Foto da nevasca do dia 31 de julho de 1928, em Vila Jaguaribe.
O inverno em Campos do Jordão
Primeiramente, é importante caracterizar o clima de Campos do Jordão. Conforme consta dos registros “Estações Climatéricas de São Paulo”, da autoria do Dr. J. R. Belfort de Mattos Filho, pesquisador do clima jordanense, editado pela Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio do Estado de São Paulo, no ano de 1928, a temperatura média de Campos do Jordão, naquela época, era de 12,8ºC, colocando-a entre os denominados “clima temperado”, também denominado clima de montanha, que abrange temperaturas médias anuais que vão de 15ºC até 5ºC.
Dando continuidade, visando a caracterizar o inverno de Campos do Jordão, nos mesmos registros já mencionados, é comentado “que se observa nesta região, por ocasião das mínimas de temperatura, a deposição da geada mais ou menos intensa, que desaparece no decorrer do dia, e o ambiente se aquece agradavelmente, tornando-se leve e transparente, permitindo avistar os objetos a enormes distâncias, percebendo-se os detalhes do relevo e os contornos das serras longínquas, com muita nitidez.”
Nesses registros, a título de curiosidade, constam algumas temperaturas MÍNIMAS ocorridas em Campos do Jordão, dignas de transcrição, a saber:
DATAS ............................................MÍNIMAS ABSOLUTAS
30 de abril de 1906 (outono)...........................–4 ºC
15 de setembro de 1906 (primavera)..............–4 ºC
04 de agosto de 1908 (inverno).......................–6,4 ºC
26 de maio de 1910 (outono)..........................–6 ºC
17 de dezembro de 1910 (verão)....................–1,2 ºC
26 de junho de 1918 (inverno).......................–7,4 ºC
25de julho de 1923 (inverno)........................–8 ºC
Sobre o clima de Campos do Jordão, especificamente sobre o inverno, no livro “Campos do Jordão”, 4ª edição, de autoria do historiador Dr. Mario Sampaio Ferraz, também editado pela Diretoria de Publicidade Agrícola da Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio do Estado de São Paulo, no ano de 1941, consta o seguinte registro: “Vantagem da estação invernosa” – “Os climas”, recorda o ilustrado Dr. Clemente Miguel da Cunha Ferreira (1857 – 1947, natural de Rezende - RJ – médico tisiologista de projeção internacional, que defendeu tese perante o Dr. Torres Homem, médico do Imperador, sobre “Tísica Pulmonar”, fundamentado em estudos realizados em Campos do Jordão - SP, obtendo graduação com distinção, por unanimidade de votos), “dividem-se, segundo Jaccoud, em ativos ou modificadores, e em passivos ou conservadores. Os primeiros – os modificadores, são climas de montanha; e os segundos – os conservadores –, são os climas das planícies. Campos do Jordão constituem o tipo de clima ativo, modificador por excelência. A rarefação do ar obriga os pulmões a uma ginástica metódica e salutar, levanta vigorosamente a mecânica respiratória, fazendo desaparecer a distrofia local. Pelo abaixamento da pressão barométrica, pelos outros elementos meteorológicos e certas condições hidrotécnicas e sanitárias reergue a dinâmica nutritiva, transforma, metamorfoseia a constituição, pois substitui à hipertrofia geral uma eutrofia viçosa e franca, onde a semente da tuberculose se esteriliza e definha.
Recomendando, de preferência, a estação invernosa, como, aliás, o fazem todos os especialistas de além-mar, diz ainda:
É no inverno que o poder regenerador e modificador dos Campos do Jordão se ostenta em toda a sua plenitude, sendo que, no verão, há, por assim dizer, alguma cousa de passivo, que se aproxima então dos climas conservadores de Jaccoud, pelo menos em relação a um certo número de indivíduos. Isto se compreende; a ação tônica do frio fustiga com mais energia o funcionamento orgânico, esporeia mais veementemente o sistema cutâneo, aguerrindo-o e regenerando-o; a capacidade digestiva se incrementa e ao apetite oceânico que se desperta corresponde uma faculdade de assimilação possante e enérgica. A máquina animal trabalha com o máximo de atividade, a locomotiva orgânica caminha com o mais forte grau de tensão de vapor e, por isso, a metamorfose da economia é mais pronta e radical.” Aconselha ainda o Dr. Clemente Ferreira, a hidroterapia, que, em tais condições climatéricas, realiza prodígios, secundando a transfiguração orgânica.
