Home · Baú do Jordão · Camargo Freire  · Campos do Jordão

Crônicas e Contos · Culinária  ·  Fotos Atuais · Fotos da Semana

  Fotografias · Hinos · Homenagens · Papéis de Parede · Poesias/Poemas 

PPS - Power Point · Quem Sou  · Símbolos Nacionais · Vídeos · Contato

Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

Luiz Pinho e a sua Língua Portuguesa 


Luiz Pinho e a sua Língua Portuguesa

Luiz Arnaldo de Pinho em sua bela moto, no ano de 2.010, em frente ao Mercado Municipal.

 

Clique para Ampliar!

Na CESP, no ano de 1992, Pinho recebendo presente do amigo secreto Antonio Firmino.

Clique para Ampliar!

Na CESP, no ano de 1980, durante festividades Natalinas, Pinho aprecia a comemoração, ao lado do eterno Papai Noel Aristides Cintra, da esposa e do companheiro José Luiz .

Clique para Ampliar!

 

Clique para Ampliar!

 

 

Luiz Arnaldo de Pinho, uma pessoa ímpar, pertencente à numerosa e honrada família da raça negra. Filho da saudosa D. Rosária, mulher alegre, sempre bem humorada, trabalhadora incansável que, durante muitos anos, nas décadas de 1940 a 1960, morou com sua grande família, em Vila Capivari, numa grande casa de madeira existente em propriedade emprestada, situada na esquina da Av. Victor Godinho e Rua Roberto Jeffery, nas proximidades do conhecido e até hoje em pleno funcionamento “Pensionato São José”, de propriedade das Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado. Dona Rosária foi uma das mais requisitadas lavadeiras de roupas, autônoma, que trabalhava para jordanenses e turistas que mantinham aqui em Campos do Jordão suas residências de férias. Nesse serviço, era auxiliada pelas filhas e até por sua mãe. O marido, o saudoso Raul Pinho, também trabalhador incansável, especializado em serviços de pedreiro, infelizmente, devido a sérios problemas de saúde, nos deixou muito cedo, no início da década de 1950.

O Pinho, como é mais conhecido, durante boa parte da sua infância, trabalhou no centrinho da Vila Capivari onde, na época, no final da década de 1950 e início da de 1960, tinha um ponto, como era chamado, onde ficavam estacionadas diversas pequenas charretes puxadas por bodes, comumente denominadas “charretinhas de bode”. O Pinho era um daqueles garotos que, na época, eram os responsáveis pelas charretinhas que tinham a finalidade de transportar crianças, especialmente filhos de turistas ou de pessoas moradoras em Campos do Jordão, para um pequeno e divertido passeio pelas ruas centrais e praça da Vila Capivari. Muitas crianças – entre elas, meu irmão André Luiz e minha irmã Maria Cristina – se divertiram com esses passeios nas lindas charretinhas puxadas por enormes e fortes bodes, de pelos espessos, compridos e chifres enormes.

O Pinho cresceu. Teve a grande e feliz oportunidade da sua vida: conseguiu ingressar como ajudante de eletricista na antiga e saudosa Companhia Sul Mineira de Eletricidade.

A Sul Mineira, como era conhecida, foi a segunda companhia responsável por parte da geração da energia elétrica necessária para o abastecimento de Campos do Jordão, inclusive por toda sua distribuição. A primeira responsável por toda geração de energia elétrica, por meio da Usina Hidrelétrica “Evangelina Jordão”, situada em Vila Abernéssia, e sua distribuição por toda cidade, foi a Companhia de Eletricidade de Campos do Jordão. Essa usina teve sua construção iniciada em 1918, por Robert John Reid e Alfredo Jordão, e sua construção ficou sob a responsabilidade de Floriano Rodrigues Pinheiro. Posteriormente, essa mesma companhia construiu a Usina do Fojo, situada no caminho do Horto Florestal, para reforçar a geração da energia elétrica necessária para abastecimento da cidade.

Muitos anos mais tarde, no início da década de 1960, todo serviço de distribuição de energia elétrica para as cidades de Campos do Jordão, São Bento do Sapucaí e Santo Antonio do Pinhal passou para a responsabilidade da grande e saudosa Companhia Energética de São Paulo – CESP, onde tive a grata e feliz oportunidade de trabalhar por quase dezoito anos. Assim, nessas grandes voltas que a vida dá, tive a oportunidade de reencontrar o Pinho, amigo de longa data que, para sua grande felicidade, ali continuava trabalhando, agora como eletricista, na turma de manutenção de redes e linhas elétricas de alta e baixa tensão. Posteriormente, o Pinho foi promovido para Eletricista de Plantão, cargo que desempenhou com sucesso até sua merecida aposentadoria.

Esperando ter feito uma boa apresentação do Pinho, vamos ao tema de nossa história.

Pinho, de pouca escolaridade, fez somente o curso primário na escolinha anexa à Igreja de São Benedito, em Vila Capivari. Sempre muito alegre e falante, tem particularidade peculiar, até certo ponto surpreendente e engraçada; é um exímio deturpador da pronúncia das palavras em geral, especialmente da nossa língua portuguesa. É comum pronunciar palavras erradamente, o que sempre levou todos seus colegas e amigos a grandes e inesquecíveis momentos hilariantes.

