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Fotografias que contam a história de Campos do Jordão.

 

 Festa da Maçã - IIª Festa (1954)


 

Cópia de parte da reportagem publicada na Revista “MUNDO AGRÁRIO– Ano II – Nº 14 – Rio de Janeiro – Abril 1954” - GUARACI CABRAL DE LAVOR

A MAÇÃ CONQUISTA UM LUGAR AO SOL

Chegada a Campos do Jordão : “ ...Chegamos meio abalados é certo, e encontramos o Murayama – o dono da Festa da Maçã. Foi quando sossegamos mesmo de verdade. Estávamos em casa completamente.

TUDO COMEÇOU ASSIM.

Os próprios habitantes de Campos do Jordão não acreditavam na existência de plantios de maçã capazes de fornecerem frutos para as necessidades, mínimas que fossem, do mercado não exigente do Rio, ou para São Paulo, onde o consumidor exige sempre o melhor.

Pois foi neste clima de completo desconhecimento das macieiras existentes, por parte dos moradores, que o nosso Murayama (Shisuto José), agrônomo regional, realizou façanha que seus amigos ainda hoje costumam crismar de – primeira vigarice da maçã.

Houve, muito a propósito da maçã, uma festa de deixar saudades, com “shows”, bailes, eleição e desfile de rainha e uma exposição no Ginásio Municipal, onde se viam bonitas cenouras, formidáveis batatas sementes, de mistura com repolhos, nabos e flores e, na verdade, algumas maçãs, quase que diríamos completamente encabuladas (permitam a comparação) de ali se encontrarem em tão pequeno número, e muitas tão feinhas de mirradas e manchadas, considerando-se o fato de que a tal festa nacional era realizada em torno e em função da existência das mesmas, no recinto. Justificava-se: produção do ano não chegara a 500 quilos...

Mas o primeiro passo, o mais difícil do empreendimento, havia sido dado. A festa pegou mesmo.

A IIª FESTA NACIONAL DA MAÇÃ

A segunda – ó incrédulos que apenas julgais boas e saborosas aquelas maçãs compradas na Argentina – se apresentou completamente mudada de feição, aos olhos não somente forasteiros, mas aos do próprio povo de Campos do Jordão. Duas salas imensas num palácio (embora ainda em construção paralisada) somente para o artigo maçã. Maçãs em aspecto, coloração e gostosura, completamente iguais às que melhores sejam encontradas no mercado.

O certo é que as maçãs, desta vez, predominaram na exposição pela quantidade e pela qualidade também, na sua segunda festa, já não tinham razão de se mostrar encabuladas, envergonhadas, como por ocasião da primeira. Vamos transformar o afirmado em números, para melhor tornar-se evidente a importância econômica que essa cultura vem tendo em Campos do Jordão: existem no Município, no momento, 40 mil macieiras, sendo que, deste número, somente 20 mil em período de franca produção. A colheita, que foi realizada nas vésperas da festa, atingiu 10 toneladas.

E TEM MACIEIRAS...

Não que desconfiássemos da existência de macieiras, o que não seria crível à vista da quantidade mostrada aos olhos curiosíssimos deste caboclo nordestino; fizemos questão cerrada junto à Cecília, esposa do Murayama (nossa madrinha, quando concluímos que o agrônomo regional transformado em mil pedacinhos não chegaria para a metade dos que o procuravam a qualquer hora do dia e da noite, nos mais diferentes lugares): queríamos ver as macieiras de perto.

E, sem grandes viagens, dentro mesmo da cidade, percorremos com aquele passo lerdo característico do enamorado, milhares de macieiras, na propriedade do senhor Julio Fracalanza, a quem se deve a introdução dessa cultura, no Município.

Ficamos devendo observações práticas e novas, nesta profissão agronômica há tantos anos exercida, ao caseiro daquela propriedade, senhor Waldemar Ferreira que, com entusiasmo e amizade, nos prestou todos aqueles informes que julgamos indispensáveis à nossa santa ignorância a propósito de muitas coisas, na qual somávamos até então a macieira.