Convém lembrar que no inverno não há quase chuvas – o que facilita as excursões pelas montanhas. É a época do tempo seco, dos grandes dias azuis e luminosos. (Grifo nosso)
O Dr. Portugal observa que um grau acima de zero, em Campos do Jordão, dispensa agasalhos exigidos por 19 graus da capital de São Paulo. O ar rarefeito, com a diminuição dos seus componentes – gás carbônico, azoto, vapor d´água e oxigênio –, aumenta a luminosidade e a ação química do Sol que, desse modo, atravessam uma camada menos espessa.
O ar, assim rarefeito, ventila todos os alvéolos do pulmão, pondo em trabalho as zonas menos ativas e mais sujeitas à agressão bacilar – os ápices –, e produz a eliminação do gás carbônico.
Consta do livro “A Montanha Magnífica” – Volume I, da autoria do escritor Pedro Paulo Filho, páginas 92 e 93, (O Recado Editora Ltda., 1997).
Escreveu ainda o Dr. Clemente Ferreira, prefaciando, em 1922, o livro “Estações Climatéricas de São Paulo”, de autoria do Dr. Belfort de Mattos Filho, inicialmente mencionado: “entre as nossas estâncias de maior realce e maior reputação popular e médica, sobressai Campos do Jordão, que já de bem longa data vem se recomendando e impondo como uma localidade inexcedível pelos seus predicados climáticos gerais, especialmente ativos e eficientes no tratamento de moléstias pulmonares e ainda como incomparável região adaptada à cura e sítio de convalescentes (...) Assim, o Dr. Belfort de Mattos Filho, em seus estudos, evidencia a alta porcentagem que vai até 7,1 miligramas por 100 metros cúbicos de ar, quando na Capital (São Paulo) não vai além de 3.
A presença de ozona é significativa de pureza atmosférica, de sua assepsia e ausência de germes; por isso, no oceano e nas altas montanhas, onde o ar é puro, é elevado o coeficiente de ozona.
Como clima de elevada altitude, de grande terapêutica atmosférica, de fraca nebulosidade e, pois, de farta insolação, os Campos do Jordão desfrutam a enorme vantagem de abundância de oxigênio “eletrizado”. Ainda lhe sobra uma outra fonte de ozona que vem a ser as florestas de pinheiros, onde consoante puseram em relevo os estudos de Duphil, a porcentagem de ozona pode atingir a 9 miligramas, ocorrendo mesmo uma sobrecarga de ozona, como fez ver Maurice de Tierry na região dos Grands – Mulets, a 3.000 m de altitude, coberta de florestas de pinheiros.
A oxidação das essências e das resinas dos pinheiros produz essa quantidade vultosa de ozona, como, aliás, se encontra em certos litorais.
A pouca nebulosidade da atmosfera de Campos do Jordão explica, também, pela mais direta e mais prolongada ação dos raios ultravioleta do espectro solar, a produção avantajada de tão útil elemento (...) Essa particularidade que possuem os Campos pela sua riqueza em floresta de pinheiros, os demais sítios de grandes altitudes não partilham, como Caldas, Maria da Fé, Teresópolis, Itatiaia, etc.
O ozona, em tais proporções, não pode deixar de contribuir para uma mais perfeita pureza, assepsia e esterilidade da atmosfera dos Campos do Jordão, pois são notórias as suas virtudes microbicidas, já há muitos anos aproveitadas para depuração das águas da alimentação por várias cidades (...). Com a alta proporção do ozona coincide a diminuição do ácido carbônico e dos gases redutores, o que quer dizer que maior será a pureza, a assepsia do ambiente, tudo isso contribuindo para requintar as qualidades do clima.
As maravilhas sobre o clima temperado, o clima de montanha de Campos do Jordão, prolatadas pelos magníficos doutores, Belfort de Mattos Filho, no ano de 1928, e Mário de Sampaio Ferraz, em 1940, engrandecem e dignificam as propriedades inusitadas e especiais do nosso clima, trazendo saudades desses tempos distantes que ficam perpetuados em nossa história.
