Maçãs de Campos do Jordão - SP: As pioneiras do Estado de São Paulo e do Brasil
A maçã (pirus malus), que representa, na mitologia, a fertilidade, a beleza, o amor e a tentação do pecado, é cultivada desde a Idade da Pedra, pertencente à família das rosáceas, “rica em pectina, fibra solúvel que ajuda no controle do colesterol e do diabetes”, originária da Europa e da Ásia, com mais de quatro mil variedades. As variedades brasileiras já superam a casa das 600, obtidas por inúmeros cruzamentos realizados.
É importante deixar registrado, para que não pairem dúvidas futuras, que a maçã começou a ser cultivada no Estado de São Paulo, na cidade de Campos do Jordão, adornada no seio da serra da Mantiqueira, entre os estados de Minas Gerais e São Paulo, na Região Sudeste deste, com altitude média de 1.700 metros, variando de 1.640 m a 1.886 m, de clima subtropical de altitude, mesotérmico e úmido, com relevo de morros com serras restritas e temperaturas variáveis de 27,2 ºC a -4,4 ºC. As primeiras mudas foram trazidas, mais por absoluto saudosismo, pelas mãos dos primeiros portugueses que para cá vieram no início de século 20.
A afirmativa supra, em parte, é confirmada no artigo publicado na revista “O Cruzeiro” de 24 de abril de 1954 - páginas 47 e 48, onde registrado que a cidade de Campos do Jordão “fez-se a pioneira em todo o Estado de São Paulo, no plantio da maçã; ainda que em nosso País a macieira isolada, no quintal, exista desde que existiram os portugueses, foi um escocês, chamado REID, quem a fez subir até os 1.720 metros de Campos do Jordão, em 1905. Cinco anos depois, Julio Fracalanza, mais como amador, também plantou macieiras. Coube, contudo, a Paulo Bockmann, em 1942, iniciar na estância a primeira plantação em base econômica do Estado, no seu famoso Vale do Baú...”.
ROBERT JOHN REID (22/12/1868 Aberdeen/Escócia - 26/11/1937 Campos do Jordão-SP.)
REID,
como era comumente chamado (a pronúncia correta é RRID ou REED e não Reidi), um
engenheiro muito próspero, nascido na longínqua Aberdeen, Condado de Inverness,
na Escócia, veio para Campos do Jordão em 1905 e aqui ficou morando nas
primeiras décadas do século 20, contratado para elaborar serviços de
topografia visando à demarcação e à divisão judicial da imensa Fazenda
Natal, nas terras da Mantiqueira que, na realidade, era constituída pela grande
maioria das terras que formavam o município dos Campos do Jordão. Após a
conclusão de seus serviços em 1908, na impossibilidade de receber em dinheiro
o valor por eles, acabou recebendo da Societé Commérciale et Financière
Franco Brésilenne, como pagamento, boa quantidade de terras em Campos do Jordão.
Reid, realmente, foi o primeiro a trazer mudas de maçã para Campos do Jordão,
plantando-as em sua chácara denominada “Abernéssia”, nome que, com o passar dos anos, veio denominar a vila
formada nas proximidades dessa chácara.
JULIO FRACALANZA
JULIO
FRACALANZA, importante e famoso industrial paulista, era filho de Angelo Fracalanza que, em 1884, iniciou as atividades da Metalúrgica Fracalanza, especializada na produção de artigos de utilidade doméstica, entre eles, talheres, baixelas, bandejas, panelas, etc., especialmente em aço
inoxidável e prata. A indústria foi transformada em S/A no ano de 1922, e Julio Fracalanza assumiu sua direção em 01 de maio de 1923.
Julio Fracalanza, no início da década de 1920, iniciou aqui em Campos do Jordão o
cultivo de frutas europeias que se adaptavam muito bem ao clima e ao nosso solo,
em sua famosa propriedade situada na entrada da então Vila Nova, atual Vila
Abernéssia, nas proximidades da Chácara Dom Bosco, dos padres salesianos, bem
na frente do nosso saudoso Sanatório Sírio. Nessa propriedade, denominada “Chácara Fracalanza”, formou um grande pomar, chegando a ter, aproximadamente, vinte mil árvores variadas, entre elas,
macieiras, pessegueiros, pereiras e ameixeiras.
Em sua chácara produziu, durante várias décadas, frutas de excelente qualidade e em grande quantidade. Julio Fracalanza valorizou e notabilizou a cidade de Campos do Jordão, tendo incentivado o cultivo de frutas europeias, especialmente a pera e a maçã.
PAULO BOCKMANN
PAULO BOCKMANN (Paul Ludwig Gustav Edward Bockmann), o Rei da Maçã, como era chamado, era um de nossos maiores produtores de maçã na década de 1950. Ele e Adhemar de Barros foram, em sociedade, os donos da antiga Fazenda Belfruta, situada no Vale do Baú, no município de Campos do Jordão, especializada na produção de frutas diversas, especialmente maçãs de diversos tipos.
O Sr. Paulo Bockmann, em declarações prestadas à revista “O Cruzeiro”, de 14 de abril de 1954, páginas 47 e 48, disse o que segue:
Por ter nascido na serra, não quer dizer que a macieira aí deva permanecer. “É um tabu que deve ser desfeito o de ligar a cultura da maçã exclusivamente a estes vales. Nasceu aqui fortuitamente, e Campos do Jordão que apenas reivindica a glória de ter sido o pioneiro, reconhece que o clima ótimo das macieiras fica nas zonas quentes e temperadas do Sul e do Centro do País. Por patriotismo, o jordanense está disposto a abrir mão da sua posição de centro fruticultor mais importante. Foi o exemplo e é a sementeira. Nós mesmos, em nossas propriedades, possuímos viveiros e campos de experimentação com capacidade de produção anual de um milhão de mudas no Vale do Paraíba, São Bento do Sapucaí e Campos do Jordão.”
A Fazenda Belfruta produzia grande quantidade de maçãs. Assim, na mesma década de 1950, iniciou a produção de um destilado de maçãs denominado CALVILA. Um verdadeiro e inigualável CALVADOS, produzido em Campos do Jordão. O pioneiro do Brasil.
Edmundo Ferreira da Rocha – 20 de novembro de 2007
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