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Oscar Ribeiro de Godoy

 

O RANCHO SANTO ANTÔNIO

 O Rancho Santo Antônio.

I

Assim que foi vendida a nossa fazenda da Guarda, tínhamos prazo para sair e precisávamos construir, na gleba que reservamos para nosso uso, no mais breve tempo possível. Estabelecida a demarcação da área, começamos a procurar um lugar que fosse saudável e ao mesmo tempo amplo.

Procura daqui, procura dali, optamos por uma elevação servida pelo riacho Três Barras e constituída por terreno mais ou menos plano. Então, construímos um rancho pequeno, de acabamento precário para logo abrigar móveis e pertences. A vivência no local, desde logo, nos convenceu da impossibilidade de ali ficar, tal o grau de umidade da região. A casa que fizemos era de madeira serrada no local e coberta de capim retirado dos arredores. Tinha poucas condições de conforto, pois não havia água encanada e as instalações sanitárias ficavam do lado de fora, num córrego.

Feita uma pequena mangueira para a ordenha das vacas, em pouco tempo aquilo virou um lamaçal. Ali ficamos até 1930, quando resolvemos mudar daquele charco.

Conversando com um empregado, Chico Pedro, que nos servia desde os tempos da Guarda, indaguei a existência de um lugar mais adequado para levantar a nossa casa e ele nos indicou um morro com uma bela vista e amplo para construções. O morro era alto: como obter água lá em cima? Na época, nem se falava em luz elétrica.

Achamos uma nascente com altura suficiente para obter água por gravidade.

Eu e meu irmão Eulálio, com a ajuda de camaradas, levantamos as paredes e iniciamos assim a construção do atual Rancho Santo Antônio, que tem esse nome numa singela homenagem ao meu pai: ele – Antônio Amador de Godoy Moreira – morreu lutando pela posse de suas terras em Campos do Jordão.

Marquei o traçado da estrada com teodolito emprestado de meu tio Alexandre, desde o local escolhido até o rio Sapucaí, onde hoje está localizada a ponte que nos dá acesso à fazenda. Durante algum tempo não tínhamos ponte e deixávamos o carro na margem do rio. Deste ponto, subíamos a pé por mais ou menos um quilômetro. Atravessávamos o rio por um pinheiro caído da margem, formando uma verdadeira “pinguela”, e o carro ficava sob as árvores, no local onde hoje está o sobrado do Sr. Alexandre, nosso vizinho e amigo.

Nestes tempos de assaltos e roubos, isso parece até irreal, mas os veículos ali permaneciam, às vezes, por todo o período de nossas férias e ninguém, apesar da proximidade da estrada, os tocava, tendo em vista o respeito à propriedade alheia.

Assim foi feito durante anos até que contratamos, com o Juquita, a construção da ponte que durou cerca de 50 anos.

Desde então, lutamos para acompanhar o progresso vertiginoso de Campos do Jordão e colaborar, por todos os meios, para que esta terra seja acolhedora e atraente.

 

II

Em 1930, já instalados na nova casa onde estamos até hoje e, após a proibição do corte de madeiras, resolvemos partir para a produção de leite e derivados.

Possuíamos várias reses de má qualidade trazidas da Guarda com a nossa saída e precisávamos melhorar o rebanho para aumentar a produção. Então, financiados pelo Banco do Estado, adquirimos em leilões, em Ribeirão Preto, algumas cabeças de vacas Gir Leiteiro e um touro da mesma raça de um criador de Jacareí, nas margens da Via Dutra.

Assim, iniciamos a produção de leite passando logo a fabricar manteiga que entregávamos uma vez por semana no Grande Hotel. Era um bom negócio, porém, o único consumidor em certa escala da nossa cidade, além do consumo muito irregular.

Filiamo-nos à Cooperativa Agrícola de Cotia e passamos à cultura de batata durante dez anos. Chegamos a fazer sociedade com cinco famílias do Sul de Minas. O empreendimento foi bom e tivemos ótimos resultados, mas a impossibilidade de estar à testa do negócio por exercer a minha profissão de médico em São Paulo nos levou a abandonar a produção.

Partimos para a criação de frangos de corte. Construímos galinheiros para 10.000 cabeças e chegamos a tirar por semana cerca de 1000 frangos com 60 dias, e recebíamos, no mesmo período, 1000 pintos de um dia de granjas especializadas. Nos associamos a uma família de japoneses, mas sempre enfrentando o problema de não estar diariamente acompanhando a produção. Logo verificamos a dificuldade de tocar o negócio estando o proprietário ausente.

Fomos uns dos primeiros a vender frangos limpos. Recebíamos a encomenda do Grande Hotel, em geral de 50 a 80 cabeças, e iniciávamos o serviço. Pagávamos os funcionários por ave limpa e o trabalho era feito à noite. Após o término das atividades rotineiras da fazenda, a turma jantava, e se iniciava a matança, depena e limpeza, tudo feito à unha. Compramos materiais adequados para facilitar um pouco o trabalho que seguia pela noite. Pela manhã, num pick-up, fazíamos a entrega. Também não acertamos com os sócios nessa lucrativa produção e tivemos que abandonar o negócio.

Certo dia, estando na mangueira examinando algumas reses, surgiu na estrada uma senhora elegante, bem trajada, denotando tratar-se de turista. Ela nos pediu um copo de leite, pois vinha a pé desde a frente da casa Nolima, onde morava. Tratava-se da Sra. Troiko que adquirira a chácara que pertencera ao Dr. Luiz dos Anjos Câmara Lopes, nosso prezado amigo. Depois de tomar o leite que lhe oferecemos, a Sra. Troiko perguntou-nos por que não fazíamos aquilo diariamente para atender os turistas.

Surpresos com a idéia, passamos a avaliar as possibilidades de nos organizarmos para atender diariamente o fornecimento de leite no copo tirado na hora, por onde nos enveredamos até hoje.

Resolvemos, bem mais tarde, criar cavalos da raça manga-larga, ampliando as instalações para um haras moderno e eficiente. Por último, montamos uma pensão para cavalos, aproveitando o grande conhecimento de nossos auxiliares na especialização. Recebemos animais de pessoas que não dispõem de área para criá-los e nos deixam para tratamento e exercícios, vindo montá-los nos fins de semana.

Temos nos esforçado para facilitar, por todos os meios, o progresso da região e o desenvolvimento do turismo entre nós. A nossa contribuição é pequena, modesta, mas leva no âmago o amor por essa terra e pelo dever de preservar da melhor forma possível o patrimônio que nos foi legado.

Tenho no meu sítio, Rancho Santo Antônio, um pequeno museu, onde são conservados alguns troles da época em que não havia automóvel: uma carroça, que nos ajudou a construir muitas de nossas estradas; um carro de boi, que adquiri em Brasópolis, cidade no Sul de Minas e algumas peças raras, como lampiões, litros de leite de vidro, silhão, etc., que conservamos para o deleite dos turistas.

 

 

 

 

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