Claro que, dessa época maravilhosa para os dias atuais, muita coisa contribuiu para a mudança do clima de Campos do Jordão. Nosso clima, atualmente, sofre a ação de vários agentes internos e externos que, forçosamente, contribuem para que haja uma mudança drástica que, sem dúvida, pode ser presenciada e sentida por todos nós, jordanenses, e frequentadores desta que, apesar de tudo, ainda pode e merece ser considerada e chamada de “A Montanha Magnífica”.
Não há dúvidas de que o aquecimento global, conforme afirmam unanimidade de cientistas, é um fenômeno mundial incontestável, facilmente presenciado e sentido; vem rapidamente alterando o clima e as temperaturas em todo nosso Universo, com efeitos devastadores, como ocorrem nos últimos anos. O clima de Campos do Jordão, infelizmente, não pode ser preservado e poupado desses efeitos.
De alguma maneira, com maior ou menor intensidade, acabam por interferir, também, no nosso clima, influenciado pelas ondas de calor, ciclones que atingem a costa sul e Sudeste do Brasil, aumento da quantidade de desertos, furacões que causam mortes e destruição em várias regiões do planeta, as calotas polares derretendo, podendo ocasionar o avanço dos oceanos sobre as cidades litorâneas.
Pesquisadores do clima mundial afirmam que esse aquecimento global ocorre em função do grande e inevitável aumento da emissão de gases poluentes, dentre eles os derivados da queima de combustíveis fósseis, como a gasolina, diesel e outros mais, em toda nossa atmosfera. Gases como ozônio, dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e monóxido de carbono formam camada de poluentes de difícil dispersão e causam o famoso e comentado efeito estufa, quando esses gases absorvem grande parte da radiação infravermelha emitida pela Terra, dificultando a dispersão do calor.
Também os desmatamentos e queimadas de florestas e matas nativas diversas, em todas as regiões, colaboram para todo esse processo de mudanças climáticas. Campos do Jordão já não tem mais aquelas imensas e ricas florestas de pinheiros aludidas pelo Dr. Clemente Ferreira.
É certo e comprovado, por inúmeras fotos das décadas de 1920 a 1950, que Campos do Jordão tinha muito menos vegetação que nos dias atuais. Nessa época e anteriormente, a vegetação existia somente na confluência entre os morros e montanhas. O restante eram morros e campos cobertos apenas de vegetação rasteira, normalmente composta de capins e gramíneas de diversos tipos, inclusive a famosa vassourinha, que florescia e embelezava a paisagem com suas pequeninas flores de diversas tonalidades róseas e avermelhadas, nos meses de fevereiro e março, proximidades do Carnaval.
Atualmente, a vegetação existente, completamente alienígena, importada, composta de diversos tipos de pínus, liquidâmbares, plátanos, tuias, aceres, cerejeiras e outras, é muitas vezes maior que antigamente, quando a vegetação nativa era composta de araucárias, o conhecido pinheiro do Paraná, pinhos bravos (podocarpus lambertii), quaresmeiras etc. As diferenças entre as essências vegetais dessas épocas são extremamente surpreendentes. A vegetação antiga contribuía com a oxidação de suas essências, e a resina dos pinheiros produzia quantidade vultosa de ozona, conforme afirmou Dr. Clemente Ferreira. A vegetação atual, com grande carência de essências nativas, fartamente composta de espécies importadas, deixa dúvidas quanto a suas contribuições para a purificação e aprimoramento de nosso clima.
Com a vegetação nativa, Campos do Jordão tinha clima com pouca umidade, especialmente durante o inverno, em que o clima era bastante seco. Talvez por isso a rara e pouca incidência de neve nos meses frios do inverno, embora com temperaturas favoráveis.
Hoje, com o grande aumento da vegetação, essencialmente importada, a umidade é consideravelmente sentida e observada, até nos meses frios do inverno. Porém, devido aos vários problemas comentados que, com certeza, influem e aquecem nosso clima, as baixas temperaturas registradas, mesmo em condições, com umidade favorável, com incidência de nuvens carregadas em vários dias do inverno, não sejam insuficientes para a ocorrência de neve.