Imaginem vocês a bruta sorte, assistimos reunião do Fórum Paulista de Fruticultura onde doutores em maçã falaram coisas de ciência ao alcance dos plantadores presentes. No dia imediato, a visita esclarecedora ao plantio. A primeira coisa que fizemos ao chegarmos na redação foi desafiar Vaitsman, o veterinário que sabe agronomia, no legal, para discutir o assunto. Quando lhe falamos da nossa documentação, não topou a parada, evidentemente...

A verdade é que vimos maçãs e percorremos área avantajada de macieiras, que frutificam plenamente, a qualquer bom amigo, largar os cabos de onde se encontrar para comparecer à terceira festa da maçã, no próximo ano.

UMA NOVA FEBRE

A cultura da macieira, podemos dizer com entusiasmo, não somente estribados no que vimos, mas nas respostas às perguntas insistentes a quem podia informar com segurança, deixou de ser considerada diletantismo ou mesmo aventura, para se tornar uma exploração agrícola de valia e de importância econômica na região...

É assim que os lavradores, de um modo geral, com propriedades encravadas na serra da Mantiqueira, encaram a cultura da maçã: seriamente, agro-comercialmente. Sabem eles na sua experiência, que a maçã dará nova vida econômica à região.

NÃO É SÓ O CLIMA

Falamos já das nossas dificuldades em alcançar Campos do Jordão e da sua conhecida e divulgada excelência climática. Acrescentamos, também, o Pina e o Miguelzinho, o Grande Hotel, entre outras excelências de Campos do Jordão, inclusive a estação de rádio, a “mais alta do Brasil” (localizada a quase 2.000 metros de altitude).

Falemos agora, de Campos do Jordão agrícola, o que poderia até ter feito, com enorme facilidade de nossa parte, com indicações daquele tipo – você sabia ?

-É o maior centro brasileiro produtor de cenouras, com 50 mil sacos anuais, no valor global de 10 milhões de cruzeiros. Anualmente o número de pés de repolho colhidos é de 500 mil; o mesmo número é alcançado pela couve-flor. Tem ainda mais e definitivo; possui também a melhor terra e o melhor clima para a produção de batatas-sementes.

COMO SE FAZ UMA “FESTA NACIONAL”

Todos pensarão, naturalmente, que a IIª Festa Nacional da Maçã, na sua organização e realização, contou com grandes verbas dos governos Federal e Estadual. Engano ledo e cego. O único auxílio palpável, uma verbazinha à-toa, à-toa, foi da Prefeitura. O mais, amigos, é conseguido no peito, na dura sorte.Confiamos pra vocês.

Murayama e Cecília, começaram por movimentar os amigos, que são quase todos os que residem na cidade e adjacências. E vem, conseqüentemente, uma série enorme de coisas de tomar dinheiro, especialmente dos turistas: festas dançantes, “shows” nos quais os artistas são brotos (todos lindos) que, além da venda de ingressos, enfrentam galhardamente palco e microfone, cantando e dançando de acordo com o programa.

Mas as despesas são muitas e inadiáveis. “É preciso que a Segunda festa supere em tudo a Primeira”, afirma o Murayama. Começa, então a fazer coisas que verdadeiramente assombram Cecília e os amigos. Propaganda e mais propaganda, pois que a Festa tem caráter nacional. Convite às autoridades e jornalistas; preparação dos mostruários.

É necessário atender também à parte diversional. Aí tem-se a impressão que Murayama já anda no mundo da lua. Quase sem tostão, entabula providências para contato do “ballet” aquático e aqua-loucos, inclusive, do Rio; de uma “troupe” de bailarinos japoneses;de artistas de rádio de Rio e de São Paulo; equipe de halterofilistas e atletas.

Não contando com numerário, faz dívidas no comércio. Pede emprestado para pagar depois da festa... Sua grande esperança de se safar é com o resultado da venda de votos para a Rainha.

