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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

Bicicleta, um sonho da minha infância 


Bicicleta, um sonho da minha infância

A famosa bicicleta e o Paulinho, Edmundo na época, seu velocípede e sua sonhada bicicleta.

 

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Edmundo na época em que começou o seu grande sonho da bicicleta

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Sem a bicicleta, tinha que se contentar com o velocípede.

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Edmundo e a sua tão sonhada bicicleta, na Av. Macedo Soares em frente Hotel Bologna.

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Edmundo Rocha, Homero G.Zen e Tetsuo Igaki desfilam com suas lindas bicicletas.

 

O tempo passa muito rápido. Para mim, parece que foi ontem. Estão plenamente vivas em minha memória doces lembranças de grande sonho da minha infância de menino pobre: o grande desejo de ter uma simples bicicleta.

Parece incrível, lembro-me, com bastante clareza, de fato ocorrido na década de 1940. Talvez essa seja a mais antiga lembrança que tenho dos tempos de criança. Com quase absoluta certeza, era o ano de 1946. Nessa época, eu tinha quase três anos de idade. Eu e meus pais morávamos em pequena e simples casa de madeira, construída na velha chácara – na época, pertencente ao meu avô Joaquim Ferreira da Rocha, situada em Vila Abernéssia, desde o ano de 1950, sede e propriedade da ASSISO, Entidade Assistencial pertencente à Irmandade do Sagrado Coração de Jesus, próxima ao atual Supermercado Paratodos.

Era começo de noite de inverno. Meus avós Joaquim e Maria ainda moravam em Campos do Jordão, na casa grande onde criaram seus quatorze filhos – meus tios e tias –, antes de se transferirem para a cidade de Pindamonhangaba, em companhia de minha tia Idalina e os filhos Carlos Eduardo e Rosa Maria. No meio da quase total escuridão, em virtude da mínima iluminação utilizada antigamente, vi uma pequena luz que, se movimentando vagarosamente, adentrou pelo portão da chácara de meu avô. Aproximando-se de mim, vi que era o primo Paulinho, filho mais velho da tia Palmyra Rocha Camargo e do tio Paulo Camargo. Ela, irmã de meu pai, Waldemar; ele, marido de tia Palmyra. Paulinho chegava para visitar os avós. É interessante esclarecer que, tanto a tia Idalina, atualmente com quase 92 anos de idade, e a tia Palmyra, que completou no dia 22 de janeiro de 2010 seu centenário, ainda estão vivas, graças a Deus.

Voltando ao tema da história... Fiquei maravilhado ao ver o primo Paulinho naquela bicicleta maravilhosa que tinha farol e lanterna com luz vermelha na parte traseira. Jamais, em toda minha vida, pude esquecer aquele momento especial. Começou aí meu grande sonho de infância, o forte desejo de, um dia, ter minha própria bicicleta – como diria jocosamente o amigo José Roberto Damas Cintra, nos tempos de colégio: a “BISCRETA”. Desejo que iria demorar vários anos para ser satisfeito, considerando que meus pais, embora tivessem vontade, não tinham a menor condição financeira de saciar minha grande vontade. Meu desejo era muito grande. Quase não pensava em outra coisa.

Quando deixamos nossa humilde casinha, situada na propriedade do vô Rocha, nem sei como, acredito que, no momento, somente contando com a grande coragem de meu saudoso pai, mudamos para a casa que ele conseguiu alugar, que ficava na antiga Rua Paraíso, atualmente Rua Felício Raimundo, nas proximidades da Vila Jaguaribe. Durante 1950 e 1951 moramos na parte térrea dessa casa, enquanto, por determinado tempo, meu tio Álvaro, irmão de meu pai, a esposa, tia Jandyra, e a pequena filhinha, Sonia Maria, moravam na parte superior do sobrado.

Nessa época, minha mãe, com toda sua habilidade manual em serviços de bordados em geral e pequenas confecções, arte que aprendeu sozinha, contando com poucas instruções recebidas de algumas amigas, conseguiu fazer muitos serviços para “A ROSEMAR”, loja de lingeries e roupas íntimas, de propriedade da saudosa D. Nenê. Essa loja situava-se em Vila Abernéssia, local onde hoje está situada a casa de rações e produtos veterinários “Arca de Noé”, na esquina próxima ao antigo Posto Texaco, da prima Esther e do primo Daval.

Para minha felicidade, a Lourdes, até hoje é minha amiga, filha da D. Nenê, tinha uma bicicleta de mulher, sem o quadro, acredito, aro 26 1½ , com pneus tipo balão. Somente para registro: Lourdes casou-se com o saudoso Chiquinho Akamine, um importante e antigo comerciante de frutas e verduras do Mercado Municipal de Campos do Jordão, atividade desenvolvida juntamente com seus irmãos, Shosei e o saudoso Choje. Posteriormente, a mesma atividade passou a ser exercida pelo Francisco, mais conhecido como Fran, filho do Chiquinho. Por mais alguns anos permaneceu no Mercado e, depois, instalou-se em sua moderna e linda “Frutaria do Fran”, situada na Av. Frei Orestes Girardi, entre as vilas Jaguaribe e Abernéssia, na pista de retorno.