O crescimento de toda massa viária constituída de rodovias, estradas, avenidas e ruas – cimentadas, calçadas e asfaltadas; o grande e crescente crescimento da construção civil, aumentando o número de casas, prédios e edifícios, com o consequente crescimento dos telhados compostos de diversos tipos de materiais; tudo isso contribuindo para que os raios do Sol venham atingi-los e irradiem calor na atmosfera.
Costumo dizer que, também, o crescimento geral de todo nosso querido e maravilhoso Vale do Paraíba vem influindo bastante nas alterações do clima de Campos do Jordão. Minha explicação é mais ou menos esta:
É incontestável o crescimento de todo nosso Vale do Paraíba ao qual pertencemos, onde grande número de cidades bem maiores fica, aqui bem pertinho, logo abaixo, no sopé de nossas montanhas jordanenses e circunvizinhas. Nessas cidades também foram sensivelmente aumentadas as áreas de telhados, de estradas, ruas, avenidas – cimentadas, calçadas e asfaltadas, contando em grande extensão desse território, dentre outras, com a movimentada Rodovia Presidente Dutra, principal acesso São Paulo–Rio de Janeiro e vice-versa e muitas outras cidades e Estados. Nessas estradas e rodovias é muito grande o tráfego de veículos de todos os tipos, especialmente os pesados, de transportes de carga que, inegavelmente, queimam, durante vinte e quatro horas diárias, combustíveis fósseis, como a gasolina, diesel e outros que, liberando gases diversos, contribuem para o aquecimento geral de toda região. Também o grande avanço e crescimento de indústrias diversas em todo esse eixo viário da Rodovia Presidente Dutra, por intermédio de seus enormes chaminés, contribuem para o aquecimento da região.
A grande parte do calor gerado em todo esse nosso Vale do Paraíba que vem ajudando e contribuindo para mudanças gerais em nosso clima de Campos do Jordão é facilmente explicada por meio da força do empuxo, simples ensinamento da termodinâmica. Indiretamente, a própria força da gravidade faz com que o ar frio e pesado desça e empurre o ar quente para cima, como um pedaço de isopor na água. Grosseiramente, podemos afirmar que o ar, devido aos fatores acima enumerados, impregnado de gases quentes, naturalmente vai ficar mais leve, menos denso, com tendência de subir, em detrimento dos gases mais frios e mais pesados, com tendências de ficarem próximos de onde são gerados. Mais fácil de explicar e entender é o caso do aquecedor de água, tanto a gás quanto elétrico ou à lenha. A água, quando aquecida, vai subir e ficar na parte superior do aquecedor ou do seu reservatório, enquanto a água que ainda não foi aquecida ou está em processo de aquecimento vai ficar na parte baixa.
Assim, a tendência de grande parte desse calor gerado em todo nosso Vale do Paraíba, conforme esclarecimentos anteriores, através do ar quente e gases formados, tenderão a subir os contrafortes da serra da Mantiqueira, atingindo Campos do Jordão e, consequentemente, influindo, até aumentando as temperaturas de seu clima.
Claro, toda regra tem suas exceções, tudo que foi dito não está afirmando definitivamente que Campos do Jordão não terá invernos rigorosos, com temperaturas baixas, inclusive com várias precipitações negativas. Tudo vai depender de inúmeros fatores que podem contribuir favorável ou desfavoravelmente, até previsíveis ou inesperados, influenciados pelas correntes de ar e fenômenos atmosféricos oriundos e vindos até de outros hemisférios.
A título de simples esclarecimento, válido registrar que Campos do Jordão já teve, em épocas invernais, temperaturas iguais a 13 (treze) graus negativos, exemplo disso ocorreu no mês de julho de 1951. Temperaturas negativas até inferiores podem ter ocorrido; porém, temperaturas entre cinco e oito graus eram comuns até a década de 1980.
Nos registros iniciais, constantes do maravilhoso trabalho do Dr. Belfort de Matos Filho, verificam-se temperaturas negativas nos meses de abril/1906 e maio/1910. Esse registro é muito importante para comprovar que, antigamente, os rigores das baixas temperaturas já começavam no outono, antes do inverno propriamente dito.