À medida que as dívidas se vão avolumando e as responsabilidades da Festa vão crescendo, Cecília e os amigos, todos membros da Comissão Organizadora, passam as noites em claro;Cecília calcula como pagar quase 200 mil cruzeiros com a futura produção de 60 mil pés de tomate, “pé de meia” da família; os amigos pensam como tomar, depois da festa, o dinheiro faltante, com a escassez de turistas. Enquanto todo mundo ao seu redor perde o sono, Cecília emagrece a olhos vistos, o Murayama dorme como um justo, cometida a última loucura: contratou a melhor orquestra do interior de São Paulo para o baile de encerramento da IIª Festa Nacional da Maçã.

É assim, sem tirar nem por uma vírgula, que uma festa “Nacional” é levada a efeito com brilhantismo e pompa.

É este brilhantismo e pompa tão bem aplicados aqui, são alcançados por providências tomadas em uma residência particular, onde comparecem dia e noite centenas de pessoas, sugerindo, discutindo, gritando. Um horror!

Amigo da família, tendo chegado para a Festa, foi recebido na entrada por um dos membros da Comissão que à queima roupa foi perguntando: - Você caça ? Ante a resposta afirmativa, desabafou: - Isto (referia-se a casa Murayama) parece lagoa cheinha de patos. Todo mundo grita, fala, todo mundo corre e ninguém se entende.

Aí é que estava o engano do informante. Daquela confusão toda, saiu (e lindamente) a IIª Festa da Maçã, cujo programa de 3 dias foi cumprido à risca.

A NOSSA COLHERADA

Contamos para os nossos bons amigos, e fielmente, o que foi a IIª Festa da Maçã, em Campos do Jordão.

Tudo muito lindo, inclusive Rainha e Princesas. Carradas de razão cobre os da comissão organizadora e o dono da festa, pelas deficiências que não chegaram. Evidentemente, a empanar, nem sequer a prejudicar o conjunto. Merecem até placa de bronze em praça pública.

Mas o povo mesmo, só tomou parte efetiva foi na coroação da Rainha em praça pública.

Impressionante !

Mesmo ouvidas as razões do Murayama, importantes todas, insistimos num ponto: embora houvesse condução fácil para o Palácio Boa Vista, obra desconhecida, mesmo por grande parte da população de Campos do Jordão, a mostra, na verdade, estava completamente fora de mão. Donde, com risco mesmo de que empenhe os amigos na Caixa Econômica ou no Banco do Estado de São Paulo insistimos em ponto de vista pessoal.

-É preciso trazer a exposição, a festa, amigo Murayama, para a praça. A exposição somente, não; o “ballet” japonês, os brotos que cantam e dançam. Que se promovam exibições em recinto fechado, para assegurar o numerário suficiente ao atendimento das despesas feitas, está certíssimo. Mas tenha paciência: traga o povo, aquele que não pode pagar caro para ver espetáculo bonito, por uma tarde que seja, um monumental “show” gratuito, com aquilo de bonito dos bailarinos japoneses, dos halterofilistas, dos atletas e mais tudo o que você pensar de loucura. E, assim, a festa da Maçã, já de si formidável, descendo para a praça, para o povo, terá maiores ressonâncias e maiores proporções !



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FESTA DA MAÇÃ DE CAMPOS DO JORDÃO - SEGUNDA - ANO 1954

Cópia da Reportagem publicada na Revista “O Cruzeiro” de 24 de abril de 1954 – Páginas 47, 48 e 56.

Em Campos do Jordão, com a Polícia Marítima alerta, uma celebração essencialmente agrícola

Um aparato bélico inusitado rodeia de intranqüilidade a celebração do início das colheitas das macieiras dos vales jordanense – Garcez inaugurou a exposição, mas quem coroou a Rainha “ademarista” foi Ademar – O Ministro Cleófas.