Nas reuniões entre chefias e empregados, já esperávamos – mas sempre éramos surpreendidos – alguma “batatada” do Pinho, acarretando até bons momentos de descontração e de risos francos.

Numa reunião, pediu a palavra e começou: “Bem. Vamos sipô (supor). Isso que o senhor tá falando é uma faca de dois legumes (faca de dois gumes)”.

Num jogo da Copa do Mundo de 1982, enfrentavam-se a Seleção Brasileira de Futebol e a Seleção Francesa. Pelo Brasil, nosso grande craque Sócrates, e pela França, o grande Michel Platini. Assistíamos ao jogo na sala do plantão da CESP de Campos do Jordão, juntamente com outros colegas, entre eles o Pinho. Em determinado momento, lá veio o Pinho com mais uma das suas. Gritou: “Cuidado Soca (Sócrates)! Olha o Paturi (Platini) ali atrás!” Uma grande e geral gargalhada tomou conta de toda a sala.

Certa vez, o Pinho falava com um colega de trabalho: “Depois do serviço quero ver se vou procurar um ténico (técnico) de TV e vou pedir pra ele instalá (instalar) uma intena (antena), na casa da veia (velha – sua mãe)”.

Uma outra grande “batatada” do Pinho. Falava com vários colegas de trabalho e demonstrava grande preocupação com os perigos da dengue (doença infecciosa causada por vírus transmitido pelo mosquito “Aedes aegypti”). Disse ele: “Esse danado desse mosquito bandido, esse tal de Édison do Egito, é muito perigoso, temos que acabá (acabar) com ele”.

Em outra oportunidade, nas vésperas de um Natal, no final da tarde, depois do seu horário de trabalho, o Pinho foi despedir-se de alguns amigos e desejar Feliz Natal. Ao sair disse: “Vou direto para casa. Não vejo a hora de, hoje à noite, comer uma deliciosa leitora (leitoa)”. Sempre morríamos de rir com essas deliciosas “batatadas” do Pinho.

Quando uma de suas irmãs, infelizmente, veio a falecer em acidente de automóvel, aqui na descida de nossa serra, na Rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro, proximidades da entrada de Santo Antonio do Pinhal, perguntamos ao Pinho: “Pinho para que horas está marcado o velório e o sepultamento?”

Mesmo num momento triste, o Pinho deu a seguinte resposta: “Depois que for feita a top é que a gente vai poder marcar o velório e o enterro”.

Na hora não entendi e perguntei: “Pinho, o que está faltando para liberação do corpo?” E ele respondeu novamente: “Ta faltando o exame do corpo de litro para terminá (terminar) a top”. Foi aí que entendi. Não ri no momento, considerando que a situação não permitia. Ele quis dizer que faltava o exame do corpo de delito, para terminar a autópsia (correto, necropsia), pelo IML – Instituto Médico Legal, para poder liberar o corpo.

Uma das piores “batatadas” do Pinho foi em determinada oportunidade quando, em serviço como Plantão, foi acionado para atender à falta de energia num loteamento situado nas proximidades do caminho de acesso à Colônia da Polícia Militar do Estado de São Paulo, pouco acima do nosso Grande Hotel. A falta de energia elétrica reclamada era na Rua Araucária, nome do nosso pinheiro de Campos do Jordão. Em determinado momento, nossa Central de Operações da Distribuição – COD entrou em contato com o Pinho pelo Rádio VHF, onde foi estabelecido mais ou menos o seguinte diálogo:

– Alô Pinho, Central chamando.
O Pinho, do outro lado responde:
– Pinho na escuta.
E a Central continua:
– Pinho, onde você se encontra no momento?
O Pinho responde:
– Acabo de chegar na Rua Aucarália (o nome da rua é Araucária e não o que o Pinho falou).


Na Central, tanto o operador como outras pessoas que lá estavam, inclusive eu, não conseguíamos parar de rir. Pouco tempo depois, o operador continuou seu contato com o Pinho, claro, sem mencionar nada sobre a “batatada”, o que somente foi comentado quando ele retornou para a Central, quando aconteceu nova seção de risadas.

Bem, estas são algumas das extraordinárias aulas ministradas pelo Grande Pinho, sobre a sua Língua Portuguesa.

Até hoje, quando encontramos o Pinho, somos surpreendidos com alguma coisa nova que, com certeza, nos leva a dar muitas e gostosas risadas. É um grande amigo, com certeza, muito querido por todos que trabalharam com ele, especialmente na CESP e por todos aqueles que são seus amigos.

O importante é que o Pinho nunca ficou aborrecido com as risadas que damos de suas homéricas “batatadas”. Até ele aproveita esses momentos para dar largas e soltas gargalhadas, com aquele seu riso característico, escandaloso e esganiçado.

Edmundo Ferreira da Rocha

20/04/2010

 

Acesse esta crônica diretamente pelo endereço:

www.camposdojordaocultura.com.br/ver-cronicas.asp?Id_cronicas=93

 

Voltar

 

 

- Campos do Jordão Cultura -