O
CORTE DE PINHEIROS
Serrando
toras de pinheiro.
No
início das nossas atividades na nova morada, o
Rancho Santo Antônio, era comum entre nós o
corte de pinheiros. Além da serraria do Juquita
no Rancho Alegre, havia no Retiro, fazenda que na
época era de propriedade do meu tio Ministro
Godoy Sobrinho, um homem chamado Sguaglio que
viera do Paraná e comprara milhares de árvores.
Trabalhava com afinco para poder cumprir os prazos
que combinava.
As
estradas eram de terra, péssimas em conservação
e, bem na frente do meu Rancho havia uma subida
com alta porcentagem de aclive. Os caminhões
carregados de madeira lutavam para passar a tal
ponto que o Sr. Sguaglio mantinha juntas de bois
ali estacionadas para puxar aqueles que não
conseguiam subir. Trabalhava, em geral, à noite e
perguntando-lhe o motivo dessa preferência, me
disse: “À noite a turma tem mais coragem porque
não vê o perigo em volta”. Além dessas
serrarias, havia aqueles que cortavam as araucárias
à mão.
Também
nos enveredamos por esse caminho, a exploração
da madeira. Tínhamos mais da metade das nossas
terras cobertas de matas e com grande profusão de
pinheiros. Usamos os serradores manuais que
trabalhavam sempre com dois companheiros. Eles
construíam o estaleiro, apoiando paus grossos num
barranco e a outra sobre forquilhas de forma que
pudessem trabalhar um por baixo da tora e outro
por cima. Do pinheiro derrubado, tiravam-se as
cascas e repartiam-se as toras nas medidas
desejadas. Por meio de linhas embebidas em água e
carvão, riscava-se a tora a cortar, de um lado e
de outro. Depois um serrador ficava sobre a tora
tocando a serra para baixo e guiando a linha
riscada, e o outro fazendo o mesmo, puxando a
serra. Um serrador olhava para baixo e o
companheiro para o alto, num trabalho artesanal
perfeito e muito bem elaborado.
Toda
a madeira que serviu para a construção do Rancho
Santo Antônio foi preparada por serradores da
região, principalmente alguns russos dos quais já
falei em outra ocasião.
Durante
algum tempo exploramos esse negócio, vendendo a
nossa produção para compradores da Vila, como o
Sr. Adolfo Vitorino da Silva, mais conhecido por
Lindolfo. A devastação era grande e, graças ao
Adhemar de Barros, que obteve do Presidente Dutra
a lei que proibia o corte, ainda temos pinheiros
em Campos do Jordão.
A
nossa terra se livrou do desmatamento em boa hora
para não acontecer como no Paraná, que, sendo a
maior floresta do mundo em araucárias nativas,
hoje talvez as possua em jardins e praças públicas.
A
proibição, inicialmente recebida como um
atentado à livre iniciativa e à propriedade
individual, é hoje respeitada por todos como
benefício para os cidadãos, pela valiosa
preservação do meio ambiente.
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