Texto de MARGARIDA IZAR - Fotos de JOSÉ PINTO

Pela primeira vez, desde que assumiu o Governo de São Paulo, viu-se o Sr. Lucas Nogueira Garcez comparecer a uma cerimônia em cidade do interior paulista, rodeado de aparato bélico. Foi a 6 de março, por ocasião do ato inaugural da II Festa Nacional da Maçã, em Campos do Jordão. É verdade que, chegou no seu carro oficial, à entrada que vai a São Bento do Sapucaí, acompanhado apenas do Capitão da sua casa militar; nessa estrada, aguardavam-no o Sr. Paulo Bockmann; o candidato às eleições de outubro, Cunha Bueno e engenheiros-agrônomos.Ao forte sol da montanha, visitou, naquela cidade, os campos de experimentação; recebeu flores de uma linda menina e ofereceu um ginásio às crianças. Foguetes, alegria, e o vigário com o seu pitoresco guarda-sol acentuava o perfeito sossego dessa velhíssima cidade, quase aldeia.

Mas em Campos do Jordão, para onde em seguida rumou o Sr. Garcez, uma intranqüilidade sombreava a grandiosa festa da colheita.Dezenas de elementos da Polícia Marítima rondavam as ruas, em alerta. Estavam a postos, a afim de impedir o que se propalava, que o Sr. Ademar de Barros tentaria inaugurar a exposição da maçã antes do Sr. Garcez. Se houvesse tentativa, a ordem era descer o pau. Turistas e povo percebiam a ameaça no ar, mais perceptível na vivenda do Sr. Paulo Bockmann, onde sua esposa D. Martha, abrira as portas para a hospedagem do Governador de São Estado e sua comitiva. Emissários iam e vinham em confabulações secretas.

Nada aconteceu. Apenas o ruço, neblina própria daquelas montanhas, subiu e esvoaçou cerrado pela cerimônia inaugural da II Festa Nacional da Maçã, sob a Presidência do Governador Garcez. Respirou-se o ar frio e seco. Enquanto o Governador paulista, visitados os pavilhões do Palácio do Governo, saia por uma porta, o Sr. Ademar de Barros entrava por outra. Ambos se evitaram.

Continuava a Polícia Marítima no seu posto; o desassossego, sem alcançar visivelmente o povo, aumentava nos círculos políticos. Veio à luz um manifesto do P.S.P., recomendando a todos que prestigiassem a presença do Governador do Estado em Campos do Jordão. À noite, após o banquete oferecido na residência do Sr. Paulo Bockmann ao Sr. Garcez, este, preso a compromisso, descia a montanha. Mas na montanha, no seu Rancho Alegre, ficou o Sr. Ademar de Barros, aliás proprietário naquela estância, ajudando a eleger a Rainha da Maçã, que não foi uma jordanense, mas uma turista: a filha do Sr. Erlindo Salzano, Vice-Governador do Estado, e mão direita do Sr. Ademar de Barros, Ivany Salzano é, sem dúvida, uma jovem bonita, de pele queimada e louros cabelos. Acontece, porém, que não nasceu na terra onde crescem, nas macieiras, as maçãs daqueles vales.

Sendo o certame de caráter oficial, o Prefeito Antonio Nicola Padula deveria coroá-la no dia seguinte. Nervosismo precedeu e cercou a coroação. Na pérgula do largo da estação, ao cair da tarde, diante do público, apresentou-se a Rainha com o séqüito das princesas. Perguntaram-lhe se queria expressar algum desejo. Hesitou, não sabia que dizer, mas alguém lhe cochichou aos ouvidos o que ela então repetiu: “Eu desejo ser coroada pelo Sr. Ademar de Barros”. O Prefeito Padula, desconsiderado, retirou-se do coreto, que estava coberto de propaganda ademarista, e o Sr. Ademar adiantando-se, coroou a Rainha. Palmas, mais no coreto. Depois da coroação, na calçada (embaixo era uma loja de flores) duas grandes lajes cedem ao passo de Ademar. Este se afasta, o pedaço é evacuado. O desfile da Rainha não se fez porque o carro alegórico ostentava uma maçã mais alta que os fios de luz. D. Cecília, esposa do Engenheiro-Agronômo Shisuto José Murayama, Presidente da Casa da Lavoura e organizador da exposição, desabafou : “Até que enfim acabou, há dois dias vivemos sob o temor de um tiroteio”. Foi ainda Ademar quem, à noite, dançou a valsa com a Rainha, que não foi uma “nisei”, como no ano passado. 70 por cento das mãos que cuidam das macieiras nos pomares jordanenses são japonesas.

