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Fotografias que contam a história de Campos do Jordão.

 

 Vila Ferraz e suas casinhas de madeira


 

VILA FERRAZ e suas lindas casinhas de madeira

Em 26 de maio de 1917, o capitão José Martiniano Vieira Ferraz, morador na vizinha cidade de Pindamonhangaba, subindo a serra da Mantiqueira, viajando em um dos bondinhos movidos à gasolina, da Estrada de Ferro Campos do Jordão, aqui chegou e logo adquiriu da Société Commérciale et Financière Franco Brésilenne uma gleba de terras com 12.465 m2, situada ao lado direito de quem chega à Vila Abernéssia, a Vila Nova.

Procurando radicar-se em Campos do Jordão, no início da década de 1920 o capitão Vieira Ferraz instalou, em frente à estação ferroviária da Estrada de Ferro Campos do Jordão, em Vila Abernéssia, a “Casa Vieira Ferraz” que, posteriormente, passou a ser conhecida simplesmente por “Casa Ferraz”, estabelecimento comercial que vendia um pouco de tudo, desde ferragens até gêneros alimentícios, bebidas e roupas. Essa “Casa Ferraz” foi vendida, posteriormente, passando às mãos de outros proprietários, ficando famosa em Campos do Jordão até meados da década de 1940.

Essa área de terras adquirida, até bastante diminuta, com aproximadamente meio alqueire, logo em seguida foi loteada pelo seu proprietário capitão José Martiniano Vieira Ferraz, que a denominou Vila Ferraz. Claro, a essa área de terras, outras e pertencentes a proprietários diversos foram anexadas, pois a Vila Ferraz de hoje é muito maior que o meio alqueire inicial.

Alguns desses lotes foram vendidos inicialmente, e algumas pequenas casas começaram a ser construídas no final da década de 1920 e início da década de 1930.

Nessa época, Campos do Jordão, cidade em início de formação, vivenciou uma experiência quase inédita para esta região, que acabou fazendo parte da nossa história, e parte do resultado ainda perdura, para ser vislumbrada e apreciada por todos aqueles que aqui vivem ou que nos visitam com frequência ou em alguma oportunidade. Nessa nova Vila Ferraz e, anteriormente, noutras vilas da cidade, como Abernéssia e Jaguaribe, na época em que não havia nenhum tipo de restrição para o corte de árvores em geral, muito menos algum tipo de preocupação preservacionista, a nossa querida e maravilhosa Araucaria angustifolia ou Araucaria Brasiliensis, árvore símbolo da nossa terra – o nosso conhecido pinheiro, por muitos identificado como pinheiro-do-paraná, hoje devidamente protegido por lei específica –, era derrubada até meio indiscriminadamente, para a produção de madeira de excelente qualidade que era empregada na construção de móveis diversos, madeiramentos e outras finalidades, especialmente nas construções de casas típicas de madeira, e enviada para diversas cidades paulistas para idênticas finalidades.

As casas de madeira de pinho, extraída do pinheiro de Campos do Jordão, eram construídas sobre pequenos pilares de alvenaria, pedras ou até de madeira mais dura e de durabilidade maior, como a aroeira e outras de espécies semelhantes, obrigando os assoalhos a ficarem suspensos, criando na parte debaixo os conhecidos porões. Estes, além da principal função de proporcionar a devida e necessária ventilação, evitavam que a madeira dos assoalhos ficasse ardida ou viesse a apodrecer. Também eram aproveitados para guardar-se lenha para os fogões e outras finalidades e pertences não utilizados com frequência.

Essas casas, algumas até seguindo pequenos e simples projetos, tinham suas paredes, depois de colocadas as estruturas necessárias, com vigas ou caibros, também de pinho, revestidas com as famosas tábuas de pinho, de 20 ou 30 centímetros de largura. Normalmente, depois de fechadas as paredes dessas casas, entre uma tábua e outra, sempre apareciam pequenos vãos, mesmo que o trabalho de colocação dessas tábuas fosse executado com muita habilidade e capricho, pelos melhores carpinteiros. Para evitar essas juntas abertas, eram colocadas as ripas, também de pinho, chamadas de mata-juntas, fechando essas pequenas aberturas; com isso, evitava-se a entrada de insetos e mais que tudo, do vento, especialmente na época do frio intenso de nossos invernos.

A grande maioria dessas casas de madeira, depois de prontas, recebia em toda sua parte externa uma boa demão de óleo de linhaça, óleo queimado de motor ou mesmo óleo de cozinha, previamente aquecido, quase fervendo, procurando, assim, lacrar os poros da madeira, dando-lhe maior durabilidade, evitando o ataque de insetos, como o cupim ou semelhantes. Essas mesmas madeiras, na parte interna das casas, recebiam em algumas delas o mesmo tratamento aplicado na parte externa. A grande maioria das casas, via de regra, ou recebia umas boas demãos de verniz, ou de tinta à base de óleo, ou de esmaltes diversos, também com o intuito da preservação da madeira.

