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Oscar Ribeiro de Godoy

 

A FAZENDA DA GUARDA (III)

 

Fotografia da sede da Fazenda da Guarda - Década de 1920

 

Tínhamos muito gado, bois de boa qualidade, criados à larga, gordos e sadios. Na Vila não existia açougue e o abastecimento de carne era precário, só se fazia esporadicamente, quando alguém matava um boi. Resolvemos então tentar a venda de carne.

 

Para isso minha mãe e eu fomos para São Paulo a fim de procurarmos aprender a arte de retalhar boi.

 

Na ocasião, era fornecedor de carne para a casa de meu avô o Açougue Di Giuglio. Na Rua das Palmeiras, próximo da Alameda Glete. Aproveitando essa circunstância, ali nos apresentamos e fomos cordialmente atendidos. Por mais de uma semana, aprendemos a retalhar os “quartos” de bois, separando filés, alcatras, acéms, etc..

 

De volta à fazenda, planejamos o negócio. Fizemos saquinhos de algodão e placas de madeira com o nome dos fregueses. Tudo seguiria no lombo do burro, como já se fazia com a entrega do leite. Assim começamos: o boi era escolhido, gordo e sadio, e ficava fechado por 24 horas. Depois era morto com uma martelada na nuca, como ainda se faz hoje em alguns matadouros do interior. Em seguida, era sangrado.

 

Todos os trabalhos eram executados com precariedade e de forma extremamente rústica. Com o chão coberto de folhagem verde, eram abertos os animais, serrados nos quartos, tudo pendurado nas travessas do próprio rancho onde se fazia a ordenha das vacas.

 

Picado o boi, separadas as encomendas que eram colocadas nos saquinhos de algodão, cuja boca era amarrada com a chapinha de madeira, a carga era colocada em jacás de taquara de forma que as encomendas dos primeiros fregueses ficassem por cima e a dos últimos no fundo do jacá.

 

Era um bom negócio, mas deixava muito a desejar pelas más condições de higiene, pelas dificuldades advindas das trilhas mal conservadas e pelo número de horas gastas no percurso até o centro populoso.

Certa feita, lá por 1923, estávamos na labuta, com um boi para se esquartejado, quando surgiram alguns cavalheiros estranhos, falando espanhol, dizendo que tinham tido notícias de que a fazenda estava à venda e que gostariam de conversar sobre o assunto.

 

Examinavam alguns carneiros que possuíamos para fornecer lã para o inverno e demonstravam-se surpresos com a excelente saúde dos animais. Tratavam palavras de admiração e contentamento.

 

Mais tarde, soubemos que um deles era o representante da Família Kok, que realmente acabou comprando a Fazenda da Guarda. Foram iniciadas as negociações e combinamos a venda com a porteira fechada, salvo objetos de uso pessoal, alguns animais e 100 alqueires de terra que, pela pertinência de minha mãe que fincou pé na hora, ficaram em nossa propriedade e hoje tem o nome de Rancho Santo Antonio.

 

Saímos, entregamos aquele talhão de terras que amávamos e que fora amado pelos nossos antepassados, mas conservamos a pequena área de época, hoje grande pela nossa estima e pela de nossos descendentes e amigos.

 

 

 

 

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