Em que pese o caráter político que lhe emprestaram, a Festa Nacional da Maçã teve por objetivo real mostrar aos brasileiros estar suplantada a fase de experimentação da cultura da macieira. As floradas das macieiras, nesses vales serranos, se enformam em maçãs, algumas cujas variedades nada deixam a desejar em louçania e sabor às estrangeiras. A mostra foi uma afirmação de que a “arvore do paraíso” não recusa o chão da terra. Plantando, dá. Basta seguir o exemplo que Campos do Jordão se nega em guardar apenas para si, e generosamente oferta ao País, através das suas fartas colheitas, que abrangem também, os pessegueiros, as figueiras, as ameixeiras, as pereiras e agora os exóticos olivais Nesse aspecto, Campos do Jordão é o presente (assim como Valinhos, que o seguiu), mas reconhecem os seus grandes plantadores da região, que o futuro da maçã não é por aqueles campos secos, mas descendo a serra, pelas fraldas dos morros, no caminho para São Bento do Sapucaí, em irradiação pelo Centro e Sul do País.

Eis como a estância da cura e do turismo, adormecida no seio da Mantiqueira, fez-se a pioneira, em todo o Estado de São Paulo, no plantio da maçã; ainda que em nosso país a macieira isolada, no quintal, existia desde que existiram os portugueses, foi um escocês, chamado Reid, quem a fez subir até os 1.720 metros de Campos do Jordão, em 1908. Cinco anos depois, Julio Fracalanza mais como amador, também plantou macieiras. Coube, contudo, a Paulo Bockmann, em 1948, iniciar na estância a primeira plantação em base econômica do Estado, no seu famoso Vale do Baú, em cuja belíssima vivenda foram ao mesmo tempo hóspedes e amigos Getúlio, Garcez, Ademar, Jafet, Danton, Coelho e Café Filho. Isto foi em 1951. (grifo nosso)

Tendo nascido na serra, não quer dizer que a macieira aí deva permanecer. Disse-nos o Rei da Maçã, Sr. Paulo Bockmann, a quem damos a palavra inclusive por ter arrebatado o maior número de prêmios na exposição, oito, dos quais cinco em primeiro lugar: “É um tabu que deve ser desfeito o de ligar a cultura da maçã exclusivamente a estes vales. Nasceu aqui fortuitamente, e Campos do Jordão que apenas reivindica a glória de ter sido o pioneiro, reconhece que o clima ótimo das macieiras fica nas zonas quentes e temperadas do Sul e do Centro do País. Por patriotismo, o jordanense, está disposto a abrir mão da sua posição de centro fruticultor mais importante. Foi o exemplo e é a sementeira. Nós mesmos, em nossas propriedades possuímos viveiros com capacidade de produção anual de um milhão de mudas no Vale do Paraíba, São Bento do Sapucaí e Campos do Jordão”.(grifos nossos)

Estaríamos liberados da importação de frutas frescas e azeite de oliveira se no Brasil se plantassem 50 milhões de árvores frutíferas, sendo 10 milhões de laranjeiras, 10 milhões de oliveiras, 7 milhões de macieiras, 5 milhões de pessegueiros, 5 milhões de nogueiras, 4 milhões de ameixeiras e 8 milhões de outras árvores. Este é o plano nacional do Ministro da Agricultura a ser executado num prazo de 10 a 15 anos. A exposição da maçã abrangeu também frutos chamados forasteiros, atestou essa possibilidade aos olhos do representante do Ministro João Cleófas, Sr. Cunha Bayma, ali presente.

Cedamos espaço, agora, através das fotografias, às lindas Evas dos pomares jordanenses. É um paraíso aljofrado com o suor do trabalho, pois, como dizem, por aqui, como homenagem e com malicia, “a macieira é pior do que mulher pra se tratar”.