Em algumas casas eram colocados forros nos quartos e salas. Para essa finalidade era utilizado o famoso forro de madeira denominado “paulistinha”, também feito de madeira de pinho, preparado em máquinas especiais, dando-lhe uma espessura mais fina e tornando-o mais leve. Nas cozinhas e banheiros, mesmo nas casas em que estes cômodos eram construídos em alvenaria, o forro era feito de ripas de pinho sobrepostas, formando pequenos vãos em forma de quadrados ou losangos, para facilitar a ventilação, favorecendo a escoação de vapores, evitando a umidade nos banheiros e facilitando a escoação de alguma fumaça nas cozinhas, em virtude da utilização dos tradicionais fogões de taipa à lenha. Esses forros, normalmente nas salas e quartos das casas, eram envernizados. Nos banheiros e cozinhas, pintados com tinta à base de óleo ou esmaltados.

A princípio, não apenas as casas de madeira de pinho, mas também outras construídas em alvenaria, eram cobertas com as famosas e barulhentas telhas onduladas de zinco, material metálico parecido com a conhecida lata, com certo tratamento especial que lhe conferia maior durabilidade, com ondulação semelhante à das telhas eternit ou brazilit, anteriormente feitas de cimento amianto que, na época da chuva, já faziam um grande barulho, e quando ocorria a precipitação de granizo, o barulho era enorme e ensurdecedor. Na época da tuberculose, até os primeiros e mais simples sanatórios tinham cobertura de zinco. Posteriormente, esse tipo de cobertura foi sendo, aos poucos, substituído pelas famosas telhas, até hoje utilizadas em grande escala, feitas de barro requeimado em fornos especiais. Aqui, em nossa região, a telha mais utilizada era da marca famosa e tradicional “Paulo Becker”, fabricada na vizinha cidade de São José dos Campos, pelo fabricante do mesmo nome.

Em 1942, o capitão J. M. Vieira Ferraz acabou vendendo o remanescente – maior parte dos lotes da já tradicional “Vila Ferraz” – a Nicolau Braga e a Francisco Clementino de Oliveira e sua mulher, Adélia Damas Romão Oliveira. Daí em diante, as casinhas de madeira de pinho foram surgindo aos poucos e ocuparam a grande maioria dos lotes de “Vila Ferraz”, transformando-a em bairro simples, aconchegante e tranquilo, ótimo para a moradia de grande parte da população jordanense.

Algumas poucas dessas casinhas de madeira, ao longo do tempo, foram desmanchadas ou completamente reformadas, alterando totalmente suas características iniciais.

A grande maioria dessas casas, construídas com a madeira do pinheiro jordanense, como prova do que está acima descrito, até esta data, 2009, ainda pode ser vista na nossa tradicional “Vila Ferraz” e adjacências. Alguns dos proprietários do princípio, ou os atuais proprietários dessas lindas, maravilhosas, aconchegantes e bem cuidadas casinhas de madeira, com a mesma preocupação inicial, utilizada com o intuito da conservação, procuram preservá-las a todo custo, mantendo-as muito bem pintadas com cores exuberantes, sempre com tintas à base de óleo, transmitindo-lhes graciosidade e durabilidade muito maior. Assim procedendo, estão garantindo a manutenção da história e cultura das primeiras décadas da cidade de Campos do Jordão. Essas casinhas, construídas com madeira, quando bem conservadas e cuidadas, nos dão prova suficiente e concreta sobre a durabilidade da madeira do pinheiro – no caso, do pinheiro jordanense –, pois grande maioria delas, das décadas de 1920 a 1940, já têm oitenta anos, algumas quase noventa anos, e continuam valorizando e embelezando a nossa tradicional “VILA FERRAZ”.

OBSERVAÇÃO: Este trabalho, sem patrocínio e finalidade lucrativa de espécie alguma, foi elaborado com muito carinho e amor por um jordanense nato, visando, simplesmente, deixar registrado e disponível, não só para os jordanenses, mas também para todos brasileiros ou moradores de qualquer outro país do mundo, para que possam conhecer e vislumbrar esse maravilhoso legado, iniciado pelos pioneiros de Campos do Jordão que, graças a Deus, permanece vivo e atual, como uma grande e eterna contribuição para nossa história e cultura.

Campos do Jordão, 19 de janeiro de 2009

Edmundo Ferreira da Rocha

 

 

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Fotos

 


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Edmundo Ferreira da Rocha

 

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