08/2009

 

Acesse esta crônica diretamente pelo endereço:

www.camposdojordaocultura.com.br/ver-cronicas.asp?Id_cronicas=58

 

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