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REGISTRO DE INCIDENTE OCORRIDO NA INAUGURAÇÃO DA IIª FESTA DA MAÇÃ

A revista “O Cruzeiro”, de abril de 1954, já cobrindo a II Festa da Maçã, estampava larga reportagem fotográfica do evento realizado, a 6 de março daquele ano, quando era prefeito, Antonio Nicola Padula, que se realizara nos interiores do Palácio Boa Vista, ainda inacabado.

Além do Governador Lucas Nogueira Garcez, assistiram a instalação, o prefeito Antonio Nicola Padula, o deputado Antonio Sylvio Cunha Bueno, o Vice-Governador Erlindo Saizano, o Sr. Cunha Bayma, representante do Ministro João Cleofas.

O ex-Governador Adhemar de Barros também esteve presente, acompanhado do Dr. Manoel M. de Figueiredo Ferraz.

Ao concurso da Rainha da II Festa da Maçã, participaram Ivany Salzano, Dalva Ferreira Leite, Leila Magalhães e Carmem Miranda.

Foi durante a instalação da II Festa da Maçã, a primeira vez que o então Governador Lucas Nogueira Garcez locomoveu-se da Capital do Estado, depois de eleito.

Um incidente na inauguração da Festa: dizia-se que o ex-Governador Adhemar de Barros, também na cidade, tentaria inaugurar a Exposição, antes do Governador Garcez, com o qual se achava rompido, politicamente.

Ante os boatos, soldados policiavam as ruas, criando um ambiente de intranqüilidade.

Paulo Bockmann, um dos grandes promotores do evento, hospedava o Governador Lucas Garcez e sua comitiva.

Nada aconteceu de tudo que se propalava, pois a instalação da II Festa da Maçã, de fato, foi instalada, solenemente, pelo Governador Lucas Nogueira Garcez.

Embora presente à inauguração o Dr. Adhemar de Barros, ambos se evitavam; um entrava por uma porta e outro saia por outra.

O ex-Governador Adhemar de Barros colaborou muito para a vitória da candidata Ivany Salzano, filha do Vice-Governador Erlindo Salzano, seu fiel correligionário, que foi eleita Rainha da II Festa da Maçã, com 85.085 votos.

Por ocasião da coroação da Rainha, em praça pública, na antiga pérgola da Praça da Bandeira, situada atrás da estação ferroviária de Vila Abernéssia, concentravam-se todas as autoridades, inclusive o prefeito Antonio Nicola Padula, de corrente política adversa à do Dr. Adhemar de Barros. No ato da coroação, perguntaram à Rainha se pretendia formular algum desejo.

Não foi outra resposta:

- Desejo ser coroada pelo Dr. Adhemar de Barros!

Houve um alvoroço, o prefeito Padula retirou-se da solenidade, visivelmente irritado e Ivany Salzano, foi coroada pelo ex-Governador, Adhemar de Barros.

Ao término da II Festa da Maçã, o engenheiro Shisuto José Murayama, chefe da Casa da Lavoura e organizador da Exposição, respirou aliviado:

- Até que enfim acabou, há dois dias que vivemos sob o temor de um tiroteio.

Lamentavelmente, por motivos políticos, logo que foi encerrada a II Festa da Maçã, o eng Shisuto José Murayama, que fora a alma do evento, foi removido para a cidade de Viradouro, o que causou grande revolta da população jordanense. Também objeto de punições políticas foram os servidores estaduais Frederico Kupper, engenheiro do Parque Estadual, Benedito Máximo de Carvalho e Álvaro Cavalheiro, que, em desagravo, receberam homenagens da comunidade local.

Sucederam-se outras Festas da Maçã, como a de número III, que foi organizada por Orlando Destro engenheiro agrônomo da Casa da Lavoura.

Em 2, 3 e 4 de março de 1956, realizou-se a 4ª Festa da Maçã, prestigiada pelo Secretário da Agricultura, Paulo de Castro Viana, na administração do prefeito Antonio Nicola Padula.

Infelizmente, pouco a pouco, o importante evento agro-turístico foi se desativando, até desaparecer completamente.

