CAMINHOS
DE LIGAÇÃO COM O VALE DO PARAÍBA
Caminhos
de Ligação.
Lá pelos idos de 1914, época em que chegamos a
Campos do Jordão, depois de demorado processo
judicial, a região era somente alcançada a
cavalo ou, no caso dos enfermos, de liteira ou
bangüê.
Os
caminhos eram vários e conheci quatro trilhas,
todas procedentes de Pindamonhangaba ou de
Guaratinguetá.
A
primeira, partindo de Guará, era chamada “Serra
do Rabelo” , atingia os pés da serra onde havia
um armazém, do Sr. Caetano Caltabianco, ponto
obrigatório de repouso e abastecimento. Então
começava a subida. Era uma estrada larga quando a
conheci, cheia de ziguezagues para atenuar o
aclive e atingia o alto da serra nas proximidades
de um lugar chamado Três Pontas ou Pontes. Ali
corria um córrego com água fresca e cristalina
onde os animais matavam a sede e os cavaleiros
saboreavam o farnel de frango mexido com farofa.
Outra
estrada era a chamada “Serra das Bicas”
porque, partindo do Ribeirão Grande, passava por
terras do coronel Benjamin Bueno e seguia o espigão
que as dividia de um bairro chamado Bicas, nos
contrafortes da serra. No alto, seguia pelos
Campos do Moreira, nome primitivo do atual São
José dos Alpes. A trilha passava onde hoje se
encontra a represa da Usina Santa Isabel e, depois
da construção desta, veio a transpor o riacho
pelo próprio aterro de contenção da água da
represa. Por essa via viajamos algumas vezes e ela
era a comunicação com Pinda mais freqüentemente
usada pelos moradores da Guarda. Todas as provisões
da fazenda eram transportadas por esse caminho que
hoje é a ligação da colônia do Parque Estadual
com São José dos Alpes.
Dentro
do mato havia estreita picada que dava passagem a
um cavaleiro por vez e nos campos o pisoteio dos
animais é que fazia o caminho. Nas nossas
viagens, formava-se extensa fila de cavaleiros, de
tal ordem, que os da frente mal divisavam os últimos
pelo ziguezague da subida.
Outra
serra era denominada “Serra da Borboleta”
porque partia das proximidades de uma fazenda com
este nome, pertencente ao Major José Benedito, e
alcançava o alto da serra, nas cercanias do Pico
do Itapeva. Não cheguei a conhecer essa estrada,
porque ficava fora da nossa região e era de pouco
movimento. Meus pais viajaram por ela, pois eram
parentes da esposa do Major e por ali passavam a
fim de visitá-los.
Por
último, havia a estrada ligando Pinda ao
Piracuama e daí a Campos do Jordão. Percorria o
Vale do Paraíba, seguia serpenteando a serra,
passava por um armazém no meio da subida e
atingia Campos onde hoje se localiza o Hotel
Toriba. Era larga já naquele tempo e permitia a
passagem de troles até o Piracuama e, depois,
somente liteiras e bangüês. Viajamos algumas
vezes por essa estrada. Numa delas, descíamos
para São Paulo e, após algumas horas de viagem,
chegamos a uma fazenda que se localizava na frente
do atual posto da Polícia Rodoviária, onde
moravam parentes que desejávamos visitar. Tivemos
excelente recepção, saboreando café com
rapadura fabricada na propriedade pelo seu Maneco,
pai do administrador.
Das
estradas que conheci na mocidade, algumas ainda
estão em uso, como a do Rabelo que perdeu o nome,
mas foi conservada, alargada e melhorada no seu
traçado, permitindo por vezes a aventura de um
passeio de carro.
A
das “Bicas” foi fechada pelos donos da Usina
Santa Izabel e ali, ainda nos morros vizinhos, as
trilhas cavadas pelos animais é que testemunham o
seu abandono.
A do “Piracuama” foi em parte substituída
pela rodovia de ligação com São Paulo, Pinda e
Taubaté. E ainda pode ser usada no trecho da
serra. Andei por todas elas de trole, a cavalo e
mesmo de automóvel, e desses passeios guardo
belas recordações.
|