Lembro-me de que, nos meus tempos de criança, lá pelos idos de 1950, até posteriormente, as geadas já começavam nos meses de abril e maio. Há quem diga que, nas datas de 29 de abril, aniversário da Cidade, as temperaturas mínimas, muitas vezes, chegavam a superar as temperaturas mínimas registradas em todo inverno. No ano de 1962, quando nasceu minha irmã Maria Cristina, no dia 21 de abril, tivemos uma manhã de geada espetacular. Não cheguei a medir a temperatura naquela oportunidade, porém, pela grande geada que cobria morros, baixadas e árvores, não tenho dúvidas de que a temperatura tenha chegado a 5 ou 6 graus negativos.
Lembro-me, também, de que num sábado, dia 27 de julho de 1964, por volta das três horas da tarde, dia muito frio e com céu bastante nublado, passeava a pé com minha namorada, posteriormente minha esposa, pelas proximidades da Rua Dr. Domingos Jaguaribe, proximidades da famosa propriedade da Família Soubihe, Jardim de Alá. Em determinado momento, começaram uns pingos de chuva. Como estávamos sem guarda-chuvas, adentramos no quintal de uma casa que meu pai administrava por meio de sua Imobiliária Rocha e nos resguardamos debaixo da cobertura da garagem da propriedade. Em determinado momento, percebi que alguma coisa vinda de cima, de cor branca, caía no gramado. Como ventava um pouquinho, eu disse: “O vento está derrubando as flores das pereiras aqui das proximidades”. Imediatamente lembrei: “Não podem ser flores das pereiras. Estamos em pleno inverno”. Nesta época, as pereiras não têm flores. Reparando melhor percebi que eram pequeninos flocos de neve que, vindos do céu, caíam mansamente sobre a grama e imediatamente se desfaziam. Era neve, sim. Infelizmente, vimos apenas poucos e diminutos flocos de neve caindo. Imediatamente tudo acabou. O frio continuou, a chuva caiu mais forte, sem flocos de neve. Até acredito que poucos tiveram a oportunidade de presenciar esse raro e rápido momento. Acredito que, naquela oportunidade, a temperatura externa não devia ser muito inferior a zero grau.
Confirmando minha afirmativa, nas diversas pesquisas realizadas, localizei, registrado no Livro de Tombo da Igreja Matriz de Santa Teresinha do Menino Jesus, de Campos do Jordão (3º Livro iniciado no ano de 1961, página 32) que, em 27 de julho de 1964, nevou durante meia hora em Campos do Jordão, a partir das 19 horas, quando a temperatura caiu repentinamente para 6 graus negativos. O fenômeno ocorreu, notadamente, na região do Palácio da Boa Vista.
No período de 1966 a 1972, quando fiz parte da Diretoria do “Campos do Jordão Tênis Clube de Turismo”, no mês de julho especialmente, era comum e frequente, ao sairmos do Clube, entre duas e quatro horas da madrugada, vermos enormes geadas. As temperaturas, nesse período, muitas vezes, com certeza, devem ter variado entre zero e oito graus negativos.
Especialmente lembro-me do mês de julho do ano de 1972, quando auxiliei meu saudoso amigo professor Gad Aguiar e seu sócio Esdras Vassalo, o conhecido Doca, proprietários da Boate Mau-Mau...zinho, onde auxiliava no sistema de som mecânico. Durante todo esse mês, sem falhar um dia, ao fecharmos a Boate, lá pelas três ou quatro horas da madrugada, ficávamos impressionados com as fortes geadas que cobriam de branco todos os veículos estacionados à frente e toda a vegetação existente na redondeza. Não registramos essas temperaturas, porém, com certeza, durante todo esse mês, as temperaturas foram negativas, talvez com muitas inferiores a cinco graus negativos.
Durante o tempo em que trabalhei na CESP – Companhia Energética de São Paulo, responsável pela distribuição de energia elétrica em Campos do Jordão, procurando analisar o consumo total de energia elétrica na cidade – especialmente durante os meses de julho, quando temos uma população quase triplicada –, com a finalidade de auxiliar estudos constantes sobre o carregamento de nossa Subestação de energia elétrica, evitando sobrecargas etc., fiz acompanhamento das temperaturas registradas durante os anos de 1985 até 1994. Essas temperaturas foram medidas e registradas em equipamentos especiais instalados junto à nossa Subestação localizada no Jardim Márcia e, também, pelo serviço de meteorologia que existia na cidade.
