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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

Rádioemissora de Campos do Jordão e programas que ficaram para a história 


Rádioemissora de Campos do Jordão e programas que ficaram para a história

A segunda sede da Rádioemissora de Campos do Jordão, na esquina do atual Mercado Municipal

 

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O despertar da Montanha...

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O locutor José Dias Chaves

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O locutor José Dias Chaves

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O locutor Sílvio Banciella Santa Clara

 

Ainda nas décadas de 50 e 60 o rádio era uma das poucas opções de lazer da grande maioria da população brasileira.

A Rádioemissora de Campos do Jordão ZYL-6, denominada “A mais alta do Brasil”, com 1.560 quilociclos de potência em sua antena, era a mais ouvida em toda a cidade, com transmissão local em ondas longas, limpa, perfeita, facilmente sintonizada em todos os quadrantes da cidade, sem os inconvenientes dos barulhos de outras rádios brasileiras, somente sintonizadas em ondas médias e curtas, cuja propagação dependia de antena especial e das condições favoráveis do tempo e da atmosfera.

A Rádioemissora de Campos do Jordão nasceu de idéia coletiva, com grande movimento coordenado por Délio Jácome Rangel Pestana e Waldyr Alves de Mello.Com a valiosa colaboração do Senador Roberto Simonsen e do Embaixador José Carlos de Macedo Soares foi obtido o prefixo ZYL-6.

Em 19 de junho de 1946, foi constituída uma sociedade para operar os serviços de uma estação rádio difusora na cidade, denominada Rádioemissora de Campos do Jordão, que era constituída dos Srs. Luiz Pereira da Silva Filho (gerente), José Péricles Alves, Hermínio Martins da Silva e Hildebrando Macedo de Araújo.

O seu prefixo ZYL-6, na faixa de 1.560 quilociclos, foi obtido por intermédio do Senador Roberto Simonsen e a estação de rádio foi inaugurada no dia 07 de setembro de 1947. À época, era gerente Luiz Pereira da Silva Filho e Agripino Lopes de Moraes, diretor-artístico.

O slogan que tornou a nossa Emissora conhecida em toda região e além fronteiras, foi : ZYL-6 – Rádioemissora de Campos do Jordão “a mais alta emissora do Brasil”.

Sílvio Banciella Santa Clara, chefiava os locutores José Dias Chaves e Mário Fernandes. A discoteca era dirigida por Leocádio Gomes e como funcionários trabalhavam Waldir de Souza e Ismael Furtado.

Mesmo sendo uma rádio pequena e simples, tinha uma ótima programação diária, excelentes locutores e equipe técnica.

Tenho gratas lembranças dos ótimos programas levados ao ar pela Rádioemissora de Campos do Jordão. Eram programas musicais diversos, transmissão de programas dos auditórios do Clube Mantiqueira, do Cine Glória, do Abernéssia Futebol Clube, do Círculo Operário de Campos do Jordão; carnaval de rua, jornadas esportivas diversas, retransmissões de novelas famosas; enfim, tudo aquilo que pudesse entreter os seus assíduos ouvintes. Até a Igreja Católica mantinha seu programa, “Hora da Cultura Católica”, levado ao ar todas as tardes às 18 horas.

A programação da Rádioemissora começava logo cedo, às sete horas da manhã, com marcante e intensa dose de romantismo do programa intitulado “O Despertar da Montanha”, apresentado diariamente pelo grande e saudoso locutor José Dias Chaves, de voz marcante, aveludada, firme, com dicção excelente e perfeita, um dos melhores locutores que já passaram pela nossa Rádioemissora desde a sua fundação em 1947. Esse programa foi especialmente criado para homenagear nossa cidade, suas montanhas, sua vegetação, sua gente, sua vida.

O nome desse programa foi baseado na linda música, obra-prima do mesmo nome “O Despertar da Montanha”, lançada em 1919, de autoria de Eduardo Souto, nascido em Santos - SP, em 14 de abril de 1882, com a qual ficou mundialmente conhecido, apesar de terem sido de sua autoria 281 composições, de uma infinidade de gêneros. Essa música, posteriormente, teve a letra de Francisco Pimentel, que nada lhe acrescentou.

A programação da ZYL-6 começava com a execução orquestrada da música “O Despertar da Montanha” seguida de lindas mensagens e poemas muito bem declamados e interpretados, na linda voz do José Dias Chaves.