Três fatores o determinaram: o declínio da fruticultura no Município, o desaparecimento da Belfruta e a carência de apoio oficial. Sem embargo, marcou a Festa da Maçã um episódio histórico, do maior brilho na vida econômica, turística e promocional dos jordanenses.

Do Livro "História de Campos do Jordão" - Páginas 675, 676 e 677 - Pedro Paulo Filho - 1986



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SIGNIFICATIVA HOMENAGEM PRESTADA AO SR. SHISUTO JOSÉ MURAYAMA, AGR. REGIONAL, EM VIRTUDE SUA TRANSFERÊNCIA DESTA CIDADE

Notícia publicada no Jornal “A Cidade” – Ano VI, Domingo 11 de abril de 1954.

Quarta-feira última, no Grande Hotel, amigos e admiradores do Eng. Agrônomo Shisuto José Murayama, ao ensejo de sua despedida desta cidade, ofereceram-lhe significativa homenagem, constante de um jantar a que compareceu uma centena de pessoas representativas de todas as atividades desta Estância. Na ocasião, usaram da palavra, o Sr. Dr. Jathyl Nunes Pereira, Promotor Público da Comarca, oferecendo a homenagem em nome dos amigos; o Sr. Gumercindo de Barros Galvão, em nome do Diretório Municipal do P.S.P.; o Eng. Agrônomo Frederico Kupper, representando a Associação Rural de Campos do Jordão; o vereador Arakaki Masakasu, externando o sentimento dos lavradores da região; o Dr. Fausto Bueno de Arruda Camargo; o vereador Joaquim Corrêa Cintra, pela bancada do P.S.P. à Câmara Municipal; o Dr. Silvestre Ribeiro, Diretor do Centro de Saúde e o Sr. K. Kawasaki, oferecendo ao homenageado uma delicada lembrança.



O discurso pronunciado pelo Dr. Frederico Kupper em o qual o orador fez um relato das atividades do Sr. Shisuto José Murayama, como agrônomo regional, salientando a sua condição de técnico em agricultura e especialista em fruticultura, impressionou a todos os presentes, evidenciando-se, mais uma vez a grande lacuna que a sua transferência virá abrir nesta região agrícola que é dedicada, justamente, àqueles importantes setores da agricultura.

De um modo geral, todos os oradores lamentaram o ato do Governo, transferindo o referido agrônomo regional, sem uma razão que o justificasse plenamente.

Ao agradecer as homenagens que lhe eram prestadas o Sr. Shisuto José Murayama, profundamente emocionado, disse aceita-las para dividi-las com pessoas que lhe eram muito queridas, seu pai e sua esposa.

Dessa maneira auspiciosa o Sr. Shisuto José Murayama encerrou, pelo menos no momento, as suas atividades nesta Estância.Dizemos auspiciosa porque lhe coube a ventura de ver-se prestigiado pela sociedade local, que soube compreender o alcance e dar o devido valor aos seus trabalhos de técnico agrícola. Quer à frente da Associação Rural de Campos do Jordão que ele fundou e vinha presidindo, estimulando com o seu entusiasmo e os seus conhecimentos, os lavradores para uma melhor e mais racional produção e, como se não bastassem esses relevantes serviços públicos, há ainda a realçar-lhe o mérito, a instituição da Festa Nacional da Maçã, primazia que coube a nossa Estância por sua feliz iniciativa.

Dirige-se para a cidade de Viradouro o Sr. Shisuto Murayama. Oxalá o município irmão possa oferecer-lhe condições para o desenvolvimento do seu trabalho, para que a sua população, como a nossa, possa sentir os efeitos benéficos de um homem simples como soem ser os agrônomos, mas cheio de fé e esperança nos destinos da nossa Pátria, através da condução científica dos trabalhos agrícolas, única fonte segura de recuperação da nossa economia.

Sentiremos a sua falta, porém, para que o seu esforço de três anos de constante labor nestas plagas da Mantiqueira não tenham sido em vão, procuraremos seguir-lhes os exemplos traçados e que se concretizaram em realizações de utilidade indiscutível.

 

 

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Obrigado,

 

Edmundo Ferreira da Rocha

 

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