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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

A reciclagem e a dignidade 


A reciclagem e a dignidade

Pedro Inácio Fernandes, um exemplo de trabalhador incansável que dignifica a reciclagem.

 

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Pedro no veículo por ele construído, para coleta de materiais para reciclagem, enquanto conseguia pedalar.

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Pedro com o veículo por ele construído, para coleta de materiais para reciclagem, enquanto conseguia pedalar.

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Pedro, já sem condições de pedalar, com o veículo por ele construído e adptado para ser empurrado. Esta foto foi tirada num domingo por volta da 09 horas da manhã. Isto prova que trabalha a semana toda.

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Pedro, já sem condições de pedalar, com o veículo por ele construído e adptado para ser empurrado. Esta foto foi tirada num domingo por volta da 09 horas da manhã. Isto prova que trabalha a semana toda.

 

Existem pessoas que são saudáveis, bonitas, simpáticas, de famílias bem situadas financeiramente, esclarecidas e bem posicionadas, que têm tudo para alcançarem o sucesso na vida e, infelizmente, não decolam, como dizem na linguagem popular.

Muitas não querem nem saber de trabalhar, ficam esperando que a vida resolva todos os seus problemas, pensando que o sucesso vem, simplesmente, de mão beijada. Quando percebem, depois de muitas cabeçadas, que o tempo passou rapidamente, nada de útil fizeram e as pessoas que garantiam seu sustento já não estão mais disponíveis ou já não podem perder seu precioso tempo procurando encaminhá-las na vida, acabam no desespero, entregando-se cada vez mais, a diversos tipos de síndromes, por exemplo, depressão, ou acabam enveredando para os caminhos de vícios diversos.

Lembro-me de que, antigamente, as pessoas que conheci, por mais simples, humildes e pobres que pudessem ser, enfrentavam seus sérios problemas com muita dignidade. Era difícil, quase inexistente, ver nas ruas pessoas perambulando, pedindo ajuda para comprar isto ou aquilo. Com certeza, muitas até passavam fome com vergonha de pedir ou esmolar. Aqui em Campos do Jordão, costumo dizer, até já escrevi em certos trabalhos que essas pessoas só não morriam de fome graças à nossa natureza privilegiada que, em boa parte do ano, os socorria com pera, pinhão e chuchu, abundantes nestas paragens e, também, graças à nossa gente bondosa, que procurava auxiliar e socorrer os mais necessitados, mesmo sem nenhum pedido de socorro.

É muito comum nos dias atuais vermos pessoas jovens, fortes, até certo ponto bastante saudáveis e sadias, perambulando por diversos locais da cidade. Alguns, dizendo não ser daqui, pedem dinheiro para completarem valor da passagem para viajarem para suas cidades de origem. Outros pedindo dinheiro para completar o valor do botijão de gás necessário para sua casa; para aviarem receita médica, que conseguem não se sabe onde e como, para filhos que necessitam de remédio, sempre sem datas, para utilização ilimitada; para comprarem leite para filhos; ajuda para abastecerem veículo que havia ficado sem combustível e estava parado em ruas próximas, insistindo em dizer que eram amigos ou parentes de fulano ou beltrano, que sabiam nossos amigos, com o compromisso do reembolso no dia seguinte, promessas que jamais ocorriam, e outras desculpas mais. Enfim, uma infinidade e ampla variedade de motivos que inventam até com muita criatividade. Na grande maioria das vezes, sou testemunha, tive audácia de procurar saber a verdade e acompanhar veladamente o desfecho da utilização da ajuda fornecida e, lamentavelmente, sempre a ajuda fornecida era para alimentar vícios diversos.

Algumas vezes, pelas suas aparências físicas, faciais, maneira de falarem e vestirem, nos levam a pensar: será que estão falando a verdade ou é só mais um truque para nos enganar? Lamentavelmente, via de regra, é mais um truque bem planejado e teatralizado.

Outros são desprovidos de sorte desde início da vida. Nascem em famílias pobres que mal conseguem o sustento de si próprios e de seus filhos. Alguns, para agravar ainda mais as dificuldades que irão enfrentar na vida, nascem com alguma deficiência física ou são franzinos, de físico humilde e pequena compleição.