Durante muitos anos, o dia em nossa cidade parecia começar somente depois da execução do nosso hino matinal. Parecia que tudo tomava nova vida, com colorido especial. Os pássaros pareciam cantar com mais entusiasmo e alegria, lançando-se em verdadeiras revoadas revigorantes em busca da liberdade e da comida necessária para saciar a fome. As matas adquiriam um verde intenso e de tonalidades variadas. As montanhas começavam a receber os raios do Sol e ficavam mais formosas, completamente despertadas da longa noite anterior. As pessoas ficavam mais confiantes, alegres e muito mais bem humoradas. Os trabalhadores seguiam confiantes para a labuta de suas jornadas diárias, em busca do ganho necessário para a subsistência de suas famílias.

Bons tempos aqueles. Parece que o tempo passava mais devagar e com muito mais tranquilidade. Os minutos e as horas pareciam mais generosos do que atualmente. Mesmo sem as facilidades atuais que na realidade são muitas, os dias eram suficientes para atender a todas nossas atividades diárias.

Muitos outros programas fizeram sucesso na Rádioemissora. Anteriormente, dentre eles: “Grandes Compositores”,“Música Divina Música”,”Pílulas para o fígado”,“Talentos Incógnitos”,”Sabatina Antártica”,”Brincadeiras L-6”. O programa “A Hora da Lata” era feito por D. Carvalho, e Carlos Barreto fazia “A Volta ao Mundo” ao piano. Depois Renato Guimarães passou a fazer “Esportividades”. Também muitos outros locutores fizeram muito sucesso. Podemos destacar dentre eles o Sylvio Banciella Santaclara que, depois de muito sucesso aqui em Campos do Jordão, acabou indo para a Rádio Clube da Cidade de Santos, onde fez uma carreira brilhante. O José Pinheiro Silva, o José Correa Cintra também, locutores de vozes marcantes e especiais, incansáveis, entusiastas e responsáveis por uma série de programas de auditório de grande repercussão local, especialmente idealizados e dirigidos à infância e à juventude jordanenses.

Também o saudoso Joaquim Correa Cintra foi o responsável pelo comando de vários e excelentes programas de nossa Rádio Emissora.

Vale registrar também o nome dos seguintes locutores que fizeram história diante dos microfones da nossa ZYL-6: Agripino Lopes de Moraes, Antero Silva, Wulmário Bensabath, Renato de Almeida Guimarães, Terezinha Silva, Pedro Paulo Filho, José Roberto Damas Cintra, Adib Yazbeck, Carmem Astolfi, Laurentino Nonato dos Santos (o Lobinho), João Martinez Benítez, Hélio Silva, Toninho Abel, Gilberto Costa.

Também não podemos deixar de lembrar nomes de muitos que, de alguma forma, foram os grandes responsáveis pelo comando técnico e operacional de todas as transmissões de nossa Emissora, como: Francisco Gonçalves, Ruy Anselmo, Geraldo Rotondano, Aristarco de Assis, Carlos Bertoni e os filhos Silvio e Olavo, Camilo Muniz de Souza Junior.

Durante muitos anos seguidos, um programa de sucesso e de grande audiência foi “Boite em sua casa”,inicialmente apresentado por José Roberto Damas Cintra, depois pelo Hélio de Almeida Gonçalves. Este programa, posteriormente, foi substituído pelo “À luz do abajur”, também comandado pelo excelente locutor Hélio de Almeida Gonçalves que, com sua voz grave, firme e especial, apresentou esses programas, os últimos da programação diária da Rádioemissora, que tinha início às 10 da noite e término por volta das 11 horas da noite. Eram programas com músicas românticas diversas, predominando grandes temas do cinema e desfile de grandes orquestras, intercalados por mensagens e poesias que enalteciam o amor, o romance e as paixões. Eram programas que enlevavam nossas mentes, fazendo-nos felizes e amorosos perante as paixões de nossas vidas, ou elevavam nossos pensamentos a grandes e infinitas distâncias em busca das paixões não correspondidas ou das paixões que se encontravam além do lugar onde estávamos.

Depois de ouvirmos esses programas, íamos dormir mais tranquilos, mais apaixonados e confiantes de nossos propósitos e de nossos destinos, sempre na esperança de melhores dias.