Esse acompanhamento era muito importante. Informava e justificava que quanto menores as temperaturas registradas, maiores seriam os consumos de energia elétrica, devido à maior utilização de aquecedores elétricos, de ambiente e de água para banhos etc.
De 1985 a 1994, sempre no mês de julho, registrei as seguintes temperaturas mínimas:
- dias 08 e 26 de julho de 1985 (–4 °C);
- dias 11, 12 e 13 de julho de 1986 (–3 °C);
- dias 15 e 16 de julho de 1988 (–5 °C);
- dias 11 e 18 de julho de 1989 (-4 °C, e no dia 19 –5 °C);
- dia 28 de julho de 1991 (–4 °C);
- dias 27 e 28 de julho de 1992 (–5 °C).
Nesse período, com exceção dos dias acima relacionados, as temperaturas mínimas variaram entre dez graus positivos e dois graus negativos. As temperaturas máximas também variaram de sete a 24 graus positivos.
Já registrava o Dr. Belfort de Matos Filho em seu livro inicialmente mencionado, último e único registro confiável sobre a nevada do ano de 1928: “A neve em Campos do Jordão é um fenômeno raríssimo”. Observa também que: “A nevada ocorrida no dia 31 de julho de 1928 revestiu-se de caráter sensacional, com os flocos de neve caindo durante cerca de 03 (três) horas, cobrindo as árvores e a vegetação rasteira de um espesso manto branco e que o fenômeno, que teve início às 6 horas e trinta minutos, foi precedido de copiosa chuva.”
Registrou Condelac Chaves de Andrade, na página 59, do seu famoso “Almanaque Histórico de Campos do Jordão” de 1948: “Nos anos de 1892 e 1897 a ‘nevada’ foi muito mais intensa. No dia 11 de julho de 1947, durante três horas a ‘neve cobriu’ Campos do Jordão, oferecendo um espetáculo maravilhoso.”
É muito importante esclarecer que, embora tanto nos anos de 1892 e 1897, bem como no dia 31 de julho de 1928 e 11 de julho de 1947, quando ocorreram as últimas e espetaculares nevadas em Campos do Jordão, não quer dizer que, nesses dias, as temperaturas tenham caído a menos dez ou catorze graus negativos. Para a ocorrência de neve são necessários dois fatores primordiais: temperatura de zero grau ou inferior e muita umidade no ar, até com precipitação de chuvas. Assim, é até provável que nesses dias, as temperaturas tenham atingido marcas em torno de até cinco graus negativos concomitante com a ocorrência de copiosa chuva, como registrado pelo Dr. Belfort de Matos Filho, com relação à nevada do dia 31 de julho de 1928.
Finalizando, embora nosso clima tenha sofrido várias alterações sensíveis, até indesejadas, permanece maravilhoso. Continua encantando os jordanenses e, especialmente, o grande número de visitantes e turistas que para cá vem anualmente, em busca do ar puro e reconfortante, procurando, por assim dizer, quase como uma recarga para as baterias humanas, principalmente na época do frio mais intenso de nosso inverno. Inverno já não tão regular como antigamente, com raras, fortes e maravilhosas manhãs de geadas, mas com dias de Sol intenso e céu de inconfundível e deslumbrante azul intenso e límpido. Nosso inverno, de frio caracteristicamente seco, já cede terreno para as chuvas fora de época e para a umidade exagerada. Já são raros os dias em que a temperatura atinge marcas negativas, como era comum nos tempos de antigamente.
Observamos que, quando fizemos algumas citações de autores diversos, deixamos de colocar os textos entre aspas, como recomendável, considerando que na edição original estão escritos em ortografia bastante antiga, utilizada nos idos de 1928 e 1940, razão pela qual procuramos adaptá-los à ortografia atual.
OBS.: Vejam algumas fotos da nevada de 1928 e das geadas dos invernos das décadas de 1970 e 1980 e, também, deste ano de 2009.
Campos do Jordão, 29 de junho de 2009
Edmundo Ferreira da Rocha
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