Alguns poucos, apesar das intempéries da vida, mesmo dificultados por algum problema físico pessoal, desfavorável, conseguem, não se sabe como, força, coragem, disposição e garra para viver, constituir família e trabalhar, às vezes, quase diuturnamente, para conseguirem seu sustento, dos filhos e poderem viver uma vida digna, sem precisarem estender o chapéu para pedir ajuda.

Tudo isto para falar do nosso homenageado chamado Pedro Inácio Fernandes, filho de Luiz Inácio Fernandes e Benedita Rosa de Jesus, nascido em Piranguçu - MG, em 29 de junho de 1945, portanto, com sessenta e seis anos de idade.

Pelo que se sabe, Pedro tem grande deficiência auditiva e só consegue emitir alguns sons vocais que ficam muito distantes de palavras. Sabe-se também que trabalhou muito tempo como servente de pedreiro e, com muita habilidade, aprendeu esse ofício, sendo capaz de construir uma casa, desde seus alicerces até conclusão final. Sabe-se ainda que foi casado, ficou viúvo e tem duas filhas. Quem as conhece diz que são muito bonitas. Pedro mora em casa simples, por ele construída, no bairro da Vila Albertina, em Campos do Jordão.

Há vários anos, pelo que me recordo, há quase vinte anos, deixou de exercer a profissão de pedreiro, dedicando-se a serviço de coleta de lixo reciclável, como papelão, plástico, vidro e diversos outros, que vende para angariar dinheiro para seu sustento e da família.

Pedro sempre foi muito habilidoso. Construiu com recursos próprios e ideias pessoais um carrinho composto de uma caçamba de ferragem conseguida em lixos e desmanches, ligando-o a uma parte de bicicleta composta da roda traseira, assento, catraca, corrente e pedais. Ao invés do guidão, conseguia dirigir o carrinho segurando e virando a caçamba para onde pretendia ir. Com sua costumeira criatividade e habilidade, enfeitava esse veículo com vários objetos interessantes que ia encontrando em suas garimpagens diárias de lixo reciclável. Também com essa sua criatividade, com seus próprios serviços manuais, algumas vezes contratado com profissionais diversos, dotou seu veículo inédito com faróis, lanternas, setas e rádio com alto-falantes, alimentados por bateria automotiva normal que necessitava ser recarregada periodicamente.

Acredito que, do local onde mora até o centro de Vila Abernéssia, onde consegue coletar a maior parte dos produtos recicláveis que procura, percorre, em média, dez quilômetros por vez e faz umas três ou quatro viagens por dia. Cada coleta, quando consegue encher seu carrinho, é levada ao local onde são armazenados os produtos coletados pelas diversas pessoas que se dedicam a essa atividade, oportunidade em que já recebe o valor pago pela sua carga.

Atualmente, já com algumas dificuldades físicas para pedalar a meia bicicleta acoplada ao seu carrinho, substituiu-a por outra engenhoca de sua autoria, composta de uma roda em sistema de garfo de bicicleta. Assim, em vez de ir pedalando, vai andando com certa dificuldade, empurrando o mencionado veículo.

Assim, o Pedro vai vivendo sua vida, ganhando seu sustento e da família, com muita dignidade, trabalho honrado, sacrifício e até muita disposição, sem precisar pedir ajuda, esmola ou auxílio a ninguém.

Seria tão bom se todos tivessem essa dignidade, disposição e vontade para o trabalho, mesmo esbarrando em inúmeros problemas que, para outros, poderiam ser o caos e motivo para desistirem e passarem a procurar ajudas diversas mesmo que, ilicitamente, de maneiras não recomendáveis, furtivas, criminosas, deselegantes, desonestas e indignas.

O Pedro é um grande exemplo que deve servir para muitos que insistem em culpar a falta de sorte na vida, escondendo-se atrás de inúmeras desculpas.

Edmundo Ferreira da Rocha

18/07/2011

 

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www.camposdojordaocultura.com.br/ver-cronicas.asp?Id_cronicas=86

 

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