Como já disse anteriormente, para mim, essa época foi muito importante e inesquecível. Eu sempre dizia para minha mãe que, no dia em que eu tivesse uma bicicleta à minha disposição, iria montá-la e sair pedalando e andando de imediato. Num determinado dia, minha mãe perguntou para a Lourdes se ela poderia deixar que eu tentasse aprender andar de bicicleta. Imediatamente, a amiga Lourdes colocou sua bicicleta à minha disposição. Parece incrível, cumpri o prometido: peguei a bicicleta e, para espanto de minha mãe e da Lourdes, de imediato saí andando – claro, dando algumas cambaleadas, porém sem cair. Daí para frente foi muito fácil adquirir grande prática.

Meu grande desejo, porém, somente foi totalmente satisfeito em 1954. Nessa época, eu cursava o último ano do Grupo Escolar Municipal Rio Branco, atualmente Escola Monsenhor José Vita, situada em Vila Abernéssia, próxima à Vila Ferraz. Meu saudoso pai havia prometido que, se eu recebesse o diploma da escola, ele me daria de presente, no Natal, uma bicicleta. Essa promessa aguçou ainda mais meu eterno desejo de infância. Não perdi tempo. Esforcei-me o máximo que pude e consegui obter o diploma do Grupo Escolar.

A situação financeira de meu pai ainda não era nada fácil, embora estivesse trabalhando como mestre de obras da COPEL – Construções, Projetos e Engenharia Ltda., de propriedade do amigo Dr. Marcos Wulf Siegel e do saudoso prof. Harly Trench e do também saudoso Dr. José Ariosto Barbosa de Souza. Este emprego foi conseguido graças à valiosa intervenção do grande, saudoso amigo Orestes Mário Donato, projetista da COPEL, fato já descrito minuciosamente em “Tributo a Orestes Mário Donato”.

Lembro-me de que, na época, meu pai comprou a minha tão esperada e maravilhosa bicicleta, à prestação, na antiga “Casa Nogueira”, de propriedade do saudoso Antonio Francisco Nogueira Junior, o seu Nogueira, situada em Vila Abernéssia, quase em frente à estação ferroviária da Estrada de Ferro Campos do Jordão. Essa loja ficava ao lado da antiga loja especializada em presentes, fogões e artigos diversos para o lar, filial da INCOS de Vila Jaguaribe, especializada na venda de materiais para construção.

Meu saudoso e maravilhoso pai, claro, com muita dificuldade, responsabilidade e aperto financeiro, cumpriu fielmente o prometido. No Natal de 1954, um grande sonho de minha infância estava realizado: eu ganhava a minha primeira bicicleta que iria me acompanhar por muitos anos até minha adolescência.

A linda bicicleta era da cor azul, aro 28 1 ½ , marca ROADSTER, procedência da Checoslováquia. Tinha farol e lanterninha vermelha na parte traseira, além de bagageiro para transportar algum passageiro e objetos. Nunca me esqueci. Na época, ele pagou pela bicicleta a importância de R$ 4.800,00 (quatro mil e oitocentos cruzeiros), moeda da época, divididos em 12 prestações de R$ 400,00 (quatrocentos cruzeiros).

Nunca esqueci também. Nos primeiros dias que seguiram o dia em que ganhei a bicicleta, a chuva não deu trégua. Chovia muito em Campos do Jordão: aliás, estávamos em plena época das águas, como costumávamos dizer. Mesmo assim, não conseguia me conter. Em qualquer mínima e passageira estiagem, lá ia eu para a rua, andar garbosamente na adorável bicicleta. Quando dos retornos, os cuidados exigidos: secar a bicicleta e limpá-la todinha, tirando eventual sujeira de barro e areia que ficava nela, especialmente em seus para-lamas.

Tornei-me um exímio ciclista. Aprendi tudo sobre bicicleta. Não sei quantas vezes desmontei e montei essa bicicleta. Sabia fazer praticamente tudo. Algumas coisas sobre as quais tinha alguma dúvida, consultava os experientes e abalizados ciclistas amigos que, realmente, sabiam tudo – o Adelson Alves, o conhecido Chinho ou Chin, filho do saudoso casal Antenorzão e D. Chiquinha, famoso ciclista das décadas de 1950 e 1960, várias vezes premiado em primeiro lugar, nas diversas competições em que participou; o Claro Manhez Nogueira, filho do seu Nogueira, ou o Mauro Edgard Furtado que, na época, trabalhava na CADIJ Imóveis, no centrinho de Vila Capivari, na época, de propriedade do saudoso Antoninho Leite Marques, hoje, há mais de cinquenta anos, do amigo Walter Nicolau. Executei, muitas vezes, a retirada de todas as engrenagens da bicicleta, engraxei-as e montei tudo direitinho como exímio especialista do ramo. Desmontei catracas, troquei o clicli quando quebrava, substituindo-o por idêntico ao original, porém feito de corda de aço de violão – engraxei-a e montei tudo certinho. Ficava como nova. Sabia cortar a corrente quando ficava muito larga e escapava facilmente, deixando-a justinha e no tamanho ideal.