O tempo passou, tudo mudou. A cidade cresceu e mudou muito, adquirindo novas e diversificadas atrações. Até nossa Rádioemissora, que ainda transmite em AM, mudou seu prefixo e, embora com programação bastante versátil, variada e inovada, hoje disputa a preferência de sua audiência com diversas rádios maiores e mais bem equipadas, especialmente as transmitidas em FM – Frequência Modulada.

Hoje, as montanhas e a população jordanenses já não são despertadas com a linda música da abertura do saudoso programa “O Despertar da Montanha” e com os lindos poemas declamados pelo saudoso José Dias Chaves.

Também não dormimos embalados pelas lindas músicas executadas por grandes e famosas orquestras e pelas mensagens e poesias apresentadas pelo Almeida Gonçalves.

Hoje, lamentavelmente, nossas montanhas e a população, via de regra, acordam despertadas sem nenhum romantismo, até assustada, com o ronco barulhento dos motores de automóveis e caminhões, especialmente por aqueles que insistem em manter quase totalmente abertos seus escapamentos, sem os silenciosos exigidos, isto sem falar do assustador, ensurdecedor e horrível ronco dos motores de muitas motocicletas que insistem em circular quase que sem os silenciosos de seus escapamentos, e também das sirenes assustadoras dos bombeiros, equipes de resgate e ambulâncias.

Que saudades daqueles tempos de outrora, da infância querida que, embora eternamente gravado em nossas lembranças, os tempos não trazem mais.

Que saudades das excelentes narrativas e poemas interpretados pelos queridos amigos e saudosos locutores da nossa Rádioemissora de Campos do Jordão, especialmente José Dias Chaves e Almeida Gonçalves.

Há quanto tempo não ouço o “despertar da montanha” com aquela graciosidade e sentimento do passado.

Saudades também das gloriosas e entusiásticas narrações esportivas, muito bem conduzidas pelo Renato de Almeida Guimarães, José Dias Chaves, Laurentino Nonato dos Santos e outros locutores que ficaram famosos transmitindo as acirradas disputas dos campeonatos jordanenses de futebol, entre as gloriosas equipes do Abernéssia Futebol Clube, da Associação Atlética Jaguaribe, do Campos do Jordão Futebol Clube, do Esporte Clube Noite do Vale Encantado, do Grande Hotel Esporte Clube, do Palmeirinhas da Vila Britânia, do Esporte Clube Santa Cruz, entre muitas outras agremiações.

Hoje, somente saudosas e gratificantes lembranças e a certeza de que o nosso José Dias Chaves continue, em algum lugar distante deste nosso imenso e pouco conhecido Universo, à frente de rádios emissoras situadas em altitudes muito mais altas que a da nossa saudosa “mais alta do Brasil”, transmitindo, não mais o programa “O Despertar da Montanha”, talvez “O despertar do Mundo ou do Universo”, tendo como fundo sonoro outras músicas, celestiais ou angelicais.

Este registro é muito interessante. A programação da Emissora era iniciada com “O Despertar da Montanha” e encerrada com “Boite em sua casa” ou “À luz do abajur”.

O Despertar da Montanha Música : Eduardo Souto - Letra : Francisco Pimentel

A noite entra na agonia,
E os primeiros raios,
Na moldura
Na moldura do horizonte, Iniciam seus ensaios, Doura-se um monte... E os ramos mais felizes, Os que estão mais altos, Lutam em matizes,
No cimo do planalto...
Sai da sombra um novo dia.


É a luz da madrugada,
Entrando suavemente na floresta,
Beija os ninhos,
É a festa,


Desperta os passarinhos
Envolve os velhos troncos,
Vindo através das folhagens,
E os gritos, pios, uivos, guinchos, roncos,
Em acordes selvagens,
Anunciam a alvorada.


Desses cantos, sob o sol da manhã,
Em linda festa pagã,
Escorre a vida, cheia de encantos,
E transborda, numa chuva de cores,
E entre os vales sonhadores,
A montanha acorda.


Edmundo Ferreira da Rocha

Ouça a música neste link, mas antes desative o audio do site na barra superior - O Despertar da Montanha

25/10/2005

 

Acesse esta crônica diretamente pelo endereço:

www.camposdojordaocultura.com.br/ver-cronicas.asp?Id_cronicas=92

 

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