Cheguei até a reformar totalmente algumas bicicletas. Desmontei-as totalmente, pintei-as, troquei algumas peças e montei-as, deixando-as como novas. Uma delas foi uma Gazzele, de procedência francesa, que meu querido primo Carlos Eduardo ganhou de tia rica que morou na França e residia no Rio de Janeiro. Outra, foi uma bicicleta pequena, marca Caloi, adquirida de segunda mão do Augustinho Pagliacci, filho do saudoso Augusto Pagliacci – antigo proprietário do Hotel Bologna, em Vila Capivari –, para meu irmão André Luiz.

Com minha bicicleta rodei por todos os recantos e estradas de Campos do Jordão, incluindo Pico do Itapeva, Água Santa, Lagoinha, Horto Florestal e quase totalidade da área pertencente à cidade. O percurso de Vila Capivari até Vila Abernéssia, eu o sabia quase de olhos fechados. Naquela época, o movimento de veículos nesse percurso era bastante diminuto. Talvez o movimento de pessoas a pé, ciclistas, charretes e cavaleiros fosse até bem maior.

Na minha bicicleta, era comum trazer, em meus passeios entre Capivari e Abernéssia, acomodada em caixa especial, acoplada no bagageiro, a minha saudosa e querida LILI, cachorrinha da raça bassê, gentilmente presenteada pela D. Silvia Siegel, esposa do Sr. Marcos Siegel. Também trazia, sentado com as pernas traseiras apoiadas no quadro da bicicleta (cano longitudinal do modelo masculino) e as pernas dianteiras sobre o guidão, o querido e saudoso DICK, cão de estatura média, de raça indefinida, ótimo amigo e hábil jogador de bola. Esses dois amigos vinham felizes da vida. Quando pegava a bicicleta para sair, eles já ficavam muito contentes, latiam, abanavam o rabo, pulavam e esperavam que eu os colocasse em seus devidos lugares, previamente reservados.

Bons e saudosos tempos que, infelizmente, passaram muito rapidamente e que não voltam jamais, somente em nossas lembranças, através dos voos periódicos de nosso pensamento, fazendo-nos reviver momentos altamente felizes e gratificantes.

Sempre continuei gostando muito de bicicletas. Tive mais duas posteriormente. Uma, em 1958, ano em que o Brasil conquistou a Primeira Copa Mundial de Futebol na Suécia; era da marca Monark, vermelha, de pneu balão. Ganhei-a na saudosa Padaria Emílio Ribas, do saudoso amigo Luiz Otaki, quando completei o álbum de fotos de jogadores dos times de futebol com a figurinha-chave e carimbada do Rei Pelé que, na época, pertencia ao Santos Futebol Clube. As figurinhas vinham enroladas em balas especiais.

Depois ter vendido a da marca Monark, acima mencionada, comprei outra em 1978, com as mesmas características, tipo “Barra forte”, da marca Caloi. Esta, totalmente equipada com faróis, dínamos, lanternas etc., me acompanhou e serviu durante quase trinta anos. Estava muito conservada, parecia nova. Infelizmente, embora muito bem acondicionada e devidamente guardada e presa a correntes em especial montagem no forro de minha garagem, foi furtada no dia da última eleição Presidencial. Pasmem, foi furtada durante o dia, praticamente durante o horário do almoço, horário em que toda família estava em casa. O ladrão, aproveitando que a casa vizinha, existente no fundo da minha, estava vazia, pulou o muro de quase quatro metros de altura, arrombou os cadeados que prendiam a bicicleta e, de contrapeso, aproveitou e furtou o estepe novinho da minha Ford – Pampa, que nunca havia sido colocado para rodar. Tentei de tudo para recuperá-la, sem sucesso.

Hoje tenho duas bicicletas antigas, de cor tradicional preta, que comprei em 2006 e mandei reformar: uma feminina, da marca Phillips, e outra masculina, da marca Hércules, ambas inglesas, provavelmente do final da década de 1940. Estas estão guardadas a sete chaves para que não tenham o mesmo triste destino daquela Caloi.

O sonho de minha infância foi concretizado e permanece totalmente incorporado em toda minha vida. Para meu deleite e contemplação, tenho arquivado em meu computador imagens maravilhosas de bicicletas famosas, procedentes de diversos países, que deixaram muita saudade. Infelizmente, com exceção das duas importadas acima referidas, não consegui comprar outras.

Gosto é gosto. Bicicleta faz parte de uma das grandes paixões da minha vida.

Edmundo Ferreira da Rocha

24/03/2010

 

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